Depois de um jantar maravilhoso, músicas e conversas, Carlos se despediu da familia de Jill e ela o acompanhou até sua velha camionete, que tanto lhes traziam lembranças de momentos inesquecíveis por toda Maryland. A caminhonete estava mais equipada para ser o transporte de seus instrumentos e Jill se admirou ao ver o quanto eles estavam crescendo. Chris seguiu a ambos sorrateiramente e se escondeu sentado em um banquinho umido atrás de um arbusto seco, mas cheio de galhos, tentando ouvir alguma coisa. Eles trocavam algumas palavras sobre música, alguns novos estilos musicais, e sobre algumas aberturas que a MARYBAND tinha feito e o assunto não saiu daquilo por um bom tempo enquanto Chris revirava os olhos. Tirou um cigarro do bolso e acendeu por ali mesmo, protegendo-o do frio de onde estava. Quando se deu conta, Carlos entrou no veículo e colocou a cabeça para fora da janela, assim como apoiou os braços nela.

— Eu quero mesmo que você vá até Chicago! E não quero ficar sem notícias, embora eu saiba que você anda ocupado. Mas sinto sua falta. – Jill dizia risonha, apoiando as mãos no braço acessível do rapaz.

— Ah Jill, você sabe como eu evito celulares. Pode ligar para um dos meninos se quiser falar comigo. Eles passam recados para mim, sem nenhum problema. Aliás, hoje estou com o celular do Jeffrey. Ele deve está maluco achando que perdeu ou foi roubado. – O mais velho riu.

— Tudo bem... – Ela lamentou ligeiramente. – Mesmo assim, vou conseguir uma noite especial para vocês aonde eu trabalho, é uma promessa.

— Perfeito... estou com saudade da nossa Ada. E ainda mais agora que ela está namorando também. Ah! Não me leve a mal Jilly, mas esse seu namorado eu não aprovei muito, sabe... mas o dela ainda falta uma aprovação.

— Com certeza você vai aprovar o Leon... O Leon é um... – Ela pausou sua fala, pensativa. –... é bem melhor que o Chris. – Jill sorriu sem graça e Chris se baqueou ao ouvir aquela comparação.

— Se não estiver feliz com esse cara, não fique com ele. Se ele não é o melhor, não perca seu tempo. Tenho certeza que há muitos por ai que não só a veria como um bom prêmio ou uma boa garota e sim como tudo o que eu consigo ver ao olhar para você.

– Ah, para Carlos! – Ela ficou envergonhada e se aproximou para lhe dar um beijo no rosto. – Eu te amo muito.

– Não mais do que eu te amo. Nos vemos em breve então? – Ele ligou o carro passando sua mão no rosto dela.

– Sim. Até logo.

Carlos acenou e Jill voltou risonha para a casa subindo as escadas enquanto ele esperava ela entrar. Depois pegou a direção e deixou o local. Chris continuou tragando o cigarro pensativo, tirou do bolso um pequeno objeto e jogou na neve. Não queria que Carlos pensasse assim dele, muito menos que Jill concordasse. Por um momento, pensou em ir embora. Não queria ter perdido para o latino conquistador depois de tanto esforço.

O reencontro havia se tornado tão emocionante que quando Jill retornou para dentro de casa todos já haviam se recolhido, até mesmo seu suposto namorado, ela pensou ao ver todos adormecidos na sala de estar. Ela não se incomodou, pois sabia o quanto todos estavam exautos, então apenas apagou as luzes que faltavam e seguiu para o quarto, onde Rebecca já roncava jogada sobre Olívia.

Chris, depois de um tempo pensou melhor e largou a ideia de ir embora. Ele procurou o objeto que tinha jogando na neve e assim que o encontrou guardou-o no bolso e seguiu para o quarto que compartilhava com os homens daquela família, que outrora era só dele, subindo pela escada de emergência da casa e adentrando pela janela. Se jogou em seu pequeno colchão, sendo o mais fino, pois todos os outros já tinham escolhido os melhores e então adormeceu.

Na manhã seguinte a vovó Elizabeth acordou toda a família na alvorada, pois era hora de abrir os presentes, afinal era natal. Sonolentos todos se reuniram na sala, próximos a grande árvore decorada. Chris foi o último a comparecer, ele estava forçando sorrisos para manter seu personagem e Jill ria internamente, pois o conhecia o suficiente para saber que ele odiava dormir tarde e acordar cedo. Passado alguns segundos, ela percebeu que ele não estava mais incomodado por aquele motivo, apesar de não entender a carranca e os braços continuamente cruzados. Então procurou saber o que ele pretendia, indo à sua direção pela lateral da grande roda de pessoas.

— Bom dia amor. Você não me parece bem, seria sua osteoporose atacando? – Jill sussurrou selando os lábios do rapaz e logo abriu um largo sorriso irônico. Chris não respondeu olhando sério para ela e permanecendo com os braços cruzados.

— Own... O que o meu mais novo netinho tem? – Elizabeth ficou na ponta dos pés para poder apertar a bochecha de Chris, já que notou os passos de Jill, diferentemente da sala que parecia mais entretida com as piadas e as conversas grupais.

— Bom dia vovó. Não se preocupe, era apenas falta do seu carinho. – Ele tirou Jill de sua frente e se virou para a senhora a abraçando-a com um sorriso. Jill ficou encantada com as palavras do rapaz, via no rosto de sua avó o quanto ele a deixava contente. Mas não gostou nada do gelo que ele havia dado nela segundos atrás. Ele estava agindo fora da atuação e ela não entendia o porque daquilo. Seria naquele momento que ele aprontaria alguma coisa? Ela pensou.

— Ah desse jeito vou ficar com ciúmes. – Olívia comentou fitando Chris. A garota então notou o olhar de Jill sobre ela, então tratou de se esquivar. – Quero carinho também... Vovó. – Ela trocou a intenção rapidamente. Elizabeth abraçou a neta, aproveitando para dar a ela seu presente de natal.

— Olivia é tão sínica quanto a mãe. – Jill comentou baixinho. Aquele ciúme repentino fez com que a satisfação de Chris voltasse gradativamente ao se divertir com a cena.

— É algum crime querer carinho da vovó? – Chris retrucou. Notou o espanto de Jill ao perceber que ele havia escutado seu comentário áspero.

— Não seja cretino Redfield! Não venha me dizer que não percebeu que Olívia tem interesse em você. – O tom de voz da garota mostrava certa irritação.

— Olha só quem fala... A garota que passou a noite fingindo não ver que o amiguinho dela estava todo derretido por ela. Eu quase vomitei no prato daquele cara.

