O jovem arqueiro gemeu quando assobiou para que Puxão viesse de seu esconderijo, o cavalo trotou bufando alto até seu dono, que se encostava quase sem ar com a dor chata da perna, e de sua mão. “Está fazendo muita sujeira garoto”, Halt falaria, segurou-se nos pelos do animal, pulando de uma perna só, de modo que a flecha não perfura-se não muito profundo da sua carne. Tentou puxá-la, mas a dor foi tão intensa que fez ele dar um grito sôfrego.

Lágrimas escorreram de seu rosto, não aguentando a pressão Will caiu de joelhos. Puxão abaixou a cabeça mordendo a manta consolando-o com carinho.

“Eu sei amigo! Era um arqueiro, era um dos nossos.” Balançou a cabeça negando a suposta ideia que pintou como aquarela em sua mente.

Não ver o rosto do agressor, isso o entristeceu profundamente, teria que agir com mais cautela, mas sentia tantas dores. Sangue manchava-lhe, trazendo uma letargia por causa da perda, até seu estômago doeu formando um breve enjoo.

Aja sem pressa”. Uma voz veio de sua cabeça. O que Halt faria em sua condição? Se fosse ele que estivesse em perigo, ou se não tivesse como chamar ajuda?

Puxão andava sem fazer muito alarde em suas passadas, Will mantinha-se a todo custo acordado, mas a falta de sangue, a fome e o cansaço, o forçava a cambalear. Ele segurou na crina de Puxão com as mãos trêmulas; suas tez pálida, e um enjoo terrível, mais ruim do que antes. Queria dormir e cair ali mesmo sentindo o frio tragá-lo para a morte.

À jornada parecia torcida, ele sentiu uma negritude cobri-lo, o derrubando na trilha das pegadas, Puxão sentiu uma presença, ele procurou às origens de seu desespero, — logo surgiu um encapuzado alto agitando-se com a movimentação—, já o animal relinchou chutando as patas traseiras tentando acertá-lo, ele esquivou-se surpreso levantando os braços mostrando as mãos; o pequeno cavalo bufava nervoso, erguendo-se.

O corpo musculoso se projetou à frente, a cabeça nervosa ficando entre o dono e o estranho.

Will conseguia ver pouquíssimas coisas; percebia que uma febre começava a perturbá-lo, e queimá-lo subindo em seu corpo como braça fresca, ele gemeu coisas sem muito sentido de olhos fechados.

O encapuzado ditou às ordens para o enraivecido pônei desgrenhado. que em poucos segundo levantou as orelhas; ele pouco se acalmou, ainda estava em um suposto alerta para com a situação. Bateu as patas na terra tremendo o corpo em forma de barril.

“Vamos lá! Eu não irei machucá-lo”. Ele retirou o capuz mostrando seu rosto jovem e belo para o animal, que relinchou dando um passo à frente, impaciente, o estranho ficou à esquerda abaixando lentamente para mostrar que falava muito sério.

Ele tocou com cautela o pulso do jovem arqueiro que balbuciava sons estranhos, e, no meio deste sons, às vezes o nome de Halt era ouvido. As roupas estavam encharcadas de suor, o rosto antes pálido, agora estava quente e avermelhado. Levantou sem dificuldade alguma o menino, que gemeu em dor, mas nada fez para se soltar. Puxão tinha as orelhas em movimento enquanto seguia-os.

Era alguém do bem. Pensava o animal cheirando o ar.

Seu corpo parece flutuar em algum lago fresco. Will estava deitado confortavelmente em um amontoado de folhagens sobrepostas em outras, dando como uma cama improvisada e rústica, mas que não tirava o conforto da mesma. No ar podia-se sentir alguns aromas desconhecidos, ele abriu os olhos tentando ajustar ao tempo. Mesmo deitado sentia levemente, entretanto um pouco cansado da véspera, ele tentou erguer-se, só que uma tontura impediu de fazer esta empreitada.

Acabou se assustando quando percebeu que estava praticamente sem roupa por debaixo daquela manta.

Havia uma faixa prendendo-o na parte da coxa, e na mão. E claro! Um terrível gosto em sua boca. Se encolheu procurando por Puxão, vendo ao lado de um outro pônei desconhecido e desgrenhado.

“Então o macaquinho acordou?” A voz disse mansamente, trazia consigo um punhado de folhagens, Will lambeu os lábios com medo deste. Pela primeira vez temeu estar cara a cara com um estranho, e um suspeito. Ele, bem-humorado, apenas sorriu amigavelmente, seus dentes bem brancos transmitia tranquilidade e paz.

