“Eu estava nesse prédio e ouvi um tiro. Foi quando vi vocês fugindo dos errantes.” Chase contava baixo para Linn. “Queria gritar e chamar por vocês, mas havia muitos deles do lado de fora, e eu não teria como escapar se tivessem percebido minha presença.”

Chase estava sentado ao seu lado. A fogueira ainda acesa a lançar a sombra de ambos em uma das paredes próximas. Carl estava no saco de dormir e parecia ter apagado. Rick e Daryl conversavam próximos a uma das saídas, após terem se livrado dos corpos dos malditos desgraçados que os tinha atacado.

“Vim seguindo o rastro de vocês pelos trilhos.” Chase continuou. “Mas não teria encontrado ninguém se não tivesse me batido com Daryl.”

Ao falar isso, olhou em direção ao caçador e o viu molhar um lenço e estender para Rick.

“Ele estava com esse grupo, mas tinha se separado deles quando percebeu que tinham intenção de machucar um homem que caçavam.” Chase sacudiu a cabeça. “Foi quando lhe disse que estava seguindo vocês e percebemos que o homem poderia ser Rick e vocês estavam em perigo.”

Linn agarrou a mão de Chase e a segurou forte, depois encostou a cabeça em seu ombro e ali ficou buscando conforto.

“Vocês nos salvaram.” Disse em um murmúrio para Chase apenas. “Você me salvou de novo.”

Chase engoliu em seco e encostou a cabeça a dela.

“Nada que não tenha feito por mim antes.” Respondeu. "E não teríamos conseguido nada se Rick não os tivesse distraído daquela maneira."

Linn se achegou um pouco mais a ele e Chase fechou os olhos aspirando de seus cabelos.

“Pensei que estava morta.” Contou e Linn podia sentir a dor que ele sentia. “Beth me disse que te viu levar um tiro.”

“Eles atiraram em nós, acertaram Hershell, mas apenas fingi por um instante. Como daquela vez em Tupello, lembra?”

Chase lembrava e isso tornava tudo pior, por que também a tinha imaginado morta naquela ocasião.

“Da próxima vez que se fingir de morta, eu mesmo te mato depois.” Ele sussurrou apenas para ela.

“Não farei. Prometo.” Linn disse a lembrar-se de Sam.

Ergueu o rosto e olhou para Chase. Ele percebeu sua frieza, sua falta de emoção naquele momento, como se quisesse resguardar o próprio coração.

“Sam?” Chase perguntou em um gemido.

“Ela se foi.” Linn contou e Chase ficou parado a lhe olhar um instante, depois enterrou o rosto nas mãos e soluçou desolado.

Linn o abraçou e se deixou ficar com ele entre os braços.

“Ainda temos um ao outro.” Lhe disse e ele estremeceu. “Sempre.”

Chase se afastou e enxugou as lágrimas. Não queria pensar em Sam, não agora depois da noite que tiveram, se sentia frágil demais para lidar com mais uma perda.

“Estava com Beth antes... Mas ela foi levada por alguém. Não pude fazer nada. Nem sei se poderemos encontrá-la novamente.”

“Nunca gostei muito dela, mas espero que esteja bem.” Linn soltou com frieza.

Chase meneou a cabeça.

“Não fale assim. Ela me ajudou muito.”

Linn se sentiu contrita, por isso voltou a abraçar Chase.

“O que Rick fez...” Chase soprou depois de olhar em direção ao xerife e notar que ele e Daryl estavam conversando, alheios a tudo o mais.

“Estava protegendo o filho.” Linn o defendeu, por que notou uma nota de pavor e medo em Chase. “Não é nenhum monstro por causa disso.”

Linn pensava que alguém que tivesse coragem de fazer o que fosse necessário pelas pessoas que amava, nunca seria um monstro. Já estivera em uma cela com um e sabia muito bem como um monstro se parecia. E Rick não era um.

“Estamos seguindo as placas ao logo da ferrovia, para um lugar chamado Terminus.” Falou encarando Chase.

“Não vimos nenhuma placa assim.” Disse e Linn deu de ombros. “Mas não estávamos seguindo os trilhos.”

“É um bom lugar para começar. Talvez os outros tenham visto e sigam para lá também.” Linn parecia animada, mas Chase não acreditava nisso.

