Ele concordou com a cabeça ainda sorrindo. Seus olhos eram as coisas mais brilhantes que Diane já tinha visto na vida, e isso fez com que ela retribuisse o sorriso.

– Te vejo amanhã minha princesa. - Ele disse, e depois saltou para fora do quarto da moça.

Diane continuou admirar a grandeza do céu, e percebeu o quão pequena e talvez insignificante ela era. Restavam poucas horas antes de amanhecer, e diante do seu reflexo no espelho percebeu que seu cabelo tinha crescido de uma forma anormal, dando lugar á um cabelo grande e enrolado - que antes era curto e liso - e também estavam muito brilhantes, e que seus olhos estavam com um marrom mais claro, com uma cor platinada. Agora ela estava parecendo uma vampira de verdade. Aquele olhar a fazia sentir como seu pai, e o pensamento fez com que ela rapidamente escondesse o rosto entre as mãos. Vergonha. Medo do que a aguardava num futuro não tão distante, e numa eternidade que demoraria a acabar. A transformação estava vindo tão depressa, aparecendo mais rápido do que ela pensava, e logo teria que matar ou morrer, e diante daquele momento percebeu que faria qualquer coisa pra viver com Sebastian... E isso significa que ela teria que matar alguém inocente. Uma alma que ela mandaria direto pro inferno, sem mais nem menos. Ou era alguém, ou era ela. E essa escolha a fazia tremer, a sentir um medo que jamais tinha sentido na vida, nem mesmo quando mataram sua mãe.

– Eu não vou ser como ele, não posso! - E pôs-se a chorar em sua cama.

Sebastian

Ele continuou a andar pelas ruas da Transilvânia, e decidiu que iria pro cemitério pra visitar seus antepassados. Quando chegou lá, sentiu um cheiro de Morte. Não a Morte velha, dos mortos, mas sim a nova. E isso só poderia significar a nova guerra que estava por vir, e ia matar milhões, talvez até matar todos humanos, vampiros, e talvez até os poucos bruxos que vivam na Transilvânia. Os dois povos iam se enfrentar sem nenhum motivo aparente; apenas pelo sádico prazer de matar. E aquele pensamento fez com que ele tivesse arrepios na nuca enquanto caminhava no meio dos mortos. Percebeu também, que, o túmulo dos vampiros que ali estavam não tinham cruzes, tinham grandes e monstruosas gárgulas de pedra.

Foi até no fundo do cemitério para ver os antepassados, os que realmente fundaram a sua preciosa cidade. E lá numa lápide bonita demais pra um qualquer, estava o nome de Munique Van Hallen, nascida em 1340 e morta em 1426, com as palavras 'Mãe, esposa e atriz incomparável. Sempre amaremos você, D&D'. Exatamente 2 anos atrás, pensou Sebastian. Na foto de sua lápide, Munique estava majestosa: seus cabelos pretos caiam sobre os ombros, enrolados apenas nas pontas, com os olhos verdes e exibia um belo sorriso. Ele percebeu por que Drácula se apaixonou por ela, e isso fez com que ele lembrasse de Diane.

Parecia que quanto mais fundo do cemitério ele ia, mais a escuridão o engolia. Não que ele gostasse de sentir essa sensação, mas algo dentro dele falava pra ir em frente, sempre em frente. No fundo do cemitério encontrou uma moça que não aparentava ter mais de seus 20 e poucos anos, ela estava chorando. Os cabelos dela misturavam com a noite, e seus gritos de desespero fez com que Sebastian chegasse mais perto pra ver do que se tratava.

– Olá minha donzela. Qual é o motivo do seu desespero? Talvez eu possa lhe ajudar. Se me permitir, claro.

Aquilo fez com que a moça desse um meio sorriso no meio das lágrimas, exibindo dentes perfeitos.

– Mas quanta bondade pra um só cavalheiro! – Ela disse com a voz áspera demais, como se fosse a primeira vez que ela tivesse usado em sua vida. Ela ergueu a cabeça e o encarou com aqueles grandes olhos castanhos. – O motivo do meu desespero, é que meu pai morreu dois anos atrás e só hoje pude vir nesse cemitério. Não me entenda mal, eu não sou deste lugar, e nem pretendo ser. Transilvânia é o lugar que mais tem vampiros na atualidade, e sabe, eu não gostaria de viver num lugar como esse, sem saber se eu estou a salvo ou se meu marido é um vampiro e pode me comer viva a qualquer momento.

