Desde a noite do fantasma passou-se um mês. Dick cumpriu sua promessa, e vinha quase todas as noites para me ver. Conversávamos por horas! Ele me contou tudo o que estava acontecendo com o pessoal da Liga, disse que todos tinham ficado um pouco dispersos, cuidando de suas cidades, afinal, não haviam muitas ocorrências mundiais para se preocupar.

– Mas e você? - eu disse - O que tem feito?

– Ah, eu fiquei em Gotham. - Dick respondeu, como se não fosse óbvio - Depois da morte do Bruce, decidi fazer algo mais interessante com a fortuna dele além de financiar as aventuras do Batman e da Liga.

– Hum, financiando a Liga... - eu debochei - Fala, tio Patinhas!

– O que foi? Bruce era rico, sabe! - ele retrucou - Podre de rico!

– Tá, o que você fez? - eu desconversei.

– Eu transformei a mansão Wayne em um orfanato. - Dick respondeu - Existem mais órfãos em Gotham do que se pode imaginar. Combater o crime também é fornecer um futuro melhor para aqueles que precisam.

– Nossa, Dick... - eu suspirei - Isso é ótimo! Bruce era filantropo, estava sempre fazendo caridade, mas você foi mais além.

– Gosto de ser bonzinho. - Dick disse, orgulhoso.

– É, o bonzinho que enche de pancada os criminosos. - eu ri.

– O mundo precisa de bonzinhos bons de briga. - ele respondeu.

– E de humildade também. - eu fiz ele rir.

***

Passar tanto tempo numa fazenda no meio do nada era bem interessante, afinal, quase não havia ninguém para te incomodar, mas chega uma hora que ficar vendo milhos e mais milhos te enche o saco. Então decidi ir para Metropolis com a Dakota, passar uma noite divertida lá. O programa acabou sendo ir ao cinema assistir Batman: The Dark Knight Rises. Bom, parece que não consigo fugir desse assunto. Mas até que o filme é bom.

No caminho devolta para a fazenda, tentei puxar conversa com a Dakota. Era muito estranho ficar no mesmo ambiente que ela sem conversar.

– E então, Dake... - eu tentei - o que achou do filme?

– Um pouco sombrio no começo. - ela simplesmente disse, voltando a olhar para a paisagem.

– Aham... - eu insisti - Bruce pareceu bem melancólico mesmo. Cara, aquele Bane foi bem cruel...

– Nada diferente de um líder da Liga das Sombras. Eu gostava mais do Liam Neeson. - Dake respondeu - Ele era um cruel bem interessante. Eu gostaria de ter trabalhado com ele, deve ter sido fera.

– Liam é mito mesmo. - eu concordei - Mas Anne Hathaway em um filme do Batman... isso é uma coisa que eu não esperava!

– É que todo mundo vê ela como princesinha... - Dake disse - Ver ela como uma vilã, ou naquele caso, uma anti-heroína, foi bem mais divertido.

– E aposto que ela também gostou de interpretar uma namorada do Batman! - eu fiz Dake rir.

– Sabe de quem eu gostei neste filme? - ela disse, de repente.

– Quem?

– O John Blake. - ela respondeu.

– O Robin?

– Aham. - ela suspirou - Que Robin fofo! Dava vontade de apertar! Bem diferente aquela coisa que a gente tem lá em casa! Só dorme! Affe!

– Eu também achei ele fofo. Eu particularmente adoro aquele ator, Joseph Gordon-Levitt é mesmo um ator muito fofo, e eu também senti vontade de apertar as bochechas dele em A Origem! - eu ri - Mas tenha pena da nossa coisa, quer dizer, Robin, ele está em coma!

– Que filme é esse A Origem? - Dake perguntou.

– A gente assistiu ele semana passada! É aquele filme que o DiCaprio morre! - eu retruquei.

– Qual deles? - Dake provocou.

– Retardada. - eu bufei.

De repente, Dake arregalou os olhos, olhando para frente.

– Ivy, você deixou as luzes acesas? - ela disse.

– Claro que não! Quando a gente saiu, ainda era dia! - eu respondi.

– Então tem alguém invadindo nossa casa! - Dake se desesperou.

Eu corri com carro o mais rápido que pude, e quase estacionei DENTRO da casa, mas por pouco consegui parar o carro. Dake estava certa. As luzes da sala, cozinha e andar de cima estavam todas acesas, o que era muito estranho.

– Quando a vovó deveria voltar mesmo? - Dake disse, descendo do carro.

– Em 3 meses se houvesse alguma emergência. - eu respondi - Em 7 até o fim do cruzeiro.

– Então, quem pode ser? - Dake sussurrou.

