Destiny

Capítulo 5: You And Me, Or Three


Elli não precisaria de seu dom para ver o puro clima de terror e tensão no ambiente. Stu também percebeu. Adam primeiro ficou surpreso, em seguida, disse com raiva:

- Elli, que brincadeira é essa? Por que essa moça está aqui?! Não me diga que...

A feiticeira estava nervosa, e após engolir em seco, disse:

- Não faço brincadeiras, Adam. Ela é sim. Mas parece que vocês já se conhecem.

- Maldita seja a Deusa.

Do lado de fora um trovão sacudiu a cidade, e então Elli advertiu Destiny:

- Cuidado com as palavras, ainda não destituímos a Deusa para nos darmos ao luxo de sermos displicentes. Adam, esta é sua filha Destiny. E Destiny, este é seu pai.

- Não pode ser! Eu beijei-o! Na boca, eu beijei-o! Eu sou uma maldita! Nunca devia ter vindo até essa cidade. Mas você não é Adam, seu nome é outro!

Sujo, era como se sentia Adam, e Destiny começou a chorar com ódio, e rancor no canto da sala. Elli estava observando a cena, e Stu que até então permanecera calado, disse:

- Eu sinto muito, Destiny. – Ele olhou para Elli, e ela entendeu o que ele queria fazer, e anuiu calma. – Vamos para o The Inn, Destiny. Com licença, Elli.

Stu ajudou Destiny a caminhar até a saída. Ela parecia ter entrado em órbita e estar completamente alheia ao mundo ao seu redor. O rapaz ao invés de levá-la de volta ao The Inn encaminhou-se com ela até a Praia. Ao chegarem, Destiny sentiu a maresia que a fez despertar de seu transe. Ela fechou os olhos, e sentiu o mar a sua volta. Energias poderosas vinham do mar, maiores que a da Deusa. Ela cruzou os braços, e teve vontade de caminhar para a água, mas a mão em seu ombro a deteve e a fez lembra que Stu estava com ela. Ela baixou a cabeça e disse:

- Por que, Stu? Qual foi meu pecado tão mortal pra passar por tudo que já passei? Minha mãe não me quis e fui parar num prostíbulo. Agora, eu encontro meu pai, um homem que eu beijei.

Stu olhava pro mar até então, e virou-se pra ela.

- Não se sinta mal. Você foi vítima de tudo isso. Mas me sinto culpado, se eu não tivesse lhe tirado de onde você vivia você nunca passaria por isso.

Destiny sorriu triste, e olhou para ele. Por mais que ela mesma pensasse no que ele dissesse, conhecer Stu fora a melhor coisa que lhe acontecera nos últimos tempos. Ele dera a ela a chance de ser alguém diferente, e ela mesma destruiu isso.

- Não se culpe. Eu devo muito a você, que esteve comigo por esse tempo, e me tirou daquele inferno em que eu vivia. Dessa vez, a culpa é minha. Eu desperdicei a chance de ser alguém normal, sem pecados na nova vida. Você não merece uma noiva como eu, mesmo que de mentira. Talvez se eu tivesse valorizado mais esse “castigo” da Deusa, eu não tivesse caído na armadilha em que caí.

Stu ruborizou-se com aquele comentário, mas soube disfarçar aquele momento. E então voltou a dizer:

- Obrigado, mas você, apesar dos pesares, é uma ótima pessoa. E eu tenho que admitir, o noivado não parece tão ruim.

Ambos riram juntos, e Destiny disse:

- Eu gosto de você, Stu. Você é um rapaz muito especial, e eu sinto que, se dermos uma chance a esse noivado, eu posso aprender a lhe amar.

O rapaz foi pego de surpresa por aquilo que Destiny e disse, e ela ao perceber apressou-se em dizer:

- Claro, se você quiser dar continuidade a esse noivado. Se você não quiser, eu vou entend...

Stu beijou-a com paixão, e com o desejo que vinha reprimindo desde a primeira vez que vira Destiny. Ela correspondeu ao beijo, e ao separarem-se os lábios de ambos pediam mais, porém Destiny sorriu e Stu disse:

- Eu te amo.