A moça olhou para o céu, como se estivesse pensando. Essa expressão fez com que Sebastian ficasse confuso.

– Você não é um vampiro, não?

– Não senhora. Mas creio eu que não posso ajuda-la agora, e que o melhor remédio pra isso que você está sentindo é o tempo. E sinto muito pelo seu pai, deveria ser um grande cavalheiro.

Sebastian foi deixando o cemitério quando a moça agarrou seu braço.

– Pode me dizer, por favor, qual é seu nome? – Ela suplicou com aqueles olhos aguados.

– Sebastian Jones, caçador de vampiros. E você, minha senhora?

– Que prazer conhece-lo, senhor Jones. Eu sou Agostina Bourne. A noiva de Jhonanthan Kutner, creio que já ouviste falar.

Ele concordou com a cabeça.

– Sim, já ouvi falar muito bem á respeito do seu noivo. Fico feliz em conhecer a futura senhora Kutner. Mas agora eu tenho que ir...

Agostina concordou com a cabeça, e voltou a fitar o céu.

– Sebastian, não se esqueça de que a verdadeira felicidade é o privilégio de poucos, e pelo que eu vi, você faz parte desses poucos. Não deixe ninguém estragar isso, não deixe ninguém tirar isso de você por que isso é o bem mais precioso que qualquer um poderia ter. Você é um cara de sorte, Jones.

Boa noite, cavalheiro.

– Boa noite, Bourne. – Ele sussurrou.

Ele voltou a andar pela noite fria da Transilvânia, até que sua ama – ele preferia chama-la assim do que o famoso termo ‘escrava’ - veio em direção a ele. Ela estava com uma aparência horrível, os olhos estavam lacrimejando, e pra completar estava descabelada e seu vestido estava todo amaçado. Parecia desesperada demais, e isso deixou Sebastian realmente preocupado. Afinal, o que tinha acontecido com a família Jones?

– Sebastian! Que bom que te encontrei. Trago uma notícia ruim Sebastian. Ruim pra todos nós. Não queria lhe dar esta notícia, mas eu sou a única que está aqui agora. Eu sinto muito!

– O que está acontecendo, Rosemary? Me fale de uma vez e poupe o tempo de nós dois! – Ele parou pra pensar um pouco. – Como assim você é a única que está aqui? Minha família, onde estão? Estás me deixando realmente preocupado, então por favor seja breve.

– Não senhor. Sua família está na Itália.

– Mas que eu saiba, somente meu pai viajou pra lá. E o assunto que ele foi tratar são negócios, não passeio. O que está acontecendo afinal?

– Como soubeste, seu pai estava na Itália, sim. Mas precisamente em Verona. Seu pai morreu, Sebastian. Ele foi assassinado. O mataram assim que o viram chegar lá, só hoje nos comunicaram sobre essa tragédia.

Sebastian estava pasmo, com os olhos vidrados pro nada. Estava lutando contra a louca vontade de se jogar no chão e chorar pelo resto da sua vida; Seu pai era sua inspiração, seu herói, seu tudo. Rosemary ficou o encarando, esperando uma reação dele até que uma lágrima saiu de seus olhos, e ela continuou a falar.

– Pelo que parece, foi um camponês que o reconheceu. Sua mãe e seu irmão queriam te levar a hora que souberam, mas você não estava lá, então, eu os convenci a deixar você ficar aqui... Sinto muito, Sebastian. Sinto mesmo. – Ela puxou uma mecha de fio loiro pra trás da sua orelha e continuou a encarar com aqueles frios olhos azuis.

– Quem fez isso com ele? – A pergunta que ele tinha em mente era ‘Quem o matou?’, mas não conseguiu pronunciar. Parecia um outro idioma, tão difícil quanto o latim. Ele ficou de que sua mente pudesse traí-lo, fazendo-o gaguejar e tremer.

– Não sabemos mas desconfiamos que – Sebastian não a deixou terminar.

– Quem fez isso com ele? – Ele repetiu, agora olhando nos olhos dela.

– Achamos que foi o herdeiro de Richard Brienne, Damien. Mas não vá fazer algo precipitado, Sebastian!

As palavras se perderam no ar quando ela disse Damien, Sebastian sentiu seu sangue ferver e as lágrimas finalmente começaram a cair, só que desta vez de raiva. Virou de costas deixando Rosemary falando sozinha e começou a andar. Desta vez ao encontro com seu maior inimigo, Damien Brienne.