– Eu não sei. - peguei a espingarda que o vovô sempre deixava embaixo da soleira - Mas está com sérios problemas.

Dake suspirou fundo, enquanto eu tomava a dianteira. Assim que entramos na varanda, ela pegou o taco de beisebol que por algum motivo ela tinha deixado lá mais cedo. Eu tentei abrir a porta, mas ela estava trancada, o que era muito estranho.

– Que tipo de ladrão tranca a porta? - Dake disse.

– O tipo que entra pela janela. - eu tirei as chaves do bolso e destranquei a porta.

Quando entramos, a televisão estava ligada em um programa de culinária, e todas as luzes estavam acesas. As janelas estavam fechadas, e não havia sinal de arrombamento, nem sequer um caquinho de vidro no chão.

"E agora, despeje o vinho tinto lentamente no caldo..."

Certo... - uma voz disse.

Ouvi uma rolha de garrafa de vinho saltar, e logo depois, ser despejada. Dake segurou meu pulso, enquanto caminhávamos em direção à cozinha. Havia um rapaz lá. Devia ter a idade de Dake, cabelos negros, pele clara. E mexia em uma panela no fogão. Eu acionei a espingarda, e apontei para ele.

– Você tem 30 segundos para largar esta garrafa. - eu disse, ameaçadora.

O garoto apenas olhou para mim, e voltou a mexer na panela.

– Se eu largar, o molho desanda. - ele deu de ombros.

– Molho? - Dake largou o taco, aproximando-se da bancada.

Ela ignorou completamente perguntas mais importantes como quem é você?, como entrou aqui?, e por que diabos abriu a melhor garrafa de bourboun?

– É para acompanhar a costela. - ele largou a panela, e tirou uma travessa do forno, colocando-a no balcão. O cheiro da costela assada era incrível. E ele estava ignorando completamente o fato de que eu tinha uma arma apontada para ele.

– Como você entrou aqui? - eu insisti.

– Eu já estava aqui dentro. - ele respondeu, aí então eu abaixei a arma.

– Damian? - eu perguntei - Damian Wayne?

– Com quem você está falando? - ele ergueu os olhos, olhando confuso para mim - Sou John Blake.

Dakota riu um pouco alto demais. Eu olhei para ela, fulminando-a.

– John Blake não existe! - ela riu - É só um personagem de filme!

– Como assim? Eu existo! - ele retrucou - Sou John Blake!

– Não, você não é! - Dake insistiu.

– Eu sou sim! - ele ficou zangado.

– Certo, Sr Blake. - eu interrompi os dois, sentando em um dos bancos, na bancada - Você se lembra de como veio parar aqui?

– Sim. - ele suspirou, despejando o molho na costela - Eu estava pescando na beira do lago, quando Edward e Kennedy Quincy apareceram. Aqueles dois nunca foram com a minha cara, sabe, nem mesmo antes de eu ir para o orfanato.

– Perdão, que orfanato? - eu perguntei.

– O orfanato dos Wayne. - ele respondeu - Então eles começaram a rir e me insultar, diziam palavras horríveis. E então , queriam saber se eu sabia nadar. Eu nunca soube, nunca consegui aprender. Eu me recusei. Eles me bateram. Eu só me lembro de ser jogado no rio... e depois, acordar naquele quarto azul, lá em cima. Aliás, agradeço por me tirarem do rio. Sou muito grato.

– Você fala sempre assim? - Dake riu.

– Perdão, não entendi. - John retrucou.

– Assim, cheio de formalidades e tals. Que esnobe! - Dake debochou.

– Retire o que disse! - John disse, furioso. - Retire!

– Certo, crianças, já chega. - eu me levantei. - John, agradeço seus esforços por fazer o jantar, mas acontece que nós duas já comemos, então jante você. Dake, eu quero que suba e vá tomar um banho.

– Ah, Ivy... - ela bufou.

– Agora. Eu ainda estou com a espingarda, não se esqueça disto! - eu ralhei.

Ela bufou e subiu as escadas. John olhou para mim.

– Que menina insolente! - ele rosnou.

– Irmãos. Você se acostuma. - eu simplesmente disse - Agora coma, você passou muito tempo desacordado.

– Eu sei que a senhora já comeu, mas faria a gentileza de me fazer companhia? - ele pediu.

– Senhora não, Don Juanito, – eu ri - pode me chamar de Evelyn, ou Ivy, tanto faz.

– Tudo bem. Evelyn. - ele riu - E mais uma vez obrigado.

– O que é isso! - eu brinquei - Tiramos garotos do rio o tempo todo!

– Imagino, - ele riu - mas desta vez estou agradecendo por não atirar em mim.