– Como você sabe que ele não voltou? – eu abri meus olhos com a pergunta da Dra Diana.

Eu tenho que parar de me assustar com a voz dela, sério.

– É que eu esperei muitos dias ali. – eu me justifiquei.

– Muitos dias no sonho. – ela observou.

– Eu sei, curioso né? – eu concordei. – Eu pesquisei na internet sobre a equação tempo em sono = tempo em sonho, mas acho que me basear no filme A Origem não ajuda muito...

– É que é uma obra fictícia... – ela comentou – Olha, eu te dou o número do meu amigo que trabalha no Instituto do Sono, no fim da consulta, tá bem?

– Acho que ajudaria muito... – eu ri. – Agora, deixe-me ver onde parei..... Ah, sim!

Os dias passavam iguais aos outros. Às vezes, eu não sabia diferenciar o ontem de amanhã. Nos mesmos horários, uma bandeja com alimentos passava por debaixo da minha porta. Mas eu não conseguia sair do quarto. Eu tentei inúmeras vezes, mas aquela maldita porta estava trancada. Sempre trancada. Na verdade, depois de algumas semanas, eu já nem tentava mais. Passei a me dar conta que eu não tinha para onde fugir; estava em uma espécie de nave espacial, se eu fugisse, morreria.

Certo dia, o alarme estridente tocou outra vez, e meu quarto foi inundado por aquela luz vermelha apavorante. A minha janela do espaço fechou-se completamente, e agora eu me senti mais isolada do que nunca. Eu nunca senti tanto medo na minha vida. O som que vinha do alarme era apavorante.

Eu não sabia o que fazer, então corri e me escondi debaixo da cama, tapando os ouvidos com as mãos. Aquela sirene tocou por 3 minutos eternos, e então parou, do mesmo jeito que começou.

Aquela altura eu já nem sabia mais porque eu estava lá embaixo, com as mãos nos ouvidos, mas achei melhor continuar ali. Eu me sentia com 5 anos de novo, fugindo de vampiros e bichos-papões, e já estava quase tendo uma crise de choro.

Eu ouvi a porta do meu quarto ser destrancada. A maçaneta girou lentamente, fazendo um barulho terrível. Vi um par de sapatos verdes caminhar quarto adentro. A cada passo, meu coração parava. Ele caminhou até meu banheiro, abriu a porta, e me chamou. Depois dirigiu-se para o meu closet. Mas eu não estava lá também. Ele suspirou e se dirigiu à porta para sair.

Eu tapei minha boca, para segurar até mesmo o som de minha respiração. Meus nervos estavam à flor da pele. Então, ele parou. Meu coração acelerou. Ele se ajoelhou, e ergueu o cobertor da minha cama com as mãos. Eu fechei meus olhos e pensei: “É o meu fim!”.

– O que faz aí embaixo? – a voz mais reconfortante do mundo disse.

– Ainda bem que é você! – eu suspirei, aliviada.

– Pensou que fosse quem, o Freddy Krueger? – ele riu – Anda, já é seguro sair!

Ele segurou minha mão e me puxou para fora da cama, me ajudando a levantar. Eu olhei bem nos olhos dele. Quase não podia acreditar, ele estava ali, finalmente! Depois de tanto tempo... Tanto tempo!

Eu dei belo e estalado tapa no rosto dele.

– POR QUE FEZ ISSO??????? – ele perguntou, passando a mão no local atingido.

– Isso é por ter me deixado sozinha aqui por dias!!!! – eu gritei, furiosa.

– Mas eu estou aqui, não estou?! – ele gritou de volta. Mas não parecia raiva.