Destiny

Capítulo 6: You Can't Handle the True, I Kill


Elli desmaiou após concluir suas palavras, e Adam atônito só teve tempo de ver Destiny e Stu correndo, essa gritando:

- Pai, por favor, cuide de Elli e seu filho!

- C-certo! Boa sorte, filha!

Stu e Destiny rapidamente chegaram ao destino. Era a casa na cidade de Adam. Ela entrou e disse a seu amado:

- Por favor, me espere. Você não pode entrar, pode contaminar a energia que vou precisar pra esse encanto e... É perigoso, não quero que você corra riscos.

Ela subiu cuidadosa, prestando atenção no fluxo de energia por toda a casa e finalmente encontrou o fluxo que procurava. Seguiu aquele fluxo cuidadosamente, tentando ocultar a própria energia que emanava graças a seu poder e seu terror perante o que iria fazer. O fluxo seguiu até o primeiro andar, e àquela altura Destiny compreendeu: ele quer sair. A ex-prostituta percebeu que tudo que aquele fluxo queria era sair, por isso percorria apenas os locais com saídas. Aquilo a fez estremecer, pois sabia que se o ritual desse errado poderia ser ela a saída para o fluxo. Em meio a seus devaneios, o fluxo chegou ao quarto onde Destiny estivera da última vez e ela o seguiu. Cuidadosamente fechou a porta, o que não criou nenhuma energia, pra sua sorte. Recitou uma ladainha incompreensível rapidamente, bloqueando a saída ou entrada de qualquer outro fluxo no ambiente. O fluxo que ela perseguia continuava tentando forçar as barreiras naturais impostas a casa e nesse esforço não percebeu que Destiny já havia acendido velas formando um círculo, e no seu centro um vestido de casamento. Destiny concentrou-se numa ladainha repetida e forçada para simular a energia usual de uma saída. O fluxo ao senti-la prosternou-se ao desejo de sair daquela casa e foi até o centro do círculo. A jovem maga continuava prostrada fora do círculo recitando uma nova ladainha inaudível.Agora, a falsa energia criada fora extinta e o fluxo ao perceber preparava-se para sair do círculo, quando se viu preso no mesmo.

- Em nome de todas as forças naturais, e todas as energias, te rogo Deus maior que me conceda os poderes necessários para executar esta missão, em nome do bem maior.

Uma luz azulada emanava das bordas do círculo, o fluxo se debatia nas barreiras impostas por Destiny, essa concentrada em sua ladainha e forçando-se a afastar seus temores. O vestido até então inerte começara a flutuar e parecia sugar o fluxo, que começava a preenchê-lo. O fluxo de energia começou a fortificar-se e a ser totalmente devorado pelo vestido, que se ergue de pé, e um corpo transparente começa a formar-se. O rosto do corpo fica definido e o corpo torna-se sólido de vez. Destiny que até então estava de joelhos cai de frente ao círculo, e as barreiras criadas pela mesma sucumbem. Uma bela jovem de cabelos negros presos elegantemente num penteado formal, pele clara, e olhos sagazes e observadores olha para Destiny atordoada.

- Moça, você precisa de ajuda?

Destiny começa a levantar-se fraca e a jovem ajuda-a. Ela olha para a pessoa que a ajuda, e emocionada diz:

- Eu consegui! Eu lhe trouxe de volta! Mary...

- Como sabe meu nome? Meu casamento, vou me atrasar!

- Seu casamento?... Ah, você não se lembra de nada! Chamo-me Destiny, sou filha de Adam.

- Filha? Dessa idade?! Por favor, você é muito velha para ser filha dele!

- Vou resumir a situação: Você morreu. Faz uns 20 anos, assassinada depois do casamento. A vida dos outros continuou e você ficou presa nessa casa por todo esse tempo. A cruel Deusa está ameaçando destruir a cidade e você pode me ajudar a impedi-la.

- O desespero, a agonia, o desejo de sair... Eu já senti isso, mas não lembro. Se eu estou realmente morta, como estou falando com você?

- Você está viva, pelo menos por enquanto. Eu impus um encanto que, a partir do seu fluxo de energia e a energia das emoções que passavam por você quando vestia essa roupa, lhe deram um novo corpo. Você vai morrer, de novo, em 48 horas. Mas, pelo menos não voltará para esta prisão, isso eu lhe garanto.

- Bom... Que tipo de ajuda você quer?