Naquela noite, Destiny e Stu não foram para o The Inn. Eles passaram a noite numa casa de praia que estava abandonada pelos donos. De manhã, Stu foi ao supermercado e comprou o básico pra preparar algo para ele e Destiny. Ao chegar, preparou o café da manhã e Destiny desceu para a cozinha. Ela deparou-se com a mesa posta, e ficou encantada. Beijou Stu e amarrou o hobby que trajava. O jovem disse-lhe:

- Estive olhando a casa, está em ótimas condições, e descobri onde estavam os documentos.

- Que bom. De quem é a casa? Alguém que conhecemos?

- Sim, pelo menos eu conheço muito bem.

- Ah, então me conte logo!

- É nossa!

- Em nome do Kappa! Você não está brincando comigo, não é? Isso é incrível! Mas... Como?

- Eu procurei os documentos, e quando achei, descobri que o dono deixou a casa sob tutela dos corretores da cidade. Eles me venderam por um preço justo, e bom, agora é nossa! Com toda a mobília inclusa.

Destiny abraçou-o e beijou-o feliz. Após anos, agora tinha uma casa, e ia construir uma família com o homem que gosta. Gosta não, ama. Destiny fora capaz de perceber isso desde o primeiro beijo. Ela disse:

- A casa é linda, e ainda mais na praia! Agora eu preciso lhe pedir um favor. Desde que acordei estive pensando nisso.

- O que?

- Meu pai. Preciso resolver meu problema com ele.

- Isso é natural, e eu apoio você na sua decisão.

- O favor é que você me acompanhe até a fazenda dele, hoje.

- Certo. Primeiro tome o café e depois vamos.

Destiny terminou rapidamente o café, e Stu também. Eles foram até o The Inn fazer o check out e pegar as roupas de ambos. Voltaram para a nova casa, onde se trocaram. Depois, foram caminhando até a fazenda de Adam. Ao chegarem, Destiny e Stu olharam-se e então Destiny tocou a campainha. Após um momento de espera, a porta se abriu e Adam surgiu, com uma aparência cansada.

- Você apareceu mais rápido do que eu esperava. Bom, entre. E você também, Stu.

Stu meneou a cabeça num cumprimento e então entrou atrás de Destiny. Eles foram levados por Adam até uma sala, e então se sentaram num sofá, de frente à poltrona de Adam. Destiny observou que na sala, acima da lareira, havia um quadro idêntico ao da casa abandonada na cidade. Ela não se conteve em dizer:

- Esse quadro, eu já vi.

Adam olhou e anuiu.

- Você deve ter visto quando foi fuçar na minha casa da cidade. E provavelmente viu a mesma moça na estátua da Rose Square.

- Agora que o senhor diz, realmente, é ela. Mas, por que tem um quadro de Mary nas suas duas casas?

- Ela foi minha primeira esposa, e meu único amor.

- E minha mãe...?

- Vamos encerrar esse teatro por aqui. Stu lhe perdoarei por que sei que precisa do dinheiro pra tratar sua irmã, mas eu não irei, de forma alguma, aceitar essa impostora se passando por minha filha.

Destiny levantou-se do sofá indignada e começou a dizer enfaticamente:

- Não sou impostora, e não trate meu Stu como se ele fosse um pobre coitado e enganador! Você acha que é quem pra falar comigo assim? Eu sou sua filha, infelizmente, sou sua filha. Aceite isso.

- Certo, então, primeira pergunta: qual o nome da sua mãe?

- Algum nome que começa com A. Desculpe Stu, mas vou abrir o jogo com ele.

- Tudo bem, eu acho que é o melhor a ser feito.

Ela respirou fundo e disse:

- Minha vida tem sido uma série de desventuras. Pelo que sei agora, fui fruto de um casamento entre você e uma mulher que não amava depois ela me abandonou no lugar imundo onde eu cresci, e pra completar cometi incesto. Você acha, realmente, que o Stu, que você viu crescer, iria lhe enganar? De fato não sei nada sobre minha família. Mas, eu agora acredito que você seja minha família. Não quero dinheiro, não quero uma vida fácil. Se eu quisesse não teria vindo com Stu. Só quero achar minha família e ter uma oportunidade de ser feliz.

Adam abaixou a cabeça, e falou pesaroso:

- Você é a cara dela. Minha segunda esposa. Talvez por isso eu não queira aceitar a verdade que está evidente.

- Viu? Até o senhor vê! Mas, o que minha mãe pode ter lhe feito de tão mau pra você odiá-la a ponto de me recusar por ser parecida com ela?

- Sente-se novamente, vou contar tudo.

