Em aproximadamente 40.000 pés de distância do solo, Jill ainda não conseguia acreditar no que o colega de casa havia feito. Ela estava ciente que sua atitude na lanchonete da faculdade causaria uma reação negativa por parte do rapaz, mas jamais poderia imaginar que ele não conseguia entender a palavra "limite".

Chris não podia chegar a Frederick, não quando sua intenção era unicamente infernizar a musicista. Porém, fazê-lo retornar a Chicago ou para qualquer lugar onde Jill almejava que ele estivesse não seria uma tarefa fácil.

Apoderado da pequena almofada que ela havia comprado especialmente para a viagem, Chris dormia tranquilamente em sua poltrona. Ela o fitava e podia jurar que nos lábios do rapaz minimamente havia um sorriso, um maldito sorriso sacana. "Até que dormindo você parece encantador… mas acho que cansei desse tipo de cara." Pensou com um sorriso meigo em seus lábios não deixando de evitar a frustração.

Jill notava bem os traços do rapaz, a barba cerrada, os cabelos levemente desalinhados. Tinha que admitir que ele estivesse se tornando cada vez mais bonito aos seus olhos, por mais que isso a incomodasse. Ela ficou alguns minutos ainda admirando o rapaz até Chris abrir a boca e fios de saliva escorrer na almofada, acompanhado de um ronco pouco discreto.

Jill revirou os olhos, incrédula e vergonhada. Algumas pessoas olharam para onde estavam ao ouvir aquele som. A garota afundou-se em sua poltrona com os braços cruzados.

— Você não vai mesmo me envergonhar para a minha família seu idiota... E você me deve uma almofada nova. – Seu tom de voz era baixo para evitar olhares repreensíveis novamente. Chris por sua vez continuava a dormir.

O vôo atrasou alguns minutos por conta de uma nevasca por volta de Washington MD, mas finalmente haviam chegado ao aeroporto de Baltimore. Eles desembarcaram sem qualquer diálogo, ela estava irritada e ele simplesmente sonolento. Após pegarem suas bagagens ela apressou o passo em meio a multidão na esperança falha que ele a perdesse de vista.

– Jill, eu estava olhando aqui no Google, e vi que Frederick fica a 01:00h daqui. E ai, alguém vem nos buscar? – Chris mantinha sua atenção no aparelho celular.

— Se quer ficar em Maryland fique a vontade, mas você não vai para Frederick comigo Redfield! – Ela continuava a andar rapidamente tendo Chris em seu encalço em passos leves.

— Era para eu estar em Aspen, tomando um Dalmonre em frente à lareira com a minha namorada, mas você estragou tudo. Considere isso! – Chris disse alterando sua voz pela distância que se formava entre eles.

— Considere em seus cálculos que simplesmente disse a Jéssica o que você devia ter dito se não fosse um maldito mentiroso!

— Jill! – Ele correu até ela. – Você não vai se livrar de mim por agora!

— Só me responde uma coisa Chris... – Ela se virou para encara-lo. – Que tipo de idiota viaja mil quilômetros para uma cidade onde não conhece e uma família que não conhece ao invés de passar o natal com a própria família?! – Jill exclamou, ignorando as pessoas a sua volta.

— Um idiota que não tem uma família. – Chris devolveu no mesmo tom, esperando uma resposta. Jill parecia atônita com o que ouviu então ele continuou. – Você não se lembra daquele meu segredo de Vegas?

Após finalizar seu discurso mentiroso com o semblante cabisbaixo, Chris se virou para a recepção e começou a caminhar em sua direção, sabendo que ela se incomodava com o fato deles terem tido um bom relacionamento lá.

Jill tentava puxar pela memória em que momento ele havia falado sobre sua família, mas o fato era que desde que voltou de Las Vegas, Jill tentava juntar os flashs dos acontecimentos que apareciam em sua mente, mas sem sucesso. De repente ela recordou de uma conversa com Chris quando saíram juntos do Chiaroscuro, ela havia perguntado do que o rapaz sentia saudades em São Francisco e ele respondeu várias coisas, mas em nenhum momento mencionou sua família.

