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Envelheço Na Cidade


John sentiu o gosto doce do líquido quente em sua língua, suspirando uma massa de ar quente logo em seguida. Apoiou o rosto nas mãos enquanto observava o moreno a sua frente.

Era começo de outono, mas as ruas ainda estavam quentes o suficiente para que pudessem ficar do lado de fora do café. Estavam sentados em uma mesinha redonda, Sherlock parecia pequeno demais para a cadeirinha “charmosa” e a cena estava um tanto quanto cômica.

O moreno digitava rapidamente, com os dedos longos, uma mensagem para Lestrade, vez ou outra murmurando um xingamento para a tela brilhante do celular em suas mãos.

John sorria à toa com algo tão corriqueiro. Vira aquela mesma cena milhares de vezes durante todos aqueles anos, mas mesmo assim as coisas nunca pareciam ser as mesmas.

Correu seus olhos azuis pela calçada cheia de mesinhas ocupadas por diferentes pessoas. Havia casais jovens e apaixonados e aqueles que gostavam de passar o tempo sozinhos. Mas havia um casal em especial que chamou a atenção do loiro. Um casal de velhinhos de mãos dadas enquanto tomavam chá. Uma senhora miúda com olhos gentis e um senhor de porte atlético, embora suas costas fossem um pouco curvadas para a frente.

Observou, de maneira discreta, como eles se portavam. A senhora parecia ter dito alguma coisa e seu companheiro riu de maneira aberta, apertando mais os dedos dela em suas mãos de maneira carinhosa. Ela se inclinou para dar-lhe um beijo na bochecha e logo cobriu os lábios risonhos com uma das mãos. John não conseguiu se conter ante toda aquela doçura e sorriu desviando o olhar.

Voltou os olhos mais uma vez para o namorado emburrado que o acompanhava, contra sua vontade, na hora do chá. E em um devaneio pensou do que seriam eles no futuro. Gostava de pensar que nunca precisaria deixar Sherlock. De pensar que ficariam juntos pra sempre. Que um dia seriam eles sentados num café tomando chá em uma tarde de outono.

Sorveu mais do chá quente e pensou em como Sherlock seria engraçado quando fosse velho. Talvez ele jogasse sua bengala pela janela toda vez que ficasse entediado e trocasse os casos por damas ou xadrez com os outros senhores do prédio. Sorriu, mas sabia que aquilo era impossível. Sherlock poderia ter 90 anos, mas ainda assim estaria resolvendo casos por toda Londres. Já a parte da bengala, John não poderia ter certeza.

Já estavam fazendo isso, não estavam? Envelhecendo juntos.

Foram tantos anos, tantas brigas, tantos beijos, tantos casos. Logo fariam mais um aniversário e mais um ano. As lembranças lhe deixavam inebriado e a certeza que cada momento que passavam juntos se tornariam em tantas outras o reconfortava, de certa forma. Até aquele momento. Com chás e a brisa fria.

–Por que ele tem que ser tão idiota! – Sherlock bradou, chamando a atenção de algumas pessoas. – Esse maldito Garfild!

–Greg – John corrigiu, sem se importar com a atenção que Sherlock recebia, enquanto tomava mais do chá.

–Não importa – retrucou. – Deve ser terrível ficar velho! Seus neurônios estão quase no fim e seu QI que era 90 vai 75!

John se sentiu levemente ofendido. Greg não era tão velho quanto ele, afinal. Suspirou e olhou o moreno a sua frente mais uma vez. Sua personalidade beirava ao insuportável, mas amava aquele homem.

–Por que está olhando desse jeito pra mim? – o moreno perguntou. – Está sorrindo como um idiota de QI 75.

–Oh, eu te amo também, Sherlock – zombou com um sorriso.

Sherlock bufou de maneira impaciente e se debruçou sobre a mesa, roubando um beijo rápido dos lábios de John. O loiro sorriu com carinho e o mais alto devolveu o ato com os lábios cheios.

E era só aquilo que ele queria, ter Sherlock ao seu lado até que ficassem velhos e, ao menos John, com o QI reduzido a quase nada. Mas aquilo não importaria. Sabia que Sherlock continuaria o amando. Por toda a eternidade.