Claire acordou mais aliviada pela manhã, depois de passar uma noite sozinha, trancada no apartamento do irmão. O dia anterior tinha sido pesado demais para a moça e assim que se estabeleceu no local, adormeceu e descansou. Sua mente ainda estava confusa sobre tudo que ocorreu nos últimos dias. Tentava encontrar motivos que a culpasse por estar solitária naquele apartamento, mas tudo se voltava a Ada e Leon.

Levantou-se da cama de Chris e caminhou pela casa para verifica-la com mais atenção, se deparando com um segundo quarto: o quarto que outrora pertencia a Leon. Imediatamente, ela se lembrou de um nome de que seu irmão tinha feito questão de abordar: Jill.

Ela tocou na maçaneta, se perguntando se seria uma boa ideia adentrar ali dentro, depois de Chris ter lhe ordenado o contrário e também depois de um grande prejuízo que ela havia dado. Recuou pensativa e decidiu ser obediente, tomando outro rumo.

Depois de bem desperta, já comendo cereal em frente a TV, ela observava que no fundo aquela casa já tinha um aspecto feminino presente. A arrumação, a nova mobília e até mesmo a tigela em que comia onde estava escrito “lembrança de Maryland”. Tomou seu celular e observou que o DDD do número que seu irmão tinha lhe contatado era exatamente o número de Maryland. Aquilo foi o estopim para que a mente da garota ficasse atônita. Chris estava morando com uma namorada em quartos separados? Não, aquilo não faria sentido.

A ruiva pensou duas vezes antes de apertar o botão de chamada para ver se aquela moça era a Jill que ela tinha em mente. De uma coisa ela tinha certeza: ele não estava em Aspen. Então a curiosidade fez com que Claire se levantasse do sofá e fosse em direção ao quarto da moça. Quando adentrou nele, encontrou um quarto feminino com um aspecto musical. Os instrumentos em seus cases e vários papéis de partitura em uma pasta imensa foi o que mais chamou a atenção da jovem. Logo, ela encontrou alguns porta-retratos e então pode imaginar quem seria a tal Jill.

Observava a imagem da outra com um sorriso. Jill era bonita, muito bonita. De repente Claire se deu conta de mais uma frustração: Chris estava mentindo para ela, não havia Aspen ou Jéssica, morava com uma garota e não foi capaz de compartilhar isso com sua irmã, assim como Leon e Ada também silenciaram o assunto. Ela jogou o porta retrato sobre o criado mudo e abandonou o cômodo, seguia rápido para sala quando notou a presença de Ada, de pé próximo a porta com uma vasilha em mãos.

— Achei que podias está com fome — Ada iniciou com um leve sorriso, ergueu a vasilha para entregar a outra.

— Obrigado — Claire pegou o alimento e o colocou na mesa de centro fazendo pouco caso. — Enquanto houver cereal, cheetos e leite de soja eu ficarei bem. — Ela fitou a morena como se esperasse por algo.

— Bem, se precisar de algo, por favor, me ligue nesse número. — Ada entregou a ela um cartão. — Chego às 16hs, talvez possamos… sei lá, começar de novo… — A mais velha se esforçava para acabar com aquele conflito, mesmo notando o semblante da garota.

— Olha Ada, fico feliz por você ter aceitado minhas desculpas, eu não sabia da sua irmã e todas essas coisas, mas não precisa vir aqui e fingir que tudo não passou de um sonho ruim tá legal? — Claire jogou-se confortavelmente em uma poltrona. Ada respirou fundo e se sentou em outra poltrona frente a ruiva.

— Está certo. Você não gosta de mim, eu não preciso gostar de você, mas nós duas temos algo incomum e o comportamento que estamos tendo está acabando com ele. Leon não está contente com esse resultado, ele se importa com a gente e optar por uma ou pela outra é algo impossível para ele. Se você realmente ama o Leon como eu amo, vamos parar com isso, você precisa entender que ele me escolheu como mulher, assim como eu entendi que há muito tempo você faz parte da vida dele. — Claire se recusava a fitar a outra, seu rosto apenas ficava vermelho. Ada não sabia se a menina tentava segurar a raiva ou as lágrimas, mas se sentia bem em ter tido aquele monólogo. — Pense um pouco sobre isso… — Ela se levantou e seguiu para a porta, dando aquela conversa por encerrada no momento.

Quando ela fechou a porta, Claire se levantou e jogou sobre a porta um dos troféus de Chris, o quebrando.

— Eu odeio você! Odeio o Leon, o Chris e essa tal de Jill! Odeio todos vocês!


