De volta a Chicago, com a neve cobrindo tudo na cidade e o silêncio na Liverpool Street trazia o clima caseiro que no fundo, o quarteto sentiu falta naquela madrugada ao descerem do taxi. Após se despedirem de Ada e Leon, Chris e Jill subiram para o apartamento. O rapaz adentrou ao cômodo jogando sua pequena bagagem no sofá e logo foi para a cozinha. Jill fechou a porta atrás de si e notou a atitude do outro, porém dessa vez preferiu não implicar. Durante toda a viagem eles não trocaram uma única palavra e o clima tinha ficado estranho de repente entre eles.

— Chris... Está tudo bem? – Jill se aproximou escorando-se no umbral da porta que dava acesso a cozinha. Ele fechou a geladeira e fitou a garota. – Olha... Eu não sei o que deu em você desde o aeroporto lá em Vegas... Mas eu preciso saber se foi algo que eu fiz? Saímos tão bem de Vegas e de repente o seu lado bipolar voltou e... Eu não estou entendendo o que está acontecendo!

— Não é nada. Acho que é você que se incomoda de morar comigo e fica inventando essas desculpas pra não ver que muitas vezes o erro está em você. Ou o fato de eu morar com você significa que eu tenho que estar feliz o tempo todo para o seu dia ser encantado? – Chris passou por ela pegando sua bagagem do sofá e em seguida indo para o quarto.

— Como... Do que você está falando? Eu só achei que você estaria com problemas por chegar tão transtornado. Nem parece aquele cara divertido da piscina ontem ou o amigo legal que conseguiu arrumar tudo para a festinha de aniversário da Ada... Ou mesmo o cara que me defendeu de um aproveitador!

— Quer dizer, o idiota que finge ser legal com todo mundo? É, ele ficou em Vegas. Jill, pra você eu não preciso fingir então... Vai pro seu quarto ou pra onde você quiser e me deixa em paz por hoje tá?

— Ah, uau. Você é realmente um bom fingidor Chris. Achei que estava sendo você mesmo por um momento, mas não, você estava simplesmente vivendo suas mentiras. Agora aprendeu a fingir suas mentiras também? Talvez você nem saiba como você realmente é! – Exclamou Jill irritada o vendo ignorar ela friamente.

Chris havia utilizado mais uma de suas máscaras naquele momento. Porque precisava esconder a confusão mental sobre o vídeo que tinha encontrado, enquanto esperava o horário do voo.

Estava ouvindo umas músicas na sala de espera enquanto fuçava seu celular olhando as gravações do dia anterior. Acabou encontrando uma filmagem que tinha pulado mais cedo, mas que então decidiu dar play para ver, embora a imagem estivesse bastante escura e nada favorável para assistir de início.

Olhou o que tinha acontecido e quando desligou o vídeo olhando para frente, observou que Jill estava do outro lado das cadeiras, tirando um cochilo, escorada em sua mochila.

Logo, um sentimento estranho por ela pairou no ar e olhar para ela era um pouco desgastante para sua mente depois do que tinha visto ali. Por isso não tinha conversado com ela, interagido com ela, cortou todos os contatos possíveis desde que tinham pegado o avião.

Na verdade, não tinha interagido com ninguém porque estava confuso por ter dito algo tão profundo e sincero para alguém depois de jurar para si que nunca diria algo do tipo. Era complicado pra ele ver o quanto Leon se esforçava para fazer Ada feliz. Pela primeira vez isso o fez pensar em suas atitudes com Jessica. Ignorava a maioria de suas ligações, só a procurava quando queria sexo ou alguma diversão, raramente seus encontros não terminavam em um motel. Toda vez que ela queria conversar sobre seus problemas ele sempre inventava algo para fugir do assunto, não se lembrava de nenhuma verdade que tenha dito a ela durante todos esses meses de namoro e ainda sim ela estava com ele.

O rapaz se jogou na cama e fitou o teto pensativo. “O que é amar alguém?”

Analisou sua vida inteira e seus relacionamentos e mesmo que juntasse todos ainda não se comparava ao que Leon e Ada tinham. Reconheceu que Jill podia ter razão a seu respeito, talvez ele nem soubesse quem realmente era.

Mas pensou sobre a sinceridade das suas palavras. No momento em que as disse naquele vídeo se sentiu bem consigo mesmo e se sentiu cuidado mesmo que por um instante. Ser sincero. Isso era algo que ele não conseguia fazer se não estivesse ao lado de Leon ou ao lado de Claire. Ou da pior maneira, ao lado de Jill. E se perguntava se isso daria certo ao ponto de transformá-lo.

Logo resolveu parar com todos aqueles pensamentos, pois havia acabado de ser rude com sua colega de casa perdendo a oportunidade de tentar algo novo depois de tantas boas experiências que tinha passado ao lado dela.

Pegou o celular do bolso para ligar para Jessica, mas ao desbloquear o celular, a primeira coisa que apareceu foi aquele vídeo que o transtornou no meio do aeroporto. Ele não tinha visto até o fim então voltou tudo de novo. O rapaz se sentou na cama e deu play na gravação em seguida.


