Desinformação Funcional – Minissérie

Star atravessou as portas do ginásio e partiu para a chuva.

Não dá mais. Não dá mais.

Ela correu pelo estacionamento, tropeçando e caindo no chão. A lama lhe subiu os quadris e arruinou seu vestido.

Mas nada importava. Ela se levantou com o joelho arranhado e continuou a correr.

Sabia que ir ao baile de formatura seria uma péssima ideia.

Estaria com Marco.

Mas elas também estaria lá.

Cedo ou tarde, teria que retornar a Mewni. E sabia, lá no fundo, que Marco se recusaria a ir com ela.

Jackie Lynn ou Janna— Pensava consigo mesma, em meio ao suor, lágrimas e água da chuva fria.

No fim, ele vai escolher ficar com uma delas.

....

Não comigo.

....

Já haviam passado horas. Marco rodou pela cidade inteira, mas não encontrara Star em lugar nenhum.

Cansado, com a gravata lhe apertando o pescoço e os sapatos esmagando seus pés, ele achou melhor ir para casa.

Em algum momento ela acabaria reaparecendo.

No caminho de volta, no entanto, encontrou Star sentada em um balanço no parque.

Ele sorriu e se aproximou. Sentou – se no balanço anexo e estendeu o pacote de nachos.

— Molhou um pouco com a chuva, mas acho que ainda estão bons.

Na verdade, naquele ponto, a chuva já cedera. O céu noturno agora estava claro, revelando uma lua branca por detrás das nuvens.

Ela agarrou o pacote e se serviu de um deles. Devolvendo a Marco, ele pegou outro.

— Desculpa.

— Tudo bem. Acontece.

— Não, eu.... Argh!

Star enfiou o quitute na boca e enfiou goela a baixo, sem mastigar.

— Não, não tá tudo bem. Eu sempre faço isso. Sempre que eu estou perto delas. Eu...

Só não consigo mais.

Ao contrário dela, o rapaz mastigava com a maior calma do mundo.

— Sabe que eu não vou te trair, né? Com ninguém.

Ela suspirou.

— Cedo ou tarde, você vai se cansar disso. E vai escolher uma delas.

Marco ficou surpreso com a afirmação da namorada. Realmente não estava entendendo onde ela queria chegar.

— Do que você está falando?

— Você entendeu.

— Não, sério. Mas do que você está falando?

Diga exatamente.

Star ficou de pé e fitou o namorado, ainda sentado. Deixou que a baixo – estima saísse e a indignação tomasse conta.

— Tá brincando, não é? Eu só te arrasto para problemas. Você vai se encher.

Então ela voltou a sentar no balanço, se afundando nele.

E nos nachos.

— O mínimo o que se pode fazer, agora, é me dizer: Jackie ou Janna?

— O quê?

Ela revirou os olhos.

— Jackie ou Janna. Quem você ama mais?

Marco parou de comer. Tinha adiado esse assunto há muito tempo.

Todo mundo tinha. Mas ele não ia mais colaborar com a mentira.

Full Moon provavelmente ia querer mata-lo quando soubesse que ele contou, mas ele sentia que podia conviver com o ódio da sogra.

Para o bem ou para o mal, aquilo tinha que acabar. E seria ali, agora.

— Eu nunca vou te trocar por ninguém, Star.

— Ah, Marco, sério? Vai se fazer de difícil, agora? As duas são perfeitas e....

— Elas não são reais, Star.

....

— O quê?

Marco esfregou os olhos.

— Jackie Lynn e a Janna. Não são reais. Nunca foram. Você as inventou.

As duas são você. Parte de você.

Star se perdeu por um segundo. Não estava entendendo mais.

Tinha perdido alguma coisa.

— Como assim, elas não são reais?

Elas estavam lá, no baile, hoje! Me encarando, encarando a gente!

Ele suspirou. Sabia que a conversa ia ser longa.

— Não. Ninguém estava encarando a gente. Você passou boa parte do tempo olhando para o vazio. Aí, saiu gritando pela saída, dizendo que não era boa o bastante.