— O que? Chris, não seja ridículo tá? Carlos jamais me olharia com outros olhos! – O diálogo entre os dois começava e ser notado pelos demais.

— É bom mesmo. Se não será dois olhos que terei que furar a sangue frio!

— Hm… pessoal? Hoje é natal. – Rebecca chamou a atenção dos dois cantarolando sua frase e tentando segurar o riso, pois o ciúme de Chris não fazia qualquer sentido e pelo visto ele nem fazia ideia do motivo.

— Desculpa família. – Ele sorriu sem graça, coçando o alto da cabeça.

— Desculpe pessoal… – O rosto de Jill estava rubro, sua primeira discussão na frente de sua família não poderia ser mais frustrante.

— Ah meus amores, não se desculpem. O ciúme é necessário para que o amor se aflore. – Elizabeth novamente se aproximou, entregando a Jill e Chris seus presentes. – Espero que gostem, pois depositei todo meu amor na confecção.

Eles agradeceram o presente e logo abriram, se entreolharam e sorriram. Elizabeth havia dado a eles suéteres iguais, feitos por ela. A garota adorou o presente, enquanto ele agradecia aos céus por Leon não estar presente naquela sala, já que um dos passatempos de Chris era fazer piadas com o amigo por sempre usar suéteres.

Assim as trocas de presentes prosseguiram, a sala estava repleta de papéis, caixas, sacolas e etc. Dick não havia dado nada ao genro, e deixou claro que seu presente para Chris era sua filha Jill. Joan até pensou em replicar, mas preferiu concordar com o marido.

— Ei Jilly! E esse colar? Foi presente do Chris? – Anne comentou sobre o belo colar de ouro com um pingente de estrela que a sobrinha tinha pendurado no pescoço.

— Ah, esse? Não, foi presente do Carlos. Ele me deu ontem quando fui levá-lo até a porta. – Jill observava seu presente com um sorriso bobo no rosto.

— Espera! Então o seu namorado perfeito não te deu nada? – Gretha fez questão de dar ênfase em suas palavras.

— Acho que… – A jovem olhou para Chris atônita, não havia notado que só restara eles para que aquele momento chegasse ao fim.

– Querida tia Gretha, bem observadora como sempre. Quer estragar minha surpresa? – Sorriu amigavelmente para ela que apenas sorriu de volta. – Eu jamais deixaria a mulher da minha vida sem presente, claro que não é nada comparado ao presente do incrível Carlos, mas… – Ele se levantou e correu para o corredor, deixando toda a família curiosa.

Jill fechou os olhos, nervosa, pois aquele com certeza seria o momento da vingança de Chris, afinal ele havia deixado claro que era esse seu propósito com a viagem até Frederick. O coração da musicista estava acelerado e ela já podia sentir suas pálpebras umedecerem, ele a envergonharia frente a sua família e Dick jamais a perdoaria. Ela então tomou a decisão de desfazer toda aquela farsa, antes que nada mais pudesse ser feito. Quando ele chegou novamente a sala, tudo na mente de Jill se tornou câmera lenta. Ele se aproximou com um sorriso soberbo, tomando os olhares de todos sem tirar os olhos de Jill que pedia internamente por piedade. Ele olhou uma ultima vez para Dick e antes de começar a falar, foi interrompido.

— Pessoal me escutem! – Jill chamou a atenção para si. – Eu preciso dizer algo muito importante para vocês. Christopher e eu... Nós não somos…

— Feliz natal amor. – A voz do rapaz a interrompeu rapidamente. Ela então se virou para ele e se surpreendeu com ele ficando de joelhos com uma caixinha vermelha em mãos com um anel de prata todo delicado. Um anel que ela identificou como dela, já que veio na sua bolsa de Chicago. – Você disse que finalmente achou alguém para cuidar de você... Jillian. E você não estaria mais certa. Porque ainda não escolhemos aonde iremos nos casar, mas eu quero que você saiba que... Eu não quero te forçar a nada... Isso é só uma prova de que temos um compromisso e... – Chris não conseguia completar as palavras, pois não havia mais o que dizer, se esforçando para lembrar as palavras do amigo apaixonado.

Os olhos de Jill quase saltaram quando notou que aquelas palavras nada mais eram do que as ditas por Leon em Las Vegas quando ele deu um anel de compromisso para Ada. Chris era realmente imprevisível e um bom ator de fato. Ela olhou para seu pai que estava prestes a decapitar o rapaz pela audácia de mencionar casamento com sua pequena.

— Oh Chris! É lindo… – Ela observava a joia que ela mesma tinha comprado em uma promoção na joalheria que ficava próximo ao seu local de trabalho. Mas ela não fazia ideia de onde ele tinha arrumado a caixinha, embora no interior dela estivesse o nome do estabelecimento localizado em Frederick. Ele então colocou o anel no dedo da garota.

— Olha amor, ele até sabe o tamanho do dedo da nossa menina. – Joan olhou admirada, cutucando seu marido pelo cotovelo.

— Eu te amo, Jillian. – Chris sorriu e Jill pode notar que ele estava envergonhado com sua cena.

— Eu também te... Idem. – A garota hesitou em dizer algo tão profundo porque era uma palavra muito forte para ser dita para alguém que não era quem todos pensavam que era. O abraçou e sussurrou em seu ouvido. – Você é mesmo um filho da puta… não é?

— Com todo prazer... – Respondeu presunçosamente.

Logo a família eufórica veio parabenizar o casal e assim esquecendo que Jill ainda não havia presenteado o namorado.

— - -
Era manhã de natal, e a eletrizante Redfield fitava seu celular na busca de algo que a fizesse ter esperanças de que sua família finalmente compreendesse o significado daquela data. Mas eram exatamente 10 da manhã e nem ao menos uma simples mensagem ela recebeu.

Olhou para os quadros ao redor daquele quarto tentando achar um significado para todas aquelas artes, a fim de distrair a sua mente. Todos os anos era a mesma coisa. Robert e Martha davam-lhe presentes caros ou uma boa quantia em dinheiro, certos de que estavam fazendo o melhor para a filha, quando na verdade tudo que Claire almejava era um simples abraço, mensagem ou telefonema, desejando a ela um feliz natal. Naquele ano as coisas pareciam ter se perdido de vez, pois até mesmo Chris, que sempre preenchia o vazio deixado por seus pais, desta vez nem ao menos atendia as ligações da irmã.

Desapontada, a garota resolveu abandonar os cobertores e aproveitar o seu dia ao lado de Leon e sua rival, Ada. Quando chegou a sala se deparou com o amigo dormindo desajeitadamente sobre o sofá. Ela sorriu e se aproximou dele, notando o quanto que ele parecia cansado. Observou ao redor, buscando por Ada, mas tudo estava quieto. Então a pequena travessa se ajoelhou junto ao móvel e sem pensar duas vezes, selou os lábios de Leon enquanto acariciava seus cabelos desalinhados.