– Olá amigos estamos aqui diretamente de Las Vegas transmitindo o acontecimento do ano. O coração partido da Madre Tereza de Maryland! Parece que no episódio anterior o coração partido foi o do Leon, que foi deixado no altar pela sua Mulan... Mas agora, a emotiva Jill acabou de se lembrar de que ela também se frustrou com seu príncipe encantado. Ela já está ha meia hora me impedindo de dormir, desde apareceu agora por volta das 4 da manhã no meu quarto. Já não basta morarmos na mesma casa, ainda temos que dividir o mesmo quarto no hotel onde pagamos caro pelo quarto dela pra ela não ir dormir lá porque não para de chorar. – A voz de Chris era ouvida enquanto filmava Jill sentada no chão do quarto dele, escorada na cama em prantos.

— Para idiota! Eu não estou bem... Desliga essa porra! – Jill exclamou fitando o rapaz e a câmera com birra. Sua maquiagem estava completamente borrada, mas ela não se importava. E a peruca estava torta em sua cabeça.

— Ah qual é Valentine! Estou tentando te animar, não foi isso o que você quis vindo aqui a essa hora? Não seja estraga prazeres. Diz aí qual é a sensação da desilusão amorosa em Las Vegas, hm? Um dia vamos rir muito disso. – Chris gargalhou. Sua voz estava um tanto arrastada mostrando claramente sua embriaguez e sonolência.

— Se não desligar isso eu vou jogar seu celular pela janela. Vou contar a Jessica que você esteve aqui e... Vou destruir todos aqueles seus troféus inúteis que deixam a minha sala ridícula e empoeirada!

— Eu sei que você não vai fazer isso. Lá no fundo eu sei que você sempre me livra das minhas roubadas.

— Pois é, eu vim aqui porque achei que você iria me ajudar também, mas tudo o que você sabe fazer e debochar de mim. E pensar que eu achei que poderia contar com você!

— Ok... ok, calma. Vai acordar o hotel inteiro com as suas histerias.

Jill abraçou os joelhos e abaixou a cabeça e então Chris colocou o celular posicionado em algum lugar do quarto onde o aparelho pôde captar a imagem dos dois sobre a cama. Em seguida ele sentou ao lado da garota ébria a fim de continuar com a brincadeira de mau gosto. Puxou-a do chão para sentar sobre a cama ao seu lado, olhando para a câmera com desgosto do estado dela, se divertindo com a situação.

— O que você quer Redfield? – Ela ainda o ignorava ao olhar para baixo.

— Sei lá, para de chorar aí. Que tal colocar tudo pra fora? Não estou mais filmando e só estamos nós dois aqui. Ninguém vai saber de nada. – Chris tentou conter o riso erguendo os braços em rendição.

— Eu não quero falar sobre isso com você.

— E então porque diabos você veio aqui me perturbar? – Ele cruzou os braços.

— Porque eu não tenho pra onde ir. Ada não sabe de nada, não posso ir lá falar com ela. Acho que por hoje eu só tenho você mesmo.

— Então... Qual é o medo? Conta o que está aqui, dentro do seu coraçãozinho partido por aquele idiota, hm? – Ele disse cutucando ela com o cotovelo. – Outra coisa, aqui é Las Vegas, tudo que acontece aqui morre aqui. E amanhã vamos estar tão mal que nem vamos nos lembrar de nada. Eu mesmo, nunca me lembro de nada... Acho que é por isso que as garotas que ficavam comigo, queriam a minha morte depois. Eu esquecia o rosto delas por causa do álcool. Mas, diz logo porque eu ainda quero ouvir. – Chris insistiu. Eles ficaram em silêncio por alguns instantes até Jill ceder ao rapaz.

— Tudo bem... Eu não vou mais lembrar isso então... Vamos lá.
— Ela disse se virando mais para ele, se ajustando sobre a cama então suspirou. – Eu acho que não sou feliz, Chris. Eu tenho uma família maravilhosa, amigo que amo, faço a faculdade dos meus sonhos, eu tenho um emprego bacana, tirando aquela vadia da Burton... Tenho tudo isso, mas ainda não sou feliz e sabe por quê? – Ela fitou o rapaz e ele apenas balançou a cabeça negativamente. – O motivo é muito banal... E ridículo... Mas eu acho que é isso.

— Fala logo mulher!

Porque... Eu não tenho um amor. Eu nunca tive um. Não sei como é isso e tenho medo disso acontecer porque eu nunca deixei isso acontecer. Eu nunca tive um amor e já sofro com isso. Como esse troço pode machucar a gente mesmo se a gente não o tiver, não é? — Ela disse deixando uma lágrima escorrer do rosto, esperando ele dizer algo.

— É só isso? – Chris sorriu e ela assentiu. Logo ele gargalhou e quando se acalmou completou. — Conheço um cara que não tem nem a metade do que você tem, mas que não desaba por isso. – Chris se referia a ele mesmo.