Retornou ao quarto do irmão onde estavam suas coisas e as arrumou com raiva. Deixaria aquela casa imediatamente, já que se aborrecera com a atitude do irmão. Ela não conseguia acreditar na ideia do abandono por parte dele e todas as coisas aos quais estava passando, e por isso ao arrumar sua mochila colocando apenas roupas e deixou o apartamento em seguida, deixando para trás sua carteira com documentos e celular.

Enquanto descia as escadas, avistou Leon e Ada um pouco mais a frente, provavelmente indo em direção ao trabalho e se escondeu deles. Assim que eles sumiram de sua vista, ela deixou o prédio, tomando a direção oposta de ambos e caminhando sem rumo até tomar o máximo de distância daquele lugar.

A neve caia sobre a cidade junto a um vento gélido, pessoas caminhavam apressadas, todas trajadas com roupas quentes, toucas e cachecóis, excerto alguns moradores de rua, que mesmo com roupas de frio não eram adequadas para aquele momento. Claire retirou o casaco vermelho que vestia e deu a uma pedinte que tremia de frio pelos cantos. A mulher agradeceu e logo a ruiva continuou a caminhar de braços cruzados, agora que estava com menos trajes de inverno.

Claire mostrava um semblante abatido, sabia que estava novamente cometendo um erro, mas não conseguiria ficar, não depois de concluir que não havia mais espaço para ela na vida dos homens mais importantes de sua vida. Leon a trocou sem qualquer remorso, e Chris já não mantinha o pacto de lealdade que fez com a pequena irmã há anos. Ela se lembrou de Steve e por um segundo desejou que ele estivesse ali, mas logo o som da voz do garoto terminando o relacionamento com ela em sua mente, a fez querer distância.

A ruiva já estava cansada de caminhar. Porém não queria parar, não queria desistir do seu destino, mesmo que não tivesse nenhum em mente. De repente olhou para o lado e viu a extensão de um muro coberto com bastantes folhagens e um portão velho e trancado. Ela espiou o local pela grade vendo. Apenas árvores e plantas secas, repletas de neve. Decidiu explorar a propriedade privada, e como o portão estava trancado e havia muito movimento na rua, a ruiva continuou sua caminhada a beira do muro, esperando o melhor momento para escala-lo.

— - -

Quando Chris retornou depois de sua caminhada pensativa na noite anterior, se deparou com os familiares se despedindo de Jill e sua família. Chegou a tempo, para alívio da moça que já estava muito preocupada com ele. Como todas as reuniões de família, eles se posicionaram para uma foto. Chris preferiu ser o fotografo dessa vez, já que não queria se intrometer naquela família daquela forma, ainda preocupado com a reação de Jill ao saber que também teria que partir mais cedo do que o previsto. Mesmo assim, os primos de Jill conseguiram prender a câmera em um lugar plano da estante e então programaram alguns segundos para que todos os presentes saíssem na foto. Mas ele só encontrou confiança suficiente ao olhar para Jill e notar que ela o convidava a se juntar à família. Então ele foi para o lado dela, um pouco acanhado. Toda a confiança que ele sempre teve parecia tê-lo abandonado e por um momento, ele não sabia o que fazer para que aquele sorriso amarelo sumisse de seu rosto. Jill se aproximou, tomando seu braço e escorando a cabeça próxima a seu ombro. Para ela, era como se pudesse o prender mais tempo naquela casa, naquele momento em que ela sabia que o agradava e que o ajudava. Onde ele se sentia em casa.

Aquele gesto foi o suficiente para Chris abandonar a viagem por mais um dia. Mudaria a passagem de volta da manhã seguinte para a noite. Passaria mais um dia com ela e talvez aproveitasse mais se sentindo em casa. Ele sabia que Claire relevaria mais um dia, como sempre relevou bem as peripécias dele, e dessa vez era por um bom motivo.

Antes de se dirigir ao quarto, depois de trocar algumas ideias com Dick, algo bastante cordial, ele chamou Jill para uma conversa em particular, explicando rapidamente sobre seu retorno e o que mais ele poderia fazer como um genro, para deixar ao menos uma boa impressão na família que tinha adotado para não prejudicá-la. Jill entendeu perfeitamente e disse que ele poderia ir sem problemas, como se no fundo não quisesse dizer que sentiria sua falta por ali.

Ambos foram para seus quartos e adormeceram. Já no dia seguinte Jill explicou a sua mãe e a sua irmã que ele precisaria ir embora antes do previsto a fim de resolver uns problemas familiares que surgiram de última hora. Quando perguntou sobre onde ele poderia estar, já que tinha reparado a sua ausência na casa, a mãe disse que estava ajudando o pai dela na loja.

