Todos olhavam curiosos para o vulto que saia com um caminhar vitorioso de meio da poeira da explosão. Porém, algo os distraiu. A chegada do Kappa que surgia do céu, como vindo do nada. Ele aterrissou por fim próximo a todos que até pouco antes estavam observando a explosão. Disse então:

- Não se assustem, posso surgir de qualquer lugar que esteja refletido no meu lago. O céu é refletido dia e noite pelo mesmo. – Ele olhou atentamente para cada um e voltou a discurasar. – Então, acabou. Seja como for acabou pra uma das duas. Mary ou Jeannie?

- Jeannie? – indagou Stu.

- Jean, ou Jeannie como eu a chamo carinhosamente. É o nome da vossa Deusa. – disse serenamente.

- Não é deusa de nenhuma de nós. – falou Adam, ríspido.

- Eu sei, mas se foi ela quem sobreviveu à explosão, vocês terão de acatá-la. – ele suspirou. – Eu sei que é minha culpa, eu coloquei-a no poder. Mas agora é tarde.

Eles voltaram sua atenção novamente ao local onde houvera a explosão, inclusive o Kappa. Eles olharam atentamente, mas não viam ninguém. A poeira havia se dispersado por fim, e um corpo jazia nos escombros. Ninguém teve coragem de ir até lá ver quem era, mas ainda assim se perguntavam onde estava à pessoa que saia dos escombros. O Kappa, sereno, pediu:

- Stuart, por favor, vá até lá.

- Certo. – disse Stu não muito confiante.

Ele caminhou sem pressa até lá, e viu um corpo queimado. Estava quase em carne viva o que dificultava saber quem era, mas respirava. De forma sofrida e dolorosa, mas respirava. Ele prestou atenção nas roupas que trajava e disse por fim:

- É Jean, a Deusa.

Todos respiraram aliviados, mas ainda havia a tensão sobre o que iria ocorrer em seguida. O Kappa foi até junto de Stu, e conferiu o corpo. Agachou-se e ouviu-a dizer:

- Kappa... Perdão... Eu lhe peço, me tire à imortalidade agora... Não aguento essa dor, é muito intensa, e vai me torturar pela eternidade... Não peço que me mate, mas me tire à imortalidade! – sua voz tornara-se um gemido suplicante.

- Tirarei a imortalidade. Mas você vai viver como mortal, inválida, mas viverá. Será seu castigo, e sua única maneira de não ser mandada para uma dor ainda pior que essa. Aceita?

- Sim... E... – ela tomou fôlego e disse poucas palavras antes de desmaiar. – Me perdoe você me deu tudo para eu ajudar os outros, eu fui má... Dê meus poderes a quem merece.

O Kappa fez o corpo de Jeannie flutuar de forma que não o machucasse e então disse rapidamente:

- Vou deixá-la no hospital. O marido de Elli saberá lidar com ela. Agora, melhor vocês se apressarem, Mary precisa de ajuda. – e assim desapareceu com o corpo.

Destiny e Elli se entreolharam e uma entendeu o que a outra estava sentindo. Elli foi quem se pronunciou:

- Destiny precisa correr se quiser salvar Mary. Aquela magia que provocou a explosão foi demais, e atraiu a atenção do espírito dela antes do fim das 48 horas. Ele deve estar caçando-a por toda a cidade, e ela fugindo, fraca pela magia que executou. Vá!

Destiny saiu correndo, tentando focar-se na energia de Mary. Stu estava no seu encalço, e logo a alcançou. Ela seguiu na direção da igreja, e em seguida sentiu a forte energia de Mary dentro da biblioteca. Stu parou-a e disse:

- Tem certeza que é aqui? Ela passou muito tempo aqui por toda sua vida, você pode estar se enganando.

- Não, Stu. É aqui mesmo que ela está. Da outra vez que viemos não tinha essa energia, tinha uma energia fraca. – ela tomou a atitude e entrou no prédio, e Stu seguiu-a.