— Ele tem sorte... Quer ver outra coisa ridícula: Eu sempre achei que se esperasse um cara legal, eu seria madura o suficiente para fazer a melhor escolha. O papai sempre foi um cavalheiro com mamãe e por mais louco que isso seja, eu sinto uma boa inveja disso. Mas eu cresci achando que teria a mesma chance da minha mãe. Que um dia um cara... Não... Um príncipe, aquele namorado perfeito que abre a porta do carro, que manda flores sem qualquer motivo especial, que todos os dias escreve bilhetinhos de amor iria aparecer pra mim... Como apareceu para a Ada e praticamente todas as minhas amigas de Maryland. Acho que eu fiquei pra trás com essa ilusão. Eu realmente fiquei pra trás. – Ela voltou a fitar o chão – No momento em que conheci Harris há quase um ano tive certeza que havia encontrado meu príncipe. Durante todo esse tempo em que moro em Chicago eu procurei descobrir o máximo sobre a vida dele, seu cotidiano, e cada vez mais estava convicta que havia achado meu porto seguro e agora... Agora tudo acabou porque eu não tenho mais ninguém se ele for aquele cara que queria se aproveitar de mim. – Jill voltou a chorar como uma criança. – Sou uma idiota Chris, ninguém nunca vai amar alguém como eu. Ninguém nunca vai entender a vontade que eu tenho de tentar fazer tudo perfeito pra minha vida e esperar tanto por algo que não vai acontecer.

— Ei, não fica assim... Poxa. – Ele passou os braços, envolvendo a garota tentando consola-la. – Esse cara é um otário. Deve ter vários caras perfeitinhos por ai que dariam tudo para ter você ao lado deles. Você só não conseguiu enxergar eles. Aquele cara da cartinha estúpida... Quer dizer, ah deixa pra lá... Qual era o nome dele mesmo em? Carlos?

— O Carlos... É uma longa historia e eu não estou a fim de falar disso. Só vai piorar minha situação. Mas eu não quero que você me encontre alguém. Eu só quero que você me entenda. Isso já basta por hoje. Jill fitou o rapaz. Parou de chorar, mas ainda tinha lágrimas nos olhos. — Você já está fazendo um ótimo trabalho.

— Eu? Nossa, eu ajudando alguém com algo assim? Isso é novo pra mim também. Não sabia que era tão fácil assim escutar alguém.

— Talvez porque você nunca tentou isso antes. Mas você é bom nisso. Finalmente você é bom em algo bom.

— Vou entender isso como um elogio, pirralha.

— Sabe Chris, foi bom ter feito isso... Lavado a alma. Eu já estou me sentindo bem melhor. Mas, me responde uma coisa... Você se referia a você?

— Quando?

— Quando disse que conhecia um cara que não desabava...

— É... Eu acho. É complicado falar sobre isso. Porque eu teria que te matar depois, se eu te contasse.

— Essa piada é tão clichê. Mas olha, eu estou curiosa e estou sem sono. – Ela sorriu satisfeita. Ele desviou seu olhar do dela.

— Eu cresci em um ambiente muito maquiado. Pais briguentos e bipolares. Praticamente tentei livrar minha irmã disso e acho que consegui um pouco. Mas sofri muito lutando contra isso. E em todo esse caminho, eu me esqueci de ser que eu era de verdade. Então, sou um maquiado, igual a meus pais, igual aquele ambiente e acho que me infectei. Resumidamente, tem uma pergunta que eu sempre me faço. Se eu fosse eu mesmo, as pessoas gostariam de mim como gostam agora?

— Eu gosto de você assim. Claro que você me tira do sério sendo você mesmo, mas é melhor do que quando você mente na minha frente. Quando você mente eu tenho que me preparar psicologicamente para lidar com uma versão falsa de você e é ruim porque eu tenho que me conter para não te estrangular. Mas quando você é você mesmo e me enche o saco lá em casa, arranca a porta do banheiro ou mija na minha planta é bem mais aceitável pra mim do que quando diz pra Jessica que eu sou apenas uma empregada. – Eles riem então ela completa. – Acho que independente do que você passou, deveria dar uma chance a si mesmo. Mas por favor, não faça mais aquilo com as minhas plantinhas.

— Você acha? – Ele perguntou risonho.

— Claro que sim. Eu posso te ajudar se você quiser. – Ele sorriu para ela e se levantou, caminhando pensativo enquanto ela o observava ao retirar as presilhas de sua peruca. – O que houve, Chris?

— Se eu pensar em algo assim... Acho que as pessoas não estão preparadas pra algo assim. Isso me afetaria muito e ainda tem a Jessica. Eu nunca hesitei em mentir para ela.

— Comece devagar. Impressione aos poucos. Tenho certeza de que ela iria gostar bem mais do que eu de conhecer o verdadeiro enigma que você é. Afinal você a ama e...

— Eu não a amo, Jill! É algo que nem eu entendo, mas se eu realmente me importasse com ela, tudo seria bem mais diferente. É só nos comparar com Brangelina. E eu tenho pena dela. Esse negócio de amar é tão complicado pra mim.

— É complicado pra mim também. Acho que temos os mesmos dilemas em situações diferentes. – Jill disse ao chama-lo com as mãos para se juntar e ela novamente na cama e assim que ele se sentou do outro lado, pensativo, ela se virou de costas para a câmera que ainda filmava tudo, inclusive parte da sua nova tatuagem, onde a maior parte foi coberta pelos cabelos longos. – Chris, só por uma curiosidade... Hipoteticamente você... Gostaria de alguém como eu?

