Dias Mortos

33: Anjos caem primeiro


Sorri enquanto seus olhos miravam para mim, a musica tinha se cessado, assim como as conversas. Até mesmo Julian sorria acenando em positivo enquanto Ravenna pulava animada ao seu lado.

- Acho que certamente todos devem se lembrar do que aconteceu no passado, o infortúnio com aquela pequena garota da qual vocês ficaram muito tempo submissos. Ouso dizer que sei que muito de vocês devem ter adorado toda aquela onda sádica que ela emanava, ficando feliz que alguém tão pútrido tenha pego meu lugar, já que muito de vocês me acham uma pessoa fraca, em certo ponto boba que atura todos e tudo -tomei fôlego, enquanto não retirava meus olhos dos devidos alvos, que eram os seres da escória mais baixa que havia no submundo e velos me temendo, era um sentimento que me fazia entrar em êxtase -Já que querem alguém um pouco mais além e isso que irei dar a vocês, não a todos...somente aqueles que merecem e com certeza vocês irão adorar esse meu novo lado sombrio que estou preparando para vós. Aos outros, a única coisa que tenho a dizer é que fico orgulhosa por não terem se submetido aquela garota que de modo covarde roubou meu lugar e matou inocentes, para sempre serão bem vindos em minha fortaleza. Espero que estejam felizes como estou, ao contrario apenas lamento com um grande sorriso, pois o reino de Lilith novamente começou.

A salva de palmas me fazia sentir em um pedestal, Ilanda assentiu delicadamente enquanto eu sorria suspirando profundamente vendo meus amigos, inimigos e companheiros compartilhando uma noite dedicada e mim.

- Acha que fui bem? -perguntei a Dorpet, enquanto caminhava em sua direção. Ele me deu um abraço que cheirava a cinzas e velas, sorrindo com os olhos muito longe para serem alcançados.

-Maravilhosa como sempre querida, novamente conseguiu se superar e deixar alguns que mereciam tremendo.

Sorri para mim mesma, enquanto passava os olhos sobre o salão.

- Eu não quero me tornar uma maluca sádica -argumentei sentindo algo amargo na minha garganta.

Ilanda foi quem me respondeu, com um olhar brilhante.

- Não será, sua natureza não é essa jovem, você é pura como os cristais que usa em volta de seu pescoço.

Mas eu temia, eu sentia que algo ruim estava se aproximando e isso me atormentava aos poucos.

Acho que seres do submundo gostam de uma boa festa, pois já eram três da manhã e todos pareciam eufóricos, na verdade eu não em sentia cansada mas queria um pouco de paz e silêncio, isso era impossível pois a todo momento homens de capa preta me seguravam em um canto, falando sobre política e o que fazer com as chamadas “almas desventuradas”.

Estava ficando irritada e cansada, meus olhos ardiam então tive a genial ideia de fugir para o andar de cima, esperar um pouco a multidão se dissipar.

Me arrastei pelo corredor, puxando os grampos que seguravam meu cabelo e sentindo um alivio enquanto a cascata de cachos caiam sobre minhas costas, livres. Caminhei pela escuridão, que era banhada apelas pela luz da lua que adentrava pelas janelas grandes mostrando um caminho longo e sinuoso, cheio de engrenagens. Se parecia como um corredor steampunk.

Gostaria de saber onde Casper tinha se metido, o vi do outro lado da sala encostado na parede, com um sorriso particular para mim, me dando forças para aguentar todos que queriam ver minha queda, então depois disso ele simplesmente sumiu.

Enquanto andava, sem saber ao certo meu destino sentia que alguma coisa vigiava meus passos. Lentamente virei para trás, onde nada havia a não ser escuridão...fiz uma careta novamente me lançando para frente, dando de cara com alguém e grunhindo enquanto me afastava, pronta para lançar alguma magia pesada em sua direção.

Fiquei um pouco feliz, em saber que não sentia mais tanto medo assim.