Dentro tudo cheirava a mofo, e a iluminação era mantida por um buraco no teto. Na parte de cima, havia ninhos de corvos, porém abandonados, e também havia os antigos lustres. Destiny viu uma escadaria antiga, nas mesmas condições que o resto do prédio, mas forte o suficiente para agüentar que alguém se aventurasse nela, e esse alguém fora ela. Ao chegar ao segundo andar, encontrou Mary acuada num canto, protegida por um fraco escudo, incapaz de conter o que havia do lado de fora. Logo, a jovem se uniu a ela no coro da incompreensível ladainha, ao mesmo tempo bloqueando a escada com magia, para evitar que Stu subisse. O que aterrorizava Mary não era um furioso espírito, era uma jovem doce, inocente, com olhos tristes, e uma roupa comum. E ela dizia repetidamente:

- Eu preciso de você para me alimentar, e você merece morrer, foi uma má garota... Apenas me deixe passar por essa barreira, e vamos dar a nós que merecemos.

- NÃO! EU NÃO POSSO MORRER! EU QUERO VIVER! EU MEREÇO ISSO! – gritava Mary, vestida de noiva, e então Destiny notou que aquela jovem que falara há pouco era a própria Mary, provavelmente no seu dia a dia.

- Não, entenda. Você não merece viver. Você partiu o coração de Adam, você partiu o coração de Gray, destruiu sua vida, destruiu o casamento de sua mãe, tirou dessa cidade a Biblioteca, um bem muito importante pra cultura no geral... Você merece a morte, definitiva.

Destiny que assistia a tudo aterrorizada com a visão, as palavras tristes, porém confiantes do espírito, e foi pego de surpresa, quase deixando o escudo se desfazer, quando o espírito lhe falou:

- E você, Destiny? O que tens haver com esse conflito já vencido... Você deveria ser a última a ajudar essa coitada. Ela magoou tanto teu pai, desgraçou a vida de sua mãe... Sua vida foi uma desgraça, vejo em teus olhos.

Ela engoliu em seco, e nada conseguiu dizer, afinal, o espírito não mentia isso era claro aquela altura.

- Teu pai, quebrou o coração de sua mãe, para começarmos. Ele noivou com ela, fez com que ela acreditasse que ele a amava. E tudo que ele queria era construir uma nova vida, achar seu caminho, e não importava realmente quem fosse... E surgiu a fazenda, a chance dele ter essa vida sem ser obrigado a se amarrar à sua mãe. Pobrezinha, ela também teve uma vida difícil, como você. Cresceu naquele ambiente onde você cresceu, a mãe era uma dama da alta sociedade, e teve um caso com um jovem jardineiro de sua mansão. Nasceu sua mãe, um problema evidente: a dama possuía olhos azuis e seu marido também, sua mãe nasceu com olhos verdes, e o marido a escorraçou. Ela abandonou sua mãe, assim como ela fez com você, e no mesmo lugar. Você e ela, vítimas dos erros de um homem. Seu avô e seu pai...

- Mas ela não tinha o direito de matar Mary! Ou tocar fogo na fazenda! – disse Destiny quando criou coragem.

- Criança, seu pai lhe recebeu com tantas mentiras assim? As mesmas que ele conta a todos. Tem um lado obscuro em toda esta história. Seu pai partiu prometendo que traria sua mãe para a fazenda. E então, ele conhece Mary, ela é perfeita pra nova vida que ele planejou, e ele não sabe do passado de sua mãe, mas ela é uma garota da cidade, não faz parte do cenário da nova vida, e em pouco tempo, com sua mãe feliz esperando o chamado, ele diz por carta que ela não o procure, acabou tudo. E ela estava grávida, e abortou. E o amor que ela sentia, virou raiva e rancor, e ela atribuiu à culpa essa coitada, que sou eu. Todos foram culpados nessa história, menos você. Você tem o direito de decidir sua vida, pode escolher de que lado ficar. Destiny, você não tem esse nome à toa, sua mãe lhe deu esse nome, porque no fundo ela ainda possuía esperança em você, que você mudasse tudo dessa história. O destino está em suas mãos.

