— Paola’s POV –

Alguma coisa me dizia que ir em busca de galhos não ia dar em nada, mas mesmo assim continuei descendo as escadas. Quando estava na casa, eu realmente achei que a chuva iria segurar um pouco, mas vendo desse ângulo, acho que nós não vamos conseguir nem chegar a 300 metros de distancia.

Nosso desespero de estarmos perdidos foi substituído por outro desespero, o da sobrevivência. Nós estávamos com medo, mas não era isso que iria nos tirar daquela situação, afinal, o bom sinal é que com certeza nós estamos perto de algum lugar com seres humanos e que, por favor, tenha sinal de telefone!

Nós quatro já tínhamos chegado em terra firme... Ou lama, quase firme, enfim.

— Ok, nós vamos por aqui e vocês por ali. – Malu apontou para trás de nós. – Se começar a chover, ou parecer que vai começar, voltem para casa da arvore!

— Isso... E olhem para o chão, já temos uma machucada, duas não dá! – Harry revirou os olhos.

— Por que você falou no feminino? – Os cabelos cacheados de Malu bateram no rosto de Harry quando ela foi olhá-lo. – Você pode muito bem torcer o seu delicado pé de moça.

— Eu não tenho pé de moça! – Harry pisou fortemente na lama.

— Vamos embora? – Perguntei para Zayn sabendo que aquilo ia ir longe.

— Depois de você. – Ele ergueu a mão em direção a mata, indicando que eu fosse antes.

Passei por Zayn em direção a mata, pegando um pedaço de graveto, o qual eu batia nas árvores enquanto adentrava aquele lugar úmido. Sempre me falaram que para afastar cobras você tem que fazer barulho. Eu realmente não queria nenhum animal perto de mim, principalmente uma cobra. Eu sabia as dicas de sobrevivência, caso alguma cobra mordesse Zayn, eu teria que tirar o veneno de sua pele, e pode apostar que eu não queria fazer isso. Talvez eu estivesse mostrando nossa localização para alguns animais, mas qualquer coisa eu deixo o Zayn de isca e corro. Ou eu serei a isca. Acho melhor parar de bater a porcaria do graveto. Ou não. Ou sim.

— ACHEI! – Eu pulei com a voz de Zayn. Me virei e ele estava apontando para alguns galhos. – Ali, galhos!

— Ótimo! – Dei uma olhada. Deviam ter galhos suficientes para passar a noite toda, porém teríamos que cortá-los. – Acho que dá pra hoje, mas a gente tem que cortar...

— Eles não são tão grossos, daremos um jeito. – Zayn começou a puxar um galho para cima e depois pisou no mesmo o virando. – Acho que vai... – Um estralo fez com que ele parasse de falar. O galho se partiu ao meio.

— Parabéns garotão! – Eu disse dando tapinhas em seu ombro. Recebi um olhar sério de Zayn, parece que ele não gostou muito da brincadeira do “garotão”. – Machão?

— Não vou nem gastar minha saliva. – Ele deu uma risada e voltou a focar nos galhos.

Eu não tinha força para quebrá-los, e Zayn, mesmo não parecendo o cara mais forte do mundo, tinha uma força bem agradável. Então, resolvi que não adiantava ficar lá fazendo força e fui me sentar em cima de algumas folhas que estavam caídas. No começo, eu observei bem o local tentando localizar o lugar por onde nós viemos, tudo bem, leste, ótimo, acho que voltar será fácil. Dei uma olhada no chão tentando avistar alguma pegada, além da nossa, que indicasse que alguém já havia passado por lá. Sem sucesso. Minha única atração naquele momento, era olhar Zayn.

Comecei a olhar suas ações percebendo cada detalhe. Zayn era forte, seu braço era parcialmente malhado e eu posso imaginar que por baixo daquela blusa regata branca, tem um corpo bem... bonito. Toda vez que Zayn torcia o galho, os músculos de seu braço saltavam, mostrando que estava em forma. Não pude deixar de admirá-los. Quando já estava quebrando o décimo pedaço de galho, uma gota de suor fina escorreu em seu rosto. Demorou mais um pouco para que seu cabelo já estivesse levemente molhado e sua blusa também. Um sorriso se abriu em meus lábios. Agora as coisas começaram a ficar mais interessantes. Até que não estava tão ruim ficar ali, olhando o Zayn fazer esforço físico. Mordi um pouco meu lábio quando o vi secar o suor com a barra da blusa, deixando a mostra sua barriga. Jesus, Maria José, mas o que...

— Acho que acabei. – Arregalei os olhos quando encontrei Zayn me olhando com as mãos no quadril. – Cara, isso dá um cansaço...

— Er... É... Pois é, me desculpe não ajudar. – Ou não me desculpe, tanto faz, adorei ficar te olhando. Controle-se Paola!

— Tudo bem, se foi difícil pra mim, imagina pra você... – Ele veio em minha direção e se sentou ao meu lado. – Se eu tivesse um cigarro, provavelmente o fumaria agora.