— Se você soubesse as incontáveis vezes em que o beijei enquanto dormia... Meu príncipe. – Claire sussurrava baixinho enquanto acariciava o rosto dele.

— A-Ada… – Leon ainda dormindo pronunciou o nome de sua amada, deixando Claire indignada. A ruiva irritada pegou uma almofada e arremessou no rapaz três vezes, até que ele acordasse assustado. – Claire o que é isso!

— Eu é que pergunto. O que está fazendo aí dormindo no sofá? – A garota evitou a pergunta, pois jamais diria o motivo de seu aborrecimento.

Leon se sentou espreguiçando-se. Em seguida sentiu seu corpo dolorido e pesado. Não entendia como Chris conseguia dormir tranquilamente no sofá.

— Consequência das alternativas impostas por você na madrugada passada. Que horas são hm? – O loiro sonolento procurava por seu celular.

— Tá falando sério? A senhorita perfeita te chutou do quarto? – Claire gargalhava da situação do rapaz. Em sua mente achava que ele merecia passar por isso depois da secreta frustração que ele havia a feito passar minutos atrás.

— Não ria, não há nada de engraçado nisso. – Leon desistiu de procurar o telefone e resolveu ir a cozinha tomar um bom copo de água gelada. Não havia bebido muito, mas o suficiente para acordar com uma pequena ressaca.

— Poderia ter ido dormir comigo, quer dizer, lá no quartinho da bagunça comigo. – A ruiva o acompanhava ainda risonha.

Quando Leon abriu a geladeira notou que havia uma caixa embrulhada em papel de presente e um cartão. Intrigado retirou o embrulho e leu o cartão junto a Claire que fitava o presente, curiosa.

Feliz natal amor!”

Agora você comemora o natal? – A ruiva franziu o cenho.

Sem mais delongas, o loiro abriu a caixa e viu um relógio da marca Rolex totalmente destruído. Claire e Leon se fitaram sérios, estavam surpresos com o presente nada agradável. Era evidente que a surpresa maior partia do rapaz, pois era a primeira vez que via sua namorada com um comportamento tão hostil. Mas ele não a julgava, afinal, sabia de sua parcela de culpa.

— Vou falar com ela, mas antes, me prometa uma coisa: se tudo acabar bem, você não vai tocar nesse assunto ou qualquer outro da noite passada até agora, ok? – Leon a conhecia e sabia que a Redfield via aquela situação como uma oportunidade de ouro para ser inconveniente.

— Minha boca é um túmulo. – Ela sorriu mordendo os lábios. Observou ele sair da cozinha e então novamente começou a rir, por fim ela havia conseguido causar a discórdia planejada.

Leon deu alguns toques na porta do quarto, mas não obteve qualquer resposta, então girou a maçaneta e adentrou ao cômodo, se deparando com Ada sentada no meio da cama do casal, com o edredom sobre os ombros e com a atenção presa ao seu notebook.

— Eu adorei o presente, de verdade, mas acredito que ele teria mais utilidade se estivesse inteiro, até mesmo porque você poderia trocá-lo por algo que gostasse. – O rapaz sentou a beirada da cama e colocou a caixinha próxima a ela. – Amor, eu entendo que esteja chateada com tudo, mas… – Leon notou que Ada não se dava ao trabalho de ao menos fita-lo, e isso o incomodou. – Seria muito bom se essa conversa deixasse de ser um monólogo.

— O que quer que eu diga? Que estou feliz pelo nosso primeiro natal juntos ter sido um fiasco graças a sua amiga? – Ela ainda se recusava a olhar para ele.

— As coisas saíram completamente do que tínhamos planejado eu sei, mas do que importa uma mera data se temos a vida toda para ficarmos juntos? – Leon argumentou de maneira doce.

— Não me importa se não ficamos comendo comida chinesa frente a TV, o que me incomoda é não saber até onde essa garota tem poder sobre você. – Nesse instante ela o fitou e pode notar o quanto suas palavras o deixaram confuso. – Eu não sei o que houve lá embaixo Leon, mas seja o que for fez com que você me abandonasse por quase toda madrugada com pessoas estranhas e bêbadas na nossa própria casa. Eu fiquei preocupada com vocês por não darem qualquer notícia, e de repente os vejo retornarem tão felizes, tão conectados…

— Eu não sei aonde exatamente quer chegar.

— Pronto! – Ada virou a tela do notebook para o rapaz. – Passagens aéreas pela metade do preço. Acredito que sua amiga gastou muito dinheiro nessa festinha, então reservei uma passagem para ela no voo das três da tarde. – A asiática finalizou com um sorriso enigmático, deixando seu namorado um tanto assustado.

— Espera, quer que eu mande Claire ir embora? Ada eu não posso fazer isso. O que vou dizer ao Chris?

— Posso reservar uma passagem para você também se quiser, já que não importa como eu me sinta desde que a pequena Claire não fique magoada. Quanto ao relógio você estava certo, mas só pensei nisso depois de destruir meu salto de 15 centímetros nele. – A moça levantou revelando seu corpo coberto apenas por uma camisola preta de renda fina e uma peça íntima detalhada. – Claire já acordou? Tenho que avisar a ela para não perder a hora.

Ela tomou o roupão de seda em mãos e já estava seguindo para a porta quando Leon a puxou pelo braço e a colocou contra a parede de maneira que a moça não pudesse se desvencilhar dos seus braços.

— Para com isso, você não é assim. A Ada que eu amo jamais resolveria qualquer conflito com atitudes imaturas. O que realmente está te incomodando? Me diga! – O loiro a fitava sério.

Leon estava bravo, mas ela sabia que não se tratava de Claire ou o relógio, mas sim da noite no sofá. Ada mordeu o canto inferior do lábio, pois o loiro não sabia, mas sua amada adorava vê-lo com aquele semblante, era quase como um fetiche para ela.

— Paixão Leon! Essa garota é perdidamente apaixonada por você. Pude notar isso no instante em que a conheci. Se fiquei quieta até agora foi para analisar o que estava a minha volta… mas sabe qual é a pior parte? A sua atração por ela é quase palpável.

— O-oque?! – Ele sorriu forçado, incrédulo com as palavras da namorada. – Presta atenção no que eu vou te dizer agora: a única mulher que eu tenho atração, paixão e desejo está aqui na minha frente, me provocando com essa roupa extremamente sexy. – Ambos estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro.

— Então prove-me… – As palavras da jovem quase em sussurro foi o suficiente para seu amado tomar os lábios dela para um beijo eufórico e desejoso.

