Logo à frente, havia um alvo desenhado com dentes longos puxados para os lados como se estivessem rindo dele em desdém. Will, parou com o arco em mãos firmes e doloridas, o suor em sua testa teimava em cair em sua alva tez, já seu peito cansado clamava por ar, precisava acertá-lo daquela distância que Halt propusera: como um último obstáculo de seu dia.

O mesmo lhe observava da varanda logo atrás, encostado em seu chalé.

"Vá garoto!" Este disse suavemente. "Não está tão longe assim".

Will sabia que aquilo era apenas um incentivo da parte de seu mestre. Aquela figura ali parada nunca o rebaixou por prazer, suas lições sempre eram bem aprendidas pelo rapaz, que tentava a todo custo ver um largo sorriso daquele homem.

Assim, suspirou, logo fechou os olhos soltando longamente a respiração, sua concentração suavizou o rosto cada vez, até que a flecha se soltou e cambaleou no ar, prontamente à viu dançar como uma pena leve, que mal pôde senti-la deixando seus dedos finos.

Seu treinamento com o arco e flecha estava-lhe dando bons resultados, à própria acertou em cheio àqueles dentes feios de monstro improvisados.

Sentindo-se vitorioso pela primeira vez.

Apostava que à apresentação fora digna de pelo menos um sorrisinho. Will virou-se com os olhos esbugalhados; os lábios estavam secos, e meio pálidos. Halt ainda permanecia parado com os braços cruzados em seu peito, e o rosto como mármore fria, ombros rígidos.

Sentiu um arrepio estranho cruzar seu corpo ainda jovem. Ele largou o arco muito corado ofegante sem entender o que tinha sentido, Halt levantou elegantemente sua sobrancelha.

“Vamos, já esta escurecendo e estou com fome!”

O chalé estava quente, mas não era a única coisa ali que sentia-se assim. Will ficou deitado em seu quarto com a pano aberto; ordens de seu mestre. O rapaz não tinha certeza do que era aquela sensação, poderia ser por causa dos treinos puxados que Halt estava lhe dando, ou a falta de descanso. Will se levantou, estalando as costas ao se espreguiçar, já tinha tomado seu banho, mas aquela sensação estranha ainda estava ali muito presente. Ele saiu. Vendo que a sala onde o mestre costumava ficar estava vazia, olhou para a cozinha, encontrando Halt a preparar alguma coisa. Ele cortava cuidadosamente alguns legumes, Will corou vendo como o mais velho parecia tão distraído.

“Ficará olhando até quando?”

Ele de vez enquanto espiava-o em a capa de arqueiro. Usando simples vestimentas, mas que não tiravam sua graça imponente. Will mordeu o lábio enquanto cortava um pepino para o jantar, Halt colocava seu vinho no caldo, parecia que estava nervoso com algo, pois sua testa curvou-se enquanto virava a garrafa.

“Garoto, quer fazer alguma pergunta?” Sua voz saiu um tanto forte, mas nada ameaçadora.

“Haveremos algum treino amanhã?”Disse aos tropeços, a faca ainda continuava em sua mão.

“Por que? Terá algo interessante a ser feito?”

“Não, não" ele fez uma pausa. "É que eu queria saber… se eu posso ir à procura de novas madeiras para as flechas”. Will desconversou lambendo os lábios nervosamente. Halt pareceu entender, já havia mudado para mais treinos cada vez mais complicados. Um dia fazendo algo que poderia ajudar, não teria problema futuros para o garoto.

Ele sentiu que tinha mais coisas naquela cabecinha oca, pois havia visto que seu comportamento havia mudado. Uma raposa velha sabe das coisas.

“Tudo bem, nada mal garoto, amanhã apenas.”

Em meio à felicidade, Will cortou-se com a faca; a lâmina afiada não fez um grande estrago, mas no susto um grito saiu de sua garganta. À primeira vista, fechou os olhos com a quantidade de sangue que verteu de sua mão, a partir dali, uma sensação de quentura e de proteção surgiu tocando-lhe pelo ombro.

