Deuses Entre Nós

Nem Um Pássaro, Nem Um Avião


—Oi... Alô... Você não está, não é? Eu estou ligando por que... Eu vou ficar uns tempos em Nova York... Não sei exatamente quanto tempo será. Sinceramente eu gostaria que fosse bastante. De qualquer forma, eu... Eu vou ligar de novo, já que não te encontrei agora... Eu estou bem. Não estou com raiva, ou ressentido. Eu só preciso de um tempo, tempo e distância. Encontrei uma oportunidade e agarrei, mas... Se eu ficar muito tempo aqui eu vou te visitar, não se preocupe. Eu te amo... Tchau.

Clark Kent desligou o telefone. Colocou-o de volta no gancho, ouviu a moeda cair e saiu da cabine. Carregava uma mochila nas costas, tinha um papel nas mãos e no papel, um endereço. Havia acabado de sair do táxi que o levara do aeroporto até aquele ponto da cidade, e aproveitara para ligar para a mãe, Martha, informando-a de seu paradeiro. Agora ele relia o endereço no papel e o nome de quem ele deveria procurar. Jameson. O dono do Clarim Diário.

De início ele estranhara a decisão de Perry White de mandá-lo para outra cidade, ainda mais para fazer um trabalho em outro jornal. No entanto, sua vontade de simplesmente se afastar de seu habitat natural foi forte o suficiente para que ele não questionasse ou se opusesse à decisão do editor, mais do que isso, arrumou suas coisas rapidamente e pegou o primeiro voo para Nova York.

Quanto ao avião, não foi uma questão de necessidade. Ele quis pegar o avião. E só.

“Acho que nossos objetivos são bem diferentes.” ela havia dito. “Então acho melhor tomarmos caminhos diferentes também.”

Ao chegar à cidade, notou-a bem mais colorida que Metrópolis, e bem mais iluminada. Os prédios pareciam mais reluzentes, e as pessoas andavam mais rápido. De fato, Clark gostou muito de lá.

Ele estava de frente a uma porta giratória, porta pela qual, desde que ele chegara, não entrara ninguém. Olhou para cima, admirando o prédio. Gostava de olhar as coisas à partir do chão. Aquele era um prédio grande, não o maior, claro, mas era sim um prédio digno de nota. Em formato triangular, tinha o seu nome escrito na vertical do lado de fora. As janelas eram de um formato arcaico, e refletiam a luz do sol, e as paredes eram de um branco envelhecido. O prédio ficava numa esquina, e os sons das ruas que o circundavam enchiam o ar.

“Eu tenho sonhos, tenho objetivos. Eles são grandiosos, e parece que você não compartilha deles. Você quer ficar metido nesta cidade para sempre, e todos os seus sonhos giram em torno disso...” ela havia suspirado neste momento. Olhara pela janela, ajeitando o cabelo. “Realmente nunca daria certo.”

Clark respirou fundo. Entrou.

—Então você é Clark Kent?

Jonah Jameson estudava o repórter à sua frente sem a menor cerimônia. Olhava-o de cima a baixo. Clark esboçou um sorriso, aquiescendo com a cabeça.

—Sim, senhor.

Estavam na sala de Jameson, a sala do editor, que ficava no quarto andar. Era uma sala de tamanho médio, sem muita mobília e com uma imensa janela detrás da cadeira, que por sua vez estava detrás da mesa, a mesa do editor. Do lado de fora, dezenas de repórteres corriam para todos os lados, conversando e atendendo dezenas de telefones, em busca do furo perfeito.

Jameson colocou o cachimbo na boca, levantando as sobrancelhas.

—Perry White me disse que você é bom. Eu gosto de quem é bom.

—Que bom, senhor.

—Vai ficar me chamando de senhor, por acaso eu tenho cara de quem é velho?

Clark abre um sorriso simpático.

—Na verdade, sim, senhor.

Jameson esboça um sorriso.

—Você fotografava o Superman.

—Consegui algumas fotos... — Clark deu de ombros. — Tive sorte.

—Dei uma olhada no seu trabalho. Boas fotos. Você se meteu em um punhado de buracos.

—Aonde a notícia for, eu vou estar logo atrás, senhor.

Jameson sorriu. Parecia realmente ter gostado do que ouviu. Apontou o indicador na direção de Kent, balançando-o.

—Vou me lembrar dessas palavras.