Se trocou rapidamente e desceu até a loja encontrando seu pai no caixa. Quando perguntou sobre Chris, seu pai lhe contou que ele tinha saído para resolver algumas pendências que eram dele, já que tinha se oferecido para ajudar. Sem ter como contatá-lo, permaneceu ali ajudando a irmã dela que já estava organizando tudo ao redor. A preocupação no rosto de Jill era evidente e seu bom humor parecia bastante forçado, já que ela ainda estava pensativa em relação ao que tinha acontecido no dia anterior. Até o momento em que sua irmã notou aquilo.

– Jill, eu sei que as coisas entre vocês não estão nada bem. Mas você pode conversar comigo se quiser.

— Entre eu e o Chris? Não! Está tudo bem. Eu só queria muito conversar com ele agora, mas vou ter que esperar ele aparecer pra isso.

— Por que ele vai embora? É por causa da família dele mesmo ou...

— Ele está com alguns probleminhas e ficar aqui pode atrapalhar ele, sabe? – Jill cortou a irmã sem perceber quando notou que ela parecia bastante interessada em saber se realmente tinha acontecido algo entre eles desagradável.


— Entendo... Mudando de assunto, como é ter um namorado? Eu preciso ouvir isso de você. Como uma irmã mais velha experiente.

— Não tenho muita experiência nisso, acredite. Mas é mais complicado do que eu imaginava.

— Jill, você o ama de verdade? – Rebecca ainda estava duvidosa sobre essa questão. – Desculpe, mas às vezes parece que ele gosta mais de você do que você dele.

— Meus amigos sempre me dizem o contrário. – Ela argumentou mentindo.

— Ah, pode ser apenas o meu ponto de vista. Mas você ainda não respondeu a minha questão.

— É, eu o amo sim, Becca. Ele é uma pessoa boa.

— Imagina um futuro com ele? Tipo, saber que um dia você vai acordar e ele vai ser a primeira pessoa que você vai encontrar no dia e a ultima pessoa que você vai ver todos os dias? – Rebecca dizia animada e Jill se lembrou que no fundo, aquilo era real para eles já que moravam juntos.

— O que é isso? Algum teste de revista? – Jill parecia levemente irritada com os questionamentos.

— Não... Mas se fosse... você já estaria reprovada, não acha?

— Não ligo pra esses clichês. E na verdade, eu queria saber de você... Não tem ninguém por aqui que já encantou o coração da minha irmãzinha?

— Bem... Conheci um cara, o nome dele é Billy, a gente saiu algumas vezes. Cinema, teatro, festivais… mas não sei se ele é o que eu quero para mim, talvez não seja o momento. Se você não sente seu coração falhar a cada instante em que seus olhos se conectam aos de alguém, não é ele, entende? — Rebecca esboçou um leve sorriso.

A resposta da mais nova parecia tão centrada que por um momento Jill se sentiu perdida, já que como mais velha, se encontrava tão confusa. Não sabia o que dizer a irmã em relação ao que ela apresentava porque ainda era muito confusa naquela área e inexperiente. E antes que ela acabasse falando alguma coisa sobre aquilo, Chris apareceu na loja. Como Jill estava de costas para a entrada, não viu que ele estava adentrando, gesticulando para Rebecca que não era para Jill saber que ele já estava ali. Aproximou-se dela em passos leves e tampou seu seus olhos por trás.

— Sentiu minha falta? – Ele brincou com ela, como se tudo o que tivesse acontecido no dia anterior nunca tivesse acontecido. Ela se virou para confusa.

— Achei que já tinha ido embora. – Ela disse levemente chateada usando sua língua afiada para uma pequena ironia interna.

— Não... Não agora. Essa noite eu vou, como eu te disse ontem. – Sorriu.

— Sim, como você me disse. – Ela ironizou sutilmente ainda chateada com a situação, mas dessa vez querendo deixar transparecer.

— Mas eu não queria... Não agora que o velho está quase me chamando de filho. – Ele brincou tirando um riso de Rebecca que já estava triste em saber que o cunhado iria embora.

Jill olhou para trás dele e viu seu pai se aproximando de onde eles estavam.

— Chris... Vou ter que ficar na loja pra atender uns fornecedores. Pode ficar com algumas entregas para mim? Os rapazes já vão abastecer o carro. Serão poucas entregas, filho. – Dick deu dois tapinhas no ombro do mais jovem e a seriedade que mantinha com ele antes já havia desaparecido.

— Claro mestre. – Ele piscou para Jill se exibindo para ela com seu novo apelido. – Senhor Valentine, conceder-me-ia a honra de poder levar sua filha para me ajudar dessa vez? – Chris brincou com o sogro. – Claro, com todo o respeito para com ela.