Aquelas mãos maiores pressionaram um pano contra o ferimento aberto, Halt assustou-se com seu grito, mas nada que não pudesse resolver.

“Willl, não fique à toa! Esta sujando a cozinha”. O menino abriu os olhos vendo pela primeira vez a sujeira que realmente estava fazendo, ele encolheu perto de Halt que segurava sua mão tentando estancar, suas pernas amoleceram, mas não iria de mostrar.

“Andas com sua mente nas nuvens, rapaz!"Suspirou. “Tente tomar mais cuidado na próxima vez, assim treinará com suas mãos todas dolorida e não pense que irá para a cidade ver as moças da sua turma”. Halt olhou, balançando a cabeça.

“Prefiro treinar ao seu lado a ir à cidade”. Will murmurou baixinho, sentindo-se tão infantil.

Os olhos de águia analisava-o enquanto fazia os pontos daquela pequena mão. Ambos estavam sentados na mesa de refeição em silêncio. Will mantinha de cabeça baixa com as bochechas quentes, seu coração batia tão forte em seu peito. O que era aquilo? Halt era seu mestre! Um homem feito!

Will pensava enquanto lutava bravamente consigo mesmo em aceitar estas sensações complicadas. Pensou em suas amigas de outrora, e como eram belas e jovens, eram lindas garotas em uma idade certa para serem cortejadas.

Tão diferentes de Halt; que já tinha uma barba, cabelos desgrenhados e sempre bagunçados, até pomo de adão, e um cheiro bem característico masculino, mesmo que não fosse sujo e fedido, ainda possuía um odor. Will olhou para as mãos calejadas, as suas ainda eram bem macias comparadas a ele, "Sou um rapazote que ainda não sabe seu lugar!" Will pensou, chateado.

"Will, ouviu à pergunta?"

"Hã?"

"Perguntei que horas irá amanhã?"

"Às oito horas, depois do café; assim, se eu conseguir todos poderei voltar mais cedo". Will comentou baixo vendo que seu mestre estava finalmente terminando".

Logo pela manhã, o jovem aprendiz ensacou uma pequena bolsa com algum alimento rápido de viagem, não que fosse ficar fora por dias, mas iria caminhar, e sempre sentia fome com o esforço. Estava usando seu capuz, caso precisasse se esconder de alguma dor de cabeça. Um javali, por exemplo.

O dia parecia bem boêmio e fresco, seria uma caminhada tranquila, Halt estava sentado em seu típico lugar, tomando seus goles de café, os pés sob a mesa, não conversaram durante à noite no dia anterior, cada um foi para seus lugares, Halt cochilou no calor da lareira, e Will ainda ficava nervoso com a presença do mestre; portanto, decidiu adormecer em silêncio. A mão doía.

Agora, já com os pés na grama e o ar batendo em seu rosto, ele pôde relaxar de fato. Will olhou para trás, resolveu ir a pé, assim seria melhor, e, por outro lado, faria uma surpresa para seu mestre. Halt estava muito quieto quando acordou, e Will sentiu uma pontada de estranheza vinda do outro.

Andando pela mata, o jovem aprendiz sentiu tudo em sua volta tão vivo, que parecia que ele e a floresta eram um só. Subiu em uma das árvores sem dificuldade, — queria encontrar um bom carvalho — e, sabia que tinha visto um naquela região em especial, pois havia notado quando treinava;era uma árvore bonita, com folhas muito verdes e um grosso tronco marrom, com diversas ramificações.

Will sorriu para consigo mesmo, faria um presente para seu mestre como agradecimento pelos ensinamentos valorosos que recebera. A ideia era fazer um arco, mas talvez encontrasse algumas dificuldades no caminho, nunca tivera tanta habilidade para este ofício, muito menos, havia confeccionado tal grandeza antes. O jovem suspirou com força, Halt havia lhe escolhido, era seu dever agradecê-lo!

