Desperate Souls

Capítulo 4 - A criança crescida


Springtrap se ativa enquanto o sol se punha. Ele havia ficado muito tempo desligado, porém desejava que nunca tivesse acordado.

Ao se levantar e olhar ao redor, decide sair daquele lugar abandonado e dar um passeio, já que não tinha mais um objetivo como antes. Se esgueirando pelos becos, não vê nada de interessante, apenas animais famintos e sarnentos fuçando no lixo. Ele suspira e volta para sua casa, vendo que o resto de sua vida amaldiçoada seria um tédio completo:

–Eu não devia ter queimado a Fazbear’s, o guarda podia ter ido embora, mas pelo menos eu teria os fliperamas pra jogar... –ele resmunga enquanto se sentava no chão –dia após dia, tudo que eu vou ter pra fazer é ficar olhando para esse teto decrépito.

Ele ouve passos no beco. Rapidamente se levanta e olha pela janela discretamente. Uma garota de cabelos castanhos e vestido caminhava apressada, até que um garoto de cabelos pretos entra falando:

–Desculpe se te magoei falando aquilo, mas convenhamos, é muita idiotice ficar se remoendo por seis anos!

Springtrap reconheceu aquela voz, claro que seis anos atrás era mais fina, porém ele sabia que era daquele garoto maluco que prendeu a amiguinha na sala dos fliperamas junto com ele:

–Sim, é idiotice mesmo! –a garota grita, a mesma garotinha que ficou presa com ele –seis estúpidos anos tendo medo da minha própria sombra! Seis anos sofrendo pelo cara que nunca voltou pra me salvar daquele monstro! –aquilo mexeu com o animatrônico, havia ouvido de uns homens que a garota havia ficado em choque, mas não imaginava que tinha traumatizado alguém aquele ponto:

–Claro, fala o homem que matou seis crianças e colocou os corpos dentro de animatrônicos as fazendo quererem vingança –ele responde seus pensamentos:

–Sabe o que é pior? Que eu gostava de você naquela época... –ela continua –mas tudo que eu consigo sentir agora é nojo e desprezo.

–Isso tá parecendo uma novela... –Springtrap ri consigo mesmo, porém seu divertimento é interrompido quando vê o garoto agarrando o braço dela e apontando uma faca para ela –ok, isso já passou dos limites... –ele desce do prédio e vê o garoto prestes a dar um golpe nela, aquilo o tirou do sério, e sem nem ao menos pensar, Springtrap agarra o braço do garoto e o joga contra a parede:

–M-mas o que...?! –o garoto fala, arregalando os olhos ao ver a sombra de Springtrap, que ficava mudando os olhos entre o normal e os pretos com apenas uma luz branca. O garoto se levanta, querendo correr, porém o animatrônico não ia deixar ele fazer aquilo mais uma vez e o agarra pela camisa:

Vai correr de novo? Como fez seis anos atrás? –a insanidade toma conta dele –foi tão engraçado ouvir aquelas piadas do garoto que se mijou nas calças e abandonou uma garotinha com o monstro pútrido da atração...

–C-cale a boca! –o garoto, em um ato de desespero, finca a faca onde seria o peito dele, porém não tem efeito algum em Springtrap, que apenas ri:

Tão idiota... Não se pode matar algo que já está morto –ele solta Guilherme e arranca a faca, a jogando no chão –se eu souber que andou aprontando com essa garota, irei arrancar cada um dos seus membros enquanto ainda estiver vivo... –ele se aproxima mais, os olhos cheios de insanidade –acredite, eu sei como fazer isso, já torturei e matei crianças... –o garoto sai correndo ao som das risadas do animatrônico.

Quando não se podia mais ver o garoto, Springtrap aos poucos tenta retomar o controle sobre si, se virando para a garota, encolhida e aterrorizada em um canto do beco. Ele dá um passo, fazendo a luz da lua ilumina-lo, e a garota prende a respiração, até que abre a boca:

–S-Spring-... –ela balbucia, não conseguindo completar o nome dele e desmaiando. Springtrap a pega antes de cair completamente no chão, olhando-a mais de perto:

–Nem ao menos consegue falar meu nome... –ele murmura, vendo as opções que tinha. Não queria deixa-la ali, na sujeira do beco, porém o único lugar que restava era o prédio abandonado –será que devo?

Ele se levanta, carregando a garota, não tinha escolha, iria leva-la para sua “casa”. Ao entrar no prédio e subir as escadas velhas, a leva até o cômodo que fez de seu quarto, a colocou entre cobertores que havia encontrado em um armário destruído e se afasta, olhando seu semblante perturbado:

–O que será que está sonhando? –ele aproxima a mão do rosto dela, porém sente a insanidade querendo tomar conta, imaginando como seria ela com a garganta cortada e coberta de sangue, então a recolhe rapidamente e vai até o outro lado do cômodo. Ele temia que se ela não acordasse logo, fizesse algo como havia feito com as crianças décadas atrás.

A garota começa a se mexer, aos poucos acordando, e Springtrap se aproxima um pouco, a olhando com a cabeça de lado. Ela abre os olhos e se depara com o animatrônico:

–V-v-v-você... –ela gagueja, se encolhendo nos cobertores:

–Não se preocupe, não irei fazer nada... –ele dá um passo para trás, vendo o olhar aterrorizado dela –pode ir embora se quiser...

–O-o que está fazendo aqui? Porque não está naquele lugar? –ela vê a porta atrás dele:

–Fala da Fazbear’s Fright? Ela foi queimada... –ele acha estranho, deveria ter saído nos jornais sobre o ocorrido:

–“Queimada”? Ai meu deus... –rapidamente ela se levanta e sai correndo pra porta, fazendo Springtrap se lembrar de seis anos atrás, dela o driblando e desmaiando após bater a cabeça, porém desta vez ela corre para a porta e desaparece.

Ele suspira e olha os cobertores agora vazios:

–Ninguém nunca vai tentar ajudar um serial killer insano como eu... –ele fala tristemente –pelo jeito você estava certo Freddy...

Do lado de fora do quarto, Miki estava encostada na parede, respirando rapidamente com o coração disparado, ela havia ouvido o que ele havia falado, e muitas perguntas pairavam na sua cabeça, e com isso ela sai correndo.