— Se não demorarem muito... Juízo vocês dois. – Dick fez uma carranca e em seguida atendeu ao telefone. Eles deixaram o estabelecimento e então entraram no carro.

— Então, dormiu bem? – Chris tentou puxar assunto enquanto deixava o local. Ela apenas assentiu. – Eu realmente gostaria de aproveitar um último dia com você.

— Quanta gentileza. – Ela riu sarcástica. – Optou por ficar mais um dia trabalhando para o papai. Você não vai se livrar dele o dia inteiro.

— Não era isso o que eu tinha em mente para agora, mas ele me pediu. Não posso negar nada a ele agora que já estou no lucro. E no fundo, ele é gente boa. Mas já que vou ter que agradar todo mundo, não acha que está na hora de me alugar uma ultima vez pra você? – Ele parou o carro, estacionando na lateral da faixa e desceu do carro indo em direção à porta dela. Abriu a porta com um sorriso maroto. – Pode assumir a direção e me mostrar sua cidade?

— Não gosto de dirigir no frio. E você já conhece toda a cidade. – Ela respondeu indiferente.

— Para de graça. Vamos logo, não podemos demorar, esqueceu? – Ela o obedeceu relutante e assumiu a direção.

— Então, para onde vamos? – Ela começou a dirigir. Ele apenas olhava para a direção dela, como se estivesse avaliando-a como um professor e não notou o que ela tinha perguntado. – Pra onde você quer ir, Chris? – Ela lhe chamou atenção novamente.

— Para o seu lugar favorito. Você que está guiando, você escolhe.

— Eu não tenho um lugar favorito.

— Eu aposto que você tem.

Ela demorou alguns segundos pensando em um e acabou se lembrando da escola, o local mais visitado por ela enquanto morava em Frederick. Quando ela parou em frente à escola, ele começou a gargalhar.

— Seu lugar favorito é a escola? Não é a toa que é uma santinha, Jill.

— Eu saí daqui quando tinha acabado de completar 18 anos. Pra onde mais você acha que eu ia? – A garota revirou os olhos.

— Boates, bares, raves, praia, bosques, acampar, trilhas... Sei lá. – Chris parecia decepcionado com a escolha da jovem, mas não tinha outra opção, pois o próprio havia começado com aquilo.

— Há essa hora? Não confunda os seus 18 anos com os meus. Esse é o meu lugar favorito. Se quiser ir para outro lugar não tem problema. – Ela acelerou o carro para deixar o local e ele puxou o freio de mão imediatamente, fazendo o carro derrapar com a pista escorregadia e consequentemente deixando uma Jill assustada e histérica. – Você enlouqueceu?!

— Não... – Ele soltou um sorriso. – Se é o seu lugar favorito, é para onde vamos. Não seja tão equivocada. – Ele abriu a porta do carro e a deixou para trás enquanto caminhava tranquilamente para dentro da escola. Ela o seguiu e encontrou o portão principal fechado.

— Eles não costumavam fechar nas férias de inverno. Acho que já mudou o sistema por aqui.

— Shhhh! – Chris gesticulou para que ela parasse de falar. – Eu ouço vozes... Daquela direção. –Ambos olharam para onde Chris apontara.

— O ginásio? Eu não ouço nada.

— Isso que dá ouvir musica no último volume no fone de ouvido. Já ouviu falar que isso pode te deixar surda? – Ele a deixou pra trás, já caminhando em direção ao ginásio.

— Você reclama quando eu ouço musica alta lá em casa. – Ela o seguiu.

— Não reclamo. Apenas me deixe dormir até tarde nos fins de semana e eu não te perturbo.

— Você sempre reclama e não é apenas no fim de semana. A não ser que você goste de me pert...

— Eu gosto de te perturbar, garota. – Ele bagunçou o cabelo dela antes de entrar pela porta dos fundos no ginásio. – Está ouvindo a gritaria agora?

Ela revirou os olhos e continuou andando em direção à quadra quando ele parou de andar no meio do corredor, observando um anuário na parede. Ele procurou sua foto encontrando uma moça sorridente, usando aparelho.

— Jillian Cassandra Valentine. Componentes Extracurriculares: Música e teatro. Frase: “Criar uma canção é dar forma a um sentimento”. – Ele fez uma careta ao olhar para a foto de anuário da moça que olhava por trás dele para o quadro. – Que droga de frase é essa?

— É do Eric Clapton. E não é uma droga de frase. É uma frase icônica.

— E esse troço no seu dente? Sujeira?

— Eu era uma criança. Para de encher o saco. Vamos logo pra quadra. – Jill tentou o puxar pelo braço, mas ele relutou assim que viu algo que lhe chamou a atenção.

