Aos poucos, sua consciência foi sendo recobrada e ele foi abrindo os olhos. Sua visão estava embaçada e os pensamentos ainda estavam confusos, mas ele conseguiu reconhecer as duas figuras a sua frente e deu um pulo para trás, fazendo com que batesse a cabeça na árvore onde estava encostado anteriormente. Afagou o lugar do impacto e esfregou os olhos, tentando acreditar no que via.

– Finalmente acordou!!! – A garota a sua frente disse, sorrindo largamente. Seus enormes olhos verdes brilhavam de curiosidade. Cabelos cor de fogo com as pontas pintadas de negro, como se ela tivesse mergulhado as pontas dos fios em tinta preta. E enormes orelhas acompanhadas de uma cauda.

– O-o-o-o que??! – ele estava confuso – como sempre – e abatido. Jessie encontrava-se a poucos metros no fundo, apenas observando e rindo da cena a sua frente.

– Soren! Esta é Liz! Também é uma Lutka, assim como eu. Liz, esse é o idiot- quer dizer, Soren. – A boneca sorriu.

– Por favor, não me diga que ela é aquela raposinha de antes.

– Uh! – a ruiva pareceu surpresa. – Ninguém nunca tinha acertado antes! Se bem que eu nunca tive que explicar isso pra ninguém porque todos morriam na parte da RedRod... Bem! Você é a primeira Alice a passar por RedRod! Parabéns! – Ela sorriu, e estendeu a mão ao garoto, parte cumprimentando ele e parte o oferecendo ajuda para levantar. Ele segurou a mão estendida e levantou-se.

– Se era aquela raposa de antes, então porque não me ajudou??

– Isso seria porque eu não posso transformar-me de volta até que a pessoa passe pela sessão de perguntas da RedRod, porque se eu me transformasse, eu acabaria ajudando a Alice a passar.

– Ok, agora vamos visitar Groot. – Jessie encostou-se em uma árvore dali e abriu o mapa, analisando-o. – Sinceramente eu nunca passei de RedRod, então não sei exatamente o que fazer... – Ela parou por alguns segundos, como se lembrasse-se de algo. – Ok, Bell, o golem de comunicação de Oz, deve estar a caminho, assim vamos podre nos comunicar com ele e tudo vai ficar mais fácil.

– Groot? Meu deus, a gente vai entrar no mundo de Guardiões da Galáxia??? – Os olhos do garoto brilharam por detrás dos óculos.

– Hã? Claro que não, a gente vai... – ela calou-se, como se lembrasse-se de que não era permitida a falar mais do que aquilo. Fitou a ruiva rapidamente e então voltou seu olhar a Soren. – Enfim, vamos, você verá quando chegarmos lá.

Andaram por mais alguns metros pela estradinha de terra, até que a floresta começou a tornar-se densa, densa demais, o céu acima deles era quase impossível de ser visto, sendo coberto pelas copas das árvores. Soren teve a impressão de que as coisas a sua volta estavam aumentando, as plantas pareciam maiores, assim como os insetos e as árvores.

Eles estavam encolhendo?

– Jessie... – Ele a chamou, ainda olhando em volta.

– Diga. – Ela parecia calma. Obviamente, já conhecia aquele lugar como a palma de sua mão.

– É impressão minha ou estamos diminuindo?

– Na verdade, as coisas a nossa volta é que estão aumentando. – Liz respondeu.

– Chegamos! – A garota anunciou, parecia satisfeita com algo.

Estavam de frente para uma enorme muda, exato; uma muda de feijão, algo que era suposto ser pequeno na verdade parecia ter centenas de quilômetros de altura e estender-se até as nuvens. O garoto chegou perto. Suas mãos tremiam, ele sabia no que aquilo levaria, ele sabia como terminaria.

Não estava pronto.

– Jessie, eu te imploro. – Ele ajoelhou-se na frente da boneca. – Por favor, pelo amor de Hitler não me diz que a gente vai ter que subir isso.

– A gente não vai ter que subir isso – A ruiva respondeu prontamente, o que fez Soren soltar um suspiro de alívio tão grande que quase a fez desistir de dizer a próxima frase: – você vai ter que subir isso.

O de óculos pôde jurar ter sentido seu coração parar de bater naquele momento. Ele sentiu algo subindo por seu rosto, um calor, lágrimas escorreram de sua face inconscientemente. – Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, NÃO. NÃO. N.Ã.O – ele levantou-se, furioso. – QUEREM QUE EU SOLETRE? NÃO!!!

– Soren, escuta. – A boneca pôs os braços nos ombros do garoto. – Se você ainda não percebeu, nesse mundo vai ter que enfrentar todos os seus medos, de uma vez, e se não superá-los você morre. Não tem escolha, e se tivesse, seria da frigideira para o fogo. – As íris púrpuras da boneca estavam frias, elas encaravam os olhos de um marrom apagado do garoto, intimidando-o e encorajando-o ao mesmo tempo. Era uma sensação inexplicável. Era como se a boneca o aquecesse, como se ela trouxesse de volta algum sentimento que nem sequer ele sabia que tinha dentro de si.

O garoto engoliu seco. – E-E por que tem que ser só eu?

– Porque terá que enfrentar seus medos sozinho, se estiver sempre dependente de alguém, nunca irá progredir. – A ruiva respondeu. – Agora, tudo o que você precisa fazer é escalar. Não é tão difícil quanto parece, você verá; vai conseguir num piscar de-- a fala da garota foi interrompida quando ela ouviu um uivo horripilante seguido do farfalhar das folhas. – Meu deus. – Ela parecia desesperada.

– Soren, vá. O mais rápido que puder, nós nos encontramos lá em cima. – O olhar da boneca mudou de sério, frio e concentrado para desesperado e perdido. – Vá!! – Ela o empurrou.

Não fez mais perguntas, sabia que tudo seria esclarecido mais tarde, assim como sempre é. Sentia as gotas de suor caindo por sua testa, sua respiração falhava, assim como suas mãos: que tremiam incontrolavelmente, ele mal conseguia segurar-se. Foi devagar, pôs primeiro um dos pés em um pequeno galho, depois a mão. Pouco a pouco, foi repetindo esse processo, tiveram momentos em que não conseguia alcançar os galhos, e teve vontade de descer, mas lembrou-se de que estava a muitos metros do chão, e continuou subindo. Até que ele chegou, surpreendeu-se por ter chegado tão rápido, e então lembrou-se das palavras da garota anteriormente: “Não é tão difícil quanto parece, você verá”. Não atreveu-se a abrir os olhos, passara o tempo todo com eles fechados, temia o que veria se os abrisse, mas também teve que superar este medo abrindo-os aos poucos. Ao ver o cenário a sua volta, queria ter aberto os olhos mais cedo.