– Nossa, Doutora! - eu me sentei no divã, rindo - Estamos conversando aqui há horas! Ainda não enjoou da minha voz?!

– Não seja exagerada, Evelyn! - Dra Diana riu - Só estamos aqui há uma hora e meia. E, bom, isto é a sua entresvista! Agora, cale a boca e volte a contar!

– Não posso fazer os dois! - eu cruzei os braços, divertida - Ou eu calo a boca, ou eu volto a contar!

Ela socou meu ombro, rindo.

*****

– E então, Evelyn, - Dona Martha entrou no estábulo, com uma bandeja com chá gelado - como vai o meu garoto?

– Eu acabei de administrar os antibióticos nele. - eu avisei, acariciando o focinho de um grande cavalo castanho - Ele vai se sentir um pouco enjoado por algumas horas, mas depois vai ficar bem.

Ela acenou com a mão para mim, e eu me aproximei dela, pegando um copo de chá que ela me ofereceu.

– Ele é um cavalo bem forte e corajoso. - eu comentei - Eu nunca tinha visto um cavalo esmagar uma cobra mesmo ela pincando ele.

– Era o cavalo favorito do meu marido. - Dona Martha disse - Clark costumava cuidar dele.

Eu apenas tomei o chá. Mesmo tendo passado boa parte das férias da minha infância aqui em Smallville, eu nunca vi Clark Kent. Pelo menos, não me lembro dele.

– E aquele garoto do rio? - Dona Martha perguntou - Alguma novidade?

– Ah, sim! - eu ri - Ele acordou ontem de noite. O que foi bem estranho, Dakota e eu não estávamos em casa; quando voltamos, todas as luzes estavam acesas. Eu quase atirei nele, pensando que era um ladrão!

Dona Martha riu com o comentário. É meio difícil entrar ladrões em fazendas justamente porque todo mundo costuma atirar neles com o susto. Ladrões preferem a cidade, principalmente porque as pessoas não tem armas lá.

– E você conseguiu descobrir quem ele é? - ela perguntou.

– Disse que era John Blake.

– Soa como um nome falso. - ela comentou.

– Também achei isso, mas preferi não questionar. Acho melhor deixar ele se acostumar comigo primeiro, esse tipo de coisa precisa de confiança. - eu argumentei.

– Se precisar, posso falar com o Clark, - ela ofereceu - ele trabalha em um jornal, pode ajudar a achar o paradeiro dos pais dele ou algo assim...

– Agradeço a ajuda, - eu a cortei, dizendo qualquer coisa só para que ela não me inportunasse com isso - mas por hora, prefiro deixar como está.

– Se precisar, sabe que sempre pode contar comigo. - ela disse, me fazendo suspirar.

No caminho para casa, eu refleti muito sobre o que a Sra Kent disse. Não que eu estivesse cogitando a ideia de colocar a foto dele no jornal, afinal ele, mesmo não lembrando, ainda era um Robin; e seria muito arriscado expor ele desta forma. Sabe-se lá o que pode estar atrás dele agora.

Mas ainda é uma boa ideia avisar alguém. E é justamente o que eu vou fazer.

– Dakota! - eu gritei, depois de estacionar o carro. Entrei em casa - Dakota! Juanito! Cheguei!

Olhei rapidamente pela sala e pela cozinha, e logo notei que eles não estavam aqui. Dakota deve estar no moinho de novo, e John deve ter decidido não deixá-la sozinha. Ele é mesmo um Don Juanito.

A primeira coisa que eu fiz então foi correr para o meu quarto e trancar a porta. Mesmo com eles estando lá no quintal, prefiro me sentir segura. Abri a gaveta da minha cabeceira. O relógio ainda estava ali, como sempre. Apertei o botão, e a luz piscou vermelha, depois verde. Eu sei que o Dick não vai me responder agora, mas quando ele vir, eu vou contar para ele. Eu tenho que contar para ele.

Alguém tocou a campainha. Estranho, mas eu devo imaginar o que seja. Nada demais, como sempre. Guardei o relógio na gaveta, destranquei a porta do quarto e fui ver o que era.

– Ai, que saco, Dakota! - eu esbravejei, descendo as escadas - Quantas vezes vou ter que dizer que é só gritar que eu abro? Eu nem costumo trancar a porta!

Eu abri a porta, zangada. Mas não era Dakota. Era um rapaz, devia ter a minha idade, cabelos negros, olhos azuis, rosto amigável. E farda de policial.