Olhou para ela com mais atenção. Linn estava daquele jeito que ele conhecia, quando algo doía demais e ela não conseguia lidar com o assunto. Enterrando tudo bem lá no fundo, até encontrar o momento de extravasar, chorar ou gritar, qualquer coisa para que a dor passasse.

Mas nada disse. Apenas deitou ao lado dela para descansar um pouco, quando Daryl entrou e Rick se pôs de guarda. Sua vez de cuidar da segurança do lugar seria dali a algumas horas e precisava de um descanso realmente depois de tudo.

Pela manhã caminharam ao longo dos trilhos, cada vez mais próximos do objetivo. Chase achava temerário seguirem para um lugar desconhecido, assim, de peito aberto, mas Rick não era o líder do grupo à toa e não tinha como chegarem lá sem se prevenir antes.

Saíram da trilha e se embrenharam pela floresta, avaliaram o local ao longo das cercas, descobrindo que se tratava de uma estação central. Um ponto de onde a estrada de ferro convergia em diversas direções.

O silêncio no local era tamanho que Chase sentiu seus receios aumentarem. Na prisão, apesar de toda a preocupação com a segurança, quando retornava de alguma missão sempre era saudado pelo riso de uma das crianças a brincar no campo, perto da plantação de Hershel, ou pela conversa animada do pessoal ao longo da cerca.

Ali em Terminus não se escutava nada, como se o local estivesse abandonado.

Rick chamou todos e conversou um pouco sobre ficarem atentos, traçando um plano de fuga e um ponto de encontro no galpão que passaram à noite. Depois escondeu a maioria das armas. Muitas das quais tiraram do maldito grupo da noite anterior.

“Só por precaução.” Rick disse a cobrir as armas no buraco, enquanto Daryl se certificava do local e o marcava para o caso de esquecerem o esconderijo.

Entraram e ninguém os abordou. Até que se bateram com um grupo a confeccionar placas e trabalhar, como pequenas formigas operárias, um tanto alheias a um grupo de estranhos invadindo o local, do nada.

Eles não podiam ser tão idiotas. Chase pensava.

“Você são bem vindos, mas terão que nos entregar suas armas.” O tal Gareth avisou depois de uma breve conversa com Rick.

Nenhum deles se mexeu, até que Rick fez um sinal e foi o primeiro a dispor das armas.

Gareth pareceu muito contente. Acenou para as pessoas ao redor e todos baixaram as armas. Os revistaram e se deram por satisfeitos.

“Podem pegar de volta.” Disse e sorriu. “Só queríamos saber se podíamos confiar em vocês.”

Todos ficaram mais do que contentes em recuperar as armas. Principalmente Daryl.

“Parecem famintos. Tão magros.” Gareth disse e olhou em volta. “Venham, vamos alimentar vocês.”

Rick tomou a dianteira, como sempre, e seguiram para um pátio onde uma mulher assava algo saboroso, e que cheirava muito bem, em uma churrasqueira antiga.

“Estou faminta.” Linn soprou para Chase e ele acenou concordando com um leve sorriso.

Estavam com as defesas baixas. O lugar parecia aconchegante e as pessoas amigáveis. Tinham recebido um prato com um suculento pedaço de carne, enquanto Rick conversava, ou melhor, ouvia um rapaz tagarelar em como estava feliz que pessoas novas tivessem aparecido.

No momento a paz e, do nada, foi o caos.

Rick agarrou o rapaz e o fez de refém, uma arma em sua cabeça, arrancando o relógio de Glenn de seu bolso e questionando onde estavam seus amigos.

O rapaz deu uma resposta idiota, sobre ter achado o relógio em um morto. Nenhum deles acreditou. Rick apontou para o poncho de Daryl que um deles vestia, bem como a armadura que também pertencia a Glenn que dois deles dividiam a usar.

Não podia ser coincidência. Chase pensava apontando sua arma para um homem que tinha se aproximado pela esquerda.

“Não posso tentar continuar te enganando não é?” Gareth falou e fez um sinal.

Rick foi mais rápido e usou o rapaz que segurava como escudo. Correram a atirar. Mas havia atiradores nos telhados que impediam a fuga, atirando, mas sem lhes acertar, até que Daryl soltou que eles pareciam os estar conduzindo, mas já era tarde.