Ada entrelaçou suas pernas na cintura de Leon, enquanto ele a segurava contra a parede apenas com um braço já que o outro apertava a coxa bem torneada da asiática. Ele imediatamente arrancou o roupão da mão dela, jogando o no chão com desprezo. Não demorou muito para que ele a jogasse a namorada sobre a cama. Ela o puxou com intensidade para cima de si, soltando alguns botões da camisa que ele usava. Rapidamente ele tirou a peça, deixando aquele peitoral que Ada tanto admirava desnudo. Diante do desejo a flor da pele em que se encontravam nada os impedia te ter suas peles eriçadas em contato. Trocavam carícias íntimas enquanto sussurravam coisas obscenas um ao outro.

Naquele momento já não havia raiva, mágoa ou qualquer sentimento contraditório ao que ambos sentiam um pelo outro. Ada não havia dormido pela madrugada, sabia que havia sido radical em suas atitudes e que se realmente queria provar a sua rival que Leon era somente dela, teria que deixar no rapaz “sua marca”. Claro que a morena tinha consciência de que só o sexo não era base para alguém como seu namorado, mas “por que não unir o útil ao agradável”, ela pensava. O loiro a completava em todos os sentidos, estar com ele para sempre era seu único e maior desejo.

— Nossa... Acho que vou deixar você dormir no sofá mais vezes. – Ada brincou ofegante. Jogou seu corpo confortavelmente sobre os lençóis abarrotados.

— Acho que vou sair com a Claire mais vezes. – Leon sorriu, notando o olhar fuzilador da namorada. – Ok, eu falei merda. Mas amor... Me perdoa pelo que houve. Prometo que não vai mais acontecer. – Ele se virou de lado, apoiando a cabeça em sua mão.

— Ah, eu é que peço desculpas. Agi sem pensar, me comportei como uma adolescente ciumenta… Depois da canseira que te dei, duvido se aquela garota ainda tem chances. – Ada sorriu sedutora e logo o namorado a puxou para um beijo apaixonado.

— – –

Já era começo de tarde, Claire terminava de arrumar a bagunça da cozinha, já imaginando que seu pequeno plano da discórdia havia fracassado drasticamente. Se arrependia de ter ouvido a discussão na porta com o copo preso ao ouvido do lado de fora e logo a reconciliação inesperada e sedutora. Isso deixava seu natal ainda mais frustrante. Sentiu um aperto no peito e uma vontade repentina de chorar. Estava tão sozinha, nem Chris estava lá para dar seus sermões que pouco valia para ela. Sua madrugada fora perfeita, há muito tempo ela não se sentia tão feliz, mas agora estava frente a realidade, a tão odiada realidade. A ruiva ouviu passos no corredor e então respirou fundo, indignada.

— Claire? – Ada chamou a atenção da rival.

— Não se preocupe Ada, assim que eu acabar aqui vou embora. Eu não havia notado o quanto minha presença te incomodava. Eu só queria passar um tempo com os meus irmãos. Aliás, tem uma família? Ou ao menos, irmãos?

— Claire, não… – Leon chegou a tempo de tentar impedir a menina de continuar aquele assunto, mas ela já estava convicta que sua atuação estava digna de um Óscar.

—... Se você tiver, acredito que sabe como é prazeroso está com eles, o quanto eles nos completam e então nunca nos sentimos sozinhos. Mas pra você agir assim, provavelmente você não tem. Sinto pena de você... Nunca saberá o significado dessas palavras e do que você está tentando fazer comigo ao me afastar deles. – A ruiva finalizou com um sorriso de lábios trêmulos, porém não esperava ver os olhos de Ada marejados. A morena deu meia volta e caminhou de pressa para o quarto sendo seguida por Leon que a segurou pelos ombros.

— Amor espere! Claire não quis te ofender, ela não sabe da sua irmã…

— Me deixa Kennedy! – Ada atravessou o umbral e em seguida bateu a porta do quarto antes que o namorado pudesse passar.

— Droga! – Leon bufou, passando as mãos sobre os cabelos levemente úmidos. Ada estava novamente irritada e algo o dizia que ela o culparia por aquilo. A vinda de Claire estava tornando seus dias uma verdadeira tormenta.

Claire não entendeu a irritabilidade repentina da mulher e olhava para Leon, confusa com os braços cruzados. Sem ao menos se importar com o estado da mulher, voltou para a cozinha, a fim de terminar sua tarefa. Leon foi até ela irritado e ao parar perto da Claire ainda pensando em como colocar para fora a ira que sentia por dentro, a fitava com raiva.

— O que foi? Agora ela é de porcelana. Não pode ouvir ao menos a realidade dos fatos? – Claire jogou o pano que estava em mãos sobre a mesa e prendeu as mãos na cintura.

— Você nem ouviu ela, ouviu? Não sabia o que ela veio te falar. Por que você provoca tanto a Ada? É realmente isso... Você a tem como uma rival?

— Claro que sim Leon. Eu cheguei primeiro! Você sempre soube que eu gostava de você, por que ficou com ela? Não só ficou com ela, como está morando com ela. O que espera que eu diga pra vocês? Que eu estou feliz por você estar com ela quando falta quase três meses para eu fazer dezoito anos?

— E o que a sua idade tem a ver com essa história? – Leon gesticulou confuso.

— Deixa pra lá... Não vai mais dar certo. Ela ganhou. Você gosta dela e não há nada que eu faça pra separar vocês. Eu só não queria gostar de você. Todas as pessoas que eu gosto me decepcionam tanto.

Leon sentiu uma pequena compaixão daquela menina confusa. Ele sabia que pelo tom de voz, ela queria muito chorar, mas ela aguentou firme. Ela apenas esperava ele comentar alguma coisa.

— Acho que você deve ir embora Claire. Você só vai se complicar mais e se aborrecer mais se continuar por aqui.

— Eu não posso ir embora sem ver o meu irmão. – Ela devolveu grossa depois de ter ouvido o que chamou de descaso da parte de Leon.

— Então, acho melhor ir ensaiando o pedido de desculpas para Ada. – Leon passou uma mão sobre o rosto.

— Que lindo, agora vou ter que me humilhar mais uma vez? Vou ter que perder mais uma vez pra essa mulher?

— Ada perdeu uma irmã ainda criança. – Ele soltou hesitante. – Ela está desaparecida até hoje e a Ada se culpa por isso. Você tocou na ferida mais profunda dela, Claire. Ela não fala com os pais porque eles de alguma forma a culpam por isso. Você ainda tem seu irmão, já ela, ninguém. Ada não tem ninguém se não tiver a mim. Por isso eu não posso perder ela... Entende agora?