Batem na porta. Surge uma moça de cabelos negros e curtos, vestida de modo social e monocromático.

—Sr. Jameson, o senhor tem recados...

Antes que ela terminasse surge um rapaz ao lado dela, vestindo uma camisa de botão, calça social e tênis. Tinha o cabelo bem penteado, óculos de leitura, uma mochila nas costas e uma câmera fotográfica no pescoço. Ao vê-lo, a expressão de Jameson mudou de entediada para furiosa.

—Parker! — ele exclamou. — Onde estão as minhas fotos?

O rapaz hesitou. A moça aproveitou para tentar chamar a atenção.

—Sr. Jameson, a sua mulher ligou e...

—Entre, Parker, e é melhor você estar com as minhas fotos!

—Bem, eu... — começou o rapaz.

—Sr. Jameson, por favor, a sua mulher...

—Não tenho tempo para isso, Srta. Brant!

—Talvez eu deva voltar depois... — murmurou Kent.

—Você vai sentar e calar a boca! — explodiu Jameson, e Kent estava esperando ele começar a espumar pela boca. — Parker, sente também!

Os dois se sentam ao mesmo tempo, e a mulher, Betty Brant, vai até a mesa de Jameson, levantando a voz.

—Sua mulher está te ligando a cada dois minutos, está me enlouquecendo!

—É simples, não atenda as ligações!

—Eu tentei, ela simplesmente fica ligando para todos ao meu redor, e fica perguntando...

—Diga que não vou gastar mais nem um centavo enquanto não pagarmos aquela estátua de gelo idiota que derreteu no meu carpete! — Brant se retira com um suspiro. — E depois vou comprar outro carpete! Um que esteja na promoção! E não se atreva a revirar os olhos! — ele encara Kent. — Nessa crise você tem que aproveitar promoções, e elas estão por toda parte. Se você procurar direito com certeza encontrará um bom negócio, especialmente no ramo de carpetes.

—Faz sentido. — diz Clark, segurando-se para não rir.

Parker se remexe desconfortável em sua cadeira.

—Olha, Sr. Jameson, talvez eu deva voltar depois e...

—Talvez você deva fechar essa boca e me dizer onde estão as fotos do Homem Aranha!

Parker junta as sobrancelhas, confuso.

—Mas... Não dá para fazer as duas coisas...

—Cale a boca!

—Ok. — Parker baixa a cabeça. Jameson se senta em sua cadeira estofada. Puxa mais fumaça de seu charuto.

—Já conhece Clark Kent?

—Olá. — diz Clark.

—Como vai? — responde Parker, com um meio sorriso.

—Bem, obrigado. E você?

—Vou levando.

—Ótimo, já são grandes amigos. — interrompe o editor. — E minhas fotos?

—Eu trouxe algumas. — Parker pega sua mochila, antes no chão, abre-a e retira uma pasta. Coloca-a em cima da mesa de Jameson. — Espero que goste.

Jameson pega a pasta, abrindo-a. Dá uma olhada nas fotos, encarando ora Parker, ora Kent.

—Que lixaiada é essa?

—Não... Não é lixaiada... São fotos...

Jameson vira uma foto na direção de Parker. Era o retrato de uma senhora idosa, de touca e casaco, olhando para o mar, apoiada no parapeito de uma ponte.

—Isso não me parece o Homem Aranha.

—Eu estou tentando mudar meu estilo...

—Eu aceitaria sua mudança de estilo, Parker, aceitaria mesmo, se eu fosse um editor da revista Life ou a Vanity Fair eu ia adorar! Mas adivinhe... Isto não é a Vanity Fair! Isto aqui é um jornal, um meio de espalhar informação altamente profissional, precisamos de manchetes, não desta bobagem de arte moderna!

—Eu gostei da foto. — comenta Kent.

—Então pregue-a na parede da sua casa! Eu não vou colocar essa porcaria no meu jornal!

—O Homem Aranha não me deixa mais fotografá-lo, — explica Parker. — o senhor usa as fotos numa campanha difamatória que nada tem a ver com as reais intenções dele. Eu também não deixaria.

—Está vendo? — Jameson dirige-se a Kent. — Afinal eu estava certo! Estava conversando com uns amigos dias atrás e eu comentei que a teima deste idiota em não me trazer o que eu quero só podia ter dois motivos, ou era falta de habilidade ou falta de juízo, e olhe para ele agora, eu já tenho minha resposta. — Jameson bate a mão na mesa, vitorioso. — Ha! É falta de juízo!

