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–John? – a voz feminina chamava ao longe, como num sonho. – John, querido.

O loiro teve um pequeno sobressalto em sua poltrona, saindo de seu devaneio quando percebera que Mary o chamava à instantes. A menor vestia um roupão branco, os fios loiros escondidos sob uma toalha felpuda. Ela sorria com zombaria enquanto fitava o namorado.

–Sim, Mary, desculpe, o quê? – John indagou de uma só vez, um tanto desorientado, focando seus olhos nos da loira.

–Estava sonhando acordado de novo, querido? – perguntou com um riso doce.

–Não – e tossiu para acertar a voz rouca. – Só estava pensando em algumas coisas.

John observou enquanto Mary caminhava pela sala do apartamento iluminado. Um vestido bonito em uma das mãos e um par de sapatos de salto na outra.

–Aonde vai? – questionou.

–Visitar Kate, acabei de lhe dizer – soltou os fios curtos da toalha e os agitou com os dedos, os jogando para trás da cabeça.

–Claro – acenou afirmativamente com falsa convicção. –, Kate.

–Não tem ideia de quem é, certo?

–Não – admitiu. – Desculpe, realmente não escutei o que estava dizendo.

–Tudo bem, eu já estou acostumada – Mary deu de ombros enquanto alisava o vestido azul-marinho. – Você sempre se perde do mundo quando pensa no Sherlock...

John demorou alguns segundos pra entender o que a namorada dissera, e precisara de alguns segundos a mais pra perceber o tom malicioso que usara em sua última frase.

–Quem disse que estava pensando nele? – perguntou um tanto perplexo, preferindo ignorar as insinuações de Mary.

A loira olhou pra ele com um sorriso sugestivo nos lábios rosados.

–Estava fazendo sua "cara de Sherlock" – zombou de maneira divertida. – Seu olhar estava perdido no horizonte e seus lábios estavam levemente curvados em um sorriso doce.

A loira finalizou a dramatização imitando uma expressão apaixonada.

–Eu não faço essa cara quando penso nele! Eu nem ao menos estava pensando nele!

–Não tem problema nenhum pensar nele, John – Mary disse de maneira descontraída.

–Mas eu n...

–Você ficou um ano de luto pra conseguir me convidar pra sair – disse. – Seria estranho se não pensasse nele.

John suspirou enquanto esfregava a mão no rosto de maneira desconfortável.

–Assim parece que éramos um casal.

Mary não disse uma palavra, apenas sorriu e voltou pra dentro do quarto.

John recostou-se contra a poltrona de maneira preguiçosa, pensando em como Mary podia lembrar Mrs. Hudson naquelas situações.

Voltou os olhos azuis para fora da janela e suspirou. Mary estava certa. Estava mesmo pensando em Sherlock.

Fazia mais de um ano que ele havia morrido. Mais de um ano que deixara Baker Street. Mais de um ano que pensara que nunca mais seguiria em frente. Mas, mesmo com tudo isso, ainda se via pensando nele.

Sentia falta do moreno, uma falta quase insuportável, mas havia seguido em frente. Havia feito o que nunca pensara ser possível. Viver sem a presença dele ao seu lado.

Conhecer Mary mudara tudo. Ela quem havia feito com que se levantasse. Fora ela quem o fizera perceber que podia seguir em frente, que tinha o direito de tentar ser feliz mais uma vez. Mesmo sem Sherlock.

Aquilo ainda soava estranho, mas uma hora teria que se conformar. Sabia muito bem que as pessoas morriam e que não podia se deixar morrer também, não importava o quanto doesse.

Mary voltou do quarto já devidamente vestida com seu vestido, e ela estava linda. John sorriu ante a visão dela no apartamento. A loira rodopiou enquanto sorria e piscou um dos olhos para o namorado.

–E então, como estou?

–Maravilhosa – John levantou-se da poltrona para que pudesse beijar a loira a sua frente, sentindo uma paz que há muito não sentia. – Sabe, estava pensando em deixar o bigode crescer. O que você acha?

A loira o fitou com os olhos cerrados durantes alguns segundos antes de franzir o nariz de maneira discreta.

–Quem sabe mais pra frente – sorriu, roubando mais um beijo dos lábios finos de John.

Era bom estar recomeçando mais uma vez.