Claire levou um choque emocional e ficou paralisada por alguns segundos. Se lembrou das palavras que disse sem saber e levou as mãos aos lábios assustada consigo mesma. Mas aquilo foi o suficiente para ela ter que deixar uma lágrima cair. Leon observava a reação de Claire e não esperou que ela se arrependesse tanto.

— Desculpa Leon. Eu juro que eu não sabia...

— Eu sei Claire. – Ele se aproximou secando uma gota com o polegar. Ele sabia que Claire era capaz de tudo, menos de tocar em uma ferida.

— Eu vou pedir desculpas para ela de verdade. Eu só quero uma segunda chance. Eu não quero voltar para casa sem ver meu irmão. – Claire usou um tom desesperador, sempre acompanhado de um sorriso forçado e isso veio como um peso para as mãos de Leon.

— Não sou mais eu que decido isso Claire.

— - -

Naquela tarde Chris e Owen brincavam na neve no quintal lateral de sua casa enquanto Jill os observava da janela de seu quarto. O rapaz sorria e fazia dancinhas estranhas enquanto se esquivava das bolas de neve que o garoto jogava e em seguida o acertava em cheio, fazendo com que o magrelo caísse pela força.

Nos últimos dois dias o rebelde Redfield havia surpreendido Jill de uma maneira que ela mal podia descrever, havia desistido de sua vingança e se entregado aquelas pessoas que mal conhecia. A musicista conviveu tempo suficiente com Chris para notar que nem só de encenação foram feitos aqueles dias.

Com um sorriso bobo ela fitou o anel que havia ganhado pela manhã por mais que fosse um anel que ela já tivesse usado há muito tempo. Mas mesmo sendo uma falsa fantasia, ela adorou a maneira como foi presenteada. De repente se lembrou de que ainda não havia entregado o seu presente, então pegou algo em seu armário e seguiu de encontro aos rapazes com o objeto por dentro do suéter.

— Chris! Vejo que gostou do suéter. – Jill caminhava com os braços para trás.

— Faço minha as suas palavras. E como está o nosso bebê? – Chris sorriu ofegante, notando que ela também usava o suéter e que tinha algo dentro dele. Ela apenas revirou os olhos. – E então... Veio se juntar a nós? Owen virou o jogo e está vencendo de 24 x 12. Acho que fiquei fora de forma depois do delicioso bolo da tia Anne.

— Admita Chris, você já está velho. – Owen provocou.

— Sabia que o Chris foi um dos melhores jogadores de futebol americano da Califórnia? Ele foi o capitão do time do ensino médio Owen. Até outro dia seu arremesso não passava de 1,50 cm, então acho que deve rever seus conceitos garoto. – Jill piscou para o primo que logo se mostrou constrangido.

— A-acho que ouvi minha mãe me chamar. – Owen seguiu para dentro da casa.

— Pegou pesado com o garoto. Está com ciúmes dele também? – Chris brincou.

— Com esse seu talento de Don Juan quem sabe... – Ambos riram. – Quer caminhar?

— Claro.

Chris e Jill caminharam pela cidade até uma praça deserta. Eles conversavam sobre várias coisas e até mesmo faziam comentários engraçados de pessoas que encontraram pelo trajeto. Cansada de andar, a garota se sentou em um balanço e logo Chris a acompanhou.

— Caramba! Isso aqui está um gelo.

— Não seja tão exagerado Redfield, você estava rolando na neve agora a pouco. – Jill comentou sorrindo.

De tudo o que estava acontecendo ao redor, ela simplesmente pode notar que desde que tinha tudo dado certo com a mentira de ambos, as coisas tinham ficado estranhas entre eles. Algumas palavras surtiram certo efeito. Assim como alguns olhares. E tudo iria ficar mais estranho com o que ela faria naquele momento.

— Chris... Eu queria muito te agradecer.

— Pelo o quê? – O rapaz cruzou os braços, curioso.

— Por ter feito do nosso natal um momento especial… Até mesmo quando eu pensei que estragaria tudo, você me mostrou que é um verdadeiro maluco e ainda me deixou surpresa. – Jill ergueu a mão e balançou os dedos, mostrando a Chris o anel. – A propósito, onde você conseguiu aquela caixinha?

— Eu tinha comprado outro. Esse aí foi na emergência. Eu não fazia ideia de onde havia deixado ele e também como não sei a sua numeração... – Ele tirou do bolso um semelhante aquele que estava no anelar dela. – Foi esse que eu comprei. Pega, vê se serve.

— Tá falando sério? Você comprou um anel para mim? – Ela hesitou por alguns segundos quando ele lhe entregou seu verdadeiro presente. – Mas... desculpa a pergunta, quanto você ganha por mês afinal?

— O salário é bom e ainda uso cartão de crédito. Mas isso não é nada. É apenas um agradecimento por... – Ele olhou para baixo querendo cortar o assunto. – Devia ficar com ele, passei horas na joalheria tentando escolher o que mais combinava com... A sua mão. – Chris sorriu de canto.

— Não é nada disso. Eu adorei o presente, de verdade, é que pensei que…

— Que fazia parte do show, eu sei, mas pode ficar tranquila, esse é por conta da casa.

— Nesse caso, obrigada novamente. – Ela colocou o anel em si mesma e sorriu quando o mesmo coube perfeitamente para seu espanto. – Ah, eu também tenho algo para você. Com toda aquela euforia acabei me esquecendo de lhe entregar. Quer saber qual é o meu bebê? – Jill passou as mãos na marca de onde ela tinha colocado o presente dele e ele riu sem graça. Logo ela retirou da uma bola de futebol americano.

— Uma bola? Sério? Tem um monte dessas na nossa estante. Não quer mais tempo para escolher algo mais especial? – Chris arremessou a bola para cima e então logo notou algo que o deixou boquiaberto. – Esta é... Esta é a bola original autografada pelo Steve Young da temporada de 1999 dos Niners? Valentine onde conseguiu? Vários colecionadores procuram por essa bola, dispostos a pagar em uma fortuna por ela! – Chris girava a bola sem acreditar no que estava em suas mãos.

— Acredite ou não, meu pai era fã dos San Francisco 49ers... – Ela disse orgulhosa. – Ontem ele me deu esta bola para que eu te desse de presente, já que com o passar dos anos ele passou a admirar o Maryland Terrapins e... Meu avô era californiano, maior influência ao papai... Acho que o vovô adoraria conhecer você também... Tanto você quanto o bajulador que é o meu suposto namorado. – A garota observava a surpresa nos olhos do outro. – É Chris, você conseguiu. Dick Valentine também caiu nos seus encantos. – Sorriu.