Foram presos e conduzidos a um dos vagões. Um com um grande A pintado em branco.

Receberam ordens e se viram sem alternativa a não ser acatá-las. Rick ainda relutava, mas capitulou no fim.

“Se não entrar Rick, atiramos no seu filho.” Gareth gritou e o xerife avançou para o interior do vagão. “Agora o tatuado.” O maldito ordenou e Chase não teve opção a não ser entrar também.

Dentro esperou que Linn lhe seguisse e a agarrou em um abraço apertado. Logo todos estavam presos, no escuro, com muito pouco de luz avançando pelas frestas aqui e acolá, pelo menos até se acostumarem com a penumbra.

“Rick?” Ouviram alguém perguntar das sombras no fundo do vagão.

“Vocês estão aqui.” Rick apenas disse e todos os demais entendiam o que ele queria dizer.

Estavam vivos. Estavam mais fortes. Era mais poder de fogo para a luta que ainda teriam de travar. Por que ali estava Glenn, ainda vivo. Maggie, Sasha e Bob. Além de mais quatro pessoas que nunca tinham visto.

Bem, uma Linn conhecia. Ela estivera com uma arma apontada para sua cabeça quando o Governador ameaçava as pessoas que amava e o único lar que possuíam.

“Eles estão conosco.” Glenn avisou dando um passo para o lado, ao observar que Linn e Rick tinham reconhecido Tara. “Todos eles. São nossos amigos.”

“Agora são nossos amigos também.” Daryl confirmou.

“Pelo tempo que estivermos vivos.” Um ruivo de suíças soltou com cara de poucos amigos.

“Não.” Rick contrapôs muito senhor de si, olhou em volta. “Por que não vamos ficar aqui. Por que eles vão se sentir bem estúpidos quando descobrirem.”

Linn olhou para Chase e este lhe encarou entendendo o por que Sam os tinha impelido a seguir Rick. No que sempre tinham aceitado isso por ela. Mas observando a postura do xerife, a maneira como falava muito friamente, com muito de certeza e nenhuma de medo, souberam que o seguiriam por ele apenas, sempre e sem receios.

“Descobrir o quê?” O idiota que parecia militar ainda questionou.

Ele precisava de uma resposta, por que os do grupo original da prisão, sabia a que Rick se referia. Mesmo assim, foi muito bom ouvir seu líder informar o que os bastardos do lado de fora também ainda não sabiam, mas logo iriam descobrir.

“Que eles foderam com as pessoas erradas.” Rick informou com muita calma.

E ele estava certo.

Aqueles malditos iriam descobrir que tipo de pessoas eram. Que poderiam ajudar e aceitar um antigo inimigo no seio de sua família e lhe tratar como um membro importante. Que podiam ser bons, mas também terríveis e o tanto que podiam ser ferozes, ao se defender de um ataque hostil.

Rick deu ordens e logo estavam usando o que tinham para criar armas. Usando a corrente do relógio de Glenn para cerrar a madeira do vagão, distribuindo os pedaços para criar todo o tipo de defesa. Linn retirou a camisa e a desfez em tiras que distribuiu a todos, usando algumas para transformar a bainha da espada em uma pequena lança.

Cada um deles tinha uma ideia específica para se preparar, e estavam indo muito bem. Mas o desgraçados do lado de fora tinham prática e não eram um inimigo tão idiota assim.

Quando ordenaram que se afastassem da porta, e abriram a maldita, todos estavam preparados para se defender, mas eles usaram de táticas de assalto, jogando gás lacrimogêneo e levando alguns, mas não sem muita luta.

“Rick! Chase!” Linn gritou se atirando contra a porta quando esta se fechou.

“Desgraçados filhos de uma puta.” Abraham gritou ainda com os olhos ardendo.

Ele estivera próximo a granada de gás quando ela foi lançada no interior do vagão e sofreu por mais tempo a ação desta.

“O que vão fazer com eles?” Maggie perguntou e Linn se afastou da porta, tocando o ombro de Carl e este lhe abraçou apertado.

Desde a noite no galpão algo havia mudado entre eles. Ele ainda lhe parecia um garotinho irritante, mas era uma parte de Rick e faria de tudo para mantê-lo a salvo. Vê-lo em perigo tinha feito Linn compreender isso.