—O Homem Aranha não é uma ameaça, ele salvou centenas de pessoas num período de tempo extremamente curto...

—Ele é um criminoso, uma ameaça pública! Mas é um excelente vendedor de jornais, portanto eu quero ele na minha capa. — Jameson revira os olhos. — Ora, vamos! É por isso que você está aqui, é por isso que tem um emprego! Ninguém teria contratado um jovem inexperiente como você, mas eu contratei! Devia ser grato por eu ter lhe estendido a mão!

—Eu sou grato.

—Então prove!

Parker baixa o olhar, pensativo. Olha de soslaio par Kent, daí volta a olhar para Jameson.

—Podemos ter essa discussão numa outra hora?

—Não, não podemos. Se estava querendo me convidar para um jantar à luz de velas deveria ter feito isso no nosso primeiro encontro. Agora estou com raiva de você. — Parker cruza os braços, respirando fundo. — E é melhor você descruzar esses braços! — Jameson se levanta, caminhando ao redor de sua mesa. — Kent vai trabalhar conosco durante um tempo. Ele vem do Planeta Diário, excelente jornal com sede em Metrópolis.

—Já ouvi falar. — resmunga Parker, desinteressado.

—Fale quando eu terminar! Enfim... Ele vai cobrir a posse de Tony Stark e seus passos depois disso. Quanto mais de perto a foto mais eu vou gostar. E se encontrar alguma sujeira melhor ainda, fotografe também.

—Sim, senhor. — diz Kent.

—O garoto é um poço de bons modos... — murmura Jameson, daí se vira nervoso para Parker. — Você devia pegar um balde, jogar dentro desse poço e conseguir um pouco de modos para você também!

—Hã?!

—Você vai acompanhar Phil Sheldon na cerimônia de posse do Stark.

—Phil Sheldon? — Clark se anima. — Puxa, será uma honra...

—Conhece ele?

—Conheço seu trabalho.

—É praticamente a mesma coisa, ele vive para o trabalho. Vocês dois irão cobrir o evento e depois decidimos o que fazer a partir daí.

—Por mim tudo bem.

—E você, seu inútil, vai me trazer fotos do Aranha ou eu te mando para o olho da rua, e ainda vai ter de me pagar os empréstimos que pegou do meu jornal.

Parker respira fundo, fechando os olhos. Daí pega de novo sua mochila e tira uma foto de dentro dela. Entrega-a a Jameson.

—Aqui está.

Jameson pega a foto, olha-a algum tempo, depois encara Parker.

—Lixo. — ele volta para sua cadeira. Enquanto isso falava consigo mesmo: — Vou dar uma manchete especial para esta aqui. “Ameaça Vermelha Continua À Solta”.

Parker solta um gemido cansado. Kent se vira para ele.

—Ele mora aqui?

—Quem?

—O Homem Aranha.

—Mora sim. Ele é nova iorquino.

—Por que Jameson o odeia?

—Por que ninguém com caráter usa máscara! — responde Jameson. — Nós vivíamos muito bem sem essa explosão de palhaços fantasiados, nós sabíamos em quem confiar! Esses idiotas tomaram o trabalho da polícia, tomaram o trabalho da NASA, tomaram o trabalho até dos terroristas, e agora estão querendo tomar o trabalho dos políticos! Onde já se viu um imbecil desses se tornar senador! E foram as pessoas que o colocaram lá! Os idiotas fantasiados são loucos o suficiente para pular de prédios, enfrentar monstros que eles trouxeram e andar por aí de colã apertado, e agora vejam, as pessoas estão loucas também!

—Não estávamos falando sobre o Homem Aranha? — arrisca Peter, notando os ânimos exaltados de Jameson.

—É tudo farinha do mesmo saco! — Jameson gesticula nervosamente. — Homem Aranha, Homem Formiga, Homem Areia, Homem de Ferro, Homem de Lata...

—O Homem de Lata é do Mágico de OZ, senhor. — informa Clark, olhando as fotos de Parker que estavam na pasta que Jameson rejeitou.

—É mesmo, eu me esqueci... — Jameson aponta para a janela. — Eles me deixam louco!

Peter levanta as mãos, tentando raciocinar com o chefe.

—Não há sequer um super-herói que o senhor não encare como um perigo para a humanidade?

—O Homem de Aço.