— Espera, olha quem está aqui... Não é o meu grande rival? – Chris se afastou um pouco e apontou para a foto de Carlos um pouco mais acima e Jill retornou para observar novamente o quadro. – Fala sério, o que esse cara tem de tão especial pra dizer quem que merece você e quem que não merece?

— Do que você está falando? – Jill se lembrou do momento em que estava se despedindo de Carlos. – Você ouviu a conversa? É algum tipo de “stalker” agora é?

— Eu precisava entender que relação maluca é essa a de vocês, tá legal? Não sei por que não estão juntos com todo aquele afeto irritante e pegajoso. – Chris mostrou a língua para ela.

— Você está com ciúmes de alguém que não pertence a você. – Jill se virou para ele e lhe jogou um olhar desafiador.

— Claro que você me pertence. Pelo menos aqui e agora. Como eu também te pertenço. – O rapaz piscou para ela, se divertindo com a expressão séria que ela fazia.

— Isso que estamos vivendo é uma farsa Chris. Lembre-se disso.

— E essa é a pior parte. – Nesse instante o mais velho fitou a garota a seu lado sem mostrar qualquer sinal de que sua afirmação era apenas mais uma de suas brincadeiras desnecessárias.

— Você está tão acostumado a viver na mentira, que é incapaz de entender a realidade. – Jill respondeu de imediato, tentando disfarçar seu nervosismo por ouvir a frase de antes.

— E você? Está tão interagida a realidade, que é incapaz de admitir que a mentira te atrai. – Ele jogou um sorriso maroto para ela, se aproximando da moça com certa segurança.

— O que você está querendo dizer com isso? – Ela se afastou um pouco e encostou as costas contra o anuário.

— O que você acha que eu quero dizer? – Ele olhou fixamente nos olhos dela e prendeu uma das mãos na parede por trás dela.

As mãos de Jill suaram frio, e por um instante sentiu a batida de seu coração falhar e logo desencadear mais uma nova sensação em seu ser. As palavras de Rebecca vieram à tona em sua mente, fazendo-a pensar se estava se apaixonando por aquele maldito mentiroso.


— Jill? – Uma nova voz foi ouvida no fim do corredor. Ela se virou para o lado e se deparou com um garoto familiar e se desviou de Chris, indo em direção ao jovem. Viu ali uma intervenção do destino para aquele pensamento sem nexo algum e a válvula de escape para seja lá o que fosse que o rapaz estivesse pretendendo fazer naquele momento.

— Gregory?! – Ela exclamou espantada se aproximando do garoto. Os olhos arregalados demonstraram certo espanto ao encontrar naquela criança um desenvolvimento com o passar dos anos. – Eu senti tanto a sua falta... E você está cheio de espinhas! — Ela o abraçou apertado.

— Eu sabia que você iria tirar sarro disso! – Ele retribuiu o abraço demorado da moça.

— E você está alto também, está quase do meu tamanho. Estou admirada, nem acredito que eu te preparava leite com chocolate todas as manhãs e ficávamos assistindo desenhos animados. – Ela sorriu nostálgica.

— Jill, você está parecendo àquelas tias inconvenientes. – O garoto admitiu sem graça.

— Ah é mesmo. Desculpa... É bom te ver Greg.

– Eu também sinto sua falta, na realidade, todos aqui sentimos. Cheguei de viagem ontem, fiquei sabendo esta manhã que você estava em Frederick. E trouxe companhia...

O pré-adolescente parou de falar e sorriu sem graça novamente ao olhar para o lado de Jill e encontrar uma pessoa que encarava tudo com um olhar indiferente. Jill notou o desconforto de ambos e decidiu mudar aquilo.

— Esse aqui é o Chris, meu namorado de mentirinha. – Jill expôs de maneira calma e inesperada, enquanto o garoto e o rapaz pareciam perplexos com a revelação. – Chris, esse é Gregory Mitchell... Um irmão de outra mãe que eu arrumei quando fui tentar ser babá. Aliás, como está sua família, Greg?

— E-estão todos bem. – Mitchell fitava o mais velho ainda curioso – Namorado de mentira?

— Haha, não fique tão surpreso, eu disse que um dia faria isso durante uma reunião de família, aliás, funcionou muito bem. – Ela sorriu para ele e ergueu o dedão.

— Tá legal... Oi Chris, prazer em conhecê-lo – Greg ergueu a mão para cumprimentá-lo.

— Fala aí garoto. – Chris retribuiu o cumprimento.

— Mas então Jilly... Prossiga.