— Hipoteticamente? Acho que sim... Você é diferente das outras, seria divertido eu acho. Seria um pouco estranho, mas se é hipotético acho que sim. Talvez você me ensinasse a amar de verdade.

— Está dizendo isso só para me animar como aquele Chris falso ou esse é o verdadeiro Chris não maquiado? – Jill perguntou novamente olhando fixamente ao seu rosto.

— Não! É sério.
— Ele riu sem graça. – Valentine... Você é a garota mais incrível que já conheci. Você tem uma determinação invejável, é amiga, não é como as garotas da faculdade que sempre ligam mais para a aparência do que as coisas mais importantes e... Você me dá freios! – Nesse instante ela o encarou surpresa – Você está sempre batendo de frente comigo, me faz sentir bem em ser o idiota que sou. Quando que brigamos você sempre encontra uma maneira de me calar e talvez esse seja o motivo pelo qual estou sempre fazendo da sua vida um inferno... Por gostar tanto desse seu jeito de ser, além de você ficar mais linda ainda quando está brava comi...

Nesse instante Jill colou seus lábios nos dele, apoiando suas mãos nas golas de sua camisa, com alguns botões abertos. Um beijo forçado e exigente, inesperado. Antes que começasse a mover seus lábios, ela sentiu um arrepio quando ele se achegou mais, tornando o clima bem mais confortável para ambos e ele a envolveu carinhosamente de uma maneira que não havia feito há muito tempo com alguém quando começou a tomar o controle da situação. Tocou o rosto molhado da garota o acariciando, mas assim que se deu conta do que estava fazendo rompeu o contato de imediato, deixando uma Jill perplexa com a atitude final, como se ela tivesse voltado para si depois de um frenesi.

— Desculpa Chris... E-eu não deveria...

— Não... Não é isso. – Ele procurou com os olhos o celular no ambiente encontrando-o escorado na mesa de cabeceira atrás dela.

— Chris, eu vou embora... – Ela se levantou, indo em direção à porta quando ele segurou suas mãos.

— Não vá embora... Pode ficar aqui essa noite? – Chris disse ao se levantar, tomar o celular em mãos e imediatamente cortou a filmagem.

Chris estava boquiaberto olhando para a tela do aparelho celular. No aeroporto, ele não tinha visto o beijo. Tinha cancelado a reprodução no momento em que disse a ela que não amava Jessica, por estar assustado de dizer uma verdade que ele não gostaria que ela soubesse. O rapaz respirou fundo procurando ficar calmo até saber o que fazer.

Em geral Redfield não daria tanta audiência a um mero beijo, mas a garota em questão era Jill Valentine, sua colega de casa, a protegida de seus amigos, a pirralha, a última pessoa que achou que o beijaria do jeito que ela fez. E todas as coisas que disse a ela antes do toque não pareciam ser influência da bebida ou mais uma mentira criada por ele, era apenas um Christopher que ele mesmo desconhecia.

— - -

Na manhã seguinte Chris havia saído de casa mais cedo antes mesmo de se deparar com Jill pelo apartamento. Não sabia se encontrá-la seria bom depois de ter assistido o vídeo pela quinta vez pela madrugada. Optou por manter o acontecimento em segredo, pois se Jill não mencionou nada é porque não tinha lembranças sobre o beijo.

Chegou a faculdade ainda cedo então aproveitou para acender um cigarro e tentar relaxar, não havia dormido bem, mas acreditava ser por uma boa causa. Sentou na escadaria de entrada da universidade ansioso para que Jessica aparecesse. E após vinte minutos a bela garota surgiu descendo de um carro preto. Jessica sabia mesmo como ostentar ao ter uma boa direção e estacionando em um local estreito. Ela caminhou com seu salto 15 cm até o namorado que acenava para ela.

— Oi amor! – Ela deu um beijo rápido nele seguido de um abraço. – Onde esteve? Fui à sua casa e você não estava, tentei te ligar várias vezes, mas você não me atendeu.

— Eu estava em Las Vegas.

— O que? – Jessica se afastou de Chris com os olhos bem abertos.

— É eu sei, eu deveria ter te levado ou contado antes, mas eu não fiz isso. Me desculpe. – Chris disse como se tivesse tirando um peso da consciência, mas não estava e aquilo o incomodava. – Era aniversário da namorada do Leon então ele queria fazer uma surpresa...

— Pensei que tivesse dito que Leon era pobre e bolsista, como alguém dessa classe social teria dinheiro para uma viagem como essa?

— Na verdade Leon não tem dinheiro, mas o pai dele sim, a família dele é de alto nível social, no Alabama apesar dele não usar nada disso nas suas necessidades... E não, ele não é bolsista... Desculpe outra vez. – Chris respondeu sem graça.

— Então você mentiu para mim duas vezes... Quer que eu diga o que a respeito? – Jessica parecia chateada, mas não a ponto de criar uma discussão maior.

— Nada, eu só queria que soubesse a verdade. Se quiser terminar comigo eu vou entender...

— O que? Terminar com você por dizer a verdade? Chris! – A garota riu acariciando o rosto do rapaz – Claro que não estou contente sobre Las Vegas, mas você foi sincero comigo então merece um crédito. – Ela novamente selou os lábios do namorado – Agora vamos, estou constipando aqui fora.

