Desperate Souls

Capítulo 6 - A chuva que interliga destinos


—Hei Miki, quer uma carona? –James pergunta, enquanto todos saiam da sala, já que as aulas haviam terminado:

-C-carona? –ela o olha e recebe um cutuco de Letícia, que lhe lança um olhar travesso –claro, vai me poupar de andar de ônibus até lá. –ela lança um olhar de raiva para a amiga, que estava começando a dar pulinhos de felicidade.

Enquanto James ia pegar seu carro no estacionamento, Letícia pula no pescoço de Miki:

-Oh my fuck, cês dois vão sair juntos! –Letícia dá um gritinho de felicidade:

-Sério que tu falou “oh my fuck”? Isso não faz o menor sentido! E o James só vai me dar uma carona pro nosso trabalho! –Miki a encara com cara de reprovação:

-Começa com uma singela carona, depois vai começar os encontros, e aí ele vai virar teu crush, e então bam! Dois pombinhos xonados!

-Letícia, vá num psiquiatra, pelo amor de Deus... E quem usa “crush” hoje em dia? –Miki coloca sua mão por cima do rosto:

-A internet inteira meu bem! –as duas começam a rir, porém se interrompem quando Guilherme passa por elas, com aquele olhar de reprovação e que tramava algo:

-Eu não estou gostando nada disso... –Miki comenta, depois que ele entra em seu carro e vai embora –parece que ele tá planejando algo contra mim...

-Não duvido nada.

James chega com o carro, Miki entra, mas não sem antes ouvir uma pérola de sua amiga:

-Já tô shippando vocês dois! –Letícia aponta para eles com as duas mãos com um sorriso travesso, se mandando no instante seguinte antes que Miki atirasse sua mochila nela:

-O que foi que ela falou? –James olha Miki, confuso:

-Nem se importe, é só a Letícia sendo a Letícia. –ela ri, fechando a porta.

Durante o percurso, James ligou o rádio, colocando em uma estação conhecida por tocar as melhores musicas, fazendo os dois ficarem em uma espécie de dueto quando começou as musicas de rock metal. Quando chegaram no destino, entraram na “confeitaria da vovó” rindo e cantando, fazendo a senhora de 60 anos os encarar com um sorriso:

-Nossa, nunca vi tanta animação por ter que trabalhar! –ela fala, rindo:

-Vovó, sabe que a gente adora trabalhar aqui, né? –Miki a abraça, sentindo o perfume de lavanda característico dela:

-Que bom que voltou bem. –ela abraça de volta, a envolvendo com seu carinho –mas, vamos parar de zonear e ir ao trabalho, temos muito o que fazer!

-Sim senhora! –Miki e James fazem uma posição de sentindo, se entreolhando e rindo depois, indo cada um para seu posto.

James ajudava na cozinha e caixa enquanto Miki servia e arrumava as mesas. A “confeitaria da vovó” era conhecida por seus doces únicos e especiais, além do carisma contagiante da dona, a senhora Teresa, ou simplesmente vovó, como ela mesma pedia para que a chamassem.

Miki vai atender um cliente:

-Hei, quanto tempo! –o homem fala, sorrindo:

-Foi só uma semana. –Miki sorri para ele, que ri:

-É, mas bate uma saudade de você me atendendo. Só entre nós, você é a melhor garçonete daqui. –ele dá uma piscadela:

-Huhum, sei... –ela ri –e então, o que vai ser?

-O de sempre.

-Um muffin com um chocolate quente saindo. –ela dá uma piscadela e vai até o caixa:

-Ainda digo que esse cara tá muito afim de ti... –James fala, parecendo muito incomodado:

-Não ia dar certo, ele é muito mais velho que eu. –Miki se espreguiça, e logo vem o pedido do homem, que ela o entrega.

O homem sorri e logo começa a comer o muffin e beber seu chocolate, pegando uma revista para ler de sua pasta. Miki se recosta no balcão, esperando mais alguém aparecer:

-Pelo jeito vai chover... –vovó comenta, saindo da cozinha:

-Droga, e eu nem trouxe um guarda-chuva... –Miki resmunga, vendo os pingos começarem a bater na janela:

-Eu tenho um extra aqui, pode me devolver amanhã. –vovó sorri para ela:

-Hum...

-Acho que agora não vai muito movimento na loja... –James senta:

-Fazer o que, não podemos mandar a chuva parar por bel-prazer. –Miki dá de ombros –mas eu tenho um mal pressentimento dessa chuva... Na verdade odeio chuva... -Nem sempre a chuva é a culpada... Muitas vezes ela lava e leva para longe todas as frustrações e problemas que se abatem em uma pessoa. –vovó comenta, encarando a chuva pela janela –acho que alguém lá fora está perdido, precisando de alguém para guia-lo, uma luz... –Miki e James encaram a vovó, que apenas sorri e faz sinal para esquecerem o que ela falou, voltando a cozinha enquanto um cliente chegava.

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-Tem certeza mesmo que posso pegar esse guarda-chuva? –Miki falava com a vovó, enquanto a mesma botava as mãos na cintura:

-Já disse que pode! Só me trazer amanhã, sem problema nenhum! Agora para de ficar me olhando com essa cara e vai logo pra casa! –vovó praticamente a joga para fora da loja:

-Não precisa agredir... –Miki resmunga, abrindo o guarda-chuva e suspirando. James iria fazer hora extra, por isso ela não podia descolar a carona com ele, a não ser que quisesse chegar em casa tarde, e isso era o que ela menos queria –maldita Letícia que me acordou cedo! Se eu não tivesse morrendo de sono, não estaria no meio dessa chuva!

Um carro passa por ela, em cima de uma poça e jogando toda a água nela, que dá um berro e alguns passos para trás, entrando em um beco:

-Merda! Esses caras fazem isso de propósito! –ela grita, indignada, tentando em vão se secar, porém ao tentar, ela abaixa o guarda-chuva, assim molhando o que restava –ah, merda!!!

Um barulho a faz se virar rapidamente, o guarda-chuva de modo protetor em frente ao seu corpo. No momento que vê o causador do barulho, quase deixa o mesmo cair:

-O-o-o que você está fazendo aqui? –ela sussurra, o encarando, os olhos totalmente arregalados:

-Eu “moro” aqui... –o animatrônico coelho fala, sentado no chão, o sarcasmo era aparente –e o que você faz aqui?

-E-e-eu... –Miki engole em seco, tentando se acalmar. Ela fecha os olhos, sabendo que mesmo quando abrisse, aquele que a atormentara em seus pesadelos continuaria em sua frente, apenas esperava não desmaiar como das últimas duas vezes –porque me salvou ontem? –aquela pergunta lhe escapou pelos lábios, surpreendendo o animatrônico:

-Porque? Nem eu mesmo sei... –algo como uma risada soa de sua boca –simplesmente segui meus instintos... –esse comentário faz Miki abrir os olhos e encarar Springtrap, que olhava para o lado.

Ela suspira, colocando o guarda-chuva sobre a cabeça dele, que a encara, confuso:

-Por quê? –ele apenas pergunta:

-Porque eu sou uma idiota retardada... –ela sorri, lhe estendendo a mão –e é melhor você aceitar antes que eu mude de ideia e saia correndo.

Springtrap estende a mão, e assim levanta, fazendo Miki perceber que ele realmente era mais alto que ela.

Será que era dele que a vovó estava falando? Não, não pode ser... Eu estou tão perdida quanto ele... Será que foi o certo fazer isso? Miki pensa, olhando para frente, enquanto os dois caminhavam pelas ruas, um encontro unido pela chuva que ela tanto odiava.