— Christopher, espera! – Ele abriu um sorriso vitorioso antes de voltar sua atenção a ela com a expressão anterior. – Olha, eu não me lembro de nenhuma conversa, mas… Me promete que não vai magoar a minha família? Eles são tudo para mim e eu odiaria decepciona-los…

— Confia em mim – Ele a interrompeu com um sorriso descontraído, já retornando á ela. – Eu só não queria ficar em casa vendo TV ou acabar estragando o tão esperado natal sem graça daqueles casados.

— - -

Assim que adentrou no táxi e passou o endereço para o motorista, Jill retirou da mochila seus fones de ouvidos, olhou sua playlist e escolheu o que para ela era seleção perfeita. Era uma das músicas favoritas de seu falecido avô, Antoine Valentine, e retornar para casa era como retornar para os abraços do vovô.

Chris notou que a musicista não pretendia criar nenhum diálogo, então entediado, ele começou a papear com o motorista. Eles comentaram sobre alguns filmes em lançamento e então Chris fantasiava várias histórias de contato com algumas estrelas de Hollywood já que era da Califórnia. Falou que era amigo intimo de Amanda Seyfried, comentou sobre a troca de olhares com a Megan Fox em um evento de gala e o flerte com Cameron Diaz enquanto atuava como figurante. O taxista não sabia se acreditava em tudo que ouvia, mas parecia está gostando muito.

— Então você realmente é chegado em olhos azuis? – Propôs com um sorriso simpático no rosto.

— Não tinha reparado nisso... Por que a pergunta? – Chris estava tão envolvido em seus contos que mal percebeu o que as três atrizes tinham em comum.

— Bem, Amanda, Megan, Cameron… – O taxista dizia vendo que Chris o fitava pelo retrovisor, então concluiu apenas com um movimento com a cabeça, inclinando-a para o lado direito do veículo. O rapaz analisou por alguns instantes até compreender o que insinuava.

— Ah não, não é nada disso, ela é… – Chris voltou sua atenção à moça que parecia viajar nos pensamentos, tão perdida em seu íntimo com um semblante tão sereno. E reconhecia seu erro em não reparar a cor dos olhos das atrizes ou até mesmo das pessoas em seu cotidiano. Mas uma coisa era certa, os grandes orbes azuis de Jill eram simplesmente inesquecíveis.

Ele se assustou quando voltou a sua realidade e ela o fitava sem qualquer expressão, embora Chris imaginasse que ela queria saber por que ele a observava tanto. Entreabriu os lábios disposto a dizer qualquer coisa que o tirasse daquela situação constrangedora. Mas mudou de ideia quando Jill mostrou seu dedo meio para ele e logo voltou a fitar a rua através da janela.

— Ela é a minha cunhada. Vou casar com a irmã dela. – Chris sorriu largo para o homem que correspondeu com um sorriso menos extravagante.

Depois de um tempo tudo voltou ao silêncio, Chris se cansou de suas mentiras após refletir sobre o ocorrido alguns minutos atrás. Sua mente não o poupou da lembrança de Las Vegas que ainda mantinha arquivada no celular. Se perguntava o porquê de ainda não ter apagado aquele maldito vídeo. Logo seus pensamentos cessaram, pois notou a placa enorme de “Bem vindo a Frederick”. Abriu um sorriso vitorioso, pois seu plano de vingança estava prestes a começar e ele mal poderia esperar.

— – –

— Muito obrigada senhor! – Jill agradeceu e acenou para o táxi que dera partida. Ela fitou a rua silenciosa e coberta de neve.

Frederick era um lugar admirável e bem movimentado. O turismo para aquela região crescia ao longo dos anos o que era muito bom para os comerciantes. Pequenos comércios se tornaram vinte vezes maior e com mais variedades de produtos, entretanto, não satisfaziam os clientes como antes, então na área campestre da cidade, havia uma pequena e aconchegante loja.

Sua fachada pintada de vermelho com detalhes dourados. Na vitrine, vários produtos como livros, jogos de chá, bicho de pelúcia e outros souvenires, tudo bem organizado. Na porta, uma placa escrita “close”. As luminárias internas apagadas deixando apenas luzes natalinas realçar o ambiente interno.