– Espera um pouco... – Ele a segurou por trás, impedindo que ela seguisse seu caminho. – Jessie... você me amaria se eu não fosse exatamente como eu sou? Quero dizer, se descobrisse que o cara que você namora há meses era outro e não parecido comigo?

— Eu não sei qual foi o tipo de droga que usou em Vegas, mas espero que o efeito passe logo. – Jessica respondeu com uma expressão divertida. Ela pegou na mão do namorado para adentrarem a faculdade.

No final Chris não sabia se a resposta de Jessica havia sido uma manobra dela para desviar o assunto ou ela simplesmente achava que ele estivesse sob os efeitos de drogas.

— - -

Dois dias depois durante o intervalo das aulas Ada e Jill estavam tomando chocolate quente na lanchonete. Ada olhava para a amiga curiosamente enquanto ela estava ao telefone.

– Eu sei papai, mas é que... Claro a vovó quer me ver, eu sei... O bolo de cereja?... Isso é chantagem emocional da Becka! Tudo bem papai, o senhor venceu... Ok... Beijos. – Jill desligou o celular e o colocou sobre a mesa.

— Não precisa dizer nada, eu já sei: Dick quer que você vá passar o natal em Frederick, a vovó vai está na cidade e quer vê-la, sua mãe vai fazer o bolo de cereja que você tanto ama e Rebecca está ameaçando vir estudar em Chicago por conta da saudade que sente da irmãzinha dela. – Ada finalizou com um sorriso largo.

— Uau! Você é boa nisso, já pensou em parar de tentar imaginar conversa de telefone dos outros? – Jill ironizou com um sorriso. – Eu estou morrendo de saudades de todos em Frederick, mas eu sei que você não vai querer ir comigo...

— Exatamente querida. Mas não se preocupe, Leon e eu ficaremos em casa assistindo bons filmes enquanto comemos comida chinesa. – Ada assoprou sua xícara com o líquido quente.

— Ada é natal! Não pode simplesmente passar a noite com filmes e China Box!

— Leon não comemora o natal... Ele é judeu e eu... Bem, como você sabe eu meio que sou perdida nessas coisas então para mim tanto faz. Agora você... Sei o quanto gosta de está com a família nessa data, então não perca tempo, hm?

Leon chegou com um copo de suco de laranja, animado, beijando o rosto de Jill e selando os lábios da namorada.

— Atrapalho? – Perguntou o rapaz ao se sentar do lado de Ada.

— De maneira alguma. – Ada responde. – Estava aqui contando a Jill que mal posso esperar para a chegada do natal. Ela acha que nossa comemoração é monótona. – Ada riu ao perceber a expressão envergonhada e repreensora no rosto da amiga.

— Não é ruim Jill, não quando se está em ótima companhia. – Ada deu um beijo na bochecha do namorado. – Mas e então, se nossos planos estão de pé é porque você já tem os seus, não é?

— Ah sim! Irei para Frederick. Faz tempo que não vejo minha família então esse é o momento perfeito. – Jill finalizou bebericando sua bebida. – Mas e o Chris... sabe se ele vai pra Califórnia?

— Não vou não... – Chris apareceu de repente junto com Jessica. – Bom dia gente! – Ele se sentou junto aos amigos, depois de puxar uma cadeira para ambos.

— Bom dia pessoal! – Jessica sorriu gentilmente sendo retribuída em seguida pelo grupo.

— E o que vai fazer no natal, Chris? – Leon aguardava a resposta, ansioso.

— Eu vou com Jessica e a família dela para o chalé deles em Aspen. – Chris pegou o copo de suco de Leon e tomou um gole e mostrou uma careta. – Está faltando açúcar.

— E Aspen é legal, Jessica? – Ada tentava puxar assunto com a patricinha da faculdade, que sentava de pernas cruzadas e mãos sobre a bolsa em seu colo.

— Sim, gosto muito de esquiar lá, sem contar que o clima romântico de lá e incrível. Esse vai ser o nosso primeiro natal juntos então, acho que vai ser bem especial. – A garota de cabelos castanhos agarrou ao braço do namorado sorridente. Jill revirou os olhos sutilmente.

— E você Valentine, vai fazer o quê? Pelo que sei Brangelina já tem planos a dois então sobra você, como sempre sobra você já que não tem com que comemorar uma data tão amorosa. – Chris sorri simpático implicando por a ela ser a única solteira do grupo.

Desde que Chris havia sido extremamente rude com Jill eles não haviam se falado mais. Ela até tentou puxar assunto, mas Chris evitava qualquer diálogo fora do necessário, o que era estranho já que essa atitude partiria de Jill e não do rapaz. Jill notou a pequena implicância e por mais que fosse verdade, dizer isso dentro de uma roda de amigos onde ela realmente era a sozinha, fez com que ela se magoasse já que tinha tocado em seu ponto fraco.

— A sobra aqui não vai ficar tão solitária, se o meu colega de casa for pra Aspen com a namorada, para um clima super romântico com esqui! – Jill retribuiu o sorriso. – Sherawat, Chris já te contou que eu sou a colega de apartamento dele há um mês e pouco? – Jill continuou e todos ficaram surpresos pela atitude de Jill, que tinha ficado um pouco estranha. – Que bom que você vai levar ele para Aspen, assim terei o apartamento só para mim. – Ela sorriu e avistou Jake do outro lado do pátio e para que a situação não sobrasse pra ela, pensou em se retirar de imediato. – Ah! Preciso ir, tenho que repassar algumas notas com o Müller. Até logo, galera.

