(Des)florescer

Ato X - Silêncio mórbido


Mesmo com pouca idade, lembrava do primeiro fantasma que viu. Era como as marcas de cigarro em sua pele, uma memória atada à alma.

Num lugar cheio de pessoas desoladas, implorando por resquícios de dignidade, de vida. Acompanhava sua mãe, descalço, agarrando-se à ela. Assustado. Não sabia muito, porém o estertor dela soava cada vez mais alto quando se aconchegavam ao anoitecer. Questionou por que ninguém lhe oferecia ajuda. Não viam que ela estava doente? Não viam que sentia fome? Que se forçava a sorrir?

Certa noite, o ruído extinguiu-se e Kanya obteve a resposta para suas perguntas. Não a viam.

E depois daquele dia, ele também não.