Clark levanta imediatamente os olhos, surpreso. Parker sorri incrédulo.

—É sério?

—Sim, é sério. Detesto essas gírias juvenis... — murmura para si. — O Superman! — exclama. — Ele sim era um herói, e se foi cedo demais, só para abrir espaço para esses amadores meliantes. Ele levantava carros, voava à velocidade da luz, e tinha o rosto limpo. Aquilo sim era um herói!

—Ele não usava cueca por fora da calça? — pergunta Peter.

—Não, — diz Clark. — não usava.

—Do que diabos vocês estão falando? — diz Jameson.

—Bem, quando eu vi uma foto pareceu que ele usava a cueca por fora da calça.

—Não, ele não usava. — repetiu Clark.

Parker dá de ombros.

—Eu só tive a impressão de que ele usava...

—Não, ele não usava!

—Ah, é mesmo? — Jameson tira o charuto da boca, apontando-o na direção de Peter. — Pois provavelmente o Homem Aranha não usa cueca nenhuma, de tão apertado que é aquele colã colorido eu me espanto de ele conseguir caminhar, me assustaria se vez por outra aquele pano platinado não entalasse no traseiro.

—Quem está com a calça entalada no traseiro?

Os três homens olham na direção da porta, vendo parado ali um homem grande, negro, vestindo um terno marrom simples e com alguns papéis nas mãos.

—Robertson! — exclamou Jameson. — Chegue aqui!

Robbie Robertson caminhou arisco para mais perto da mesa. Observou rapidamente os dois homens sentados.

—Olá, Peter.

—Como vai, Sr. Robertson?

—O outro sentado é Clark Kent. — informa Jameson.

—Ah, sim. — Robertson e Kent se cumprimentam. — Como vai?

Peter ia dizer algo. Talvez uma malcriação. Mas decidiu de última hora não dizer nada, assim permaneceu em silêncio.

Clark virou o rosto. Preferiu não permitir que Parker visse que ele estava rindo.

E Jameson prosseguiu com seu assunto.

—Estamos falando sobre aqueles detritos voadores que infestam nossas cidades usando máscaras e capas.

—Imaginei que falavam disso. — disse Robertson, encarando Jameson. Daí deu uma piscadela matreira para Peter. — É seu assunto preferido.

—Não é não!

—Sr. Kent, você irá acompanhar Sheldon na cerimônia de posse. — disse Robertson para Clark. Ele lhe entrega um envelope. — Aqui está o convite e dinheiro. Compre uma roupa apresentável. Não estou dizendo que suas roupas não são apresentáveis... Só estou dizendo para comprar algo chique para não parecer um peixe fora d’ água.

—Muito obrigado, senhor.

—Esse não é meu assunto preferido! — teima Jameson. — E quanto você deu a ele?

Robertson ignora o chefe.

—Tome cuidado por lá. Estará metido num ninho de cobras.

—Sim, — concorda Jameson. — um peregrino numa terra pagã!

Parker cruza os braços.

—Eu soube que até mesmo Lex Luthor e Robert Kelly, em pessoa, estarão presentes.

Jameson sopra a fumaça que havia engolido.

—Ótimo, já posso chamar meus amigos árabes e tramar meu ataque terrorista.

—O que Robert Kelly quer num lugar desse? — pergunta Robertson. — Ele já está velho demais para esse tipo de coisa.

—Kelly apoiou Stark todo esse tempo, desde a entrada do empresário na política. — diz Clark. — E desde o início de sua campanha pelo Senado ele tem sido uma figura pública muito forte, usando sua influência popular para conseguir votos.

—É tudo merda da mesma privada. — solta Jameson.

—Espero conseguir algo mais concreto quando estiver na cerimônia.

—É melhor eu ir. — Parker se levanta. — Tenho muitas coisas para resolver e ainda tenho um pedido de fotos para o New York Times.

Jameson mostra-se surpreso.

—Está tirando fotos para outros jornais?

Freelancer, lembra?

—Droga...

Robertson observa Peter se levantar, confuso.

—Mas a sua namorada não disse que viria...

—Tchau a todos, boa sorte e até mais.

—Mas, Peter, a Gwen vai vir...

—Eu me entendo com ela depois. — Peter dá um tapa amigável no ombro de Robertson, saindo da sala.

Robertson olha em volta, pensativo.

—Vai entender esses jovens...

Jameson levanta a mão, colocando o charuto no cinzeiro sobre sua mesa. Volta-se para Kent.