— Também? – Chris franziu o cenho intrigado.

— S-sim… V-você conseguiu conquistar toda a minha família afinal... – O rosto de Jill ficou ainda mais rosado do que o frio havia causado. Ela fitou o chão na tentativa falha de esconder seu rosto. – Quem não gosta de você aqui?

Chris se levantou e parou de frente a ela, tocando o queixo da garota a fazendo encará-lo.

— Espero que esse cara que conquistou sua família tenha deixado pelo menos um pouquinho dele em você, afinal o Chris do restaurante deixou uma péssima impressão. – Chris segurou as mãos em ambas as correntes ao redor dela, com o rosto inclinado em sua direção. Os dois permaneciam com seus olhares risonhos e conectados.

— Bem, aquele Chris é real. Ele é um inferno em pessoa. Moro com ele em Chicago há meses. – Ela lhe arrancou um sorriso constrangedor. – Como vou saber se ter esse Chris em mim não irá me magoar futuramente? – O coração de Jill palpitava tão rápido que quase lhe roubava o ar. Ela queria parar, queria ir embora, mas algo que ainda desconhecia a prendia frente aquelas orbes castanhas.

— Ele não vai… – A sensação que novamente tomava o peito de Chris era inebriante, ele se sentia leve como há muito tempo não se sentia, mesmo com seus batimentos cardíacos palpitantes.

— Jill Valentine? – Uma voz interrompeu aquele momento. Barbara StJames passeava com o namorado naquele momento pela pracinha onde eles estavam. Ambos se esforçaram para olhar quem tinha chamado ela, afastando-se um do outro. – Ah meu Deus, não acredito! Jillian “Problemática” Valentine outra vez em nossa humilde Frederick? Quanto tempo Jill! – Chris se desviou do caminho para Jill caminhar em direção à ex colega de turma e lhe deu um abraço. Infelizmente seu rosto não estava tão alegre quanto se esforçava para estar. Chris notou isso ao cumprimentar o namorado da moça. Quando Jill percebeu quem ele era se espantou.

— Dan Manning? É você? – Ela tentou esconder o espanto com um simpático sorriso para o rapaz ao apertar as mãos agora fortes dele. A última imagem que tinha de Dan era que ele era um magricelo alto com cabelos até os ombros que vivia jogando basquete o tempo inteiro no ginásio da escola. Agora seu porte atlético, robusto e os cabelos cortados em forma militar pareciam ter dado um beleza especial a ele. Ele era um dos rapazes que nunca teria chance com Barbara na escola. Ela ficava apenas com caras populares e investia todo seu charme para Carlos de quem tanto Jill era apaixonada secretamente desde o primário.

— Estou um pouco diferente, não? – Ele sorriu descontraído.

—Sim, agora ele é militar... Fuzileiro naval. Viemos passar o feriado de fim de ano juntos por aqui na nossa cidade. Eu estou morando em Baltimore agora, fazendo faculdade por lá. – Barbara fez questão de abordar e Jill assentia em direção a ruiva. – E você, ainda tocando em bares?

— Não, eu estou em Chicago apenas estudando música mesmo. Costumo fazer uns acústicos de vez em quando em um restaurante bastante popular. Devia ir me visitar quando der. – Jill forçou simpatia.

— Mas é claro que vou... Você sempre foi uma grande amiga. Quer dizer, não nos últimos anos quando começou a andar com a chinesa ou coincidentemente quando eu fiquei com o cara que você gostava... Você não sabe como eu me arrependo de ter sido assim. Não sou mais fútil como nos anos anteriores e eu sinto profundamente por ter estragado a nossa amizade.

— Ah, que bom. E na verdade aquilo foi só um beijo, que você roubou. – Jill sorriu. – E não, não foi esse o motivo, mas me afastei então também tenho minha parcela de culpa. Nunca conseguiria ser como você e as suas amigas... Eu roia unha, sabe... – Jill mentiu, mas notou que a atenção de Barbara continuava no rapaz atrás dela. Ela não queria mentir sobre aquele relacionamento falso com Chris novamente por mais que isso fosse um grande desejo dela. O que estava acontecendo com ela? Estava gostando daquilo, ela pensou.

— Tô notando que você está olhando muito para mim, então posso concluir que você quer que eu me apresente, não é? – Chris interrompeu aquele momento abraçando Jill por trás. – Chris Redfield, californiano morando em Chicago e namorido da Jill, encantado.

— Ah, que interessante a Jill com um namorado. Nunca imaginei que isso aconteceria...

— Que aconteceria algum dia não é? O discurso de sempre... Ah, qual é? Aposto que você era aquela amiga que só se aproximava para tirar proveito e beijar o garoto que ela gostava? Que golpe baixo.

— Que língua afiada Sr. Redfield. Não sabia que tinha encontrado logo um mal educado, Jill geralmente você gostava de bater nesses tipinhos.

— Barbie, para com isso. – Dan segurou o pulso da namorada. – Acho que vamos dar uma caminhada. Foi um prazer... Ver vocês. Até algum dia. – Abraçou a ruiva pela lateral e continuou andando por onde passavam. Barbara jogou um olhar gelado para Chris ao olhar para trás e ele lhe mostrou o dedo médio sendo interrompido por Jill que abaixou a mão dele imediatamente tentando não rir da situação.

— Eu... – Ela apertou os lábios enquanto o casal se afastava. – Eu amei isso. Não ficou com medo daquele gigante de bater?

— Ele sabe que ela está errada. E ainda é mentirosa, disse que tinha mudado com aquela hostilidade ainda presente... – Ele voltou a ficar ao lado dela enquanto eles andavam na direção oposta do casal de minutos atrás.

— Quando eu a vi pensei imediatamente que você daria um jeito ninja de tentar cantar ela mesmo com o namorado presente. Ela não é seu tipo?

— Provavelmente não. Ela é a cara da minha irmã. Sem a hostilidade é claro... Ou pelo menos não nesse nível.

— Me pergunto se ela é como você?

— Como assim? – O mais velho a fitou.

— Deixa eu ver... Torra qualquer paciência, é mentirosa, gosta de vários rapazes, é desbocada...

— Eu ficaria com a paciência e a desbocada. Ela não gosta de mentir, geralmente é sincera até demais. E sobre vários rapazes, bem eu sai de casa antes de ela entrar nessa fase, mas eu sei que ela sabe escolher muito bem um rapaz. O problema é que quando ela encontra alguém assim, não desgruda até conseguir o que quer. Sabe o Leon? Ela está esperando fazer dezoito anos para namorar ele, acredita nisso? Como se eu fosse deixar isso acontecer...