Jill se levantou orgulhosa do que havia acabado de fazer. Estava cansada de Chris e suas mil faces e ainda estava magoada com ele pelo papo da madrugada de segunda. Talvez sua atitude gerasse muitas perguntas as quais teria que responder, principalmente quando Ada a observava um pouco assustada pelo que tinha feito. Mas deixar Chris coagido não tinha preço depois da provocação da semana.


— Essa garota fala demais... – Chris sorriu sem graça até olhar para Jessica que já estava se levantando – Jessica, eu já iria te contar que...

— Com licença pessoal. – Jessica, abatida, saiu em passos firmes para seu bloco.

— Não contou a ela? Em todo esse tempo? Eu jurava que você já tinha resolvido isso, Redfield! – Ada estava surpresa.

— Não... É que... Bem, ela já sabia do novo colega de casa... Ela só não sabia que eu morava com a Jill. Achei que conseguiria manter as coisas na linha até eu e a Jessica terminarmos de verdade, mas ela fica me seduzindo com esse negócio de Aspen e outras loucuras... Assim não dá pra terminar com ela. Pelo jeito, perdi Aspen, mas finalmente o termino aconteceu... Não do jeito que eu esperava, mas...

Leon arqueou a sobrancelha espantado com a franqueza que Chris contava a Ada sobre sua mentira e nesse momento, ao ver o olhar de repreensão de Leon, finalmente decidiu se calar.

— Ah, mas não podia ter feito assim Christopher! Jessica deve está pensando coisas de Jill e você, e isso é serio se ela sair por ai deixando Jill em má reputação.

— Desculpe Ada, mas a própria Jill que se colocou nessa situação. Ela poderia ter evitado esse conflito, mas não, teve que abrir aquela boca grande.

— Que atitude estranha vinda de um cara como você... Mas não vou te dar sermões. Você deve saber o que está fazendo. Bem, minha aula já vai começar depois conversamos. – Ada beijou o namorado e deixou a mesa perplexa.

O loiro ainda encarava o amigo esperando por respostas.

— O que foi? Vocês não vivem dizendo que eu devia parar com as mentiras? Fico surpreso por esse olhar de repressão depois de fazer o certo. – Chris responde revirando os olhos.

— Você mente desde que aprendeu a falar, como quer que eu reaja ao ver você ser franco com alguém? Principalmente quando esse alguém é a Ada. Você criou a imagem de caráter perfeito para ela e agora quer simplesmente desistir da água pro vinho?

— Eu estou entendendo bem? Quer que eu continue sendo um mentiroso? Ta aí uma coisa que eu não esperava de você! Logo de você Leon.– Chris debochou.

– Não é nada disso Chris. Se quer aprender a verdadeiro, aprenda com alguém que sabe ser assim, e não diga o que de repente aparece na sua cabeça quando você acha que tal coisa tem que ser dita, por mais que isso seja escândalo. Só acho que você deve considerar que se o seu teto de vidro cair o meu também vai e acredite meu amigo, alguém vai pagar caro por isso.

— Ok, agora me assustou. – O rapaz riu. – Olha cara, só estou tentando fazer a coisa certa. Não quero te causar problemas com a Ling-Ling.

— Vamos, estamos atrasados. E eu vou ficar bem atento com as suas novas atitudes. – Leon estava sério. A decisão de Chris o deixava feliz, mas sua felicidade com Ada estava comprometida e isso o preocupava.

— - -

Jill já estava terminando de arrumar sua bagagem enquanto conversava com sua irmã pelo Skype.

— Acho que você vai gostar dessa blusa. – Disse mostrando a peça ao celular apoiado em sua pequena mesinha. – Espero que não tenha engordado muito, só tinha P.

Não seja boba Jilly! Você sabe que só ganho peso no natal. Afinal quem resiste a comida da mamãe e da tia Anne?— Becka replicou do outro lado sorridente, onde se encontrava deitada de frente a tela do laptop, com seus pés balançando por trás de sua cabeça.

— Ah é, espero que ela faça o bolinho de carne daquele natal... hmmmm! Me deu água na boca. – Jill e Rebecca riram. – Mudando um pouco de assunto... Becka o Carlos está por aí?

Não o vejo a uma semana, então ele não sabe que você vai passar o natal conosco. Será uma surpresa e tanto! E eu adoro surpresas!

— Ah... Eu preciso tanto conversar com ele. Não nos falamos há meses. Vai ser legal tocar os clássicos natalinos com ele novamente.

— Vocês são uma dupla em um milhão! Vai ser tão bom esse Natal! E finalmente você vai nos contar detalhes da sua vida corrida em Chicago. Não vejo a hora de me formar para ir morar com você e com a Ada!

— Vai ser legal... – Jill sorriu sem graça e ouviu um barulho do lado de fora do quarto. – Rebecca, eu preciso desligar... Nos falamos depois, beijo!