- Sua alma permaneceu pura, Mary. O que ficou preso nessa casa fora seu fluxo de energia, que é como o fogo da vida, que junto a sua alma lhe dava a vida. A partir do seu fluxo, consegui que seu corpo se reformulasse, e sua alma está procurando seu corpo. Em 48 horas sua encontrara o seu corpo, e irá querer fazê-la viver os últimos 20 anos perdidos, e aproveitar os próximos. Porém, isso não será tão simples, pois esse desejo de viver irá fazer o novo corpo envelhecer muito rápido, a ponto de você virar pó em poucos segundos. Bom, eu impus outro encanto que vai distrair sua alma. Ela está impossibilitada de sair do cemitério, e nesse tempo tudo que preciso é que você acorde o Kappa e convença-o a lhe dar a imortalidade.

- E depois? – Perguntou Mary curiosa.

- Depois, você irá comigo ao encontro da Deusa, e irá me ajudar a vencê-la. Para distraí-la, o melhor que temos é Elli, que está recobrando as forças. Anos preso numa casa, seu fluxo ficou muito mais forte que o natural, o que provavelmente vai lhe conferir alguns dons pelas próximas 48 horas. Você será capaz de ver os outros fluxos e de sentir as energias ao seu redor. Você deve contar isso ao Kappa quando encontrá-lo. Agora, vamos descer.

Mary anuiu para Destiny enquanto processava as informações. Ambas desceram apressadamente as escadas, e ao saírem, deram de cara com Stu. Que aguardava Destiny, e para sua surpresa viu Mary com ela:

- Mas, o que está acontecendo?! Destiny, essa é a Mary! Foi isso que você veio fazer? Trazê-la a vida?

- Sim.

- Mas como ela poderá nos ajudar?

- Depois eu explico, agora temos de ir ao lago do Kappa.

Stu percebeu que era uma história complicada demais e preferiu ouvi-la posteriormente. Seguiram caminhando até o lago do Kappa. Vez ou outra Stu olhava de soslaio para Mary, para certificar-se de que não se tratava de uma miragem. Ela por sua vez olhava a floresta e reparava em pequenos detalhes que realmente haviam mudado. Triste, ela se perguntava se realmente era certo ela estar viva. Após meia hora de caminhada chegaram.

- Agora, você faz sua mágica e chama o Kappa. Boa sorte, porque ninguém o vê faz uns 20 anos.

- Sim, eu devo ter sido a última.

- Oh, isso facilita as coisas, vocês já se conhecem. É isso, vamos nos esconder. Venha, Stu.

O casal foi esconder-se e Mary aturdida chamou debilmente:

- Kappa... Por favor, preciso vê-lo. Sou eu, Mary.

A paz e a calmaria que até então imperavam no lago se tornaram ausentes. Leves ondulações surgiram, e da água um ser com aspecto de peixe e formações de homem surgiu. Com um semblante surpreso e comovido, disse:

- Em meu nome, Mary, é você! Mas como é possível...

- Olá, Kappa. – disse serena. – Eu também não esperava vê-lo novamente. Mas, o mundo dá voltas, e aqui estou eu. Ganhei uma nova chance, ao menos por agora.

- Como assim?

- Tenho poucas horas de vida e cansei de errar. Por isso vim lhe pedir algo.

- Bom, se não for nada absurdo...

- A imortalidade. Quero ajudar as pessoas dessa cidade pela eternidade e impedir a barbárie que vai se desencadear sobre a cidade em breve. Por sua culpa, Kappa.

- Minha culpa?! O que eu fiz afinal?

- A Deusa. Aquela bela e ambiciosa mulher sem destreza alguma para os encantos místicos foi posta no poder por você, e se não fosse por duas bravas mulheres ela já teria executado seus planos. Quero a imortalidade para derrotá-la.

- Percebo que você realmente possui vários poderes agora. Mas não posso dá-la a imortalidade, nem posso intervir nos assuntos da Deusa com a população. Para que eu possa dar a imortalidade a outro alguém a deusa deve ser derrotada. Agora vá, e quando a Deusa cair você será imortalizada.

- Sim, oh adorado Kappa! – disse Mary ajoelhando-se e vendo o Kappa retornar as profundezas do lago.

Mary foi até o encontro de Destiny e Stu que já haviam saído do esconderijo. Destiny disse:

- E então, conseguiu?

- Não. Ele só vai me dar à imortalidade se a Deusa cair. E agora?

- Agora você, Elli, e eu iremos derrotá-la!