“Tudo bem, tenho como passatempo escolher as melhores plantas medicinais da região”. Ele tentou tranquilizá-lo com uma brincadeira, mas Will não estava com um bom-humor para tal. O jovem desviou a atenção rapidamente sentindo seus olhos doerem, como se estivesse retirando seu cérebro pelas órbitas.

Halt já havia alertado de pessoas que queria mostrar-se boas, entretanto, sentia em um impasse em acreditar ou não.

Percebeu que também se tratava de um Arqueiro, pelas vestes semelhantes, o jeito dele de andar quase elevado, era alto, então, não poderia ser o outro que havia o atacado. Prestava atenção em como se portava. Um sorriso galante estava quase brilhante, claro, não tirava nem um pouco a sua capacidade de ser um excelente arqueiro, Will notou que era um jovem homem muito atraente.

“Quem é você?” Sua voz saiu baixa é meio rouca, um tanto diferente da sua original. Achava ela meio “infantil”, e esganiçada, coisa que Halt o atormentava sempre.

“Vejo que é curioso, me chamo Gilan, prazer em conhecê-lo!” Disse abaixando ao lado de uma panela, colocando mais daquele matos ali dentro, fazendo subir uma fumaça bem degradável paras as narinas do enfermo.

“São ervas para febre e para a dor, e sua infecção da mão estava bem desagradável”. Falava enquanto tampava. “Tive que retirar suas roupas, estavam todas molhadas de suor, peço que não se ofenda mais”.

Will queria dar-lhe um forte soco, mas assentiu, concordando quando ele disse o motivo.

“Seus pertences estão todos ali, naquele canto junto das minhas, assim como sua montaria corajosa”. Gilan mostrou os dois animais mordiscando uma parte de uma árvore bem folhuda e baixa, com galhos recheados de gomos e suculentas folhas verdes. Will sorriu para seu adorável Puxão, depois ele suspirou, queria saber mais do suposto salvador, mas sentia que nem isso era fácil de fazer.

Sua língua parecia mais pesada enquanto ele fechou os olhos bem lentamente, quase adormecendo, Gilan veio tocando em sua testa, se assustando com o toque quente do outro, àquelas mãos rústicas lembrava muito as de Halt.

"Paz menino!" Ele cochichou segurando os ombros nus e pequenos "Venha levante um pouco a cabeça, quero que beba um pouco d'água fresca".

A água veio como um bálsamo descendo livremente, aos poucos Will foi se refrescando, e se acalmando.

"Sei onde está indo rapaz, foi loucura o que fez, porém, muito corajoso". Gilan colocou às palavras em ordem em sua mente cansada. Will torceu o rosto quando Gilan puxou para que ficasse sentado ao seu lado, o mesmo se sentou com as pernas cruzadas.

"Sabe? Como?" Olhou nos olhos sérios do outro.

"Está atrás de Halt! O meu ex-mentor". Gilan disse "Estava em seu enlaço há algumas horas, espere! Não foi eu quem te feriu" ele abriu os olhos quando Will enrugou a testa. "Fiquei vendo você enquanto duelava com o agressor, Halt tem um ótimo recruta em mãos!" Confirmou sorrindo enquanto via Will corar absurdamente, ele se remexeu desconfortável em seu ninho.

"Não sabia que Halt tinha um ex-aluno..."

"Tens muitas coisa que não sabes sobre ele". Gilan olhou para os lados quando a mata ecoou em seus ouvidos, os cavalos estavam tranquilos.

"Ele desapareceu! E pretendo encontrá-lo!" Will rebateu, cansado, sabia que seria uma tarefa idiota, mas estamos falando de Halt, aquele que fazia seu peito bater em compassos estranhos.

"Aquela velha raposa cinzenta, não deixaria um aprendiz à toa por aí, correndo todos os perigos à custo de nada, não é mesmo?" Gilan indagou levantando, ele verificava as ervas; estavam boas para beberem.

"Gilan, está me dizendo que ele já sabia? Por isso te chamou?"

"Sim. Halt é um melhores que eu conheço".

"Para onde ele foi? Não me disse nada, de missão alguma". Will sentiu estranho, nunca fora apresentado para Gilan, e Halt nunca falara nele em momento algum. O rapaz enxergava as costas largas do outro e suspirou incomodado com o rumo da história toda. Um ex-aluno, era como ele então, mas, por qual motivo ainda sentia que era perigoso?