– Oh, desculpe por isso, achei que fosse minha irmã... - eu suspirei, corada.

– Se te faz sentir melhor, eu não ouvi nada! - ele disse, sorrindo, e eu ri também. - Você deve se lembrar de mim, Srta McMilliam, sou o Detetive John Loyd, do Depto de Polícia de Metrópolis.

– Ah, sim! - eu sorri - O cara que me deu café.

– Isso! - ele riu.

– Vamos, entre! - eu dei espaço, abrindo mais a porta.

Ele entrou, e caminhou em direção à sala. Olhou para os retratos nas paredes, a mobília, a janela, olhou para basicamente tudo o que compunha a sala, o que foi um tanto perturbador, mas resolvi não interrogá-lo. Então fechei a porta e sentei no sofá.

– Bom, Detetive Loyd, - eu chamei sua atenção, fazendo-o sentar-se no sofá à minha frente - o que o traz aqui?

Ele suspirou, me estendendo uma pasta de papel pardo que ele segurava. Eu abri. Era uma ficha criminal. De um homem de cabelos negros, aparência um tanto asiática. Na ficha dizia que ele tinha 41 anos, e que seu nome era Dillon Hinojosa. Devolvi a ficha para ele.

– O que pretende com isto? - eu suspirei, um tanto rude.

– Encontramos este homem assaltando outro casal nas proximidades do Às de Paus. Ele tinha os documentos de seu pai. - ele se pronunciou - Logo, julgamos que ele foi o assassino e também que ele foi o autor de mais dois assassinatos.

Eu me levantei do sofá com rapidez e caminhei em direção à janela, segurando as lágrimas. Eu não queria ouvir aquilo. Eu não queria que Dakota ouvisse aquilo.

– O senhor tem mais alguma coisa para dizer? - eu me limitei a sussurrar. Sim, eu queria que ele fosse embora logo.

– Srta McMilliam... - ele se levantou - eu estou fazendo o possível para que ele seja julgado e...

– Mais alguma coisa? - eu me virei. Ele me encarou, calado - Se é só isto que veio me dizer, por favor...

Ele suspirou, sem saber o que dizer. Por fim, pegou um cartãozinho do bolso da farda.

– Este é o meu número. - ele disse - Se precisar, vou estar disponível a qualquer hora do dia. Para qualquer coisa.

– Obrigada. - eu apenas disse.

Ele sorriu, pegou a ficha e saiu. Pouco depois de eu ouvir o carro dele sair, Dakota entrou.

– O que ele queria? - ela disse, esbaforida, como se tivesse corrido para chegar aqui.

– Apenas perguntar se estávamos bem ou se a gente ia precisar entrar pro programa de proteção à testemunha. - eu inventei.

– E isso não seria uma boa ideia? - John perguntou, entrando na sala.

Mas Dakota sabia que eu estava mentindo.

– Ele veio trazer a ficha do assassino, não foi? - ela perguntou.

– Se sabe, por que ainda pergunta? - eu comecei a subir as escadas, tentando fugir do campo de visão dela.

– E quem era o assassino? A gente conhecia ele? - Dakota tentou subir as escadas comigo - Evelyn, estou falando com você!

– Vai se ferrar, Dakota! Eu não preciso disso agora! - eu gritei, chorando.

Fechei a porta do quarto com o máximo de força que eu pude, e sentei no chão, encostada nela. Eu não conseguia parar de chorar. Esse era o momento que eu mais precisava ser uma adulta madura e responsável. Pois era justamente o que eu não estava conseguindo fazer.

Fiquei sentada ali no chão por horas. Vi o dia escurecer. Eu já não conseguia mais chorar, então apenas me levantei e deitei na cama. Fiquei ali, pensando na minha vida, em como eu iria ter forças para prosseguir dali pra frente. Eu ainda tenho duas crianças para cuidar.

– Srta Evelyn? - John bateu na porta do quarto. - Srta Evelyn?

– O que foi, Juanito? - eu resmunguei - A porta está aberta.

Ele abriu a porta, e entrou, sentando na cama. Ele não disse nada, só ficou ali, me olhando. Era bom e reconfortante. Jamais pensei que um garoto daquela idade pudesse passar algo tão bom assim.

– Eu fiz o jantar.

– Tá bem, eu desço mais tarde. - eu sussurrei.

Ele sorriu, e depois saiu. Bom, não sei se o Damian era assim, mas eu estou gostando de cuidar desse John Blake.