Ela olhou em volta, ponderou todas as possibilidades. Sua mãe sofreu, assim como ela. Aquilo apenas lhe reforçava que devia achá-la, e ouvir tudo dela... Mas naquele momento, o que fez a seguir, foi por sua mãe e por ela própria. Desfez a barreira, e se colocou no lugar de Mary, em seguida enviando-a magicamente com uma ladainha para a Rose Square. O espírito saiu da forma de Mary tranqüila, e parecia um monstro, sedento de poder. Destiny sentiu-se consumida por aquilo. Dor, sofrimento, suas piores lembranças vieram à tona numa intensidade esmagadora. E então tudo passou. Stu adentrou o primeiro andar e viu Destiny jogada, mas consciente. Ele a acudiu e ela disse:

- Eu preciso... Preciso de você... Energia... Para nos levar a... Rose Square. – Ela segurou sua mão e então, recitou a mesma ladainha que usara para mandar Mary à Rose Square.

Num piscar de olhos o casal encontrava-se no centro da Rose Square. O espírito de Mary estava de pé, dentro de uma esfera de luz, e Mary, vestida de noiva. O Kappa dizia forte:

- Em meu nome, uno estes dois seres num só, conferindo-lhes a imortalidade. Que assim seja.

Ambas as esferas uniram-se, e então uma Mary muito bem arrumada, como no dia de seu casamento, usando uma roupa que possuía a saia do vestido de casamento e a parte de cima numa tonalidade e estilo diferentes, que lhe conferiam uma aparência inusitada, mas incrivelmente bela nela. Destiny deixou lágrimas escorrerem por seus olhos, e foi acolhida nos braços de Stu. Adam e Elli, juntos sorriam, e então o Kappa voltou a falar:

- Atenção, habitantes de Mineral Town curvem-se comigo diante da nova Deusa. – Ele ajoelhou-se, e todos lhe acompanharam.

- Obrigada. – Disse Mary, serena. – Eu espero ser uma Deusa justa, e sábia. Todos aqui presentes têm minha eterna gratidão.

- Você merece essa oportunidade, e vai aproveitá-la muito bem, Deusa. Com licença. – Disse Destiny com um sorriso. Depois, afastou-se com Stu.

Eles foram até um canto isolado da praça, enquanto os outros conversavam com a nova Deusa e o Kappa. Stu disse para Destiny, por fim:

- Então, pronta pra começar nossa nova vida?

- Sim, mas você tem certeza que quer ficar comigo? Eu sou problema garantido.

- Pois é eu estava achando minha vida calma demais até te achar... – Ambos riram.

- Você é um bobo, Stuart. Mas é meu bobo... E bom, eu não quero ficar em Mineral Town. Pensei que podíamos viajar por um ano, algo do tipo, tive paz demais nesses últimos dias.

- Você realmente não nasceu pra ficar parada em um lugar só, não é? – Ele disse rindo novamente.

- Eu até fico, desde que seja com você. Meu lugar é onde você estiver, entendo isso agora. – Ela fez uma carícia delicada no rosto dele.

Os outros se aproximaram do casal, e eles notaram que Mary e Kappa haviam partido. Elli disse:

- E então?

- Nós vamos viajar por um tempo, pai e Elli. Espero que entendam... – Disse Destiny.

- Claro que eu e seu pai compreendemos. Pode partir irmão. Não precisa mais se preocupar comigo, a Deusa me curou! – Anunciou Elli.

- Isso é ótimo! – Disse Stu alegre. – Então irei partir, e espero que você e o Doutor sigam suas vidas felizes, e o senhor também.

O jovem casal se despediu de Elli e Adam. Caminharam de mãos dadas até a sua casa na praia e arrumaram prontamente as malas, colocando apenas o essencial. Destiny e Stu chegaram ao porto meia hora depois, epegaram carona com um navio de turistas que partia. A jovem disse:

- Eu espero que nossa vida nova seja boa.

- Ela será, enquanto permanecermos um ao lado do outro, tudo ficará bem.

- Mas, eu me sinto culpada por não termos contado a verdade para meu pai e sua irmã. Se eles soubessem... – Destiny estremeceu ao pensar.

- Eles não poderiam nos impedir. Ela foi muito cruel, sim, mas você tem o direito de encontrá-la, ela é sua mãe.

- Obrigado, por me tirar de onde eu vivia, por estar comigo. – Disse olhando para Stu.

E depois eles se beijaram.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.