Destinys Joke

Capítulo 3 ~ The show must go on!


Mais uma lágrima caia em minhas mãos que se fechavam contra a sacada da janela. Eu ainda não conseguira sair do prédio, estava no térreo esperando meu taxi. A cada segundo que passava, minha vontade de correr dali era maior. Como eu tinha fracassado? Eu tinha treinado tanto. Restava agora esperar. O mês acabaria e eu teria que voltar para minha cidade. Fracassada, sem ter nada para me orgulhar.

Todos os olhares de reprovação que eu receberia. Toda a mágoa que meu pai estaria guardando nesse momento, todos os comentários maldosos. Eu teria que agüentar tudo isso por não ser boa suficiente. Será que era realmente necessário continuar assim? Eu podia simplesmente fugir de tudo.

Fugir dessa vida medíocre.

O telefone começou a tocar na bolsa e, por um momento, me livrou de todos os pensamentos malucos. Era meu pai. Eu tinha enviado uma mensagem para ele e para Yuri para avisar sobre meu fracasso no teste, mas, realmente, esperava que Yuri fosse a primeira a ligar. Eu tinha medo naquele momento. Não queria atender. Não estava preparada para atender. Minhas mãos tremiam enquanto meus dedos iam, vagarosamente, até a tela do celular.

- Anyeo? – Minha voz estava trêmula, mas eu tentava disfarçar do melhor modo possível. Não queria que ele soubesse o quanto eu era fraca.

- E então, você está bem? – sua voz estava realmente séria. Chegava a me assustar um pouco.

- Estou sim, apenas um pouco abalada. Eu achei que iria ganhar esse papel.

- Bom, e quando vai voltar pra casa? – Ele manteve o mesmo tom, falando de forma informal. Não era esse o jeito que ele costumava falar comigo, mas ele devia estar muito magoado desde que eu saí de casa para morar em Seoul.

- Eu esperava poder ficar até o final do mês – tive que pausar minha fala ao ouvir um suspiro de impaciência do outro lado da linha – Eu vou ficar até o final do mês. Não irei desperdiçar o dinheiro que Yuri me emprestou.

Tentei me manter firme e imparcial, mas sabia que ele não era um homem fácil de convencer. Para sair de casa tive que passar meses planejando tudo e não o avisei nem mesmo a data em que eu iria embora.

- Por favor, me escute – mesmo pedindo “por favor”, pude sentir que era uma ordem – Quero que você volte para casa agora. Você sabe que eu não tenho muito tempo de vida e nem condições de bancar um tratamento. Quero que você passe meus últimos dias ao meu lado. Você não faria isso pelo seu pai?

- Desculpe pai, mas eu estou aqui para tentar ajudar. Não posso desistir no primeiro não – Sei que era exatamente essa minha intenção há minutos atrás, mas conversar com ele me fez perceber o quanto eu estava sendo infantil. Não seria tão fácil assim, eu ainda levaria muitos “nãos”. – Voltarei quando tiver dinheiro para pagar seu tratamento, não vou perder você do mesmo jeito que perdi a mamãe.

- Im Yoona, me escute agora!

- Não papai, me escute você – Eu estava, finalmente, recuperando minha coragem. – Você sabe que eu não vou desistir e vou levar todo o dinheiro que for preciso. Espere um mês. Se eu achar que preciso ficar mais de um mês, eu ficarei. Já sou uma adulta e sei me cuidar sozinha. Você não vai morrer. Espere por mim.

Desliguei o celular imediatamente. Não sei se aquilo era positivo ou não, afinal, ele ficaria com muita raiva e não iria falar comigo por um bom tempo. Mas eu não podia desistir. Era apenas o começo. Eu precisava procurar uma nova oportunidade, pois ela provavelmente não procuraria por mim.

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O carro agora estava pegando a via principal para o aeroporto. Eu estava sentada no banco da frente e podia ver Jessica brincando com seu celular no banco de trás. Aquela garota ainda tinha muito que aprender. Era estranho vê-la daquele jeito, mesmo depois de tanto tempo, eu não me acostumava a sua aparência.