Jill desligou a chamada assim que notou que Chris tinha chegado. Ela ainda não tinha contado a irmã sobre ele e muito menos que estava fora do apartamento de Ada há um tempinho. Chris não era a única pessoa que omitia as coisas, ela pensou incomodada. Ela saiu de seu quarto para encontrar Chris na sala. Quando chegou, o encontrou largado no sofá, iniciando um jogo no celular.

— Eu estou viajando daqui a pouco, esta noite e...

— E?

— Ah sei lá... Queria saber se você precisa de alguma coisa. Não quero viajar brigada com você, pois ainda pretendo achar minhas coisas intactas quando eu voltar. – Ela se sentou no sofá ligando a TV.

— Se eu fosse ficar em casa, você podia dar adeus as suas tralhas, mas como vou viajar também, pode ficar tranquila. – Ele sorriu ainda sem olhar para ela e fixou mais sua atenção ao celular.

— Ah... Então sua viagem ainda está de pé? – Jill parecia levemente impressionada.

— Te decepcionei? – Ele pausou o jogo e se virou para encara-la com um sorriso mais largo.

— De maneira alguma. Parabéns... Conseguiu se livrar das suas bolas foras outra vez... Olha como você é profissional em se dar bem, hm? – Jill levantou para retornar ao quarto, mas se lembrou de algo. – Ada me contou o que aconteceu quando eu saí. Ela disse que não esperava que você tivesse mentido para Jessica... Mas eu ainda não entendi a nova atitude na frente dela.

— Acho que você e Leon venceram, parei com a mentira porque preciso descobrir quem eu realmente sou. E tudo isso eu devo aquela pirralhinha que me abriu os olhos em Vegas. Obrigado Valentine.

Jill achou aquilo estranho. Não só isso, a semana pós Vegas havia sido totalmente estranha, mas não tinha tempo para isso no momento. Frederick a esperava e o dinheiro que tinha que pegar para ir também. Voltou ao quarto, pegou sua bolsa e retornou a sala com o casaco em mãos.

— Vou ter que pegar meu adiantamento de férias lá no restaurante... Quer que eu traga comida pra você, já que esvaziei metade da geladeira?

— Se o veneno não for o tempero, eu quero sim. – Disse ainda preso no telefone.

— Quanta criancice! Até logo.

— Vai tarde.

Chris continuou ali jogando tentando encontrar uma maneira de se vingar de Jill por puro merecimento dela. Ela tinha estragado Aspen. Agora ele tinha que reagendar tudo para tentar esquiar outra temporada e dessa vez ele teria que pagar por isso, já que tudo ficaria por conta da garota rica.

Seus planos de viagem haviam mudado e ele tinha conseguido uma passagem para a Califórnia, mas ainda tinha que procurar um amigo para se hospedar durante uns dias. Não fazia ideia pra onde iria, mas não voltaria para casa de nenhum dos seus pais.

Suas ideias foram interrompidas quando ouviu um barulho estranho vindo do quarto de Jill. Ele foi em direção ao barulho que era bem diferente do toque de telefone dela. Mas era o telefone dela tocando e na tela uma foto de uma moça de cabelos curtos e um sorriso juvenil, com o nome de Becca.

Ele tinha que atender, afinal... Aquilo poderia ser a chave para sua última vingança, como havia prometido a si mesmo. Mas quando apertou o botão verde se deparou com uma garota deitada sobre a cama com os pés balançando por trás da cabeça.

Ai meu Deus, eu acho que chamei a pessoa errada.— A menina confusa do outro lado da tela parecia abrir e fechar abas até voltar-se para o tal estranho bonito que havia atendido o skype da irmã. – Esse é o skype da Jill? Eu liguei errado? Quem é você?

— Ah, aqui é o telefone da Jill sim... E você quem é?

Qual é o seu nome e o que faz com o telefone da minha irmã... No quarto da minha irmã?— Rebecca perguntou desconfiada ao observar aquele homem bonito sem camisa com o celular de sua irmã em mãos.

— Eu sou o Chris. Prazer em conhecê-la.— Disse acenando para a câmera.

Chris de onde?

— Chris Redfield, que mora com a Jill. E você é a irmã dela, não é?

O que? Isso é algum tipo de piada? A Jill está por trás disso?

— Não... Ela só deu uma saída. Mas logo ela volta. Eu aviso ela que você ligou.

Ah, é? Ah... Ah... Mas o que você faz no quarto dela, Chris? Onde está a Ada?

— Está lá embaixo, morando com o namorado dela. A Jill não te contou que ela veio morar comigo quando a Ada decidiu trocar ela pelo namorado? – A vingança de Chris chegou em boa hora e ele não conseguia conter o sorriso malicioso ao conversar com a irmã mais nova de Jill e ver que o rosto dela parecia muito confundido.

Ah, meu Deus! Mas a Jill não me disse nada sobre trocar de casa... E morar com um homem. Vocês... É... Estão namorando?

— Sim! Eu e a Jill já estamos juntos há um tempinho, até viajamos sozinhos para Las Vegas na semana passada. Ela ainda não te contou sobre a gente?

Não... Ela... Eu não sei. É um pouco estranho isso, porque acabamos de conversar e ela não me disse sobre Las Vegas, ou morar com o namorado. Eu jurava que a Jill nunca iria encontrar ninguém já que é cheia de frescuras.— Rebecca se divertiu com a nova descoberta e Chris não se contentava em segurar o riso do outro lado.

