Destroyers

Capítulo 91 — Escolhas


Quatro anos depois...

Os ventos fortes e gélidos anunciam um inverno com temperaturas ainda mais amenas. O prelúdio da chuva intensa parece cada vez mais vivo mediante a tarde de sexta-feira.

O hospital no centro de Nova York, um dos mais renomados com investimentos diretos de Tony Stark, neste dia em especial, parece mais agitado. Enfermeiras correm para todos os lados diante de um acidente automobilístico em uma das avenidas principais que era sinônimo de inúmeros pacientes feridos buscando atendimento, enquanto médicos habilidosos tentam salvar o máximo de vidas possíveis.

Em um andar específico onde se encontram os quartos do hospital é possível reconhecer duas figuras masculinas discutindo calorosamente, enquanto uma mulher busca apaziguar a raiva entre ambos.

— Eu não vou permitir que você seja tão estúpido! — Steve Rogers exclama empurrando seu colega de equipe.

Tony Stark bufa diante à teimosia do Capitão América. Por que era tão difícil entender o que estava em jogo?

— Estou fazendo o que é melhor para todos! — Tony avisa, respirando fundo. — Escute! É difícil para mim tomar essa decisão. Mas não podemos continuar esperando por algo que não vai acontecer.

— Não! — Steve alerta desviando o olhar. — Não vamos fazer isso!

— Steve — Natasha separa ambos, fitando-os com firmeza. — Infelizmente eu tenho que concordar com o Stark. O Doutor Strange e a Feiticeira Escarlate tem feito tudo para trazê-los de volta. Você viu isso. Mas não existem esperanças. O que está naquele saguão são corpos. Apenas isso.

A atmosfera entre os três parece inevitavelmente mais carregada. Steve hesita terminantemente. Deve existir outra solução...

— Eu vou preencher a papelada — diz Stark mexendo nos cabelos. Seu semblante se encontra carregado, tomado pela comoção. Ele está prestes a assinar a morte de oito jovens.

(...)

A Torre da Liga da Justiça está quase deserta. Inúmeros heróis se encontram em missões separadas, e apenas Flash, Mulher-Gavião, Mulher-Maravilha e Superman se encontram na base.

Clarissa Wayne codifica um banco de dados em um painel de controle, sem se ater a qualquer detalhe em seu redor. Durante os quatro anos cumprindo sua pena, não permaneceu em uma cela como previra. Superman acreditou que a melhor maneira dela pagar pelos seus erros seria ajudar os heróis.

E como pena, ela serve para serviços simples que mantém a Torre da Liga da Justiça funcionando.

Diferente da garota de dezesseis anos que deixara os pais em Gotham City, a mulher diante do painel de controle não expressa, nem de longe, o espírito atormentado de antes. Como parte de sua mudança não apenas interna, mas também externa, seus cabelos deixaram de ser longos para assumirem um tamanho curto, com uma franja lateral em sua testa.

— Clarissa.

Ela vira-se em sua cadeira observando a aproximação do Superman.

— Algum problema? — questiona a morena, percebendo a expressão nada tranquila na face do herói.

— Na verdade não — Superman sorri em seguida, apoiando-se no painel de controle. — Você tem servido de grande ajuda aqui na base. Acredito que esse tempo tenha feito grandes mudanças em você.

Clarissa assente com um menear de cabeça, aguardando pelas palavras seguintes.

— Bom... Tivemos um conselho recentemente. E decidimos que você merece a chance de recomeçar.

— Está querendo dizer...

Superman sorri, afagando o ombro dela.

— Você pode voltar para a Terra.

(...)

Ao contrário de Clarissa, Lexi Riddle não se recuperou. Durante dois anos que se passaram ao início de sua pena, ela tivera surtos constantes de alto-mutilação, por vezes tentando o suicídio.

Até enfim consegui-lo um ano atrás. Quando Clarissa adentrou o quarto em que a Riddle passava a noite, encontrou o corpo da mesma no chão, com os pulsos cortados e uma expressão vazia em seu semblante.

Naquele dia, Clarissa Wayne reconheceu que permitiu a meia-irmã falecer sem conceder-lhe seu perdão.

Enquanto arruma sua mochila com os poucos pertences que tinha, Clarissa imagina o que deve estar acontecendo na Terra. Não teve qualquer contato com os pais ou o irmão desde que partira. Será que Charlie havia se formado em alguma faculdade? E seus pais? Estariam viajando? Felizes?

Ela está tão ansiosa para retornar...

A porta do seu quarto abre repentinamente, e a figura da Mulher-Gavião invade o cômodo.

— Clarissa...

— Shayera — a morena fala no mesmo tom de voz. A relação entre ambas melhorou consideravelmente durante os quatro anos que se passaram, principalmente após a morte de Lexi.

— Eu... — Shayera pende a cabeça. — Vim pedir desculpas.

Clarissa franze o cenho, esperando pelas palavras seguintes da mulher.

— Fui injusta com você no início. Atribui toda a culpa do que aconteceu comigo a você — Ela meneia a cabeça, fitando um ponto no chão. — Meu filho amava você. Eu não poderia ter ignorado isso.