Ela ainda representava um passado que eu não queria esquecer. Foi na mesma época do divórcio. Enquanto eu ia subindo na carreira, mostrando-me uma das melhores empresárias do ramo de idols e entretenimento, meu casamento tão recente estava indo por água abaixo. Jessica tinha sido minha primeira modelo. Só Deus sabe o quanto eu tive que trabalhar nessa garota para que ela se tornasse o que ela é hoje. Há 5 anos, o chefe da JSG me ligara e disse que tinha um diamante bruto, pronto para ser lapidado. E eu passara esses últimos anos lapidando esse diamante. Agora ela estava muito além do esperado.

Não apenas uma modelo de sucesso, ela também tinha feito aulas de canto e, surpreendentemente, possuía uma voz perfeita, sendo assim convidada a gravas vários OSTs para os maiores doramas lançados recentemente. Graças a todo esse sucesso, Jessica tinha, finalmente, assinado um contrato com o presidente e decido se tornar uma idol. Sua carreira estava prestes a começas. Esse seria seu último ensaio fotográfico como “a modelo Jessica”. A partir de hoje, ela seria considerada “a grande cantora Jessica”.

Pude ver pelo espelho do carro que ela me olhava. Devia ter reparado que eu estava olhando para ela. Ela devia saber o que me inquietava.

Tudo nesse ramo tem um preço. Ela estava disposta a pagar um preço alto demais.

- Victoria-unnie? – Sua voz era suave, mas não deixava transmitir nenhuma emoção. Era assim que sua imagem tinha se formado. A “Princesa do Gelo”

- Diga querida, está se sentindo bem? – Tentei disfarçar o fato de que estava olhando para ela anteriormente e virei o corpo para olhá-la diretamente. – Você está um pouco pálida.

- Está tudo bem sim, obrigada. – Ela sorriu, tentando mostrar que estava bem, mas sua pele pálida e as grandes olheiras embaixo de seus olhos não mostravam isso. Qualquer um não teria reparado nesses pequenos índices de que ela estava entrando em colapso, mas depois de cinco anos de convivência, eu a conhecia melhor que ninguém. – Você tem notícias de Krystal?

Eu sabia que ela não estava preocupada com a irmã. Ela sabia que Krystal estava bem. Aquela era sua forma de tentar chegar ao assunto que realmente a afligia.

- Está ótima, estamos quase fechando o contrato com Love Snow. Ela vai vir para Seoul ainda essa semana. Pode deixar que estarei investindo na sua irmã da mesma forma que investi em você. Ela vai ser uma grande estrela. – tentei reconfortá-la e deixá-la mais a vontade. Mas, exatamente como eu esperava, ela começou a enrolar os cabelos com o dedo e me fixou com uma expressão séria no rosto.

- Eu não sei o que fazer.

- Você sabe exatamente o que fazer. E sabe que não é o certo. Se você ainda fosse uma garotinha, tenha certeza que eu a proibiria completamente de fazer isso que você está pensando. – Censurei de forma bruta, mas era necessário.

Aquela era a pior idéia de todos os tempos. Jessica tinha recebido uma proposta, aparentemente, irrecusável. Mas não era algo que uma mulher digna faria. Era algo que, se caísse na boca da mídia, podia acabar com a carreira dela. Francamente, não sei o que passava na cabeça daquela garota para cogitar fazer aquilo!

-Mas Victoria-unnie, isso pouparia trabalho e tempo. O contrato seria o melhor se eu aceitasse, fora que eu dividiria os holofotes com Donghae. Você sabe o quanto o presidente tem poder e influência. Seria apenas uma noite. – Ela parecia tão insegura com suas próprias palavras que chegava a dar pena.

- Você sabe o que isso significaria para sua vida, não é? – Eu tive que aumentar o tom de voz, eu não podia deixar que ela arriscasse tudo. – Você seria apenas mais uma idiota que dormiu com o presidente. Você acha que é a única que ele quer? Você acha mesmo que ela não dormiu com metade das trainees antes mesmo de te conhecer? E quantas delas fizeram algum sucesso? Quantas?!

Eu já não agüentava mais ser imparcial naquela história toda. Eu precisava mostrar a ela que a realidade não era aquela. Que apenas uma noite com o presidente a faria ser uma grande estrela. Ela tinha talento para fazer aquilo sozinha. Mas seus olhos estavam assustados. Ele sabia ser assustador e, provavelmente, tinha colocado na cabeça daquela garota tantas coisas assustadoras que ela devia estar pensando que dormir com ele era a única forma de ter sucesso.