— Você mora numa loja? Nada mal para uma caipira... Só eu acho que essa fachada precisa de uns reparos? – Chris comentou olhando o letreiro dourado em piscas-piscas, escrito “Book and Cook” com a letra “K” um pouco virada para a direita.

— E mais uma vez o papai deixou a letra torta quando montou a decoração. – A garota reclamou sorrindo, fitando o mesmo ponto. – Vem... Já está tarde então não faça barulho.

Jill e Chris subiram uma pequena escada ao lado da loja, parando em frente a uma porta decorada com uma guirlanda média. Ela tateou os bolsos a procura de sua chave e assim que achou, abriu a porta e então adentraram a casa. Jill acendeu a luz do pequeno hall que dava acesso à sala de estar e a cozinha. Tudo estava escuro, indicando que estavam todos dormindo. Sentiu uma pequena chateação, pois esperava uma recepção mais calorosa. Quando acendeu a luz da sala eles se assustaram com algo inesperado.

“Surpresa!” A grande família da garota gritou uníssona. Várias pessoas estavam no ambiente aguardando a sua chegada.

— Oh meu Deus! Achei que estivessem dormindo. – Jill sorriu emocionada.

— Dormir quando nossa estrelinha está prestes a chegar? Depois de tanto tempo? – Joan seguiu até a filha e a abraçou apertado. – Que saudades de você Jillian!

— Como eu sinto sua falta mamãe! – A moça retribuiu o gesto, mas ficou presa entre os braços da mãe por alguns segundos.

— Ei... Mamãe? Deixa um pouquinho para nós também. – Rebecca animada correu para abraçar a irmã.

Nesse meio tempo em que a garota cumprimentava seus familiares, Chris voltou ao hall. Por algum motivo que ainda não conhecia, ponderou antes de criar mais um de seus personagens. Sentiu algo semelhante à acanhamento, mas antes que o sentimento tomasse conta de suas ações, sorrateiramente chegou ao umbral da porta e parou para observar. Havia várias pessoas na sala: uma mulher muito semelhante a Jill aparentemente aos quarenta e poucos anos, de olhos bem escuros; uma senhora caucasiana, de olhos azuis, cabelos brancos e sorriso simpático; uma mulher alta com cabelos ruivos e seios fartos; ao lado dela um carrinho duplo com dois bebês; também havia um homem com baixa estatura, barba estilo lumberjack e cabelos castanhos; seus olhos reconheceram a doce Rebecca, uma linda moça muito semelhante à Jill, mas com olhos castanhos claros; por fim um homem de boa aparência, cabelos grisalhos, cavanhaque e olhos bem claros.

— Papai! – Jill pulou nos braços daquele último homem com lágrimas nos olhos. – O senhor nem imagina como estou feliz.

— Estrelinha! – Ele beijou a bochecha da primogênita. O pai havia sido o último a ser cumprimentado quando a garota se lembrou do “convidado”.

— Papai, eu trouxe alguém… – Jill olhou para trás e viu o rapaz encostado no umbral, então delicadamente desfez o contato com Dicky e com a mão, fez um sinal para que Chris se aproximasse. – Pessoal eu quero que conheçam o Christopher. Ele é um...

— Nós já sabemos quem ele é, querida. – Joan sorriu gentilmente. Jill fitou sua mãe um pouco confusa então ouviu a voz de Rebecca dirigida a Chris.

— Desculpe cunhado, eu sei que era para ser segredo, mas eu não aguentava mais a ansiedade. – A garota torceu os lábios como se tivesse chateada.

— C-cunhado?! – Jill exclamou. Ela não teve chances para explicar o mal entendido, pois “Chrisloteiro” havia entrado em ação imediatamente.

— Sem problemas Becka. Jill e eu vínhamos conversando no vôo a respeito disso. Concluímos que era melhor ter comunicado antes para não causar tanta surpresa… assim. – O rapaz concluiu notando o quanto aquelas pessoas pareciam animadas com a presença dele, excerto Dicky e a sua vítima que parecia estar muito por fora daquela situação: Jill Valentine.