Já parecia ser bem tarde, todavia ainda não estava nem na metade do trabalho, suas mãos doíam demais, porém, tinha que cortar madeira dos galhos fortes daquela imensa árvore, Will já tinha retirado sua manta, e suava pelo esforço, o sol já estava no topo, era meio-dia, e a fome resolvia aparecer.

O menino sentou do lado das diversas madeiras espalhadas, e de sua bolsa retirou um cantil e carne seca. Esticando as pernas, ele descansou pelo menos uma hora até recomeçar seu trabalho artesanal, tentava a todo custo deixá-lo digno de um arqueiro, ajoelhado com o suor escorrendo de seu rosto, Will não deu muita atenção a suas redondezas.

Uma raposa vermelha espionava-o silenciosa.

"Eu acho, que assim está boa!" Will pulou puxando o arco, testando, mas a corda que o prendia soltou, fazendo-a bater em seus dedos. A dor foi inevitável. Lembrou da primeira vez que usara um arco, a dor foi muito parecida. A mão do corte sangrou com a pancada repentina, Will gemeu em agonia ajoelhado nas folhas.

"Patético... por isso que ele te enxerga como um garotinho!" Rugiu nervoso, bufando, ele se levantou, e começou a andar para lá e acolá, ficou alguns segundos se martirizando, até que parou olhando para o arco ainda para ser feito. Enfaixou o machucado, e encabeçou suas dores e frustrações, não sairia dali até que seu presente não tomasse a melhor forma para ser usado.

Com algumas picadas extras em seu rosto, Will havia terminado, já parecia ser bem tarde. Havia prometido chegar antes de anoitecer, já o rapaz jogou sua capa por cima dos ombros e correu o máximo que suas pernas permitiam. O chalé estava escuro, isso era um bom sinal? O rapaz subiu as escadas, abrindo a porta. Lá dentro estava um completo breu, seus olhos já ajustados com a pouca luz de fora não tiveram muita dificuldade para enxergar.

Ele escutou o interior: silencioso. Com o instinto de um arqueiro, ele levantou o novo arco em mãos, havia feito algumas flechas, seu coração batia apressado.

Qual seria o motivo de Halt não estar ali? Will pensou consigo, mordendo os lábios nada contente, ele sempre deixava algum bilhete logo na entrada, porém, não havia nada. Abaixando-se nas sombras, pensou em ter escutado leves ruídos vindos de fora. Talvez fosse o próprio Halt voltando de algum lugar importante.

Relaxou os músculos faciais, tentando ouvir, entretanto, não havia abaixado o arco de onde estava escondido.

O que tivesse lá desapareceu.

Ficou em alerta pelas horas que se passaram. No silêncio do chalé, e na escuridão, observou à noite quieta e gelada. O arco que fizera para Halt ainda permanecia nas mãos do jovem que tentou ser paciente; todavia, a juventude insensata fizeram com que saísse da proteção.

Procuraria Halt!

A mata parecia tão hostil na escuridão, surgindo-se aos poucos, que os pelos da nuca de Will arrepiaram-se, ele montava puxão, a montaria do mestre não estava no chalé.

Seguindo os sons, e algumas pegadas: havia também; muitos gravetos das árvores, sujeira da natureza, plantas rasteiras, e samambaias. O que acabou dificultando seu trabalho de rastreamento.

Mas aqueles rastros identificados não estavam indo em direção ao castelo, elas sumiram progressivamente. O menino suspirou o ar úmido que se formava, pelo visto choveria.

Puxão bufou, já Will levantou o arco para os lados, sua garganta seca, e seu coração alertavam um perigo desconhecido. Ficou calmo, era um aprendiz de arqueiro, se Halt estivesse em perigo de verdade, não poderia esquecer os seus ensinamentos. Era melhor andar por cima, seria mais fácil de ver quem era seu perseguidor.

Puxão foi deixado, e uma leve garoa começou a cair, odiou-se, as marcas se perderam com a chuva.

"Tudo bem... se acalme". Ele segurou seus armamentos, certificando-se de que tudo estava ali. Tudo, menos Halt