— Olha, não pense nisso, por que você não relaxa e tenta... Voltar ao normal, enquanto eu pego os galhos e junto todos? – Mandei-lhe um sorriso largo e me levantei. O quanto mais longe eu ficar dele, mas rápido minha sanidade volta.

— Obrigado. – Ele devolveu o sorriso enquanto tentava regular a respiração.

Olhei os galhos respirando fundo. Eu até conseguiria levar uns sete daqueles, mas que isso não ia conseguir. Espero que Zayn consiga levar o resto... Ou isso, ou teremos que fazer duas viagens. Olhei para o céu. Negro. Não teríamos tempo para fazer duas viagens... Não sei nem se iremos conseguir fazer uma sem nos molharmos e molharmos os galhos. Me inclinei para frente empurrando alguns dos galhos que Zayn quebrou. Tentei colocá-los em uma pilha, em vão.

— Preciso de um cigarro. – Olhei para ele assustada.

— Você precisa se controlar. – Voltei a empurrar alguns galhos.

— Não é tão fácil assim! – Ele começou a remexer nas folhas eu estavam no chão de um jeito bem nervoso. – É necessidade...

— Zayn, olha... – Eu acabei de empurrar os galhos e me virei para ele. – A nicotina faz com que seu cérebro libere um bang lá que dá prazer, certo?

— Certo... – Ele concordou me olhando estranhamente.

— Então, é ai que você tem que mexer! Só precisa achar alguma coisa que dê prazer, afinal, existem outros prazeres na vida! – Comecei o meu discurso.

— NÃO NA MATA PAOLA! – Ele alterou a voz enquanto levantava. Ele apertava sua mão em desespero.

— Zayn... me fala o que te da prazer.

— O quê?! – Ele parou e me olhou com os olhos arregalados. Ele tinha entendido errado.

— Prazer, Zayn. – Revirei os olhos.

— Sexo. – Ele disse dando de ombros.

— EU TO FALANDO DE OUTROS TIPOS DE PRAZER! – Falei irritada. – Ou você quer virar um ninfomaníaco?

— Não! – Ele se assustou. – Hm... Me dá algum exemplo.

— Tá, vamos ver... – Comecei a revirar minha mente a procura de alguns exemplos bons. – Bem, por exemplo, no meu caso, coisas que me dão prazer... Massagem, dançar, cantar... Beijo no pescoço...

— Beijo no pescoço? – Ele repetiu em modo de pergunta.

— Sim ué, é bom, não é? – Ele concordou. – Gosto também de... cócegas nas costas e na nuca... Sabe quando você é criança e você brinca de desenho nas costas? Ai a pessoa fica passando os dedos fazendo um desenho e você fica arrepiado?

— Acho que nunca brinquei disso.

— Deveria brincar, é sensacional. – Encostei em uma árvore. – Vai, me diga o que te dá prazer.

— Massagem, cantar, beijo no pescoço... Amo que mexam no meu cabelo perto da nuca! – Ele parecia ainda estar pensando.

— Olha, já é um bom começo! – Eu disse animada. – Podemos dar um jeito nisso...

— Como?

— Eu vou te fazer uma massagem, vem aqui. – Eu o chamei com a mão e ele veio sem protestar.

Me sentei em uma pedra, que eu só percebi agora que estava lá. Fiz com que Zayn se sentasse em minha frente, porém no chão. Ele esticou um pouco o corpo, mostrando que estava tenso.

— Relaxa... – Passei minhas mãos pelos seus ombros tentando deixá-lo relaxado.

— Você não está ajudando a relaxar, está mais pra...

— Cala a boca. – Eu comecei a rir revirando os olhos. – Tenta ficar em ficar relaxado, por favor?! Ou não vai adiantar!

— Ok, me desculpe. – Ele deu uma risadinha.

Ok Paola, é agora que você mostrará que sabe fazer uma massagem como ninguém. Tá, você vai mostrar que sabe fazer uma massagem que serve bem para alguém que está no meio do nada na mata. Isso. Direcionei minhas mãos até cada um de seus ombros. Apertei-os fazendo movimentos circulares e depois passando a mão pelo seu braço. Apertei sua pele na altura de sua clavícula fazendo com que ele desse um suspiro fraco demonstrando que estava mais relaxado. Desci minhas mãos até o meio de suas costas e comecei a passa-las em sua coluna, contornando-a perfeitamente. Zayn respirou fundo e depois jogou um pouco sua cabeça para trás. Deixei uma risada escapar.

— Estou relaxado. – Ele disse dando um sorriso. – E um pouco excitado também, mas acho que eu deveria deixar isso pra mim, não é? – Ele me encarou.

— Deveria mesmo. – Me levantei ainda dando risada. – Me senti uma massagista pornô.

