Diane se deu conta de que não poderia ficar chorando a noite toda, e quando viu o seu relógio percebeu que a hora do jantar era daqui a 10 minutos. Ela começou a pensar na transformação: na dor insuportável que ia sentir, e até mesmo mudar fisicamente. Só de pensar que nunca mais poderia ver o sol nascer, fez com que ela tivesse calafrios. Mais uma vez ela ouviu batidas insistentes na porta.

– Pode entrar. - Diane gritou enquanto enrolava uma mecha de seu cabelo.

Era Rosana, a empregada que seu pai havia contratado a menos de um mês. O seu cabelo ruivo avermelhado estava preso num coque, e como de costume, usava o vestido imenso que tinha ganhado de Diane, como forma de presente. Os olhos castanhos de Rosana estavam cintilantes e isso só poderia dizer uma coisa: Drácula tinha a enfeitiçado. De novo.

Normalmente, ele fazia isso pra poder beber o sangue dela sem o consentimento, e no jantar ele falava pra ela que era vinho para que ela pudesse acreditar. Quando as empregadas notavam que estavam servindo de comida para o Conde, logo gritavam e pediam demissão; e isso era como se elas estivessem assinando a sentença de morte delas.

– Óh céus! Você ainda não está vestida! - Rosana disse apavorada enquanto passava os dedos nos vestidos de Diane. - Seu pai mandou avisar que hoje o jantar vai ser diferente, os Brienne vão estar aqui!

– Eu me recuso a ir nesse jantar! - Protestou Diane.

– Condessa Diane a vossa senhoria não pode fazer isso com o seu pai, para seu bem eu lhe aconselho para que não desafie a autoridade dele. Não faça ele vir aqui, pois hoje ele torturou mais cinco camponeses, e não sei como ele reagiria se visse você questionando as ordens dele. - Rosane pegou um vestido de seda vermelho e começou a admirá-lo. - Você vai com este aqui.

Diane apenas assentiu com a cabeça e deixou que a empregada a vestisse. Ela mal chegou na copa e viu que dois homens estavam lá: o mais velho tinha cabelos rasos, e os olhos de um intenso azul, as roupas de nobre caiam bem nele, e pela palidez de seu rosto, Diane deduziu que esse fosse o Conde Brienne. O mais novo, tinha os olhos dele e os cabelos eram de um incrível marrom brilhante.

Drácula se levantou quando viu sua filha chegar e todos naquela sala aplaudiram-a. Ela ficou surpresa ao ver que a Condessa Brienne lá, o cabelo dela parecia mais um pavão, e o vestido era de cores vibrantes, exageradas para aquela ocasião, e essa pequena observação fez com o que Diane desse um sorriso.

– Eu lhes apresento minha filha, a futura Condessa e herdeira deste castelo Diane Drácula Van Hallen. - Seu pai falou com todo orgulho, e enquanto ela olhava pra ele, ela sentiu os olhares de todos naquela sala a perfurando-a.

– Fico muito feliz em conhece-la, minha futura esposa. - Ao falar isso, Damien pegou sua mão e lhe deu um beijo, e aquele beijo deixou Diane nauseada.

– Eu também, senhor Damien. - Fingiu Diane.

– Sem formalidades, por favor! Ainda mais agora que vamos ser uma família só! - Sorriu o Conde Brienne. - Meu nome é Richard Brienne, mas você pode me chamar de Richard, minha futura nora. E esta é Célia Bell Carter ll Brienne.

Célia fez uma referência e Diane a imitou, sem saber o que fazer.

– Encantada, senhorita Célia.

– Posso lhe dizer o mesmo, Diane. O seu pai não nos contou que você seria tão linda assim. Aposto que nós seremos grandes amigas! - Pelo jeito que ela disse isso, Célia estava muito empolgada com a vinda da nova nora.

Que pena que eu não posso dizer o mesmo, Célia pensou Diane. Ela voltou a encarar seu pai, que agora já estava sentado tomando um bom gole do seu 'vinho', enquanto a mesa estava lotada de comida. Todas as comidas que ali estavam eram pra manter a aparência, já que todas proteínas e vitaminas que eles precisavam estavam no sangue.

– Sente-se Diane, temos muito o que conversar. - Sugeriu Damien com um sorriso.

Diane se sentou e ficou olhando todos eles beberem sangue, e a Condessa olhou de forma curiosa pra ela. A dúvida estava nos olhos dela.

– Você ainda não passou pela transformação, querida? É por isso que não vai tomar um gole?

– Ela não passou ainda pela transformação. O aniversário dela de 17 anos é daqui a oito dias. E ela será tão forte quanto Munique, disso eu tenho certeza. - Drácula respondeu pela filha, e Diane estava surpresa pelo fato de seu pai falar pela primeira vez de sua mãe.

– Que ótimo! - Falou o Conde. - Quando vamos marcar o casamento? Antes ou depois da transformação? O que você acha disso, Damien?

Diane estava bebendo água tentando fugir daquele assunto que a irritava tanto.