Jill estava tremendo tanto que nem ao menos conseguia mover um músculo enquanto via a vovó Elizabeth, Rebecca, tia Anne, tio Frank e sua mãe cumprimentarem aquele ser com tanto carinho. Ele estava tão simpático e sorridente ao cumprimentar a família que se ela não o conhecesse, também acabaria acreditando em suas mil faces. E todos ali a sua volta já estavam conquistados com tanto carisma. Se os gêmeos Nick e Charles já pudessem engatinhar, com certeza estariam lá, recebendo o carinho do mais novo “tio-primo”.

— Você é bonitão menino. Minha neta tirou uma sorte grande. E por falar em grande, você é bem alto. Quase não cabe nessa casa pequena. – A pequena senhora sorriu.

— Obrigada vovó, se é que posso chamá-la assim. – Chris disse sem deixar de notar sorrateiramente o espanto de Jill e a vermelhidão em seu rosto. Ele só precisava complementar mais o inesperado “Chris carismático” para a jovem e para sua família. – Mas acho que quem tirou a sorte grande foi eu, por ter encontrado essa joia tão preciosa que é a sua neta. E pelo que estou vendo, a preciosidade vem de família. – Ele beijou uma das mãos de Elizabeth, notando o grande sorriso dela. Logo, se pôs de joelhos até ficar na altura da senhora. – Quanto a minha altura não se preocupe, pela senhora eu fico até de joelho.

Todos riram empolgados, Jill tentando voltar a realidade fitou Dicky que estava a seu lado sério, observando toda a encenação de Chris e pelo seu olhar estava achando que ele era muito atrevido.

— Papai, eu posso explicar… – Jill foi interrompida pelos passos de seu pai até o rapaz. Tudo que a garota mais almejava era acordar daquele pesadelo ou cometer um crime. A expressão do homem deixou-a apreensiva. Dicky sempre fora um homem simpático e sorridente, mas naquele momento não o reconhecia.

Ele se aproximou do grupo ainda mantendo sua postura e Chris se pôs de pé de imediato. Dicky, que o encarava olhos nos olhos, estendeu a mão direita para Chris.

— Prazer senhor, eu sou Christopher Redfield, mas pode me chamar de Chris. – O sorriso do rapaz mudou de forma quando sentiu o forte aperto de mãos vindo de Dicky.

— Richard Valentine, chefe da família e pai da Jillian. Já mencionei que minhas filhas são tudo para mim, Christopher? – Dicky apertou a mão de Chris um pouco mais forte, ainda sacudindo-a em cumprimento.

— A-ah... Não senhor… – Chris evitou a dor, ainda sorrindo tranquilamente. – Mas garanto que as minhas intenções com a sua filha são as melhores possíveis. – Chris respondeu um pouco surpreso, pois o bom homem a sua frente não parecia nada com o que Jill e Ada tanto falavam. Nesse momento, Dicky soltou a mão do rapaz, que abriu e fechou-a sentindo ainda a pressão do aperto malvado. Logo, imaginou que o gênio de Jill já tinha uma explicação muito coerente.

— Ora Dicky, não constranja o namorado da nossa filha. – Joan abraçou o marido de lado com um sorriso preocupado. – Não liga pra ele Chris, Richard é apenas mais um pai ciumento.

— Concordo com a primeira dama! Relaxa irmão, o importante é que a nossa “Bluestar” finalmente descobriu do que a vida foi feita afinal... – Frank riu deixando Jill com o rosto chateado e avermelhado.

— Tio Frank! – Ela exclamou.

— O que foi querida? Não é de amor que a vida é feita? – Frank piscou o olho para Jill e sorriu. Seu tio Frank era irmão mais velho de Dick, embora não parecia tanto, já que ele tinha uma personalidade brincalhona e descontraída.

— Tudo bem você venceram. – Dicky suspirou. – Por hoje você escapou garoto. – Ele mostrou um pequeno sorriso para o rapaz que retribuiu, embora estivesse desejando uma pequena vingança pelo que tinha feito com sua mão.

— Vocês devem está com fome. Fiz uns Waffles deliciosos. – Elizabeth planejava ir até a cozinha quando Jill entrou na frente da avó.

