Destroyers

Capítulo 37 — Parte 02


Clarissa

Gotham — Cerca de 8 anos antes

Os ventos gélidos anunciavam o inverno, assim como a fina camada de gelo que cobria as ruas cinzentas da cidade.

Recostada contra a janela do simplório orfanato, eu observava o recorte de jornal que há tempos mantinha seguro entre os poucos pertences (doados) que eu possuía.

“O SACRIFÍCIO DE UM HERÓI: BATMAN DEIXA GOTHAM PARA SEMPRE”.

A matéria era de oito anos atrás, quando Gotham ainda tinha um herói vivo para proteger a população. Em poucas palavras, o jornal deixava os devidos votos a Bruce Wayne, que oculto por sua própria máscara, derrotou Bane e lançou a bomba nuclear nas águas, tendo uma morte honrosa.

“Ele poderia ter sobrevivido”, refleti, guardando o pedaço de jornal em meu bolso.

Os gritos das crianças chegavam aos meus ouvidos, dolorosos e ininterruptos. Fechei os olhos com força, imaginando qualquer outro lugar para eu estar, bem longe dali.

Bem longe daqueles crápulas que nos feriam.

Eu era a criança que mais vivera naquele inferno, desde os primeiros anos de vida basicamente. Sem nome e sem família, aprendi a não mais esperar por meus pais, e sim a sobreviver sem eles.

Os donos do orfanato de Gotham eram verdadeiros criminosos, que lucravam com a venda de crianças, com tráfico de drogas e com o tráfico de órgãos.

Existia apenas uma regra ali dentro: quem tentasse fugir, receberia um belo tiro na testa.

A porta do quarto foi aberta de chofre, e meus olhos astutos se prenderam à figura masculina prostrada no batente da porta.

A sra. Falcone está te chamando! Vem logo pirralha — Nick, o “pateta de plantão” foi ríspido e grosseiro como sempre.

Guardei o caco de vidro no bolso interno do jeans surrado, enquanto deixava a cama e saía do quarto.

Segui pelos corredores empoeirados do casarão, alcançando a sala da diretora do orfanato.

A sra.Falcone era uma mulher jovial, que trajava vestidos caros e brilhantes. Assim que me viu, sorriu largamente, sinalizando para que Nick saísse.

Bom dia, minha querida — Ela indicou a cadeira à frente de sua escrivaninha. Sentei-me relutante. — Como sabe, amanhã algumas crianças vão deixar nosso orfanato...

Cerrei os punhos, sabendo exatamente o que viria. A máfia do tráfico de órgãos estaria passando pelo orfanato no dia seguinte, e levaria grande parte das crianças.

Quero que vá também — as palavras soaram aos meus ouvidos, sendo processadas lentamente. A sra.Falcone manteve seu sorriso intacto. — Será melhor para todos nós.

Depois que sai de sua sala, completamente muda pelo pânico, soube exatamente o que deveria ser feito.

Enquanto todos dormiam, homens armados vigiavam os corredores e os jardins. A escuridão predominava em meu quarto, opressora e ao mesmo tempo reconfortante. Eu já havia me acostumado com as sombras, afinal.

Coloquei a velha mochila nas costas, e segurei o caco de vidro com firmeza, girando a maçaneta da porta de mármore e saindo para o corredor escuro e frio.