Clarissa captura o passado daquele verbo. Amava. Shayera derrama a primeira lágrima, seguida de tantas outras.

— Eles vão desligar os aparelhos hoje.

A notícia vem como uma bomba. Clarissa entreabre os lábios, aceitando as palavras ditas por Shayera.

Desligar os aparelhos? Desligar...

Inesperadamente, Shayera abraça Clarissa, que permanece imóvel.

— Você fez tudo que podia — afirma ela, com a voz fraca.

Todo o espírito de alegria para retornar parece ter se dissipado.

(...)

— Hora de descansarem, Smurfs — Tony Stark diz ocultando sua expressão debaixo dos óculos escuros.

Os Destruidores se encontram em um saguão no andar dos quartos de hospitais, onde permaneceram durante os anos que seguiram.

Natasha Romanoff desvia o olhar, sem saber ao certo o que dizer. Thor permite que as lágrimas deixem seus olhos, observando a face pálida de Zack.

— Meu filho... — o loiro aperta a mão do Oliver, permitindo que sua figura imponente de deus fraqueje. — Saiba que me orgulho de tudo que fez. Me orgulho de ter um filho que enfrentou tudo para salvar os que amava. Sempre vou te amar.

Do lado de fora do hospital, Clarissa deixa um táxi e joga a mochila sobre um dos ombros. Trajando jeans escuros surrados, um moletom e saltos altos, segue até as portas de vidro do hospital correndo.


Você pode dizer que você está andando sozinho

não tem mais ninguém

Sua vida é mortal como uma arma carregada

E você está tremendo, amor

Não tremo, não desista

Não tremer, você é o suficiente

Você vai ficar bem

Hoje à noite

— Clarissa!

A morena vira-se prestes a empurrar uma das portas. Um homem de cabelos repicados pretos caindo quase na altura dos ombros, aproxima-se correndo.

— Charlie — Ela murmura surpresa. Ele está diferente. Mais alto talvez, exibindo mais confiança em seu andar.

Querido está frio lá fora

vou mantê-lo aquecido

te salvar da tempestade

vou acender uma fogueira

E as brasas brilhante

irá guiá-lo durante a noite

Quando está frio lá fora

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

Quando está frio lá fora

vou acender uma fogueira

Dentro do saguão deserto onde as macas se encontram, Steve realiza sua despedida final em nome do grupo.

— Vocês foram um bom time. Mesmo que tudo tenha sido planejado com o objetivo de controlá-los... Vocês... Realizaram feitos enormes. Há quatro anos atrás, vocês salvaram milhões de pessoas. Vocês nos ajudaram. Ajudaram outros heróis. Nos deram a oportunidade de vivermos mais um dia. Deram a outras tantas pessoas a oportunidade de viverem mais um dia...

Mantenha seus olhos brilhantes olhando

Até o céu agora

Anime-se, ter orgulho

Caminhe forte como um soldado

Para dentro do campo de batalha

Inspire, expire

Não tremo, não desista

Não tremer, você é o suficiente

Você vai ficar bem

Hoje à noite

Clarissa não se importa com as enfermeiras que tentam deter seus passos. Enquanto Charlie busca rapidamente por informações e tenta abrir caminho para a irmã, a Wayne sobe inúmeros andares, seu peito apertando a cada segundo. E se fosse tarde demais?

Querido está frio lá fora

vou mantê-lo aquecido

te salvar da tempestade

vou acender uma fogueira

E as brasas brilhante

irá guiá-lo durante a noite

Quando está frio lá fora

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

vou acender uma fogueira

Mas o que ela esperava afinal? Vê-los em um sinal de última esperança?

Mantenha seus olhos brilhantes olhando

Até o céu agora

Anime-se, ter orgulho

Caminhe forte como um soldado

Para dentro do campo de batalha

Inspire, expire

Não tremo, não desista

Não tremer, você é o suficiente

Você vai ficar bem

Hoje à noite

— EI! Você não pode entrar aí! — alguém grita inutilmente, pois Clarissa já empurra a porta no andar de inúmeros quartos.

Um saguão se abre diante de seus olhos, uma espécie de quarto mais amplo onde oito macas se encontram enfileiradas.

Os olhares dos Vingadores recaem sobre sua figura ofegante. Clarissa os ignora e larga a mochila no chão, aproximando-se do corpo de Dylan.

Ela não está surpresa por encontrar as mesmas feições belas, mesmo adormecidas.

— Estou aqui — diz suavemente, com um sorriso iluminando seus lábios.

— Clarissa... — Steve Rogers toca seu ombro, e a morena o encara com os olhos marejados. — Os médicos virão desligar os aparelhos daqui alguns minutos.

Aceitando aquelas palavras, ela assente com um menear de cabeça.

Querido está frio lá fora

vou mantê-lo aquecido

te salvar da tempestade

vou acender uma fogueira

E as brasas brilhante

irá guiá-lo durante a noite

Quando está frio lá fora

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

vou acender uma fogueira

O silêncio impregna o lugar. Clarissa segura à mão de Dylan, e seus olhos vagam até as macas seguintes. Respectivamente Stella, Sophia, Simon, Ashley, Zack, Aurora e James mantém a mesma expressão serena em meio ao seu sono duradouro.