Então eu vim te procurar.

Espera, o quê?

Não, elas estavam lá.

Eu lembro.

Não é?

....

— Não, não, não, não, não, não.

Eu saberia se elas não fossem reais. Quer dizer, eu passo o tempo todo com a Janna e ....

— Você passa o tempo todo comigo. Só nós dois.

Não temos muitos amigos.

Espera.

Ele tá certo.

— Não, me dá um minuto. Calma – Star coçou o queixo, tentando se reestabelecer – Seu primeiro beijo, na pista de skate. Foi com a Jackie.

— Nãaaaao. Foi com você, lembra?

Eu te levei porque queria te impressionar andando de skate. Só que quase morri, em cima daquele troço. Aí, a gente se beijou.

Não foi isso que aconteceu...

Espera, foi sim.

Meu primeiro beijo.

....

Nosso primeiro beijo.

— Mas, depois, no cemitério. Eu e a Janna....

— Eu e você. Ficamos o resto da noite lá. Esperando o Bon – Bon aparecer.

....

— Então, elas....

— Não.

— Nunca?

— Nunca.

Tecnicamente. Quando você fica nervosa, acaba criando “amigas”. Personalidades. É um distúrbio, você não tem culpa.

— Tá dizendo que eu sou doida?

Que eu tenho distúrbio de múltiplas personalidades?!

O rapaz preferiu não responder.

Não gostava da palavra doida. As pessoas viviam chamando Star assim, na escola.

E em Mewni.

E em todo o lugar.

Mesmo sendo um bom namorado, não dava pra espancar todo mundo que falava mal da princesa. Mesmo que lá no fundo ele quisesse.

....

Marco viu a tristeza dela. Ele se levantou, a segurou nas mãos e se ajoelhou.

— Seus pais te mandaram para a Terra para ver se você melhorava disso.

Mas não melhorou. Eles tinham medo de te contar.

— Por quê? O que havia a temer?

— Eclipsa fazia a mesma coisa.

Eles não ficaram com medo. Ficaram apavorados.

Ahn.

— Legal. Então sou mesmo uma doida varri....

— Você não é nada – Ele retificou, beijando as mãos da princesa – A não ser você mesma. E eu não vou mais mentir. Não quero te perder, nem perder sua confiança em mim. Eu te amo, Star Buterfly.

E se tiver que conviver com suas outras personalidades, tudo bem por mim.

Marco se ergueu e eles se abraçaram.

Não estava tudo bem.

Nem perto disso.

Mas sabia que ia ficar.

Eles se beijaram sob a luz da lua, e nada podia atrapalhar o momento.

Quando ela o largou, viu Jackie, Jenna e Starfan, ali, paradas.

As três acenavam positivamente para a princesa.

— Gosto de nachos – Disse Star.

E em seguida, eles não se seguraram e acabaram rindo do comentário, num timing muito bem colocado.

Momento perfeito.

Para Marco, era exatamente isso que importava. Mante – la feliz. Ele vivia pra isso.

Estava pronta para beija – lo de novo quando um pensamento lhe ocorreu.

— Jackie, Janna, Starfan.... Quatro personalidades. Mais alguma que eu deva saber?

— Até onde eu sei, são só essas. A menos que você tenha criada alguma que eu desconheça.

....

Havia uma quinta.

Talvez, a mais perigosa e instável de todas.

Algum palpite, leitor(a)?

Nenhum?

Tudo bem, vamos chegar lá.

Temos tempo e sei que você não se importa de esperar mais alguns capítulos para descobrir.

Afinal de contas, paciência é seu forte, ou não é?

....

— Espera, e a Cabeça-Pônei? Ela é real?

— Ah, ela é sim – Ele afirmou – Mas eu gosto de pensar que não.

....

De mão dadas, partiram para casa.

Uma noite magnífica para uma caminhada.

Mais do que isso – os dois ainda tinham um saco absurdamente grande de nachos para terminar e muito o que conversar.