Greg começou uma grande leva de questionamentos a cerca de Jill, ansioso para saber tudo sobre a vida fora de Maryland. Os dois nem se deram conta de que iam andando em direção a quadra deixando Chris um pouco excluído. O rapaz não se incomodava com aquilo, seus pensamentos ainda estavam presos em segundos antes da chegada de Greg, se perguntando o porquê de ter feito aquilo com um sorriso forçado no rosto.

— E então é isso e eu estou gostando muito de Chicago. Mas e você? Rebecca me disse que você entrou para o time de futebol americano da escola, não foi?

– Pois é, sinto te decepcionar Jill, mas a vida de estrela da música não é para mim. – O garoto brincou, se recordando que quando mais novo, havia dito a amiga, que seria cantor tanto como ela. Ela sorriu. — Já faço parte do time há algum tempo. É sempre uma bagunça, ficamos eufóricos na ultima temporada, conseguimos uma classificação para os jogos estaduais assim que o período de inverno acabar. Já vamos encarar de cara um jogo muito importante em Baltimore, que conta como eliminatórias do campeonato. O time de lá é assustador, porém temos um excelente treinador. Se tudo der certo seremos convocados aos jogos de outros estados.

Jill não pôde ver, mas Chris que ouvia a conversa logo atrás abriu um leve sorriso ao ver a felicidade de Greg ao falar sobre o futebol. O fez voltar ao passado e por um instante sentir o quão maravilhoso era a ansiedade dos campeonatos escolares.

— Fico feliz por você, vou torcer para que tragam mais um troféu para a nossa escola. – A garota disse sorridente.

— Acabei de chegar então é melhor darmos uma olhada lá dentro. – Greg enfatizava ao abrir a porta que dava para dentro da quadra coberta. Mas em vez de encontrar um time treinando futebol americano, como esperava, se deparou com vários garotos reunidos no centro do local esportivo.

— Greg! Que bom que chegou cara! – Alguns garotos vieram ao encontro do amigo com semblante preocupado.

– E ai gente? Por que não estão treinando? Onde está o treinador Banks?

— Ele largou o time e disse que só vai voltar a nos treinar quando acertarem com ele o que lhe devem. – Respondeu um dos garotos que tinha uma bola em mãos.

— Não brinca! O treinador não faria isso em pleno início de campeonato, faria? – Gregory parecia inconformado com a notícia.

— É um excelente treinador, mas não sabíamos o quanto ele era apegado ao dinheiro. A diretora disse que já vão acertar o que lhe devem e logo no inicio do ano ele já vai estar de volta.

Os meninos continuaram a discussão enquanto Chris e Jill um pouco mais afastados observavam a conversa é a tristeza que todos mostravam com aquele fato.

— Ele não acredita nesses garotos ou simplesmente é um cretino atrás de um aumento de salário. – Chris comentou um tanto áspero.

– Não quer ajudá-los? – Ela expôs sem fita-lo. – Acredito que aquele bando de troféu empoeirado lá em casa mostra que você foi muito bom enquanto jogador.

— Não seria problema, se a Julieta não tivesse encontrado uma rival e o Romeu não estivesse prestes a cometer suicídio por não saber lidar com elas. – Chris deu um leve sorriso de canto.

— Não há outro jeito? – Chris olhou para Jill, um pouco surpreso pela insistência. – Eu sei que é egoísta da minha parte, mas... Não quero que vá.

Naquele instante o rapaz pensou em retrucar com mais uma de suas piadas que a irritaria, mas Jill novamente estava com a expressão de quando soube que ele teria que voltar para Chicago.

— Eu seria egoísta se pedisse para vir comigo? – Jill apenas o encara sem resposta. Então Chris acariciou a bochecha rosada dela – Tá vendo? Quando o assunto é quem amamos, nós dois somos exatamente iguais. Claire pagará muito caro por me tirar de perto de você e da sua família. – Ele sorriu, interrompendo o carinho e olhando no relógio de pulso. – Falando em família precisamos ir. Prometi algo ao senhor Seu Pai que tenho que cumprir. E também tenho que pegar meu celular antes que a loja feche para almoço. Espero que o concerto valha a pena, afinal pelo preço que me cobraram, eu poderia comprar um novo.

— E por que não o fez? Era muito mais simples.

— Tem algo interessante naquele aparelho que por algum motivo não quero perdê-lo. – O sorriso de Chris meio sem graça intrigou Jill.

— Olha, pode ir, ficarei aqui mais um tempo, depois vou para casa andando.

— Tem certeza? – Ele perguntou e ela assentiu com a cabeça. – Tá certo. Diz pro garoto que desejo sorte. Te vejo mais tarde. – Chris piscou para ela e se direcionou a saída, sendo observado pela mesma.