Destiny obedeceu, e Adam começou a narrar a história, olhando para o quadro de Mary.

“Há muito tempo atrás, quando eu morava ainda numa grande metrópole, longe da vida de fazendeiro, conheci-a. Ela era uma boa moça, aparentemente. Ficamos noivos, até que o antigo dono desta fazenda morreu, um bom amigo meu, e eu a ganhei de herança. Então, terminei com ela o noivado e vim ver uma nova vida aqui. Eu não a amava, não podia trazê-la comigo pra uma nova vida, não seria justo com ela. Apaixonei-me aqui por Mary, e então a sua mãe veio me matar no dia de meu casamento. Ela chegou depois que a cerimônia havia sido concluída, porém, Mary se jogou na minha frente, e quem perdeu a vida foi ela.” – Ao dizer aquilo, Adam baixou a cabeça, com pesar, e após um momento de silêncio continuou: “Quando eu penso que minha vida estava devastada, algum tempo depois chegou uma moça na cidade. Bela, loira, jovem, e com características de Mary, o que talvez tenha me feito pensar que gostava dela. Após casar-me com ela, se mostrou alguém ruim, mesquinho, e indigno do meu amor. E então, ela tocou fogo nesta casa. Eu consegui escapar, mas quando sai ela estava rindo loucamente. Puxei-a pelos cabelos com ódio, e para minha surpresa somente os cabelos vieram. Ela era sua mãe, a minha primeira noiva, disfarçada. Ela fugiu, e a polícia ficou atrás dela por um tempo, mas não teve jeito, ela se foi. Tempos depois eu fiquei sabendo, por uma carta que chegou de autoria dela, que ela estava grávida de mim. Desde então tenho procurado por você, e aqui você está. Sinto em ser eu quem lhe conta todos esses horrores sobre sua mãe.”

- Por toda minha vida eu tenho pensado que o monstro é você. Que minha mãe foi sua vítima, que você a abandonou e agora... Você foi vítima dela! Afinal, é mais do que justo tudo que eu já passei. Alguém precisa pagar por tantas barbaridades de minha mãe.

- Destiny, querida, você não tem culpa! Você foi uma das vítimas, e talvez a pior das vítimas. Não se culpe. – disse Stu, abraçando-a.

- Bom, eu lhe aceito como filha, por fim. Depois resolveremos os detalhes práticos, mas saiba que você é muito bem-vinda aqui. Aliás, não há mais por que você viver na hospedaria, por favor, venha morar aqui.

- Não. – disse Destiny seca. – Quer dizer, não precisa na verdade. Eu e Stu estamosmorando numa casa na praia, Stu comprou-a hoje.

- Ora, então foram vocês! Eu fiquei sabendo hoje que alguém finalmente comprou minha velha casa na praia. Eu não vou lá há anos. Mas de toda forma, não posso permitir que você more lá.

- Mas por quê?

- Vocês são noivos, as pessoas da cidade não vão ver com bons olhos. E eu não quero minha filha desonrada.

- Sr. Tyler, por favor, não force as coisas. Deixe que a nossa relação se estabeleça naturalmente. Mas, eu vou vir pra cá. Não custa nada, e bom, o senhor tem que lembrar que eu já fui prostituta. Eu não gostava, mas fui.

- Certo, certo, certo! Não vou “forçar as coisas”. Mas fico feliz que você vai vir morar aqui, filha... Destiny.

Stu, Adam e até Destiny caíram na risada. Adam pegou um bom vinho em sua adega pessoal e serviu-se e aos convidados. Então, entra uma criança aos gritos na casa:

- TIO E DESTINY, POR FAVOR, ME AJUDEM!

- Sobrinho, calma, o que houve?!

- A minha mãe mandou chamar vocês. O céu está escuro, e ainda é cedo. Tem algo de errado, muito errado. E ta todo mundo correndo de um lado pro outro, desesperado. É o fim do mundo!

- Se acalme! Destiny fique aqui com meu sobrinho, enquanto nós vamos até minha irmã.

- Stu, por favor, deixe-me ir! Elli chamou a mim, eu não sei o que é, mas acho que ela precisará de minha ajuda!

Enquanto eles discutiam, Elli surgiu na porta, fraca, rastejando, e dizendo:

- Destiny, é preciso executar nosso plano. A Deusa foi até minha casa, e disse que ia fazer Mineral Town entrar em desgraça. Vá! – E dizendo isso, desmaiou.