— Vovó obrigada, mas não se preocupe. Chris e eu comemos no aeroporto. É melhor deixar para o café da manhã. Estamos cansados e tudo que queríamos é dormir um pouco, hm?

Todos estranharam a atitude de Jill, pois sempre que havia reunião de família ela sempre propunha atividades para fazerem como jogos, culinária e principalmente o hobby da família: Música não importavam as circunstâncias. Rebecca conhecia a irmã e sabia que algo a incomodava, porém iria esperar o melhor momento para questionar a mais velha.

— Bem... O seu quarto está pronto querida, mas acho melhor você ficar no quarto com a Becka e o Chris no seu quarto, ok? – Joan sugeriu.

— Não! Quer dizer… Eu estou com tanta saudades do meu quarto e de tantas lembranças por lá com a Becka... Seria melhor a Rebecca dormir comigo e o Chris dorme no quarto dela. – O coração de Jill disparou somente em cogitar a hipótese de ter o rapaz vasculhando suas coisas a procura de algo que sirva de chacota. E ela sabia que seu quarto era um criadouro de gozação por causa da época adolescente.

— Por mim tudo bem Jillie. Desde que fiquemos juntas.

Sem mais delongas eles se despediram dos parentes e foram para os quartos guiados por Joan.

– – –

Jill se jogou de bruços em sua cama e tapou a cabeça com um travesseiro, depois de tentar se esquivar das inúmeras perguntas feitas por Rebecca. A garota estava eufórica para saber tudo sobre esse relacionamento surpresa ao qual soube há menos de 24hs. Mas a musicista novamente alegou está cansada demais, então prometeu que no outro dia contaria tudo que ela quisesse saber.

E depois de duas horas rolando na cama, Jill notou que Rebecca já dormia profundamente, assim como toda casa. Levantou-se, trajada em seu pijama de frio amarelo. Ela seguiu até o quarto onde o “namorado” estava. Bateu algumas vezes na porta de leve, mas sem respostas, girou a maçaneta e adentrou ao cômodo.

O quarto estava iluminado por um abajur que deixava o ambiente rosado. E estava frio porque a janela estava aberta. Chris estava com a cabeça do lado de fora com um cigarro entre os dedos, quando notou a presença de ninguém menos que Jill, ao ver seu reflexo no espelho ao seu lado.

— Ei amor, acho que não é conveniente visitar o meu quarto a essa hora da noite. A não ser que essa seja uma visita conjugal. – Chris gargalhou.

— Mas o que é... Onde você pensa que está para fumar tranquilamente em? Não faça mais isso aqui dentro da minha casa, entendeu? – Andou furiosa até parar na frente dele, tomando o cigarro e jogando para fora da janela.

Ele revirou os olhos e se deitou com as pernas apoiadas na parede enquanto voltou a folhear um HQ do X-Men que encontrou na estante verde limão de Rebecca. Jill assistia o gelo que ele parecia dar nela incomodada.

— Seu desgraçado! – Lançou um dos ursos de pelúcia da irmã que estava ao seu alcance. – Você prometeu que não faria nada idiota enquanto estivéssemos aqui!

— Não tem nada de idiota em ser da família... Eu só queria me enturmar. – Ele disse ao pegar o urso e jogar contra ela, acertando sua cabeça. – E você está errada! Você me pediu para prometer, mas tudo o que eu disse foi “confie em mim”. Você é tão fácil de iludir, Jill. – O rapaz virou-se na cama e se sentou em seguida.

— É a mesma coisa... Eu confiei em você. Poderia ao menos fazer a coisa certa dessa vez? – Jill retrucou cruzando os braços.

— Não, e eu vou fazer o favor de te ensinar mais uma lição. Promessa é algo forte e definitivo, já confiança… bem, conseguir a confiança das pessoas é minha especialidade, prova disso é o fato de você saber exatamente como eu sou e mesmo assim ter sido estúpida o bastante para acreditar que eu ia desistir disso. – Ele gargalhou.