– Antes ou depois, pra mim tanto faz. Eu quero realmente ficar do lado de Diane, o tempo que for. Então, a dada eu deixo nas mãos da minha noiva.

Ao ouvir aquilo, Diane cuspiu a água e olhou para Damien sem saber o que dizer. Ela olhou nos olhos do pai, que agora demonstravam fúria e constrangimento.

– Me desculpem! - Sussurrou ela enquanto pegava um guardanapo e limpava sua boca.

– Diane ainda é muito nova pra resolver essas coisas, então eu mesmo vou resolver. O casamento dos nossos filhos vai ser depois da transformação de Diane. - Disse Drácula com a voz mais autoritária do mundo.

– Que ótimo! Mal posso esperar! - Damien disse, animado.

– Já escolheu o vestido? - A Condessa perguntou, e o olhar que ela lançou pra Diane, fazia o sangue parar. Aqueles olhos laranjas deixava-a com medo da resposta.

– Rosana já está cuidando disso pra mim. - Diane respondeu suavemente.

– Quem é Rosana? - Perguntou a Condessa.

– O vinho, mãe, o vinho! - Disse Damien.

Depois que jantaram e finalmente foram embora, Drácula e Diane se sentaram naquela mesa e encararam um ao outro. Era impressionante como ela lembra Munique quando jovem, pensou Drácula.

– Rosana, venha aqui! - Gritou Drácula.

A empregada veio correndo pra ver qual era o motivo do berro, e quando chegou, Drácula a segurou pelo braço e olhou no fundo de seus olhos, Diane sabia o que iria acontecer, ele ia enfeitiça-la para poder beber mais de seu sangue. Mas ela não ia deixar ele fazer isso, pelo menos não hoje!

– O que você vai fazer com ela? - Perguntou Diane, mas ela já sabia da resposta.

– Eu vou pegar o que é meu. - Drácula se virou rapidamente pra dar uma olhada na filha, e voltou a encarar Rosana. - Rosana, você jurou lealdade a mim. E você me deve um pouco de seu sangue, está lembrada?

Aquilo foi a gota d'água pra Diane, ela bateu na mesa com tudo, tirando Rosana do transe e fez com que os dois olhassem pra ela com toda a atenção que tinham.

– Espero que seu motivo seja muito bom, Diane. - Disse Drácula.

– Chega disso! - Gritou Diane, enquanto estava com as duas mãos na mesa em forma de apoio, ela abaixou a cabeça e voltou a olhar Rosana. - Rosana, pode ir agora, eu e meu pai temos assuntos á tratar, em particular.

Rosana assentiu e deixou os dois na copa. O vento frio bateu no cabelo de Diane, fazendo-os dançar, e ela olhou diretamente nos olhos vermelhos de seu pai.

– Como se não bastasse você me ter feito de motivo de chacota hoje no jantar, agora me impede com que eu me alimente; Qual é o seu problema, Diane?

– O meu problema é que você acha que não só a Transilvânia, mas o mundo inteiro gira em torno de você pra fazer tudo que você quiser. Mas não é bem assim não. Eu vou me casar com aquele imbecil do Brienne, mas você vai ter que me prometer uma coisa.

Drácula assentiu com a cabeça.

– Pois bem, me diga qual é.

– Você nunca mais vai beber sangue humano, por que se beber, eu venho aqui pessoalmente e espeto você com uma estaca de um metro. Pra que assim, você tenha uma morte lenta e dolorosa.

– Sabe Diane, sempre me falavam que você era diferente de mim, que preferia os humanos á nós, vampiros, mas agora vejo que eles erraram. Você é igualzinha a mim, sempre pensando em tortura e mortes. Este é o seu ponto forte, Diane. É a única herança que não pode ser comprada que eu lhe deixei. - Drácula parou pra pensar. - Mas se eu não sobreviver com sangue de humanos, vou sobreviver com o quê?

– Não sei, se vira! - Diane disse dando as costas á seu pai.

– Esta conversa não acabou, Diane! Volte aqui. - Gritou Drácula num tom autoritário.

– Pra mim acabou a exatamente dois minutos. Boa noite, durma com os demônios. - Sem olhar pra trás Diane foi para seu quarto e despencou na cama.

Ela dormiu com o mesmo vestido, e esperou que o sol nascesse para que pudesse levantar de vez. Diane achou uma carta junto á uma rosa, que estava o segundo recado:

Você está certa Diane. Não posso lhe obrigar a casar com um homem que nem conheces, que nem a ama de verdade. Mas a guerra vai começar, e eu seria um tolo se não juntasse as elites mais poderosas para lutarem lado a lado (os Drácula e os Brienne). Mas pra que isso aconteça, preciso de sua permissão para seguir adiante com esse casamento. Antes de tudo eu gostaria de me desculpar pelos meus modos grosseiros da noite passada. Espero que tenha descansado bem. Independente de tudo, eu sempre amarei você. Conde Drácula.

Aquilo fez com que Diane sorrisse enquanto admirava o belo por-do-sol.