—Isso é importante: não fale com ele. Não fale com nenhum deles.

—Eles?

—Luthor, Kelly, Stark. Esses borra-botas que vão estar recebendo os flashes. Deixe-os pensar que você é mais um fotógrafo acéfalo que tem tara por lentes de alta resolução. Assim nas próximas vezes que você aparecer, eles não se importarão com sua presença e você poderá colocar as mangas de fora.

—Tudo bem.

—Siga à risca as instruções que Phil lhe der. Ele sabe como se virar nesse tipo de ambiente, escute-o e sairá de lá vivo.

Clark abre um sorriso.

—Assim o senhor me assusta...

—Escute bem, garoto, ninguém lá é um herói. Todos lá querem matar, se assar e comer na ceia, você entendeu? Haverá todo tipo de políticos, funcionários públicos, o pior da humanidade. Fique quieto, faça seu trabalho... Nada lhe acontece.

—Certo... — Clark pensa alguns segundos, daí se levanta. — Acho que já vou.

—Vá... — murmura Jameson, girando sua cadeira na direção da janela, e voltando a fumar.

Clark cumprimenta novamente Robertson e se retira da sala. Caminha por entre os vários funcionários, observando toda aquela correria tão conhecida e vê-se pego por uma dúvida. Avista a assistente de Jameson, Betty Brant, e vai até ela. Esta estava sentada sobre uma mesa, falando ao telefone.

—O jornal não vai se responsabilizar por danos causados pelo ser superior que ele fotografou... Não tivemos envolvimento, nós apenas captamos a imagem... Ah, faça o que quiser, talvez ele deva destruir o seu prédio também...

Ela bate o telefone, e Clark se aproxima.

—Olá.

—Oi. — ela sorri. — Clark Kent, correto?

—Sim, eu estou com uma dúvida. Poderia me dar o endereço do apartamento em que vou ficar?

—Claro. — ela se senta na cadeira, e digita rapidamente no computador. — Você vai ficar na Avenida Ocean, número 2366. — ela se levanta, entregando-lhe o endereço anotado num papel. — Já falamos com o proprietário e alugamos em seu nome.

—Ok, obrigado.

Enquanto Clark relia o endereço, alguém surge atrás de si.

—Olá, Betty. — diz uma voz feminina. Clark se vira imediatamente, vendo diante de si uma moça loira, não muito alta, sorridente, de grandes olhos azuis e vestindo um vestido florido e discreto. Ele se afasta sutilmente, dando passagem para ela.

—Gwen! — sorri Brant. — Como você está?

—Muito bem, obrigado... Hmm, Peter está?

—Bem... Ele acabou de sair.

—Ah... — o sorriso no rosto de Gwen desaparece. — É mesmo? É que tínhamos combinado nos encontrar aqui para... Bem...

A decepção era clara no rosto dela. Brant encara Clark, sem saber o que dizer.

—Foi uma urgência. — diz Clark. As duas mulheres o encaram. — Eu estava na sala com ele e Jameson e... Bem, ele teve de sair correndo.

—Foi isso mesmo. — concorda Brant.

Gwen sorri levemente, observando Clark.

—Desculpe eu ter interrompido sua conversa com a Betty, você é?

—Clark Kent. — os dois se cumprimentam.

—Ele veio nos ajudar, é um excelente fotógrafo. — diz Brant.

—Puxa, que legal... — diz Gwen. — Igual ao Peter... Eu sou Gwen Stacy.

—Muito prazer. Adorei seu vestido.

Gwen sorriu, e seu sorriso foi realmente largo desta vez.

—Obrigado. É melhor eu ir. — ela começa a andar, trocando os passos. — Tchau.

Clark fica a observando ir, até que ouve Brant suspirar alto.

—Estou cansado de limpar a barra do Peter... — ela parecia falar mais consigo que com ele. — Ele sempre faz isso, sempre coloca a pobrezinha para escanteio... Ele não dá atenção a ela, e ela merece atenção, com certeza.

—É... — murmura Clark. — Com certeza...

Ele vai embora, descendo até a avenida e pegando um táxi. Enquanto o veículo se deslocava por Nova York em direção a seu mais novo apartamento, se lembrava mais uma vez da última conversa que tivera com Lois Lane.

“O único motivo pelo qual estou escutando e concordando com toda essa sua asneira.” ele havia dito. “É por que não gosto mais de você.”