— Ah, a Jill tentou muito, mas não resistiu aos meus encantos. – Ele disse com uma piscadela para a garota que do outro lado se revirava na cama de emoção. – E pra você ver, mal começamos a namorar e ela já veio morar comigo. Ela também não perde tempo, Rebecca. – Ele mal poderia se conter para não rir. Tinha voltado com as mentiras, mas seria para uma boa causa.

Uau... Então a Jill tem um namorado bonitão e tava escondendo isso o tempo todo? Mas que... Ah! Já sei... É por isso que ela quis vir nesse Natal... Porque você também vai vir e vai fazer uma surpresa para todos aqui, não é Chris?

— Não, na verdade, eu iria passar o Natal trabalhando como Papai Noel no shopping para ganhar uns trocados... Mas essa é uma excelente ideia que eu jamais poderia recusar. Conhecer a família da minha namorada. Isso não tem preço! – Chris disse planejando uma maneira de tentar transferir sua passagem para Frederick. – Então, Rebecca, o que acha de conhecer o cunhadinho no natal?

Perfeito... Nossa, isso tem que ser uma surpresa! Vamos fazer o seguinte Chris, eu não vou comentar nada por aqui e nem com a Jill que eu falei com você e você vem como uma surpresa para nossa família, certo?

— Ah, Rebecca, eu já gosto muito de você, cunhadinha! Não vejo a hora de encontrar a linda família da minha linda Jillie! – O sorriso de Chris mal poderia caber em sua boca.

“Foi bem melhor do que eu tinha tentado imaginar”, pensou enquanto conversava com Rebecca sobre como era a família e a menina não poderia conter a emoção de conversar com o suposto “cunhado surpresa”.

— - -

— Vou sentir saudades... – Ada e Jill se abraçam no aeroporto, pois já era hora da garota embarcar. – Diga a todos, principalmente a sua família, que mandei um beijo.

— Claro que sim! Mamãe ficará chateada por você não ir, mas tentarei explicar a ela que o amor te roubou de nós. – Jill sorriu e fitou Leon. – Cuide bem da minha amiga Ok? – Ela o abraçou.

— Não se preocupe... Mande notícias.

Após se despedirem, a garota seguiu para o portão de embarque, longas horas de viagem a esperava. Torcia para não pegar turbulência naquela madrugada, pois seria horrível viajar sozinha e ainda passar por um dos seus maiores medos em vida.

Ela entrou na aeronave e logo achou sua poltrona do lado da janela. Se aconchegou e fechou os olhos para relaxar até o momento da decolagem.

Ainda de olhos fechados Jill notou a chegada de um passageiro que sentou ao seu lado. Ela deu de ombros e suspirou.

— Não acredito que vamos passar apenas três horas de voo. Eu nunca achei que fosse um voo tão rápido. E pensar que de Chicago para São Francisco são quatro horas e cinquenta minutos. – O passageiro a seu lado comentou.

Uma corrente elétrica percorreu o corpo de Jill naquele momento. Aquela voz só poderia...

— Chris?! – Jill exclamou de olhos arregalados.

— Olá Valentine! A minha poltrona é bem ali na frente, mas como aqui está vago, vou aproveitar sua companhia. – Chris sorriu sádico.

— O-que faz aqui? Nesse voo?

— Vou viajar. Eu te disse isso antes. – Ele respondeu com indiferença colocando os fones de ouvidos.

— Pensei que soubesse ler retardado. Esse avião vai para Baltimore e não para o Colorado, lá com a sua namoradinha e o esqui! – Jill replicou.

— Ah isso? Aspen não vai mais rolar. Jessica terminou comigo quando você abriu sua boca grande. Segundo ela, eu fiz do meu apartamento um bordel, sabe como é né, mulher ciumenta...

— E o que isso tem haver com você estar aqui?! – Jill gritou e logo virou alvo de olhares repreensivos.

— Use seu lindo cérebro Jillian... – Ele disse cutucando uma de suas temporas. – Você frustrou o meu natal e me fez perder a namorada. Quer medir forças comigo, mas não é párea para mim. – Ele sorriu colocando seu celular em modo avião. – Qual seria a melhor forma de me ressarcir além de ter minha ilustre presença no natal Marylandico, hm?

— Isso é loucura... Você não vai para Maryland comigo Christopher Redfield! – Ela se jogou na poltrona com um bico e braços cruzados.

Logo, a voz da aeromoça foi ouvida com as instruções sobre o voo enquanto Jill tentava conter as lágrimas de ódio.

— A menos que você me jogue para fora do avião... Frederick, aí vou eu!

— Você não vai para minha casa! Vá para o quinto dos infernos, menos para minha casa.

— Como assim... Eu preciso conhecer a sua tão adorada família!

Eu vou ignorar você e seus planos. Adeus Chris! Ela se virou contrário a ele.

Era como um pesadelo ter Chris em seu encalço e era claro que ele estava com raiva e que não iria medir esforços para acabar com a dignidade de Jill perante sua família e amigos. Ela sabia que ele era bem capaz disso. Ela precisava pensar rápido ou seu natal seria um grande infortúnio...