- Eu não precisei dormir com ninguém para ser aceita. Você não vai precisar também. Já está muito bem sozinha e, não esqueça que eu vou te ajudar a chegar ao topo. – Coloquei um fim na discussão.

Ela não parecia segura da minha resposta. Eu quase podia ver todas as dúvidas voando na em sua mente. Mas não era a hora certa para destruí-las. Por mais que eu brigasse e argumentasse contra, eu não conseguiria destruir o que aquele monstro colocara na cabeça dela. Não de uma vez só.

- Chegamos. – A voz do motorista me assustou. Por um momento, eu tinha me esquecido da existência dele.

Pude ver que o aeroporto estava lotado, mas uma pessoa tinha um destaque especial. Fosse pela beleza ou pelas roupas extremamente estilosas e contrastantes com a da maioria das pessoas que estavam passando por ele.

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E era essa minha rotina após os ensaios, eu estava novamente vagando por um corredor escuro enquanto a equipe tirava todos os equipamentos do ensaio fotográfico. Eu estava bêbado. Esse era o único meio de agüentar toda aquela atmosfera de artificialidade que sempre me cobria quando eu estava em um ensaio como esse.

Não havia muito que eu pudesse fazer, apenas esperar Leeteuk me achar e me levar para a van, como ele sempre fazia. Algo em mim estava errado, eu podia sentir o suor descendo na minha testa e minhas pernas tremiam descontroladamente. Será que eu tinha exagerado dessa vez?

Fui a procura de um lugar mais reservado. Não queria que ninguém me visse passando mal. Era estranho, mas eu realmente precisava ficar sozinho, mesmo que estivesse entre a vida e a morte.

Essas pessoas não se importavam comigo realmente, elas se preocupavam com o produto que eu representava.

Eu não conseguia agüentar andar por muito tempo. Entrei em um corredor vazio e sentei no chão, minhas pernas já não respondiam meus comandos e minha cabeça começava a pesar uma tonelada. Foi quando tudo começou a girar que eu percebi que não conseguiria me manter lúcido por muito tempo. Talvez o instinto de gritar por ajuda tenha sido destruído pela quantidade assustadora de álcool no meu sangue, pois não lembro de ter dito uma palavra sequer.

Meu corpo apenas apagou naquele chão gelado.

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Eu ainda estava sentada do lado de fora do prédio esperando meu taxi que, provavelmente, estava sendo enviado do Brasil até Seoul. Eu tinha visto a garota loira e a empresária dela saindo do prédio momentos depois de eu desligar o celular. Meu pai não tentara me ligar de novo. A garota ainda lançou um olhar para mim, não pude identificar se era pena ou apoio, mas apostaria que era um olhar de pena, afinal, ela não parecia o tipo de pessoa que apóia. Sua empresária nem sequer se deu ao luxo de olhar para mim. Eu era apenas mais uma que ela disse “não” nas audições.

Já começava a ficar realmente tarde e eu ainda não conhecia a cidade bem o suficiente para pegar um ônibus ou o metrô. Eu tinha que esperar ali por mais bastante tempo. Enquanto esperava, observava os outdoors da cidade. Era uma cidade realmente iluminada se comparada a minha cidade natal. Até mesmo de dia era possível ver vários cartazes de artistas idol e de lojas de marca.

Era estranho ver tantos idols, afinal, há cinco anos não existiam tantos assim no mercado. Muitos deles agora eram apenas bandas passageiras que sumiriam após o debut com apenas uma ou duas músicas lançadas. Pelo menos eles tinham chegado perto de seus sonhos.

- Com licença, você é Im Yoona, certo? – Era o Sihoo, o único que prestara atenção em mim durante meu teste. O único que realmente demonstrara interesse. Por mais que ele não parecesse assustador, eu tinha dado um salto quando ele falara de tão perto, graças a surpresa.

- Sou eu sim – falei constrangida, não estava preparada para fita-lo novamente em tão pouco tempo. – Desculpe por não ter conseguido dar meu melhor no teste.

Ele não parecia chateado, nem mesmo parecia me culpar pelo teste. Apenas olhava pra mim com uma curiosidade assustadora. Ele parecia me avaliar constantemente, desde o primeiro momento em que entrei na sala para audição, mas nesse momento seu olhar não era de avaliação. Era de certeza.

- Tenho o papel perfeito para você!