- O que a senhorita quer dizer com demitido? – perguntou o Senhor Poe, secando nervosamente a testa suada com um lenço xadrez de incrível mal gosto, do mesmo tecido das roupas de mau gosto que a mulher dele comprou para os Baudelaires, quando perderam tudo que tinham no incêndio que matou seus pais.

- Quero dizer que, depois de tudo que passamos... depois de tudo que passei, prefiro cuidar eu mesmo da minha fortuna. – explicou Violet.

- M-mas senhorita, você não conhece nada do trabalho de um bancário! Além disso é apenas uma criança...

- Tenho vinte e um anos, completei ontem. Posso decidir exatamente o que eu quero fazer com minha fortuna. – Violet respondeu, cortante. Não seria mais tratada como criança.

- C-como quiser, senhorita. – disse o senhor Poe, acabado. – logo eu, um amigo tão grande de seus pais...

- Não quero que essa decisão nos tire o contato, senhor Poe, somente estou dizendo que depois de tudo que passei quero cuidar eu mesmo da minha fortuna. – disse Violet, tentando conciliar. Por algum motivo seu pai gostava do senhor Poe, ela não queria desrespeitar um homem que seu pai estimava.

- Sim, tudo bem... – disse ele, abalado. – posso perguntar por onde andou esse tempo todo, Violet? Todos achavam que vocês estivesse mortos! Se passaram quase sete anos desde que vocês foram vistos pela ultima vez...

- Lamento por isso, senhor Poe. – disse Violet com sinceridade. – mas as desventuras perseguiram minha família. Já estou em posse da minha fortuna?

- Sim, é tudo seu agora...

Violet sorriu, aliviada. Eles haviam assinado alguns papéis e ela havia registrado sua assinatura. Logo mandaria Klaus, Sunny e Beatrice terem seus nomes ali listados também. Além disso, tratou de falar sobre a fortuna Snicket, que pertencia a pequena Beatrice. Ela teve que explicar as circunstâncias de vida de Beatrice, mas o senhor Poe pareceu entender tudo e logo as coisas estavam previamente resolvidas.

Violet não se preocupava sobre a parte jurídica de ter que administrar a fortuna Baudelaire e Snicket, afinal essa era a especialidade de Klaus. Depois que eles moraram com a Juíza Justice, Klaus parecia ter se certificado de aprender muito sobre leis.

Uma coisa que surpreendeu Violet foi o valor da fortuna que eles tinham. Muito mais do que ela pensava. Tinha que admitir, senhor Poe fizera um bom trabalho em cuidar do dinheiro, quisera que ele tivesse cuidado tão bem assim dos próprios Baudelaire. Os casos em que ele negligenciou a situação dos Baudelaire e os deixou nas mãos do terrível conde Olaf foram muitas, Violet quase casou com ele uma vez.

Ela foi diretamente a praça dos corretores, do outro lado da cidade. Tia Josephine teria estrado em colapso se chegasse a saber que Violet pisou naquele lugar, afinal ela tinha um medo mortal de corretores de imóveis. Infelizmente tia Josephine era mais uma que tinha sofrido as desventuras que se abatiam como corvos em cima dos irmãos Baudelaire, ela acabou morrendo no lago das sanguessugas, atirada ao mar cheio dos animaizinhos mortíferos pelo próprio conde Olaf.

- Corretor de imóveis Spats, em que posso ajudá-la mocinha? – perguntou um homem muito ruivo, com uma cara vermelha e amarrada. Ele vestia um terno verde escuro com listinhas roxas e parecia estar suando muito dentro de toda aquela roupa. Violet sentia calor dentro de seu vestido leve, não se admirava que esse homem estivesse suando as bicas.

- Gostaria de comprar uma casa. – disse Violet para o senhor Spats, que se abanava.

- Ah, que maravilha! Me acompanhe senhorita, por aqui. – disse o homem, conduzindo Violet para dentro de um prédio esverdeado. Tudo era esverdeado na praça dos corretores, não um verde bonito, mas diferentes tons de verde horrível, como verde frigideira e verde câimbra.

No momento em que entrou no prédio Violet sentiu uma rajada de vento gélido tocar seu rosto e estremeceu. A sala era incrivelmente gelada! As mesas estavam todas cobertas por uma fina camada de gelo, e todos os que estavam ali tinha uma estalagmite de gelo na ponta do nariz. Quando finalmente Violet estava quase saído do local o senhor Spats cobriu ela com um longo casaco de penas negras, que já estava quente.

- Que bom que você chegou querida! Não agüentava mais o calor lá de fora! – disse o senhor Spats.

- Porque é tão frio aqui dentro? – perguntou Violet, batendo o queixo.

- Ora! Esses lindos casacos de pena foram feitos especialmente para o frio, temos que fazê-los úteis! Temos centenas deles aqui! – respondeu o senhor Spats, dentro do próprio casaco.

- Porque vocês tem centenas de casacos desses aqui?

- Bom, havia uma cidade que estava com problemas por causa de uns corvos, já faz alguns anos... acho que o nome era algo como Cidade Surpresa dos Corvos... bom, por causa de um erro nos correios eles vieram parar aqui, então temos que deixar as temperaturas baixíssimas!

- Se foi um erro nos correios porque vocês não devolvem ao remetente? Então eles poderiam mandar para os casacos para o lugar certo.

- O que você está dizendo, menina? O correio não comete erros.

- Mas o senhor disse...

- Não importa o que eu disse! Você não veio aqui comprar uma casa?

- Sim, senhor Spats. – disse Violet. – Quero uma casa grande, com quatro quartos grandes e uma biblioteca enorme.

- São só essas suas exigência Senhorita Baudelaire?

- Sim, só isso.

- Então temos a casa perfeita para você! – disse o Senhor Spats falou animado, envolvendo ainda mais o corpo no casaco de penas – quer dar uma olhada, querida?

Violet não vez nem um comentário sobre não ter gostado que esse senhor lhe chamasse de querida, mas aceitou a ideia de fazer uma visita para ver sua possível nova casa. Ela estava tão animada! Finalmente ela, Klaus, Sunny e Beatrice poderiam viver em uma casa normal, ter sua biblioteca e praticar seus talentos. Eles seriam novos membros da C.S.C. agora, ou pelo menos Violet seria, e eles fariam de tudo para tornar o mundo sereno novamente.