Desinformação Funcional – Minissérie

Depois de uma noite pós-baile complicada, Marco imaginava que a partir dali tudo iria correr bem.

Quer dizer, tinha contado a verdade sobre a condição de Star, mas ela absorvera melhor do que havia imaginado. Se não tivesse, a “atividade noturna” dos dois não teria sido tão produtiva.

E entenda por atividade noturna como um sexo muito, muito selvagem.

Um fato curioso é que os pais do rapaz não se importavam nenhum pouco com isso.

O que eles mais queriam eram netos. E logo.

Por isso, julgavam que Marco estava no caminho certo.

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É claro que quando ele acordou por volta das dez da manhã, amarrado na cadeira de seu próprio quarto, apenas de cueca e meia – sim, meia, no singular (só com a do pé esquerdo), estava claro que aquele dia seria tão agitado como fora o anterior.

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Ele ainda estava sonolento, contudo duas coisas lhe chamaram a atenção.

A primeira era o buraco absurdo no teto do quarto.

A segunda era que a princesa estava na cama à sua frente, utilizando-se de óculos de grau e segurando um prato volumoso de waffles de morango.

Contudo, eram exatamente os óculos que denunciavam qual das personalidades de Star estava no comando naquela manhã.

— Oi, Starfan – Ele disse.

— Oi, amor. Trouxe seu café de manhã, se tiver com fome.

Marco encarou suas amarras e depois, a princesa em si.

— Bom, melhor deixarmos para mais tarde, então – Ela completou, colocando o café da manhã na mesinha de cabeceira.

....

A personalidade, na verdade, se chamava Evelyn.

Entretanto, como era a “versão” de Star que mais incentiva o relacionamento do casal, ele a apelidara carinhosamente de Starfan.

E o apelido pegou, tão rápido quanto maldição de fada em despedida de solteiro.

....

— Posso saber porque eu estou amarrado?

E porque tem um incrível e monumental buraco no meu telhado?!

— Te amarrei porque quero respostas....

E foi difícil fazer isso sem te acordar, viu?

Ah, mais você fica tão fofo dormindo....

— Starfan....

— O buraco não foi culpa minha. Foi a Janna que adotou o bichinho....

— Starfan....

— Eu sabia que ela devia ter alimentado, mas ela nunca pensa....

— Evelyn! – Gritou Marco – Me solta dessa cadeira!

Me solta agora senão eu....

O sono finalmente estava passando, o tico e tico estavam voltando a funcionar e finalmente ele se deu conta:

— Isso foi um animal?! – Ele gritou, novamente – Um animal destruiu o meu telhado?!

— Não, seu bobo! – Retificou a moça – Ele não destruiu.

Ele comeu.

O Fofuxo estava com fome....

....

Quando Star estava na posse do seu corpo, a vida era doce, simples e com uma quantidade razoável de sexo animal.

Contudo, quando a personalidade de Jackie se manifestava, a princesa amarrava o cabelo para trás e partia para missões heroicas.

Adotar um animal gigante e incontrolável e batizar de Fofuxo era a cara da parte de Star chamada de Janna. Ela sempre fazia coisas do gênero.

Agora, quando Starfan assumia o controle, normalmente surgia muita falação e perguntas de crianças.

Ela representava a parte infantil da princesa. Por isso, amarrar Marco era uma inesperada surpresa – além de uma novidade no relacionamento.

— Me diz que você.... – Marco parou por um segundo antes de continuar – Me dique a Janna não deixou um monstro gigante por aí....

— Ah, não se preocupa com isso. Ele está amarrado no seu jardim.

Ele é bonzinho.

O rapaz se encolheu devido a corrente de ar que entrava pelo buraco do teto.

— Imagino – Ele respondeu.

....

– O motivo que eu ter te amarrado – Começou a princesa, controlada pela parte mais meiga de suas múltiplas personalidades – É porque eu quero saber.

Têm a Star, eu, Janna e a Jackie.

Qual das personalidades você ama mais?

— O que?

— Anda, Marco – Ela insistiu – Não tem como você ter ficado tanto tempo com a gente sem ter uma preferida.

Quero saber por qual de nós quatro que você está realmente apaixonado.

Eu e as meninas merecemos uma resposta.

— E porque ME AMARRAR?!

— Contaria se eu não te forçasse?

Não. Não contaria — Ele pensou.

— Claro que contaria! – Ele disse.

Agora, pode me soltar, por favor.

— Não! – Disse Evelyn “Starfan” Buterfly, de forma irredutível – Primeiro você fala.

Depois, se quiser, te dou até comidinha na boca.

Se bem que ainda temos que alimentar o fofuxo, ou ele vai comer mais partes da casa.

