Desperate Souls

Capítulo 3 - Encontro


Miki já estava se arrependendo de sua decisão antes mesmo de sair do seu apartamento. Não acreditava que realmente havia feito a loucura de aceitar o convite de Guilherme:

–Não seja uma covarde Miki, já que aceitou a porcaria do convite, vai lá e enfrente esse babaca! –ela fala consigo mesma, abrindo a porta e saindo.

Ao sair na serenidade da noite, ela suspira e tenta buscar um pouco de coragem em seu interior:

–Você vai vencer seu trauma, você vai vencer seu trauma, você vai vencer seu trauma... –ela praticamente faz disso um mantra enquanto caminhava até o local do encontro, já que não tinha carro e era pertinho de casa.

Ao chegar no local marcado, a primeira pessoa que avista era Guilherme, um tanto arrumado, que ao vê-la, dá um sorriso. Ao ver o sorriso dele, Miki tem um flashback dos dois caminhando pela atração de terror, momentos antes de Springtrap aparecer. Ela fecha os olhos e balança a cabeça, tentando se esquecer daquilo por hora:

–Tudo bem? –Guilherme vai até ela, lhe estendendo a mão:

–S-sim... –ela vira o rosto, aceitando a mão dele, os dois indo até um restaurante.

Já dentro do local, os dois se sentam em uma mesa e cada um faz seu pedido. Enquanto esperavam a comida, Guilherme resolve puxar assunto:

–Então, anda desaparecida da faculdade...

–É... Tive alguns... Problemas pessoais... –ela dá de ombros, não conseguir olha-lo nos olhos –mas segunda já estou voltando.

–Que bom, eu achei que você tinha desaparecido por minha culpa... –ele ri. Ela se pergunta se ele estava falando isso de propósito ou realmente era um idiota:

–Como disse, problemas pessoais.... –ela ri sem emoção. A comida chega, o prato de cada um é servido. Quando Miki prova a comida, Guilherme resolve falar:

–Olha, sei que seis anos atrás nos separamos de um jeito... Errado... Mas eu queria... Recomeçar, sabe?

–O-o que? –ela se engasga com a comida, o que ele estava pensando?

–Vamos conversar, botar o papo em dia, fazer coisas de amigos... Ou algo a mais... –ele estende a mão e coloca no queixo dela, fazendo-a olhar em seus olhos:

–E-eu... –ela vê novamente na sua cabeça ele a deixando naquela sala com Springtrap, enquanto gritava por socorro. De certo modo, aquilo lhe dá coragem para falar aquilo que lhe incomodava desde que ele havia feito aquele convite –p-porque acha que vai ser tão fácil assim? Se esqueceu do que me fez?

–Do que eu te fiz? –ele recolhe a mão, confuso:

–Você me deixou presa naquela sala, com aquele monstro! –ela sustenta o olhar no rosto dele, não iria desviar –eu bati com a cabeça em uma viga e não lembro de nada do que aconteceu depois! Fiquei noites em claro porque tinha pesadelos contigo me abandonando! E onde você estava todo esse tempo? Fugindo!

–Calma aí! –ele levanta as duas mãos em sinal de rendição –você ainda se preocupa com aquilo? Não aconteceu nada demais!

–“Nada demais”? “Nada demais”??? –a raiva começa a subir a sua cabeça –pra você pode parecer nada, mas para mim, que fiquei para trás, me deixou aterrorizada!

–Mas...

Você sabia que eu tinha medo daquele lugar, que odiava estar lá, eu só ia por tua causa! –ela o interrompe –quer saber, foi idiotice ter vindo aqui! –ela se levanta de modo brusco, assustando alguns clientes. Guilherme tenta chama-la, porém ela não olha para trás e sai daquele restaurante.

Enquanto atravessava a rua, Guilherme sai pela porta do restaurante:

–Miki! Espera! –ele corre até ela, que olhava apenas para frente –Miki, olha, vamos conversar!

–Não tem nada para conversar com você! –ela entra em um beco escuro, tentando faze-lo parar de segui-la:

–Desculpe se te magoei falando aquilo, mas convenhamos, é muita idiotice ficar se remoendo por seis anos! –ele não desistia:

–Sim, é idiotice mesmo! –ela finalmente o encara –seis estúpidos anos tendo medo da minha própria sombra! Seis anos sofrendo pelo cara que nunca voltou pra me salvar daquele monstro! –ela aponta para o peito dele –sabe o que é pior? Que eu gostava de você naquela época... –ele arregala os olhos, ela o encarava nos olhos, um olhar gélido que faz arrepiar sua espinha –mas tudo que eu consigo sentir agora é nojo e desprezo. –e com isso ela se vira.

Guilherme, não se dando por vencido, agarra o ombro dela:

–Eu não vou te deixar ir dessa vez! –ele grita:

–Sério? Mesmo depois de tudo que te disse tu ainda quer bater na mesma tecla? –ela o encara e se depara com uma faca –f-ficou maluco?! Que você está fazendo?!

–Você não quer me ouvir, não quer deixar essa idiotice de lado... –ele fala de modo ameaçador:

–Eu já disse o por que... –ele aperta mais o ombro dela, a fazendo dar um gemido de dor:

–Você não sabe o que eu passei depois daquilo, não sabe de nada! –ele grita e prepara a faca, iria machuca-la, ou mata-la:

–Pare! –ela coloca a mão na frente do rosto, esperando o ataque.

Guilherme a solta, algo havia o agarrado e jogado contra a parede do beco, o desnorteando por segundos até olhar a sombra ameaçadora na sua frente:

–M-mas o que...?! –ele arregala os olhos e faz questão de correr, porém é agarrado pela camisa:

Vai correr de novo? Como fez seis anos atrás? –uma voz humana e robótica soa –foi tão engraçado ouvir aquelas piadas do garoto que se mijou nas calças e abandonou uma garotinha com o monstro pútrido da atração...

–C-cale a boca! –Guilherme finca a faca onde seria o peito dele, porém tudo que ouve é uma risada:

Tão idiota... Não se pode matar algo que já está morto –ele solta Guilherme e arranca a faca, a jogando no chão –se eu souber que andou aprontando com essa garota, irei arrancar cada um dos seus membros enquanto ainda estiver vivo... –ele se aproxima mais –acredite, eu sei como fazer isso, já torturei e matei crianças... –e com isso Guilherme sai correndo.

A sombra se vira para Miki, que havia se encolhido em um canto e o olhava aterrorizada. A sombra se aproxima, revelando o que ela mais temia:

–S-Spring-... –ela desmaia antes de completar seu nome.