Para ele, saber que Jill o queria por perto, causava-lhe uma sensação confortante e única. E lá no fundo Chris se sentia vitorioso perante a sua disputa imaginaria com Carlos.

— - -

Dick e Joan tinham uma reunião marcada na parte do final da tarde, uma reunião de amigos na casa de um de seus vizinhos. Nisso, Jill ajudou a mãe a se vestir trocando ideias com ela e contando para ela todos os detalhes de estar morando só. Foi tão elogiada pela mãe por seu desempenho, mesmo assim, estar com ela novamente fazendo algo que passou a vida inteira fazendo, era muito confortante. Principalmente ao distrair a sua mente, depois de ajudar Chris a fazer suas malas. Naquele momento o mesmo se encontrava na loja, auxiliando seu pai mais um pouco, mas dessa vez, com prazer. Logo, subiria para se preparar para a viagem de retorno.

Depois que a mãe de Jill desceu, Jill já fazia planos em sair a noite com Rebecca, como haviam combinado. Ainda estavam pensando se assistir um lançamento de comedia romântica no cinema ou comer alguma coisa. Sendo assim, depois que Jill saiu do banho e experimentou algumas roupas, notando que precisaria de algo mais aquecido para sair àquela noite e não trouxera nada que gostasse, pensou em fiscalizar o guarda roupa da irmã. Escolheu uma calça facilmente, mas ao encontrar uma blusa agradável, tirou que usava e então procurava a etiqueta da nova blusa para usa-la adequadamente. Nesse instante Rebecca entrou no quarto, à procura de Jill e encontra algo que a deixou boquiaberta.

— O que é isso nas suas costas? – Rebecca se aproximou da irmã e puxou o elástico do sutiã para verificar com precisão, soltando ele em seguida ao ler a frase mais estranha que ela poderia imaginar vindo de alguém como Jill. Quando o elástico encostou na pele que ainda cicatrizava da irmã, Jill gritou.

— Rebecca! Ainda está cicatrizando! – Se virou para olhar para a irmã chateada. – Qual é o espanto?

— Uma tatuagem? A mãe sabe disso? – Rebecca perguntou aterrorizada.

— Claro que não. Isso foi um erro. Eu vou consertar isso assim que eu puder. E você, nenhum pio sobre isso. Estou sofrendo ao ter que ficar de blusa de manga o tempo todo quando nessa casa o aquecedor realmente funciona. Nem tenho mais blusas legais para sair. E sim, eu peguei uma emprestada. – Jill finalizou sua fala se vestindo com uma das blusas preferida de sua irmã. Em outros tempos, Rebecca a emprestaria com pesar, mas nada parecia importar mais do que as novas de Jill.

— Então você realmente foi a Las Vegas com o Chris? Apenas vocês dois? Em Las Vegas? – Rebecca olhava a irmã com uma admiração e um olhar nada sutil. – Vocês casaram em Las Vegas e não querem contar pra ninguém, não é? – Rebecca sorria animada aproveitando-se da piada eminente.

— Não... – Jill se divertia com as reações da irmã. –... a única loucura que eu fiz foi essa tatuagem. E bebi pra caramba que acho que perdi algumas memórias daquele dia. Mas não importa porque já passou e eu vou ser mais racional da próxima vez.

— Por que você só me contou isso agora? Me sinto traída por você! – Rebecca suspirou ao se jogar na cama da irmã e deixar seu corpo encontrar no colchão de costas. – Da próxima vez que você aprontar algo assim, me ligue. Ainda sou sua melhor amiga não sou?

Aquela pergunta mexeu com a cabeça da Jill. Os anos longe de casa tinha feito Jill se esquecer da promessa que tinha feito à irmã quando decidiu sair de casa. “Sempre deixar ela saber de tudo o que acontecia com ela em sua nova casa”. E tinham também outras coisas que ela não havia contado a Rebecca. Ela não sabia de Harris nem do incidente em Las Vegas. Não sabia que Ada estava “casada” com Leon. E principalmente que Chris e ela eram uma farsa. Talvez se ela começasse contando apenas uma coisa que deixaria sua irmã animada, já poderia ser um pedido de desculpas e uma reconciliação à promessa.

— Mas é claro que você é a minha melhor amiga. – Jill se juntou a irmã. – E você, não tem nada para me contar mesmo? Nenhum lance interessante com o tal Billy? Ou alguma festa escondida na casa de algum amigo? Não aprontou nada por aqui? Nenhum segredinho?

— Se eu tivesse aprontado algo assim, você sabe que você seria a primeira a saber. Principalmente agora que está cheia de experiências com o seu bonitão. – Rebecca suspirou um pouco emocionada. – Jill... Como soube que ele era o cara certo? – Rebecca perguntou com um tom bastante persuasivo.

