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Lembrar do dia em que nos conhecemos é doloroso pra mim

Porque ninguém quer morrer tão cedo

Lembrar dos dias em que sonhávamos

É doloroso pra mim

Eu podia ver seu rosto

Podia ouvir sua voz [...]

A paisagem quase agradaria à vista, se fosse em um dia comum e tranquilo que não estivesse adaptado às exigências da vida, Gilan, talvez, poderia apreciar o momento em outras circunstâncias. Um som de água fluvial corria sob seus pés, entre os cascalhos, folhas e ramificações expostas dos troncos.

Aquela área era acessível a qualquer conhecedor da mesma, por causa das diversas dificuldade de transitar aquela trilha que sumia mata à dentro foi deixada de ser marcada nos mapas, só era lugar de sombras e escuridão. Pouco da luz adentrava deixando com um cheiro de lodo e limo, e uma umidade pegajosa que colava em seu rosto suado. Até o ar era diferente.

Gilan foi acometido por um enxame de abelhas ao passar entre uma árvore, ele se assustou com a hostilidade para com ele; muitos falavam que havia fantasma sobrenatural que expulsa os curiosos. Todavia não eram às lendas sobre o lugar que transformava desagradavelmente, mas, o arqueiro que caçava. Seja qual for o final, rezava para que conseguisse voltar o quanto antes:

Will estava sozinho no meio de tantas presas afiadas.

Ele sentiu o solo em seus dedos, a terra levemente remexida estava fresca, já havia passado algumas horas que o aprendiz seguiu o mesmo lugar, porém, o menino foi inteligente em ir em outra rota; uma trilha mais evidente. Sabia com quem estava lidando, em uma certa ocasião havia lhe conhecido em alguns verões anteriores, a quem teve uma grande estima considerada.

Os anos dourados dos Arqueiros.

Das armas das quais Gilan se dispõe nesta empreitada é: andar sem ser visto. Ele lembrou quando estava à espreita, ninguém havia lhe visto chegar, e muito menos sair. Fora tolo na hora, mas precisava certificar-se de que o menino era confiável.

Agora colocava a confiança nele. Continuou silenciosamente em seu percurso, quando uma flecha cortou rasante em seu ombro esquerdo, mas sua flexibilidade não era enferrujada, lenta, e velha. Ele era um arqueiro e sabia se locomover como um gato do mato. Ainda era jovem, não tanto quanto Will, porém, compartilham a vividez da juventude. Escondeu-se abaixando como pôde nas folhagens espessas e escuras, ele cortou o paço ouvindo os farfalhas do que pareciam sons bem leves de um balanço da envergadura de um tronco. Conhecia este som tão bem, quase era difícil de escutá-la.

Rindo levemente ele sabia onde estava. Respirou retirando de seu cinto uma das facas que costumam usar, a faca de arremesso. Se pegasse no arco, o outro saberia, um jogo curto, quem seria o mais rápido? Nesta questão, usaria a sorte como um aliado.

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Seu corpo endureceu-se gelando a espinha com o forte olhar que caiu sobre si, mesmo acuado, Will manteve-se impassível. Aquele homem parado levantou a sobrancelha admirando a habilidade do jovem que jazia pálido. Era bem novo, seria perfeito para os propósitos da nova Ordem. Pensava que aquela criança estava distraída com seus pensamentos inocentes, alheio à sua volta, primeiramente, teve dúvida acerca de sua ingênua pessoa. Mas, aqueles olhos castanhos determinados e rebeldes que viu.

A imponente soberba dos jovens.

Will olhou desconfiado em seu lugar, Gilan não tinha falado nada. Seu coração anunciou para manter distância, estava sem suas facas: Halt havia lhe presenteado logo no início dos seus treinos do arco, e do estímulo e o entusiasmo que ele colocara. Abaixando o rosto em desespero, logo, tentou disfarçar o mal-estar com o gênio de Halt; atrevimento e confiança.

Encolheu os ombros sentindo o líder achegar mais perto, a mão que tocou sua cabeça o deixou mais nervoso. Ele encheu os dedos com os chumaços castanhos, Will, gemeu, tentando tirar aqueles dedos de ferro que o feriam, mas não tinha força que separa-se aquele punho forte. A animosidade da sala era glacial.

“Vejo virtude em seu olhar, uma definição selvagem e malcriada, e uma seiva de braveza caprichosa”. Crowley disse

“Solte-me!” Will disse com a voz embarcada. Halt nunca havia tratado assim com violência, ele era rígido em tudo que fazia, todavia, nunca sentiu o peso de sua mão. E jamais gostaria de senti-las. Seus olhos encheram de água, segurando o pulso com força Will manteve-se à luta,

Crowley riu com gosto pela tentativa.

“Há! E ainda tem brio”.

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Gilan lançou sua adaga prateada com esmero, enquanto levantava e lançava ao mesmo tempo, o cabo dela girou pelo ar dando uma meia-volta numa distância entre 2.40 metros de onde estava, cortando o ar com o brilho da lâmina, passando pelas folhas e chegando tão rápido que o outro não teve tempo de levantar-se o acertando numa região mole e dolorida. O homem gritou alto caindo de onde estava, batendo nos galhos até chegar no chão duro e frio.

O baque foi surdo, ele gemeu dolorido procurando seu arco, que com a queda havia rachado e se perdido na mata, Gilan puxou o ar, havia sido uma boa pontaria. O outro riu com o sangue saindo dos lábios, Gilan foi até ele com um grande pesar.

Seus olhos claros estavam tristes e loucos ao mesmo tempo. Olhando bem para o corpo que desfalecia aos poucos, notou a palidez extrema do antigo amigo, e as veias azuladas que pintavam seu rosto que antes estavam ocultos pela escuridão. Aquele ali não era ele. Aquilo era outra coisa assustadora e macabra que andava nas sombras à procura do menino Will.

Seu coração apertou-se com a lembrança e da promessa que fizera a Halt:

“Tomarei conta dele”.

“O mestre ficaria contente” disse o moribundo “O menino...aquele que possui o sangue do homem que ajudou com sua queda...” Falou por fim engasgando com seu sangue.

“O que está dizendo?” Gilan puxou suas vestimentas querendo entender o que dizia, mas a morte já lhe abraçava tragando à pouca luz que nascia dele. Seus opacos olhos transformaram a cena num pesadelo, Gilan soltou levantando às presas.

Qual seria o plano do inimigo? Ele pensou nas coisas que Morgarath havia feito, e na sua maldade. Aquele ser era um tormento a vida de quem fosse, e se não tivesse em seus conformes poderia fazer muitas coisas ruins, apenas por uma simples diversão.

Ele é perverso e cruel, tornando-se imprevisível, e uma das criaturas mais frias que já botou os pés nas Eras que existiram. Gilan prestou atenção na coloração negra saindo em conjunto do vermelho, uma gosma suja e fedida. Seus olhos se abriram em espanto, não acreditando que aquilo era supostamente real.

“Will…” sua voz saiu baixa e culpada.