Dias Mortos

34: A chegada dos tempos Imperfeitos



Agora que tudo parecia mais claro, uma única coisa rodava em minha mente, como de forma eu nasci. Claro que todos passam por aquele ciclo e tem seus pais, mas e os meus, tirando meus guardiões Ilanda e Dorpet, eu tinha algum pai ou mãe?

– Lilith, você parece estranha a mais que o normal -sorrio para Ravenna, que estava sentada na cadeira perto da minha penteadeira, balançando seus sapatos de boneca no ar.

– Apenas estava pensando, gostaria de saber como Ilanda me encontrou.

Ela fez uma careta, enquanto pulava para o chão e me dava um olhar de desculpa.

– Não sei lhe dizer nada sobre isso -então sorriu correndo para porta -Vou acordar Julian, mostrar a ele a beleza da planície de pedra.

– Divirtam-se -disse por fim me sentindo com um sentimento estranho, enquanto novamente ficava sozinha.

Porque Casper me daria um exercito de caídos?. Algo não cheirava nada bem nisso tudo e novamente queria respostas. Joguei os lençóis para longe, enquanto me apoiava na janela procurando saber onde começar, talvez Ilanda ou Dorpet...é eles saberiam me informar o que estava havendo.

Será que eu nunca teria paz!

Me enfiei em um conjunto escuro, pulando para amarrar as botas enquanto abria a porta do quarto e fazia um coque no cabelo. Esse lugar era gigante, havia três andar mas o mais usado era o primeiro, eu sabia exatamente onde ficava o chamado escritório deles. Enquanto passava pelos corredores, eu sabia que não estava sozinha, havia seres se arrastando e subindo pelas paredes, eles trabalhavam como guardiões da fortaleza.

Subi alguns degraus de pedra, até chegar no corredor largo que tinha apenas uma porta, alta de madeira fria e cinzenta, onde vozes vinham lá de dentro.

– Você só pode estar maluco certo! Como pode dar a ele um exercito de caídos! Está sendo precipitado e irresponsável.

Ilanda parecia furiosa, abri lentamente a porta conseguindo um vislumbre do seu cabelo selvagem a encarar alguém de forma que poderia corta-lo em dois.

– Eu sendo irresponsável só porque quero protegê-la, vocês que me parecem não mexer um músculo para tentar ajuda-la.

Casper? O que Casper fazia aqui, ele tinha de estar vigiando o portão do submundo não estar brigando com Ilanda.

– Nunca mais diga isso, ela é nossa joia mais preciosa.

– Pois não parece -eu me senti mal por Ilanda, a voz de Casper era áspera e fria como nunca antes. Ele estava chegando a me dar medo, enquanto acusava a mesma de alguma coisa ainda não descoberta por mim -Sei o que estou fazendo Ilanda.

Ilanda apenas se deixou cair na sua gigante cadeira giratória, enquanto seus pequenos olhos brilhantes ficavam lacrimejantes e tremia os lábios inferiores, enquanto encarava Casper com pesar.

– Não tem como acabar isso, você sabe muito bem! Ela prometeu e agora terá de cumprir, alguém irá morrer e sabemos quem é.

– Não! -me sobressaltei com o grito de Casper e tentei parar de tremer, ele estava furioso eu conseguia ver seus olhos se tornarem negros, enquanto se apoiava na mesa, de frente para Ilanda - Ainda temos uma chance Ilanda.

Ela sorriu, enquanto encarava a janela.

– Ouso estragar suas esperanças filho, mas o tempo se esgotou. A morte não para, ela corre e agora sinto ela se aproximando. Ele está a caminho e sabe exatamente o que quer, Lilith está condenada Casper e não a nada que possamos fazer...não mais.

Casper nada disse, eu me sentia estranha com uma súbita vontade de vomitar, como se o ar ao meu redor pesasse e estivesse me afogando, enchendo meus pulmões e me arrastando para o nada.



Eu sabia que com eles não arranjaria nada, agora me sentia um pouco perdida porque Casper não estava sendo meu guia, mas eu sabia onde novamente pedir ajuda e dessa vez ela não me negaria: Magda era meu ponto alvo.

Encontrei sua cabana com facilidade, na verdade eu sabia exatamente as trilhas e passagens tanto para Egerver quanto para o submundo. Subi os degraus, sentindo como um grito o silêncio me abraçar, bati na sua porta apenas uma vez antes que ela fosse aberta.

– Sim? -perguntou com seus olhos coloridos a me vigiar, sorri e ela pareceu se iluminar -Garota das sombras, vejo que seus olhos estão brilhantes acho que sabe exatamente que é.

– Sim, muitas coisas aconteceram e estou de volta -então deixei o sorriso morrer -Preciso da sua ajuda Magda, urgente.

– Claro que precisa. Entre, sei exatamente o que quer.

Isso não era surpresa, me arrastei para dentro da sua casa, que tinha um forte cheiro de incenso e algo forte, não ruim mas forte o suficiente para me causar tontura. Me sentei em um sofá macio, enquanto ela nos servia uma xícara de algo azulado.

– Então, dessa vez poderá me dar respostas? -perguntei por fim, enquanto a mesma esticava os dedos para um monte de cartas, perto de sua planta carnívora.

– Farei meu possível, agora beba isso e estenda suas mãos -foi o que fiz, seu chã estava gelado e deixava minha língua formigando, não tinha gosto de nada apenas um leve azedo. Estendi minha mão para si, onde ela pingou algo verde na minha palma enquanto murmura para si -Diga seu nome.

– Lilith.

– Hó sim, você é a criança das sombras. Nascida por meio de um ritual de velas negras, com o leve aroma da morte pairando sobre o ar. Sua mãe fora uma mulher jovial e muito inocente, pega pelas garras do pecado, pelas garras da morte...seu pai um ser das trevas guerreiro a que fora morto pelos demônios que povoam o submundo, lhe deixando a mercê da sorte em um quarto escuro, sozinha com freiras de rosto psicopata encarando a criança que não chorava, de olhos prata e assustadores. A criança que trazia a marca da morte, a criança escolhida.

Engoli em seco, enquanto ela não tirava olhos do meu rosto.

– Escolhida para que?

– Você é um fruto proibido, o fruto podre...a filha do pecado -ela já tinha me dito isso e não era animador, estava tremendo levemente quando ela disse por fim, rolando os olhos para trás -A promessa...você tem que cumprir a promessa...

– Que promessa? -disse por fim, enquanto o corpo de Magda entrava em convulsão e ela tremia.

– Chris...ele...Christabel.

Então ela gritou, enquanto se transformava em um monte de cinzas a minha frente. Pulei para trás, colocando a mão na boca e sentindo meus olhos arderem.

Quem era Christabel?