- Casper! -gritei na escuridão, largando meu amuleto e fazendo uma careta em sua direção -Seu maldito desgraçado, poderia ter lhe transformado em um enfeite de jardim!

Ele sorriu, fazendo seus olhos entrarem em chamas enquanto se escorava na parede.

- Sei mexer com magia mais que você minha bela.

Enruguei meu rosto, cruzando meus braços e abrindo um sorriso.

- Você não me assusta, não mais -então suspirei, enquanto ele sorria me pegando lentamente pelas mãos -O que faz aqui, alias onde se meteu?

- Tinha uma pequena surpresa, venha comigo.

Sem hesitar o segui, andamos em silêncio apenas ouvindo a respiração um do outro, enquanto passeávamos pela escuridão. Finalmente parecemos chegar em um tipo de sacada, onde havia uma vista absolutamente linda do horizonte rochoso sendo coberto por uma fina névoa noturna, enquanto a lua banhava o campo e o lago enegrecido pela noite, cercado de flores vermelhas sangue, selvagens em sua beirada.

- Está uma noite linda! -disse suavemente, enquanto brisa fria dançava sobre minha volta e as estrelas brilhavam sobre nossas cabeças.

- Alguns seres aqui que gostariam de um minuto da sua atenção -disse Casper perto dos meus ouvidos, olhei em sua direção mas seus olhos estavam no horizonte.

- Não vejo nada -argumentei tentando ver algo, mas tudo que via era uma paisagem noturna.

Ele apenas fechou os olhos, e seus lábios se mexeu mas som algum saiu. Estava estranhando isso tudo, mas de certa forma era encantador, engoli em seco sentindo o vento ficar um pouco mais forte, então ele se virou para mim.

- Lembra-se de que você me devia -sorriu enquanto brincava com uma mexa pálida do meu cabelo, assenti em positivo me sentindo um pouco entorpecida -A única coisa que peço Lilith é que os aceitei, você necessita de um novo exército e eles querem lhe servir.

- Eles quem? -sussurrei ainda perdida na imensidão de seus olhos, ele sorriu enquanto lentamente me virava para frente e eu senti minha boca se abrir em um "O" perfeito, enquanto meus olhos se arregalavam em admiração.

Onde era apenas uma vasta campina marcando o território da minha fortaleza, agora estava sendo banhada por seres de aparência delicada e pálidos, com olhos luminosos piscando como estrelas queimando em minha direção. Sob a fraca luz da lua, suas asas brancas e negras se misturavam formando um tapete encantador, sobre os anjos que ali estavam, me encarando a espera de algo.

- São caídos, alguns estão comigo a muito tempo...outros você mesma ajudou mas Kizzy fez questão de os mandar para as celas do submundo. Agora que novamente você voltou, eles querem protegê-la.

Essa última palavra me fez gelar, como se milhares de fragmentos de gelo se revirassem em minhas entranhas.

- Me proteger de que? -perguntei enquanto não tirava os olhos de todos eles, que não esboçavam reação alguma.

Senti Casper suspirar pesadamente, enquanto acariciava meus dedos.

- Nunca se saber o que pode acontecer, quero que sempre esteja protegida, nem mesmo seus poderes são pários para as criaturas mais cruéis do submundo.

Olhei em sua direção e ele estava com suas asas abertas, lindas e negras parecendo reluzentes na luz na noite. Ele mergulhou para baixo, junto a seus companheiros e eu fiquei na ponta dos pés, contemplando com encanto e assombro, enquanto ele ficava na frente de todos e isso me fez sorrir, algo tremido mais que saiu.

Nunca tinha me sentindo melhor em toda minha vida, mas em meio a toda essa felicidade estranha e admiração, algo no fundo da minha alma mandou eu ficar esperta. Agora eu tinha um exército de anjos caídos, mas o que estava por vir...seja o que for, era muito maior do que qualquer poder que eu já tive conhecimento.