— Tudo bem, o que você quer que eu faça? – Ela procurava algo ao redor. – Quer que eu ligue para aquela vagabunda de salto alto para dizer pra ela que você não é o canalha que é e ver se ela consegue uma vaga para você ir embora pra Aspen ou para o quinto dos infernos? – Jill correu até a mesa lateral da cama para tomar o celular dele e ele se levantou de imediato para impedi-la. – Não quero você com a minha família nem mais um segundo.

— Solta o meu celular! – Ele tentou tirar o celular das mãos da moça e então um pequeno conflito começou com empurrões e estapeamentos. – Você já me fez perder Aspen, garota idiota, vou transformar o seu natal um inferno! – Chris tentava conter as investidas descoordenadas da garota. – A vovó me adora, todos me adoram, é questão de tempo para que o velho admita que eu sou o melhor genro que ele já teve! Você não vai se livrar tão cedo de mim assim. – Era um deleite para ele ver o desespero no psicológico da garota até que ela acertou seu nariz e correu para se afastar dele, subindo em cima da cama procurando o tal número na agenda telefônica. Ele, depois de seu rosto se contorcer com a pancada, foi até ela irado e puxou uma de suas pernas fazendo com ela se desequilibrasse e caísse sobre a cama. Ela esticou uma das mãos para longe dele, que teve que subir em cima dela para alcançar o celular. Ela não iria ceder perder por causa da força dele mais uma vez então jogou o telefone dele na parede, na intenção de quebra-lo.

Ele se paralisou assistindo o que ela tinha acabado de fazer e então notou que ela começou a gargalhar quando ele olhou bravo para ela.

— Você não fez isso com o meu celular! – Ele torceu seus lábios, ainda por cima dela que não parava de gargalhar.

— Tomara que tenha quebrado. – Ela parou de gargalhar ao dizer aquilo presunçosamente.

Ele tomou seus braços, prendendo os na cama, pensando em algum tipo de punição rápida quando notou que a porta do quarto se abriu. Seu reflexo imediatamente, fez com ele rolasse com ela para que ela parasse em cima dele, sem entender o porquê de repente.

— Ah meu Deus! – Jill pode escutar sua mãe da porta e olhou para ela imediatamente em sua direção quando ela fechou a porta do quarto, como se nunca tivesse aberto aquela porta.

— A minha mãe? – Ela perguntou para Chris que agora sorria presunçosamente por debaixo dela.

— Sim, a sua mãe nos pegou no flagra. Que feio, santinha Jill. – Chris disse o gargalhar.

Ela saiu de cima dele com o rosto queimando em vermelho para ir em direção da porta e dar uma olhada no corredor para tentar se explicar para a mãe, mas já não havia nenhum sinal de movimentos. Ela se perguntava se a movimentação no quarto fez com que mais alguém acordasse também. Ela não tinha reparado que tinham feito tanta movimentação, já que a discussão tinha sido em um tom baixo.

Logo foi caindo a ficha do que tinha acontecido. E diferente da casa deles, aquela casa tinha muitos olhos e ouvidos. Se perguntava como ela tinha permitido tanta bagunça.

— A sogrinha não voltou? – Chris perguntou ao tentar ligar seu telefone sem sucesso. – Seria uma pena contar para ela que a filha dela não se aguenta nas calças... Ou melhor... Tem uma tattoo ridícula nas costas.

— Você nem se atreva a comentar sobre Vegas nessa casa.

— Ah, eu vou sim... Olha o que você fez com meu celular? Você o quebrou, a tela, o botão de ligar. Acabou de assinar sua sentença de insanidade mental. Agora que eu não vou ter mais nenhum dos meus contatos nesse natal, eu vou procurar os seus contatos por aqui e então fazer novos contatos.

— Nem tente vir com ameaças. Você não sabe como me deixou em maus lençóis por isso.

— E isso foi tão pouco Jill... – Chris disse deixando o telefone quebrado em cima da cama e caminhou na direção dela. –... Se você continuar a ser a chatinha e certinha de sempre, bancando a moralista por meu lado, eu não vou hesitar em manchar sua reputação aqui.

— Essa ameaça vai ter volta, parceiro. Você que abandone a boa reputação de bom namorado para minha família que você já construiu que eu vou tomar as minhas providências. Amanhã de manhã cedo, você vai pedir desculpas para minha mãe por isso.