— O Leon? Mas o Leon é quase casado agora. – Jill se divertia com o assunto.

— Pois é, não deu tempo para ela. E por isso mesmo ela não pode nem mesmo mais me fazer uma visita. Ela surtaria se soubesse que ele nem está mais morando comigo. Desde que o Leon começou a sair com a Ada, eu falo com ela pela internet, mas nunca, nunca eu deixaria ela ir à Chicago. Ela iria me xingar e me dizer que eu fui o culpado de ela não ter ficado com o Leon a tempo, além de arrumar problemas com a Ada. E o pior que não é um capricho, ela é mesmo apaixonada por ele...

— Isso é um problema. Você não quer falar com ela hoje? É natal... Ela pode estar esperando uma ligação sua. – Jill tirou seu celular do bolso.

— Eu não sei... Eu sou bastante diferente de você com esses troços familiares. A gente sempre liga no dia ou na semana seguinte porque não ligamos para datas... Ou aniversários. Não temos tanto vínculo. Não nos importamos muito.

— Mas eu sei que você quer ligar para Claire. Talvez você não tenha tanto vínculo com seus pais, mas com ela é diferente porque acho que ela te considera muito. Eu reparei que ela é a única que liga para você.

Ele tomou o telefone da mão dela hesitante. Olhou ao redor e olhou para a tela e antes que seus dedos discassem o número ele continuou olhando para a tela.

— Olha, eu vou te esperar naquele trailer ali e você vai ter mais privacidade para falar com ela, tudo bem? – Ela tentou caminhar mas ele segurou o pulso dela, fazendo com que ela se voltasse para sua frente.

— Então vamos, lá dentro a gente liga pra ela. – Ele desceu a mão do pulso para a mão dela e entrelaçou seus dedos sem ao menos lhe dar uma explicação pela nova atitude e caminhou como se não se importasse com mais nada. Ela pensou em evitar aquele tipo de aproximação, mas notou que a mão dele estava suada. Ele poderia estar nervoso devido a situação da irmã. Deixou os pensamentos de lado entrou no trailer e fizeram seus pedidos.

— Qualquer coisa quente para beber. – Ambos disseram uníssonos para a garçonete e se entreolharam divertidos ao pegarem cada um o seu latte. Logo se sentaram e Chris teclou os números e colocou a chamada no viva voz, para espanto da moça.

— Não precisa fazer isso... – Jill exclamou pedindo com as mãos para ele parar.

— Para de graça. Ela vai gostar de saber que eu tô namorando mesmo que isso seja uma farsa. Ela vivia enchendo meu saco pra encontrar alguém. – Chris se divertia com aquilo enquanto o telefone chamava. Jill sorriu sem graça, mas iria retribuir o favor a ele. – Eu quero ouvir a reação dela sobre isso.

— Alô. – Uma voz entristecida atendeu ao telefone.

— Claire... Feliz Natal! Tudo bem com você? – Passou tranquilidade no olhar para Jill apesar de ambos pressentirem que havia algo errado.

— Feliz Natal? Pouco provável... Eu estou bem como sempre. E abandonada como sempre. Mas e você, como está ai na casa da sua amiguinha, pagando a estadia chamando ela de carinho pra ficar transando com ela? Quando vai trocar a figurinha, hm Chris? Amanhã? Ou quando acabar a vida boa de Aspen?

— Claire, do que você está falando? – Chris disse sem graça desviando-se dos olhares abismados de Jill. – Onde você está? Tenho boas noticias...

— Ah, deixa eu adivinhar! Você a engravidou? Perfeito, vai ser ótimo para a criança ter avós como nossos pais! – Claire o interrompeu com arrogância.

— Claire! Para, porra... Se não quiser falar comigo é só desligar o telefone. – Chris gritou ao telefone e esperou uma resposta. – Aconteceu alguma coisa com você? – Ele brandou quando Jill fazia sinais para ele não agir daquela forma.

— Quando você volta? – Claire disse com um tom baixo quase choroso.

— O que você está fazendo em Chicago? – Chris replicou vagarosamente passando uma mão no rosto ao ver um rosto desanimado de Jill a sua frente ao assoprar o latte, já encostada na poltrona e olhando para fora da janela.

— Eu... terminei com meu namorado e a casa dele era onde eu iria passar o natal. E não tenho mais lugar para ficar já que... Eu decidi sair da casa do Leon porque eu causei problemas com a namorada fresca dele. – Jill olhou assustada para Chris que olhava irado para o telefone. — Não foi nada, eu apenas disse alguma coisa sobre não ter irmãos que ela se trancou no quarto e falou para o Leon que só iria sair dele caso eu fosse embora.

— E onde você está? – Chris perguntou preocupado.

— No aeroporto... Leon está na fila pra comprar minha passagem. Mas eu não quero ir embora Chris, eu quero ver você primeiro! E não me diga que depois irá me visitar, por que eu sei que não vai. Você sabe que se eu for embora vou ter que ficar com a mamãe e não vou mais poder voltar para te ver! Ela não vai deixar... – Chris ouviu a moça se desesperando e soluçando e a interrompe.

Passa o telefone para o Leon. — Chris esperou impaciente observando que Jill tinha ficado pensativa desde que soube que Ada não estava bem.

Chris? Você não atende mais seu telefone? – Leon questionou do outro lado irritado.

— Meu celular quebrou aqui em... – Ele olhou para Jill que apenas retribuiu o olhar negando com a cabeça ainda desanimada. – Aspen. Eu sei que a Claire deve ter te dado dor de cabeça, mas por favor, cancela essa passagem. Deixa ela ficar ai... tem uma chave que sempre fica na parte de cima do umbral do meu apartamento. Deixa ela ficar lá, diga a Ada que eu peço desculpas independente do que a Claire fez.

— Ah, Chris! Já passei muita dor de cabeça com elas. Não dá para escolher entre uma e outra. Se eu voltar naquele prédio com a Claire, a Ada... Vamos brigar feio. E as coisas aqui não estão nada boas principalmente porque eu tive que trazer ela no aeroporto. Desculpa meu amigo, mas a Claire precisa ir.

— Não faz isso Leon. Deixe apenas ela trancada no meu apartamento e ela está proibida de sair de lá até eu chegar. Se for possível a tranque lá dentro, mas não deixa ela ir embora. – Chris sentiu Leon hesitante. – Eu vou comprar uma passagem aqui e eu já vou voltar imediatamente. Enquanto isso tranca ela lá no meu apartamento e não deixe ela sair em momento algum.

