Destiny

Capítulo 4: Never Stop


Destiny saiu correndo da casa de Elli. Acabara de ter mais uma aula para evoluir seu dom, mas acabou esquecendo que ficara de entregar uma medicação na casa de Manna. Passou no hospital, e em seguida foi lá. Deixou o remédio e ia caminhando lentamente, quando parou em uma casa perto da casa do ferreiro. Ela já havia visto a mesma algumas vezes, mas agora que estava evoluindo com as aulas de Elli, percebeu que ali havia uma energia pesada, negra. Resolveu chegar mais perto, e pôs a mão na maçaneta. Abriu a porta devagar, entrou, e após alguns passos a porta fechou-se com o vento. Uma bela casa, com uma decoração que parecia ter sido trocada vinte anos atrás. Encontrou um tipo de lâmpada ou lampião e acendeu-o. Subiu as escadas, e foi até a última porta, ao fim do corredor.

Dentro, havia apenas um baú, espelho, uma penteadeira, uma pesada cortina na janela que devia ter uma vista para o lado da casa, e por fim, um quadro imenso, acima de uma lareira. Era uma jovem, bonita, mais ou menos de sua idade, usando óculos uma roupa branca e azul. Tudo emanava uma fraca energia para Destiny, que abriu o armário e encontrou a roupa que a moça do quadro, provavelmente, usara durante a pintura. Ela tirou-a e olhou para a penteadeira. Maquiagem, escova, e algumas jóias leves encontravam-se ali. Parecia que alguém se arrumara ali há muito tempo, e não tivera tempo de voltar para por as coisas no lugar.

Ela observou tudo, focando-se na energia do lugar. Ao contrário do resto da casa, que emanava tristeza, um sentimento hostil mais “recente” e nostalgia, ali ela pode sentir apenas uma energia de ansiedade, felicidade, e vida. A vida que outrora passara por ali parecia ter voltado para o último lugar onde se sentira feliz. Era uma energia de vida dispersa por todo o aposento, que após ela ter pegado o vestido parecia estar se unindo. Então, uma escova pesada de prata voou da penteadeira em direção à Destiny quase a acertando. Ela largou o vestido no chão e correu para o andar de baixo, em seguida saiu da casa. E já do lado de fora, acabou indo de encontro a um homem.

- Calma moça! Parece até que viu um fantasma. – riu o senhor. – Você está bem?

- Já estive melhor. Essa maldita... Ah, me desculpe! Eu acabei batendo em você. Mil perdões.

- Tudo bem, um homem como eu já vivi muita coisa, não é uma jovenzinha quem vai me machucar! – ele riu mais uma vez e então disse: - Bom, como seria seu nome?

- Destiny.

- Só Destiny?

- Para o senhor, sim. E você?

- Meu nome não vem ao caso. Chame-me de Owen.

- Certo Owen. Muito obrigada por diminuir o impacto que eu teria com o chão se caísse. Até mais ver. – ela já ia seguindo seu rumo, quando Owen a chamou.

- Não gostaria de conhecer alguns lugares diferentes aqui na cidade? Você parece nova aqui, e nenhum guia turístico deve ter lhe mostrado os lugares que eu conheço.

- Bom... Se for apenas um passeio, por mim tudo bem.

Ele sorriu para ela, e eles foram até a floresta, depois a montanha. Lá, o sol ia se pondo, e então após conversarem e se conhecerem melhor, Owen foi se aproximando dela, com o intuito de beijá-la, ela, porém, afastou-se.

- Não. Owen, eu estou noiva. Eu nem devia ter aceitado este passeio, a princípio. Meu noivo é muito bom comigo, e eu não posso fazer isso com ele. E sem mencionar, que não quero ser amaldiçoada pela Deusa.

- Seu noivo deve ser um ótimo rapaz para ter você. Mas, talvez você precise de uma experiência diferente para ver se ele realmente é a sua escolha certa. Quanto a Deusa, deixe-a a comigo. Ela me deve muito. Não será ela quem destruirá sua vida por um beijo.

E antes que Destiny pudesse reagir, Owen a beijou. Fora algo estranho. A energia naquele beijo foi algo completamente negativo. Havia algo errado em fazer aquilo, e tudo que ela pode fazer foi empurrá-lo.

- Eu lhe pedi! Você não devia ter feito isso! Tem algo muito errado no que fizemos,apenas não sei ainda do que se trata!

- Acalme-se, não se preocupe com a Deusa.

- Pro inferno a Deusa! O problema é outro. Esqueça-me Owen. – e ela correu em direção à floresta.

- Não, você vai se perder...

A jovem não quis saber se iria se perder, apenas correu, até não ouvir mais o chamado de Owen, e acabou por fim numa clareira onde se encontrava o que parecia uma fonte termal, a entrada de uma caverna, e um lago pequeno, provavelmente afluente do grande rio. Ela ajoelhou-se, de olhos fechados, tentando se concentrar na energia a sua volta, e encontrar uma que a levasse para fora da floresta. Então, ela sentiu uma poderosa energia, e ao abrir os olhos se deparou com uma bela mulher, de cabelos verdes, pele clara, e olhos severos.

- Olá, Destiny, a prostituta.

- Quem é você? – indagou Destiny, não assustada, mas furiosa pela mulher ter tocado em seu passado.

- Toda essa “energia” que você e aquela bruxa do norte da cidade vão tentar destruir.

- Você é a Deusa.

- Sim, a Deusa.

- Não esperava encontrá-la tão cedo.

- Então, não irá negar minha acusação e nem pedir misericórdia?

- Você não é nada, só uma bela mulher com poderes. Mas isso eu também sou.

- Ora, como ousa sua...