Você foi na parte inferior

único sobrevivente

Você decide quem você é agora

eu estou com você através de tudo

— Desculpem-me por não ter aparecido durante esses quatro anos. Eu não sei se vocês sabem — Clarissa ri em meio à sua frase. — Mas eu fiquei presa. É. Presa. Pela Liga da Justiça. Paguei pelos meus crimes ajudando os heróis. — meneia a cabeça negativamente. — Quem diria não é?

O barulho dos aparelhos continua seguido da respiração continua deles. Ela respira fundo antes de prosseguir com o mesmo sorriso.

— Eu conheci sua mãe Dylan — diz apertando a mão do ruivo. — No começo ela queria me matar. Hoje ela é até minha amiga. E sabe... A Liga da Justiça é bem legal. Eu até pensei em colocar o nome de vocês em alguma seleção de heróis, mas acabei mudando de ideia — lágrimas deixam seus olhos. — Sabe... Eu fiquei pensando se quando voltasse encontraria James e Aurora curtindo Las Vegas. Ou Ashley estudando moda e Zack tentando convencê-la a ir para Asgard com ele. Pensei que encontraria Stella e Charlie flertando que nem dois idiotas... E Simon e Sophia estudando em Harvard. Ou... Ou Dylan namorando alguma garota, sem se lembrar de mim, mas estando feliz! Eu queria ter voltado e ter encontrado vocês felizes, só que agora...

Ela seca o rosto com uma das mãos.

— De que adiantou eu mudar tanto se vocês nunca vão poder ver isso?

Querido está frio lá fora

vou mantê-lo aquecido

te salvar da tempestade

vou acender uma fogueira

E as brasas brilhante

irá guiá-lo durante a noite

Quando está frio lá fora

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

vou acender um fogo (fogo)

Quando está frio lá fora

vou acender uma fogueira

A porta abre. Dois médicos entram no ambiente, seguidos por um abalado Charlie.

— Está na hora, Clary — Ele avisa gentilmente, carregando a mochila da irmã nas costas.

Clarissa continua com os dedos entrelaçados aos de Dylan, seus olhos vagando por Sophia, Simon, Zack, Stella, Ashley, James e Aurora.

— Eu vou sentir falta de vocês. — fala lentamente, respirando fundo. — Obrigada por tudo.

Em um ato de despedida, aproxima-se de Dylan e planta um beijo em seus lábios, que a princípio é gelado, mas aos poucos torna-se mais quente. Ela imagina que é algo da sua mente: as lembranças dos poucos beijos que Dylan lhe dera, a maciez dos lábios dele contra os seus, e a maneira como ele fazia com que ela se arrepiasse em meio ao ato.

No entanto, assim que os dedos de Dylan apertam os seus, Clarissa se afasta. Seus olhos se arregalam.

Um dos médicos solta uma exclamação e o outro chama enfermeiros. Clarissa olha para o lado a tempo de ver os equipamentos explodirem, e faíscas de eletricidade cobrem o ar.

Voltando os olhos para Dylan, ela percebe seu corpo estremecer, como se estivesse tendo uma convulsão. O aperto em sua mão torna-se mais forte.

— Eles estão acordando! — Charlie exclama. — Eles estão manifestando seus poderes!

Um campo de força surge ao redor de Sophia, e o corpo de Aurora parece uma borracha em cima da maca. James e Ashley abrem os olhos repentinamente, murmurando frases sem qualquer nexo.

A lâmpada explode sobre a cabeça de Clarissa, e Charlie a abraça. Ambos estão estarrecidos com a situação.

— O que está acontecendo? — Tony Stark adentra o saguão seguido dos Vingadores. Um sorriso ilumina-se repentinamente em sua face, compreendendo a situação. — Não é possível!

Thor aproxima-se de Zack, e habilidosamente contém os raios, detendo-os contra o corpo de seu filho.

E como começou, tudo cessa repentinamente. O aperto na mão da Clarissa suaviza, e o corpo de Dylan estabiliza. As pálpebras tremem, e em questão de segundos, ele revela seus olhos amendoados completamente confusos pela primeira vez em quatro anos.

— Pai? — Zack, do outro lado da sala, questiona confuso.

Aurora senta-se na cama, os cabelos desgrenhados e a face atordoada como se acabasse de acordar.

— Por que está tudo destruído? — indaga com a voz rouca.

— Cara, você é muito gata acordando — James se espreguiça naturalmente, observando Aurora com um sorriso de canto.

Ashley parece ter levado um susto, e senta-se rapidamente.

— O que aconteceu? Por que tem tanta gente me vendo acordar?

Stella fita Clarissa diretamente.

— Clarissa? Você cortou o cabelo?

— Nós estávamos em coma? — Simon questiona encarando Steve Rogers.

— Eu não me lembro de nada. A Morte deixou nossos corpos, Clary? — Sophia pergunta com a mão na testa.

Clarissa sorri. Pela primeira vez, sente-se verdadeiramente feliz.