Destroyers
Capítulo 37 — Parte 01
Clarissa
Definitivamente, esta é a noite mais esquisita da minha maravilhosa vida (e olha que já tive muitas noites esquisitas).
A Stella e o Zack somem, o Fury (que eu achava ser imbatível) é baleado, e a tempestade continua incansavelmente.
Para piorar, fui escalada como super-heroína do dia ao lado do patético do Dylan Allen. Que maravilha.
Dirigindo seu Volvo habilidosamente pelo trânsito caótico de Nova York, Dylan mantém os olhos fixos à frente, enquanto eu ocupo o banco do passageiro com uma expressão tediosa na cara.
Tudo bem eu ir na casa da Stella atrás de pistas do seu suposto sumiço, mas logo com o trouxa do cabelo ruivo?
O James fica com a Aurora, e eu me lasco. Que romântico.
– Caramba, eu não suporto esse silêncio – o babaca de plantão liga o rádio em uma estação qualquer, onde “Maps” do Maroon 5 chega aos meus ouvidos.
Ok, essa é uma das minhas músicas favoritas, mas não quando Dylan Allen cisma de cantar junto.
O encaro de soslaio, desejando ter o poder de matar alguém só pelo olhar. Porque o maldito canta bem. Por mais que odeie admitir, ele parece ser bom em muitas coisas.
Repreendo-me pelos pensamentos, mas com uma imensa vontade de rir. Ao invés disso, encaro a janela repleta de pingos de chuva, mordendo a bochecha na tentativa de conter o riso.
Ele não vai parar mesmo?
– O Fury foi baleado, tem um monte de vilões vagando por aí, eu estou de mal-humor, e você ainda quer cantar essa bosta no meu ouvido? – arqueio uma das sobrancelhas para o Dylan.
Com um dar de ombros, o ruivo exibe um sorrisinho de canto irritante para mim.
– Quem canta os males espanta – ironiza, e reviro os olhos. – Você deveria ser mais gentil às vezes.
Faço uma careta em desagrado.
– Por que eu seria mais gentil? – questiono como se essa fosse a coisa mais ridícula que eu já ouvi (ops, e é).
Dylan me encara por uma fração de segundos, voltando a atenção para o trânsito.
– Isso faz as pessoas gostarem de você – explica, de uma maneira que nunca vi antes.
Continuo fitando-o por mais um tempo, antes de encarar os pingos de chuva da janela.
– Ser gentil é para pessoas boas, Allen – enfatizo, mexendo em meus cabelos. – Não para gente como eu.
– Acho... – Ele começa, mas vira uma esquina enquanto dá uma pausa. – Que você vive numa eterna TPM.
Reviro os olhos novamente, dessa vez sorrindo cinicamente. Dylan Allen é um merda de um babaca que possui sua razão.
(...)
O Volvo é estacionado ao meio-fio que antecede os jardins da casa dos Richard.
Mantendo minha faca segura no cinto do jeans, saio do veículo antes que meu bem-humorado acompanhante o faça.
A chuva parece ainda mais forte do que em outrora, e chego a estremecer ao sentir o frio incômodo em meus membros.
Dulan assume a frente, e o acompanho em seguida atenta a qualquer movimento em derredor. Com um chute desferido pelo Allen contra a porta, adentramos a casa da Stella.
– Não sabia que você conseguia arrombar portas, santo McQueen – provoco-o, com um sorrisinho cínico.
O ruivo revira os olhos fechando a porta cuidadosamente atrás de si. Retiro a faca do cinto, voltando minha atenção para a escadaria que leva ao segundo andar da casa onde se encontram os quartos.
– Vou verificar os outros cômodos – Dylan avisa, antes de desaparecer da minha frente graças à sua rapidez anormal.
Subo a escadaria rapidamente, apegando-me à cada detalhe visível. Apenas quando chego à porta do quarto da Stella reconheço a maçaneta retorcida – provavelmente pelo fogo.
– Não tem nada lá embaixo - a voz de Dylan soa próxima demais, e viro-me para fitá-lo com as sobrancelhas arqueadas.
– Não faça isso – murmuro, referindo-me à sua chegada silenciosa.
– Por que? Eu te assustei? – questiona inocentemente.
Ignoro suas palavras, indicando a maçaneta para ele.
– Stella teve problemas recentemente. O metal ainda está quente.
Dylan toma a frente mais uma vez, e empurra a porta com uma força maior do que a necessária.
Adentro o cômodo voltando-me para todos os lados, esperando que o inimigo estivesse por aqui. Infelizmente, não há ninguém.
– Ela não lutou – o Allen observa, notando a organização do quarto.
