Diane alisava seus cabelos na frente do espelho quando se deu conta de que seu aniversário de 17 anos estava chegando, e isso significava que ela teria que passar pela transformação pra ser a nova Condessa. Condessa, esse título que ela teria que carregar era muito pesado, e isso a fazia lembrar das festas que seu pai a obrigava a ir. Várias Condessas eram esnobes, ignorantes. Ela se deu conta que não queria ser uma Condessa. E a outra parte que a fazia recusar a passar pela transformação era que não poderia ver seu reflexo no espelho nunca mais.

Isso fez com que ela tivesse uma breve pontada em seu estômago, e ela começou a se admirar em seu espelho enquanto podia. As sobrancelhas perfeitamente arqueadas, a pele branca com as bochechas rosadas, os olhos castanhos claros davam a impressão de que ela era mesmo uma vampira. Não, ainda não, pensou ela. Ela voltou a se admirar, e percebeu que o seu cabelo preto que lhe caia sobre os ombros era uma rica herança que sua mãe havia deixado á ela.

Diane ouviu batimentos na porta, e não precisou nem perguntar quem era, por que já sabia que era o temido Conde Drácula. Antes de falar pode entrar, seu pai já estava lá dentro de seu quarto. Mesmo pra ficar em casa, Drácula se vestia de forma elegante. A capa que ele usava dava a impressão de que ele era muito maior do que 1,70 de altura, seus cabelos estavam puxados pra trás com tipo de um gel, e quando Diane olhou dentro daqueles olhos vermelhos, enxergou malícia. E isso fez com que ela arregalasse os olhos enquanto Drácula arqueava uma sobrancelha e andava em círculos no quarto da filha.

– O senhor deseja algo, pai? - Diane disse com a voz trêmula. Drácula se virou para ela e isso fez com que ele sorrisse.

Pai. Você não tem me chamado assim, desde quando Diane? - Drácula falou sem rodeios. Mas continuou falando, sem deixar espaço para Diane responder. - Bem, o que eu vim falar aqui não envolve apenas você, como também envolve a reputação da nossa família. Você já tem uma ideia do que seja, Diane?

Diane negou com a cabeça.

– Como soubeste, o Conde Brienne tem um filho, Damien. Ele tem 20 anos e já passou pela transformação, o que é algo grandioso, tanto pra sua família quanto pra ele mesmo. O que eu queria dizer é que... - Drácula ficou pensando na maneira mais delicada ao dar a notícia para a filha.

– Você não está me dizendo que fez isso, fez? Me vender para uma família desconhecida, da qual você não sabe se vão cuidar de mim ou até mesmo me fazer de sua escrava. - Diane levantou do banco, e foi para perto de seu pai com aquela capa enorme, ela se sentia pequena. Frágil. Incapaz. Inútil. - Qual o real motivo para você me prometer para aquele homem? Por que tudo que o senhor Vlad Tsepesh aka Drácula faz, é pra honrar a família. Que parte de honra tem nisso, pai? Por que não posso escolher meu noivo, do jeito que você escolheu a minha mãe?

– Ouça bem, Diane. Só vou falar uma vez e quero que você preste toda a atenção deste mundo. Vai acontecer uma guerra entre vampiros e caçadores, na qual vai abalar a nossa existência, talvez nos coloque até a beira da extinção. Os Brienne são um grupo forte de vampiros, e junto com o exercito dele, talvez poderemos vencer a guerra. - Drácula foi suavizando o tom de voz. - Sinto muito, Diane. Mas tudo isso é para o seu bem, ver você morta seria o pior castigo pra mim.

Diane estava com lágrimas nos olhos, impedindo pra que elas saíssem, até que ouviu alguém bater na porta, e assim a conversa dos dois se encerrava.

– Já estou indo! - Drácula gritou. - Sinto muito, princesa. Tente descansar, você tem que poupar energias para a transformação. - Drácula beijou a sua testa e passou as mãos no rosto de Diane.

– Mas, por que eu não posso escolher meu noivo igual você fez com a mãe? - Diane falou deixando uma lágrima escapar.

– Por que agora não é questão de escolha, é questão de matar ou morrer. Sobrevivência. Acredite em mim filha, eu não queria isso pra você. Queria que você sentisse o que eu sentia pela sua mãe, mas infelizmente, esse privilégio você nunca vai ter.

E dizendo essas palavras, Drácula saiu do quarto, batendo a porta e deixando um eco no quarto. Diane ficou parada no mesmo lugar, e só depois que sentiu uma lágrima escorrendo de seu rosto decidiu sentar e chorar livremente. Eu nasci com uma maldição, além de ser vampira, eu sou uma Drácula, pensou ela enquanto estava lá. Sofrendo em silêncio e sozinha.