Destroyers

Capítulo 92 — Caminho


Três meses depois...

— Então... Você está fazendo Engenharia Química? — Sophia indaga com interesse, observando Franklin.

Franklin não cultiva o ar infantil de outrora, exibindo então uma maturidade surpreendente. Com dezoito anos está carregado de sonhos, e prestes a realizá-los.

— É — Ele responde com um caderno aberto sobre o colo.

A casa dos Richards é esplendorosa. Com dois andares, um jardim bem cuidado, detalhes em madeira e cômodos adornados delicadamente, eles haviam se mudado para Seattle anos antes, e embora distante dos amigos, Sophia se sente realizada por fazer parte de uma família.

— Sabe — Franklin prossegue cuidadosamente. — Finalmente arranjei algo que me interessa. Posso ajudar o papai nas pesquisas. E até mesmo conseguir um bom emprego.

Observar Franklin empenhado mesmo no restante das férias de verão é entre outras coisas, uma novidade. Sophia não teve tempo de pensar em faculdades ou ter planos concretos, e agora se sente vazia.

— Vou voltar para Stanford semana que vem — prossegue o loiro animadamente. — Meus colegas de dormitório são muito legais. E tem as garotas...

Sue Richards entra na sala com alguns livros empoeirados dentro de uma caixa de papelão. Faz exatamente o tipo de mãe multitarefas com talentos além do comum para conciliar o lar, trabalho e filhos.

— Soph, pode me ajudar a tirar alguns livros do porão? — pede a sra.Richards gentilmente.

A loira deixa o sofá e segue sua mãe pelo corredor até uma portinhola no final deste, que contém escadas levando ao fundo do porão.

Sue pega alguns livros da estante e entrega a Sophia, que os coloca dentro de uma caixa de papelão.

— Você está bem? — questiona atentamente observando a filha.

Sophia meneia a cabeça negativamente antes de suspirar.

— Eu agradeço por estar viva. Por ter despertado. Mas eu não... Não sei... — Ela apoia-se na mesa à sua frente. — Eu não tenho mais um objetivo, mãe.

— Ei — Sue deixa os livros e se aproxima da filha. Afaga seus ombros e gentilmente mexe em seus cabelos. — É claro que tem meu amor. Você precisa se descobrir agora. Está tudo diferente, mas estamos aqui. Para você. Vai conseguir. Precisa apenas reencontrar seu caminho.

A garota é envolta pelos braços da mãe. Retribuindo o gesto de carinho, abraça Sue fortemente, enquanto sua mente está repleta por pensamentos dos quais se tratam de seus amigos separados.

(...)

— Talvez o melhor por hora seja encontrarmos nosso caminho novamente. Passaram-se quatro anos — Aurora assimilava arrumando os cabelos diante do espelho do quarto de hospital. Fitou Sophia pelo reflexo que o vidro traçava. — Tudo está confuso. Não vamos conseguir estabelecer qualquer coisa dessa maneira.

Sophia abraça Franklin, logo que Reed Richards coloca a mala do garoto no porta-malas. O final das férias de verão indica o retorno de Frank à faculdade, algo que deixa Sophia se sentindo ainda mais solitária. De alguma maneira, estabeleceu laços extremamente fortes com o irmão caçula.

— Ei. Vou voltar na Páscoa — promete o loiro ao perceber a expressão que permeia o rosto da irmã.

Ela assente, tentando não chorar.

— Boa sorte em Stanford — diz simplesmente, recebendo um sorriso confiante de Franklin.

— Tem certeza de que não quer ir até o aeroporto? — Sue indaga a filha, acariciando seus cabelos.

Sophia nega com um menear de cabeça.

— Eu vou até a biblioteca pegar alguns livros.

E Soph não estava disposta a se despedir do irmão em um aeroporto. Não bastava ter deixado seus amigos para trás três meses antes?

Seus pais não parecem engolir a desculpa, contudo deixam-na ir sem questionamentos. De fato estão preocupados com a maneira como a filha está reagindo com a nova vida após o coma: uma vida repentinamente adulta e não planejada.

— Acho que precisamos dar um tempo — Simon dissera com uma expressão vazia em seu semblante. Baixou os olhos, apertando a mochila contra o ombro. — Eu estou confuso demais. Inconstante. Os médicos disseram que eu preciso de um terapeuta e o distanciamento pode ser melhor.

Sophia seca uma lágrima conforme caminha pelas ruas esbanjando calor e rostos alegres.

— Eu posso ficar com você, Simon. Do seu lado. Nós dois juntos vamos conseguir passar por isso.

— Sophia... Passaram-se quatro anos em um piscar de olhos. O mundo é diferente agora... Temos que nos restabelecer.

Exatamente três meses sem qualquer contato com Simon destrói Sophia de maneira sorrateira. Ela não esperava por tal baque: talvez, fosse melhor ter continuado adormecida, imersa em seus próprios sonhos felizes.

Sonhos em que os Destruidores haviam vencido uma guerra e estavam felizes. Sonhos em que famílias formavam-se pouco a pouco, e reuniam-se aos domingos para um almoço feliz. Sonhos que envolviam ela e Simon, passeando de mãos dadas em uma tarde qualquer...

A lágrima rola por seu rosto, mas Sophia não permite que outras venham. Está viva. Precisa valorizar isso.

Três quarteirões distante de casa, o prédio da biblioteca municipal apresenta-se com as portas abertas, onde jovens circulam livremente, descendo ou subindo as escadas que levam até o interior da estrutura.

Sophia começa a subir, imersa em novos pensamentos. Esse tempo será bom para encontrar uma faculdade. Pensar em cursos que gostaria de fazer. Ou quem sabe arranjar um emprego...

— Soph!

A voz ecoa ofegante, e a loira vira-se abruptamente. Simon sobe a escadaria com uma expressão de exaustão, no entanto cultivando pura felicidade.

Ela está sonhando?

— Simon — murmura observando-o parar alguns degraus abaixo de si.

Usando jeans, jaqueta de couro bege e uma camiseta branca, está totalmente diferente do garoto que ela conhecera no colégio anos atrás. Está... Mais seguro. Mais forte (e mais bonito também).

— Eu... Senti sua falta — Simon diz observando-a com um brilho nos olhos. — Logo que você veio para Seattle eu... Simplesmente... Queria estar aqui com você. Foram os três meses mais difíceis da minha vida.

Umedecendo os lábios, Sophia o fita com certa ansiedade, sentindo seu coração bater cada vez mais rápido.

— Eu estava tentando encontrar meu caminho — Simon sussurra se aproximando. — Estava querendo me encontrar. Logo que acordei, percebi que minha mente não era a mesma.

Ele pega a mão da garota, segurando-a entre a sua, entrelaçando seus dedos.

— Mas eu preciso de você, Sophia. — prossegue Simon com um meio sorriso em seus lábios. — Eu quero que nossos caminhos sigam juntos, Soph. E sei que para você deve estar sendo tão difícil quanto...

Com um movimento rápido, Sophia segura o rosto de Simon entre suas mãos e seus lábios chocam-se contra os dele. Sente a maciez, a quentura, e em seguida os arrepios que seguem por sua pele conforme o moreno envolve seus cabelos com uma de suas mãos em uma carícia constante.

Ela o abraça com força, não permitindo que escape novamente, não desejando tê-lo longe. Ela o ama. E diante de suas intermináveis indecisões neste novo mundo, Simon representa exatamente o que busca em Sophia: um novo caminho.