— Eu aceitaria facilmente... – Ele parou de falar ao receber meu olhar de ódio. – Eu disse aceitaria? Queria dizer NUNCA aceitaria...

— Aham, vou fingir que acredito em você. – Olhei para a pilha de galhos e depois para o céu. – Acho que é melhor nós irmos de uma vez e esquecermos esses galhos, vai chover.

— MAS EU QUEBREI TODOS ELES! – Ele estava abismado. – Nós vamos levá-los sim!

— Zayn, me escuta. – Respirei fundo tentando ser paciente. – Isso vai nos atrasar! O que vai adiantar se nos levarmos os galhos e pegarmos chuva no caminho?!

— TEREMOS GALHOS!

— MOLHADOS! – Eu revidei. – GALHOS MOLHADOS, ZAYN! E NÓS vamos estar molhados também, isso indica... FRIO!

— Nós vamos levar esses galhos e ponto final, Paola. – Zayn pegou vários galhos, deixando apenas 5 para mim. – Você vai pegar?

— Tanto faz. – Falei bufando.

Peguei os galhos e comecei a andar, deixando que Zayn me seguisse calado. Era incrível como eu e Zayn conseguíamos estar numa boa e do nada estávamos brigando. Foi assim o mês todo e pelo jeito vai continuar assim até essa coisa de topete se formar. Nós passamos muito tempo juntos depois de invadirmos a porcaria da faculdade do Chad – por causa do trabalho voluntário – e isso fez com que eu percebesse que isso iria continuar assim. Teve um dia que nós tivemos que limpar a sala de música, juro, em um momento nós estávamos rindo enquanto ele balançava uma maracá estranhamente mordendo o lábio, e em outro nós já tínhamos gritado um com o outro e estávamos com a cara fechada.

Dei uma olhada para Zayn, uma olhada feia pra deixar bem claro. Ele me olhou de volta nem dizer nada. Voltei a olhar para frente batendo os pés. Comecei a escutar uma risada atrás de mim. Esse vadio está rindo porque eu estou irritada... é isso?! Ele correu e ficou ao meu lado me encarando. Tentei não olhá-lo. Mas era difícil demais. Zayn tem uma gargalhada bem divertida e um jeito bem único de fazer isso. Eu até gosto e acho engraçado. Tenho essa mania de prestar atenção nisso. Quando Zayn gargalha, ele faz com que seu nariz suba deixando-o franzido em cima. O canto de suas bocas sobem junto e sua boca abre. Algumas pessoas podem achar esse jeito feio, mas eu acho encantador e engraçado. Babaca.

— Dá pra você parar de rir de mim?! – Eu não tinha conseguido me segurar e tinha começado a rir.

— Você fica engraçada nervosa... Você sabe...

— Cala a boca! – Eu dei um empurrão nele com o meu corpo.

— Está menos irritada agora? Já posso te dizer obrigado de novo? – Ele sorriu.

— Pode, mas irei ignorá-lo. – Eu sorri fraco. – De nada.

— Mas posso falar uma coisa? Não sei se vai dar certo isso, tipo, você vai fazer massagem em mim o dia todo?

— Não é assim que funciona, vai ser mais ou menos assim, no começo eu te ajudo a encontrar coisas que você sente prazer em fazer, e te ajudo a controlar, e com o tempo, você vai fazendo isso sozinho...

— Onde você aprendeu isso?

— Sozinha... – Dei uma olhada em nossa frente. Nós não estávamos tão longe assim da casa. – Bem, vamos planejar isso... Me fale sua rotina de fumo.

— Bem... – Ele parecia que estava pensando. – Eu fumo quando acordo, depois do almoço, no meio da tarde e antes de dormir. – Abri minha boca para começar a falar, mas ele continuou. – Além de quando bate a vontade e eu acendo um cigarro.

— O mais preocupante são os “antes de dormir” e “quando acordo”.

— Porque não tem como você estar por perto.

— Quando chegarmos na faculdade, daremos um jeito nisso. – Era fácil.

— Como assim? – Ele franziu a testa.

— Eu vou dormir no seu quarto. De segunda, quarta e sexta! – Eu disse sem pensar. Mas era uma ótima ideia. Se eu quero ajudar o Zayn, teremos que fazer isso. – Eu vou estar lá pra não deixar você fumar! E o resto dos dias você tenta se controlar! Fácil!

— Oi?! – Ele arregalou os olhos.

— Você me escutou.

— Paola... Acho que não vai ser uma boa ideia... – Deu um sorriso torto. – Não que eu não queria a sua companhia, mas, as pessoas vão falar no dia seguinte...

— Foda-se! – Eu disse alto dando de ombros. – Nós também temos boca não temos? Então nós vamos falar que eu estou te ajudando a parar de fumar e que nós somos somente AMIGOS, nada, além disso.

— Nós somos amigos? – Ele pareceu surpreso.

— Claro, acho que já estava na hora né? – Eu disse e pude ver um sorriso em seus lábios.

E então, começou a chover.