Stu as acompanhou até a Rose Square. No caminho Destiny explicou a ela encantos poderosos para usar contra Deusa. Mary absorvia cada palavra do que Destiny dizia disciplinadamente.Ao chegarem, Elli já estava na praça, num embate cruel com a Deusa.

Elli esforçava-se lançando encantamentos com uma velocidade incrível. Também se movia agilmente, porém os encantos da Deusa eram poderosos, e vinham de forma aleatória, sendo difícil prevê-los. Destiny correu gritando para o lado de Elli e lançou um encantamento que fez a Deusa cair. Então, Mary chegou calmamente e ficou ao lado das outras duas, pronta para lançar os encantos que aprendera. A Deusa aturdida disse:

- Quem é a terceira?! Não faz diferença, todas irão morrer! – e disparou um encanto que derrubou um poste e ricocheteou na estátua da praça.

Mary olhou para a estátua e viu que era ela. Correu para vê-la de perto e leu os dizeres da placa. Lágrimas encheram seus olhos, e então a Deusa lançou um encanto em sua direção. Ela só teve tempo de preparar um frágil escudo que conteve o encanto, mas não reduziu seu impacto. Uma fúria encheu seu ser e então ela quis lutar, lutar por sua estátua, lutar por sua vida, e a chance de se vingar de quem lhe tirou tudo isso.

- Morra vadia! – E recitou uma fórmula que lhe veio à cabeça. Deu certo e a Deusa cambaleou para trás.

Juntas, Elli, Destiny, e Mary atacaram com ladainhas fortes a Deusa. Então, ela começou a recitar fórmulas tidas como proibidas, e uma delas acabou por atingir Elli que caiu em batalha. Naquele instante Stu acudiu-a, e afastou-a. Destiny e Mary formaram uma perfeita sincronia, uma atacando logo após a outra, e então, a Deusa avista Adam que chega a praça. Ela então toma Mary como refém e ameaça:

- Se vocês derem mais um passo ela morre... De novo!

- Mas o que é isso... Não é possível... MARY! – gritou Adam. – Largue-a, por favor, eu lhe rogo Deusa! Não tire minha Mary de mim...

- Basta! Um passo em falso, e eu a trucido! O trato é o seguinte: eu dou a sua Mary se você me der à prostituta!

- Mas, quem é a... – Adam olhou para Destiny e lembrou-se do passado de sua filha. – Eu não posso fazer isso, ela é minha filha!

- Ora, me poupe! Você beijou sua filha, uma filha prostituta, uma filha que você nem conhecia até pouco tempo atrás! Você conhece Mary melhor do que a ela. – disse a Deusa num tom apelativo e convincente.

Adam abaixou a cabeça e olhou Mary, vestida de noiva, refém da Deusa, e em seguida para Destiny. Não era mentira que ele conhecia melhor a Mary que Destiny. Após alguns segundos de reflexão, concluiu:

- É verdade. Meu relacionamento com Destiny começou de forma errada, e eu conheço e penso em Mary há muito mais tempo. – o rosto de Destiny tinha um semblante triste. Ela estava pronta para se entregar a Deusa pelo seu pai. Mary olhava para aquele Adam mais maduro e com um rosto triste. Ele voltou a falar. – Eu escolho...

- Adam, por favor! Antes de se pronunciar, deixe-me lhe dizer algumas coisas. – Ela engoliu em seco e disse. – Eu sinto muito. Vejo que durante tantos anos você sofreu e pagou pelo meu erro... Brinquei com você. Se eu pudesse voltar no tempo eu tenho de admitir, eu teria dito não a você. Eu nunca soube o que era o amor enquanto viva... Mas eu voltei pra entender o que era amizade e carinho, pois era isso o que eu sentia por você. E eu voltaria no tempo pra lhe dizer não e impedir que sua vida fosse acometida por tantas desgraças. Não me salve.

- Eu sei. – Ele sorriu triste. – Sempre soube que não era a mim que você amava. Eu não vou trocar nada com a Deusa.

- Tudo bem, então eu vou acabar com a... – Uma explosão. Foi isso que interrompeu a Deusa.

Adam e Destiny olharam a cena, e até Stu que cuidava de Elli prestou atenção. A poeira subiu, e até que alguém pudesse ver o que se passava por trás daquela cortina imensa, foi silêncio. Pouco a pouco a poeira foi dissipada e era claro que havia um vulto saindo dali. Mas quem era?