- Meça suas palavras, Deusa. Eu não temo você nem seus poderes.

- Sua cortesã maldita, pensa que temo uma aprendiz de feiticeira como você? Sei que você é mais fraca que aquela maldita bruxa do norte.

- Mas ainda sou melhor que você. A grande Deusa quando era humana nem era capaz de sentir a energia. Eu estou muito a frente de você, poder por poder.

- Silêncio, cortesã! Você não ouse mais me insultar, ou tentar medir poder. Agora eu sou mais forte que você e é isso o que conta. Pouparei-lhe a vida para ver você falhar na sua tentativa de me destruir.

E com aquilo, a Deusa desapareceu deixando Destiny sozinha na clareira. Ela levantou-se e arriscou sair floresta adentro. Por fim, cerca de meia hora depois conseguiu sair da floresta, e chegou a uma fazenda de galinhas pela qual ela passara na entrega do remédio de Manna. Após mais uma caminhada breve, chegou ao The Inn. Stu recebeu-a preocupado e arrastou-a até a suíte de ambos.

- Onde você esteve o dia inteiro?! Eu fiquei preocupado, pois Elli disse que você terminou a aula mais cedo hoje.

- Fui dar uma volta.

- Com quem?

- Isso não é problema seu.

- É sim, porque eu sou responsável por você, seja como alguém que lhe tirou de onde você vivia, seja como noivo.

- Por favor, me poupe. Noivo? Somos dois desgraçados fadados a casarmos caso não consigamos destruir a Deusa.

- Isso não interessa, até que alcancemos nossos objetivos, você precisa entender que eu sou responsável por você.

- Que seja então! Eu fui entregar o remédio de Manna, depois esbarrei num senhor, de nome Owen, e ele me levou para conhecer a cidade, acabamos na montanha, vendo o por do sol, e ele me beijou. Depois a maldita Deusa apareceu para desdenhar dos nossos propósitos. Satisfeito, noivo?

Stu mirou-a pensativo. Ela ficou impaciente e já ia ao banheiro tomar um banho, quando ele e por fim disse:

- Amanhã cedo vá à casa de Elli, e conte sobre o que aconteceu, sobre a Deusa.

- A troco de que?

- É pelas lições sobre seu dom, e nada mais. Boa noite. Vou bebericar um pouco lá embaixo.

Ele desceu, e Destiny foi tomar seu banho, indo deitar-se em seguida. Stu pegou o celular e ligou para a casa de Elli.

- Elli, preciso que chame Adam, e diga que é sobre a filha dele. Chame-o para vir a sua casa amanhã, e eu levarei Destiny.

Do outro lado da linha, Elli confirmou, e despediu-se. Stu bebeu longos goles de vodka e em seguida foi deitar-se.

Na manhã seguinte, Destiny estava de pé, e ponderou se acordava Stu agora, porém, por fim decidiu deixá-lo dormir um pouco mais. Desceu e se deparou com Stu na metade de seu café da manhã. Ela, que acreditava que ele estava dormindo, disse de bom-humor:

- Ora, e eu pensado que este dorminhoco estava vegetando na cama.

- Bom dia, Destiny. Sente-se e tome seu café da manhã rápido. Precisamos ir a casa de Elli logo, não podemos deixá-lo esperando.

- Deixar quem esperando?

Após alguns goles de café, Stu disse sem rodeios:

- Seu pai – ele olhou para ela, surpresa, e continuou - Quando liguei para Elli ontem, ela me disse que era hora de você conhecê-lo. Não comentei nada com você porque já era tarde.

Destiny tomou sua xícara de café apressada, e pegou uma maçã verde. Levantou-se, e subiu as escadas. Após cerca de dez minutos, voltou, agora trajando um vestido diferente do anterior, que era mais claro e despojado. O vestido que ela usava agora era mais sério, simples, porém com um tom de elegância. Stu olhou-a de cima e baixo e disse:

- Para que isso?

- Vou conhecer meu pai! Tenho que estar vestida descentemente, não como uma vadia desocupada.

Stu riu e anuiu para ela dizendo:

- Certo. Enfim, vamos a pé.

Eles caminharam juntos, de mãos dadas. No caminho para a casa de Elli ficavam outras casas, e por isso precisavam manter o disfarce de noivos.Passaram por uma praça, e então, viram uma estátua, um tanto antiga, com uma moça, feliz, e aos seus pés alguns livros. Destiny afastou algumas plantas que havia crescido na frente da placa e leu: “Os livros, são a entrada para outros mundos, por isso sempre devemos ter pelo menos um conosco, pois todos precisam, em algum momento, ir, não para outro lugar, mas para outro mundo, um mundo totalmente novo, e onde essa pessoa possa se sentir segura – Mary S. Tyler”.

- Quem é essa?

- Mary Tyler, a moça que eu falei, bibliotecária.

- Oh, sim. Coitada, parecia ser inteligente.

- Sim, ela era. Enfim, vamos?

Destiny anuiu e seguiram para a casa de Elli. Ao chegarem, Stu virou-se e perguntou:

- Pronta?

A jovem engoliu em seco e anuiu dizendo:

- Acho que sim.

Stu bateu à porta e Elli os recebeu.

- Entrem queridos – ela fechou a porta após eles entrarem.

Stu e Destiny viram um homem de costa defronte a janela. Ele disse:

- Espero que seja realmente ela, Elli, já me enganei demais nessa minha busca.

- Eu lhe garanto que é.

Ele virou-se, e Destiny, emocionada, ao ver seu rosto, ficou em choque. Conhecia aquele homem. Tudo que ela conseguiu dizer, horrorizada, foi:

- V-v-v-você...?