Abaixo a guarda logo que meu olhar repousa na cama da Richard, e em seguida para o tapete virado mais abaixo.
Guardo a faça no cinto novamente e agacho-me ao lado da cama da Stella. Tenho o vislumbre da caixa de metal que há tempos eu ganhara dela, como um bom esconderijo para minhas armas de emergência.
O que me decepciona é o local que a Richard cisma de colocar meu armamento. Logo debaixo da cama?
– Encontrou alguma coisa? – Dylan desencosta do batente da porta, vindo até mim.
Sento na cama colocando a caixa diante de mim. Puxo a faca do cinto, passando-a pela fresta entre a tampa, satisfeita ao ouvir o típico “clic” quando ela destrava.
– A Stella costuma guardar algumas armas para mim, caso eu precise em uma emergência – explico, retirando as pistolas e a munição de dentro da caixa. – Com certeza ela deixou alguma pista para mim. – Ergo os olhos, exibindo um sorriso de desdém. – Ela parece ser burra, mas no fim é inteligente.
Dylan pega uma das pistolas antes que eu possa dizer mais alguma cosia, e a desmonta com uma rapidez inestimável.
Oh, ele sabe desmontar uma arma. Admirável.
Reviro o fundo da caixa, buscando alguma inscrição ou fundo falso. Não há nada.
O Allen termina de desmontar a Glock 9mm, uma breve exclamação sendo emitida de sua garganta.
– Você tinha razão – me entrega um pedaço de papel. – A Stella deixou algo para você.
Leio a sequência de números, franzindo o cenho.
1998
– É a senha de algum arquivo dela – levanto-me indo até o computador da Richard, satisfeita ao constatar no gabinete um pendrive encaixado. Encaro Dylan, um sorriso vitorioso perpassando meus lábios. – Stella é previsível demais.
– E você tem um carinho enorme por ela – ironiza o ruivo, enquanto retiro o objeto da entrada da CPU.
Neste instante as luzes falham. Reteso-me, assim que a escuridão preenche o cômodo definitivamente.
Dylan guarda as pistolas dentro da caixa de metal rapidamente, entregando-me uma das inúmeras armas. Não o questiono e envolvo a Glock 9mm com meus dedos congelados pelo frio.
– Vamos embora – diz com veemência, atento a qualquer mínimo ruído.
Não contenho a risada irônica, guardando o pendrive no bolso interno da minha jaqueta.
– Está com medinho do escuro, Allen?
Antes que eu termine a frase, sou envolta em um abraço e arrastada para algum lugar qualquer que passa diante de meus olhos em um borrão, assim como todo o resto.
Um segundo depois, pisco repetidamente, tentando assimilar o que acabou de acontecer.
Dylan se mantém próximo, sendo apenas um contorno em meio à escuridão.
– Procurem eles – uma voz abafada chega até nós.
Finalmente reconheço o espaço como sendo o minúsculo closet da Stella, e a fresta debaixo da porta de correr deixa visível as sombras dos passos.
– Ele não é nosso chefe.
Movo-me, furiosa por ouvir essa voz novamente. Pertence a um dos grandes filhos da puta que compõe o time do Coringa.
Com a arma em mãos penso em atingi-lo com um bom tiro daqui, mas sou impedida pelo “ruivo”, que leva um dos dedos aos lábios, indicando para que eu permaneça calada.
– Mas ele é o Bane – uma voz débil masculina chega aos meus ouvidos. – Ele quebrou a coluna do Batman! Imagina o que faria com a gente.
Dylan e eu nos entreolhamos por um segundo, tentando conter o ruído abafado de nossas respirações.
Mesmo que eu esteja com uma grande abstinência de ação, não estou a fim de ter minha coluna quebrada hoje.
– Eu posso te levar embora – Dylan sussurra próximo ao meu ouvido, logo que os palhaços se distanciam do closet. – Mas preciso de espaço. Não posso te carregar com o Bane e esses caras aqui.
Respiro fundo, meneando a cabeça positivamente.
– Ok – digo categoricamente, apertando a pistola com firmeza enquanto desvio o olhar. – É melhor você ir para o hospital avisar aos outros sobre a pista da Stella.
Ergo o pendrive com o papel enrolado nele. Dylan apanha o objeto lançando-me um último olhar.
– Eu volto logo – promete, antes de se dirigir à porta do closet.
Assim que ele sai, consigo ouvir os barulhos no andar inferior e gritos de “Ele está ali!”. Fecho os olhos, entre as sombras.
A escuridão me trás as primeiras lembranças, que infelizmente não consigo conter.
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