“Não entendo o que eles querem conosco.” Sasha também questionou.

“Talvez achem que temos algo de valor.” Eugene explicou.

“Eles tiraram tudo o que tínhamos.” Rosita respondeu zangada. “Não há mais nada que possam querer de nós.”

“Ele podem ser... sabe... violadores.” Tara falou a amolar seu pedaço de madeira no chão.

“Teriam levado alguma das mulheres agora.” Abraham soltou. “Não acredito que levariam quatro marmanjos barbados e não uma de vocês, se a intenção fosse foder conosco.” Falou depois ficou calado. “Sabe de uma coisa, se a intenção é comer todos aqui, no meu rabo ninguém toca. Acabo com o desgraçado antes.”

Abraham não sabia, mas havia escolhido as palavras corretas, mas não acertado a intenção daqueles idiotas. Por que do outro lado do Terminus, Rick e os demais estavam em um local que mais parecia um abatedouro.

Chase olhava para o lado a respirara pesado. Os olhos ainda ardiam pelo gás, a cabeça doía por que tinha atacado alguém e essa pessoa tinha lhe atingindo na nuca com algo pesado. Não a ponto de desacordá-lo, mas o bastante para ainda estar um pouco desorientado.

Olhou para o lado e avistou Bob, Rick e Daryl. Do outro lado mais quatro homens. Três nunca tinha visto, mas o terceiro, o primeiro da ponta, era um de seus conhecidos, da prisão.

Phill estava ali, o que podia significar que Cloe também fora pega. Tinham se separado depois de abandonar o ônibus, e não imaginou que se encontrariam novamente. Ainda mais em uma situação como aquela.

Foi justamente Phill o primeiro a morrer. E Chase estremeceu pela maldade metódica com que eles se livravam das pessoas. Parecia que estavam abatendo animais e não seres humanos.

Gareth, o desgraçado, apareceu bem quando Chase estava pronto para ser abatido como gado. Conversou com Bob e depois com Rick. Mas sua cara dizia que não estava ali para polpá-los.

“A sacola, Rick. Onde você a escondeu?” Gareth perguntou. “O que havia nela?”

Rick o encarou de uma forma devastadora, e cada palavra que disse foi com muito de certeza. Principalmente a parte em que prometia matar Gareth com o facão de cabo vermelho, depois de falar sobre as armas escondidas.

“Você não está em posição de fazer ameaças xerife.” Gareth disse a sorrir.

Chase, que estava ao lado do último homem abatido, achava o mesmo. Era o próximo na fila do matadouro e não via forma de escaparem dali.

Olhou para Daryl e ele respirava com dificuldade, mas não de medo. Não como Bob que ainda tentou apelar para os malditos, informando sobre a cura que Eugene alardeava possuir, mas em que Chase, ou Rick, e nem mesmo Daryl acreditavam muito.

Daryl estava com raiva. Um ódio que Chase compreendia. Algo como na noite anterior, quando olharam pela janela do galpão e viram um dos caçadores a machucar Carl, puxando sua roupa, tentando violar uma criança.

Estavam com medo sim. Mas de não conseguir proteger Linn, Carl, e as demais garotas do grupo. Por que tanto Chase, quanto Daryl, ainda acreditavam que eles estavam se livrando dos homens, no que manteriam as mulheres e o menino para abusarem deles depois.

Daryl lhe encarou também e pareceu fazer um movimento em direção ao homem por trás de Chase, para impedi-lo de lhe machucar, quando viu o careca agitar o bastão, se preparando para acertar o amigo como fizera com os quatro caídos e mortos.

“Continuamos?” O que estava com o bastão perguntou antes que Gareth saísse.

“Claro.” Gareth respondeu.

“E as armas que eles esconderam?” O que estava com a faca questionou preocupado.

“O garoto ou a ruiva vão acabar falando.” Disse e se virou para sair.

Nesse momento uma explosão atingiu o local.

“Mas que porra foi essa?” O do bastão gritou assustado.

“Não importa.” Gareth gritou se preparando para sair. “Se livrem deles, enquanto verifico.”

Os bastardos até que tentaram, mas um novo estrondo abalou o lugar, criando uma oportunidade de ataque. E eles acabaram descobrindo que, realmente, tinham tentado foder com as pessoas erradas.