— Olha Chris... eu vou cancelar a passagem. Mas essa é a última coisa que eu faço por você. Eu juro que eu já estou cansado de você sempre me prejudicar de alguma forma. A Ada está a um segundo de saber quem você é de verdade e a culpa é toda sua. Claire está assim agora porque você não se importou ao menos em dizer a ela que não estaria em casa no natal e muito menos se importou de ligar para ela o dia inteiro para lhe desejar feliz natal sabendo o quanto ela liga para essas coisas. No fundo, ela pegou toda a indignação e jogou para cima da Ada que não sai do quarto há horas.

— Tá eu sei que errei, mas você sabe muito bem que seja lá o que a Claire tenha feito não foi apenas por minha culpa ou você acha que eu tenho o controle dos sentimentos dela? – Chris retrucou irritado, porém evitando demonstrar pois isso só iria piorar as coisas.

Eu não vou discutir esse assunto novamente com você. Apenas esteja aqui o mais rápido possível. — Leon encerrou sua fala e ele o ouviu chamando Claire para lhe devolver o telefone.

Chris... Me desculpa por isso tá? – Ele ouviu a voz embargada da moça que parecia arrependida.

— Apenas, não faça mais besteira. E peça desculpas a Ada até ela aceitar. – Ordenou friamente.

— Eu já implorei isso a ela, mas ela não responde nada. Quando você chegar as coisas vão melhorar, eu prometo.

— Acho bom mesmo. E não quero que entre no quarto da Jill nem mexa nas coisas dela, entendeu?

— Que Jill? – Chris cortou a conversa desligando a chamada. Tomou o latte não mais quente como antes e então devolveu o celular para a moça a sua frente.

Jill apenas observava tudo com pensamentos em sua mente. No fundo ela se lembrou de quem Chris era de verdade então achou que as pequenas coisas que tinham melhorado nele apenas eram superficiais. Se sentia levemente enganada por ele e isso a frustrou um pouco. Sua mente estava uma confusão e ela ensaiava algumas palavras para dizer a ele, mesmo sabendo que o irritaria também.

— Eu... sinto muito por isso. Mas eu gostaria que você não dissesse nada para eles que você está aqui em Frederick. – Ela disse forçadamente e ele a encarou assustado. – Não é nada pessoal... Eu só não gostaria que eles acabassem pensando que a gente...

— Que se dane. – Ele bufou. – Já falei que estava em Aspen mesmo. Mentir é muito fácil pra mim, não é?

Ela não conseguiu responde-lo e já se arrependia por ter dito aquilo naquele momento tenso.

— Melhor voltarmos. Se não papai vai acabar tomando essa bola de você. – Ela brincou para descontrair, mas ele apenas deu de ombros e se levantou para pagar a bebida.

Jill sabia que ele estava mal então não forçou a barra. Se lamentou por tudo ter ido tão bem mas por aquilo ter acontecido. Tomou a bola que ele tanto estimava e foi até ele.

Eles deixaram o pequeno estabelecimento e ela notou que ele andava em direção à casa alguns passos a frente que ela.

— Chris se importa se eu ligar para a Ada? Estou preocupada e eles não sabem que eu ouvi tudo.

— Nunca me importaria. Pode ligar, ela é sua amiga. E eu também estou preocupado com ela.

— Pode andar um pouco mais devagar... – Ele desacelerou os passos gradativamente e se juntou a ela. Ela esperou Ada atender o telefone. – Ada... como está?

— Tá tudo bem... – A voz de pesada de Ada a preocupou. – Eu só... Eu preciso te contar o que está acontecendo... – Ada acabou explicando tudo que tinha acontecido e com isso, Jill colocou o telefone no viva voz para que Chris escutasse também. – ... enfim, agora o Leon acabou de me ligar me explicando que o Chris pediu para que ela ficasse no apartamento de vocês e eu achei que era o melhor. E agora que eu estou mais calma eu acho que... eu devia pedir desculpas para ela também. Ela não fazia ideia de como aquele assunto ainda é muito delicado para mim. Eu também duvidei dela por ciúmes, mas no fundo eu sei que ela só quer chamar a atenção. Ela é tão problemática, tão diferente do Chris. Tenho certeza que ela deve ter algum problema familiar porque por um momento, eu me vi nela aos dezessete anos.

— Entendo. – Jill olhou para Chris ao seu lado que apenas caminhava procurando se distrair com as mãos no bolso. Mal sabia que aquilo tudo estava fazendo uma bagunça na mente dele. – Então vai ficar tudo bem entre você e Leon?

Claro que vai... Ele é a última pessoa que eu quero que fique mal com tudo isso. Ele está assumindo a culpa de tudo mas eu vou me desculpar com ele também. E no meio desse problema todo eu acabei pintando uma tela nova enquanto estava trancada. Se chama Natal. Através dessa tela eu pude ver que no fundo, todos nós temos que estar com as pessoas que amamos, por mais complicado que isso seja. Quando você chegar eu te mostro.

— Já estou ansiosa. Manda um abraço para o Leon.

— E você para toda a sua família. Ah, Jill... O Leon acabou de chegar, nos falamos depois ok?

Jill desligou a chamada e olhou para Chris. Não sabia o que dizer para ele por saber que no fundo, Chris era tão problemático quanto a irmã e associou isso à família dele. E por mais estranho que fosse, ele tinha se apegado a família dela como se fosse a sua. Ter dito a ele que ela não gostaria que ele compartilhasse que estava vivendo algo diferente e inédito com sua família foi uma decisão egoísta da parte dela, por estar magoada com quem ele era. E no fundo sentiu uma vontade imensa de voltar atrás. Quando pensou em dizer algo, ele a interrompeu.

— Sabe a Ada não está errada. Eu tinha que estar com a minha irmã hoje. Ela é a única família que eu tenho e se ela estivesse aqui, não ficaria tão solitária... como costumamos ser.

— Eu sei... – Jill comentou brincando com a bola em mãos para se distrair. – Você vai embora mesmo?

— Acho que sim. Eu preciso ir mais cedo que o esperado por causa dela. Não queria porque eu gosto de estar aqui, mas é necessário.

— Claro... E eu não posso te impedir, não é? – Ela disse com melancolia.

Chris olhou para ela e notou que ela tinha ficado chateada por aquilo e não conseguiu responder nada. Ela apressou os passos quando avistou sua casa e entrou sozinha, deixando-o para trás.

Ele se lamentou sabendo que não seria bom ir embora naquele momento. Mas havia três pessoas dependendo da decisão que ele teria de tomar. Precisava colocar a cabeça em ordem e não conseguiria encarar a família de Jill por aquele momento. Então ele passou da casa e continuou andando, tentando arrumar um jeito de não magoar ninguém. E ele sabia que iria encontrar um jeito de fazer isso. Afinal, ele sempre dava um jeito em tudo.