— Ah eu vou sim, com todo o prazer, minha diabinha. – Ele apertou suas bochechas e ela deixou imediatamente o quarto, furiosa.

Tentou se acalmar e então retornou para seu quarto e se assustou quando notou que Rebecca estava com o abajur ligado á sua espera.

— Você estava com o bonitão? Foi fazer o que lá?

Jill revirou os olhos e se jogou sobre seu colchão murmurando um “boa noite” para a irmã.

— - -

— Chriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis!

Leon acordou assustado ao ouvir uma voz estridente distante gritar o nome de seu amigo. Olhou para o relógio ao redor e notou que eram dez para as sete da manhã. Achou que tinha sonhado com o amigo e tinha acordado assustado. Notou que Ada estava descoberta então ele a cobriu enquanto ela ainda dormia como um anjo. Ela acordaria em poucos minutos para fazer umas compras, já que algumas lojas estavam em promoção devido a véspera de natal.

— Chris! Abre logo essa porta! – Ele ouviu novamente a voz distante chegar naquele quarto bem baixinho. Não tinha sido um sonho, era bastante real. E a voz era familiar. Ele tentou dormir novamente quando notou que aquele escândalo tinha cessado. Ainda achava que era coisa da mente e quando foi tentar dormir por mais uns minutos, já tinha perdido o sono.

Se levantou com um humor nada bom e fez sua higiene matinal com direito a um banho gelado para melhorar sua manhã. Já estava preparando alguma coisa para comer quando ouviu novamente a voz familiar feminina gritar o nome de seu amigo.

Leon, até então tinha conhecimento que seu amigo estaria em Aspen com a namorada para o natal. Pelo menos foi assim que ele tinha dito ao amigo por mensagem, que chegou assim que ele tinha deixado Jill no aeroporto. Então sabia que não havia ninguém em casa. Então achou melhor abrir mão do café da manhã e então esclarecer o que sabia com alguém que parecia não saber que seu amigo não estava.

Subiu as escadas e se deparou com uma moça ruiva, vestida em roupas coloridas e com uns óculos escuros extravagantes, escorada na porta do apartamento do amigo. Ela estava com o telefone em mãos, mas não reagia a sua chegada naquele andar.

— Moça... O Chris não está em casa. – Ele cutucou seu ombro. Ela um pouco desnorteada olhou para trás e deu um grito alto de alegria ao pular para abraçar o loiro.

— Leon! Que saudade de você! – Ela o apertou bem forte então se separou dele para tirar seus óculos enquanto Leon parecia confuso. Quando ela tirou os óculos, Leon finalmente a reconheceu. Bem diferente da outra vez que apareceu com um visual gótico.

— Claire... Mas que surpresa!

— Ah, que bom que eu não te acordei. Meu irmão deve estar dormindo não é? O telefone desse imprestável nem funciona. – Ela disse liberando passagem para ele entrar no apartamento que ate então, na mente dela, ainda pertencia aos dois amigos.

— Isso é estranho... Ele não sabe que você está aqui?

— Não, eu vim como uma surpresa, pra passar natal com vocês. E pretendo ficar até o ano novo, se o meu dinheiro aguentar até lá! Mas e aí? Meu irmão ficou educado igual a você com a convivência?

— As coisas mudaram bastante por aqui nesses últimos tempos, Claire. Mudaram drasticamente... Mas infelizmente seu irmão continua o mesmo. Quer vir até o meu apartamento? – Leon começou a descer as escadas, seguido pela moça.

— Espera ai, bonitão... Você não mora mais aqui com o meu irmão?

— Não... é que... Eu estou morando com a minha namorada agora. Mas é exatamente bem aqui no andar de baixo.

— Namo... o quê? – A menina parou de descer as escadas com a pergunta que mais parecia uma indagação na qual ela relutava em não aceitar.

— Temos muito para conversar Claire. Muito mesmo.

— Mas eu achei que você estava esperando a idade certa para namorar? – Claire ironizou chateada.

— Parece que o deboche é de família, não? – Leon não se conteve ao sorrir para a garota. – Vem logo, Vermelhinha.