Marco daria de ombros, se pudesse.

Como não podia, apenas suspirou e balançou a cabeça.

— Tudo bem, você venceu.

Eu conto.

....

— É a Star, né?

Quero dizer, ela é a mais linda, a mais gentil....

Ele sempre achava esquisito ouvir esse tipo de coisa de Starfan, já que ela e Star eram a mesma pessoa, no final das contas.

Mas preferiu guardar o pensamento para si mesmo.

— Não, não é a Star.

Starfan se surpreendeu.

Por um (mili)segundo, perdeu a fala.

— Não é....? Tem certeza?

— É, acho que tenho certeza.

A moça coçou o queixo.

Tinha feito suas apostas na personalidade principal.

— Então.... Jackie?

Só porque ela é boa de briga?

— Não. Não é a Jackie.

Uma total surpresa atingiu Starfan em cheio.

— Janna?!

Você ama a Janna??

Mesmo depois dela ter adotado um cão gigante de três cabeças???

— Tem um casal gigante de três cabeças, no meu quintal?!

....

Tinha um cão de três cabeças, no quintal, chamado Fofuxo, que, naquele instante, estava mastigando as rodas do carro do pai de Marco.

Não é uma cena tão difícil de se imaginar.

....

— De onde você.... De onde a Janna tirou um bicho desses?!

— A cadela do Tom deu cria.

Nem sei porque ela trouxe um só.

Poxa, a Cabeça-Pônei levou logo três filhotes!

Apelidados de Florzinha, Lindinha e Docinho.

....

— Não. Também não é a Janna – Completou Marco.

Está esfriando.

— Você quer dizer.... Sou eu?!

Você me ama, mais que as outras?!

A moça não perdeu tempo e se sentou no colo do rapaz.

Emocionada, era a primeira vez que Starfan estava tão próxima assim de Marco.

As demais personalidades da princesa passavam bom tempo com o rapaz, mas ela não.

Então, pela primeira vez, ela aproveitou verdadeiramente o momento.

Ela o beijou e sentiu como se todo o tempo parasse.

Começou devagar, quase sem graça. Isso porque, com ele preso do jeito que estava, a loira se sentia molestando o rapaz.

É evidente que depois do terceiro beijo, além do gosto suave de morango que agora ambos compartilhavam nos lábios, estava claro que Marco não se importava com o ato imprudente da namorada.

Quer dizer, nem tanto assim pra se chatear.

....

— Também não é você. Desculpa.

— Que?! – Estranhou Starfan – Como assim?

Tem alguma quinta personalidade que desconhecemos?

Tem, tem sim.

Mas agora não é o momento de revelar qual seja.

Paciência.

— Você minha namorada.

De certa forma, todas são. Ou se ama todas, ou nenhuma.

Eu sou apaixonado por vocês quatro, aí dentro.

Da mesma forma. E não duvide.

....

A princesa não esperava por essa.

Não foi uma piada. Era sério.

Ela podia sentir. E ficou feliz.

Mal notou a lágrima quente que escorreu do canto do olho.

Lá no fundo do subconsciente, no fundo mesmo, as palavras de Marco Diaz ecoaram por toda a parte, chegando até as demais personalidades.

Star chorou, mais que todas.

Jackie decidiu acompanhar Star nas lágrimas.

Janna apenas sorriu. E rezou para que ele aceitasse fofuxo na casa quando Starfan o desamarrasse da cadeira.

....

Inteiramente feliz, de todas as formas, a verdadeira Star Buterfly retomou o controle.

Tirando as lentes do rosto (ela não tinha problemas verdadeiros de visão), ela encarou o namorado, não se lembrando de parte do que ocorrera.

— Porque estou no seu colo?

Aliás – Corrigiu Star – Porque você está preso e tem um buraco enorme no telhado?

— Pergunta complicada.

O buraco é culpa do fofuxo.

— Fofuxo?

— Isso – Disse Marco – Nosso cachorro mutante de três cabeças.

— Você me comprou um filhote?!

Ah, amor, você é mesmo o melhor namorado do mundo!

Star continuou as carícias que Starfan começara e Marco não pareceu se importar.

Amarrado as opções de sexo eram limitadas, mas a princesa (e suas “amigas”) eram criativas.

E enquanto a diversão matutina começava (entenda isso por sum sexo muito, muito masoquista), uma quinta versão de Star surgia no recanto mais profundo da mente da princesa.

Uma personalidade forte que representava toda a raiva e insegurança da loira.

Agora, sim.

Hora de contar sobre a quinta “amiga” de Star.

Hora de falarmos sobre Hekapoo.