— Eu não sei se ele é o cara certo. – Jill tentou desviar o assunto. Não queria inventar um novo momento falso com o Chris para a irmã.

— E como assim você se entregou para ele depois de tantos anos dizendo que só faria isso com o cara certo? – Ela se inclinou apoiando a cabeça na palma de sua mão e arregalando os olhos.

— Ah, não tô falando nesse sentido Becca. – Jill desviou o olhar.

— Mas eu sim. Jill, eu sempre me espelhei em você em relação a isso. E eu ainda estou magoada por você não ter me contado como foi a sua primeira vez. E estou curiosa para saber.

— Isso não aconteceu ainda. – Jill argumentou e sua irmã mostrou uma cara de deboche.

— Jill... O Chris já me contou tudo. – Jill arregalou os olhos. – Ele me contou que vocês estão morando juntos e sobre a viagem de vocês.

— Quando? – Jill sentiu um aperto no peito. Ela tinha combinado com ele para não mencionar isso com ninguém da família dela. Por que ele teria feito isso?

— Quando ele combinou comigo que viria com você. Ele atendeu seu o seu Skype lá em Chicago. E o cara estava sem camisa, no seu quarto. Se você está resistindo a ele, eu tenho certeza que você é um robô e não um ser humano.

Jill entendeu que aquilo foi uma artimanha do antigo Chris. Do cara que queria vingança por causa de Aspen. Todo o aperto se foi ao notar o quanto ele tinha se transformado naqueles dias. Mas agora estava ali na sua frente a decisão em que ela mais temia em contar a irmã. Se odiaria pra sempre por estragar o conto de fadas para sua irmã. Mas ela jamais poderia inventar algo daquele nível, principalmente porque ela não tinha a experiência necessária para formular uma forma de se esquivar do assunto com sucesso. E, aliás, aquele namoro já estava com os minutos contados já que Chris partiria mais tarde.

— Rebecca... Becca. Desculpe mesmo. Foi muito necessário o que eu fiz. Eu jamais inventaria algo do tipo se eu pudesse. Eu queria muito que isso tudo fosse verdade mas... Chris e eu não estamos namorando de verdade. E a verdade é que... Nós moramos juntos. Mas a gente é só amigo mesmo.

— Não é possível. Jill você jamais apresentaria ele aqui em casa, jamais teria encenado tão bem se você não... – Rebecca olhava confusa, deixando Jill mais constrangida possível. – Vai me contar o que está acontecendo ou vai me assistir enlouquecer?

— Entende o porquê eu não posso contar a verdade pra ninguém? Mas eu vou te explicar tudo.

Jill contou sobre tudo o que tinha acontecido nos últimos seis meses em relação aquele rapaz que tinha aparecido em sua vida. Dava pausas o tempo todo para ouvir as gargalhadas da irmã que se divertia com a situação como se pudesse imaginar todas as cenas em sua cabeça. E quando pensou que sua irmã a odiaria por aquilo, se surpreendeu ao encontrar uma Rebecca de olhos brilhantes.

— Bem, o que eu tenho a falar sobre isso tudo? É apenas uma pergunta: quem dos dois vai confessar que gosta primeiro?

— Eu não gosto dele Rebecca. Não, como... Como o cara certo. Ele precisaria de uns ajustes interessantes. – Ela se sentou e olhou para os pés onde seus dedos se mexiam com o nervosismo.

— Vai perder ele se ficar esperando muito. Mas você gosta dele Jill. E se eu pude notar algo entre vocês é que toda a farsa ficou na teoria. Porque na prática, o fingimento está real.

— Becca, eu não te contei essa historia para você ficar dizendo isso. E é melhor encerrarmos por aqui, Chris pode aparecer por aí. Mas agora se sabe de tudo, é bom que você não dê indícios de que eu te contei tudo.

— Pode deixar. Mas eu vou manter meus olhos bem abertos em vocês. Eu quero saber mesmo como essa história vai terminar. E você, não se atreva a esconder mais nada.

— Combinado. – Jill se jogou novamente na cama observando a irmã deixar o quarto. Quando ela abriu a porta se deparou com Chris pretendendo bater na porta.

— Há quanto tempo você está aí? – Rebecca perguntou assustada.

— Era você mesmo que eu estava procurando moça. Acho que se esqueceu de fechar o caixa lá embaixo.

— Ah, meu Deus. É mesmo. Melhor eu ir adiantando isso. – Rebecca suspirou aliviada, sorriu para Jill mostrando que não precisava se preocupar e deixou a presença de ambos. Chris adentrou no quarto, fechando a porta em seguida.

— Eu acho que está na hora de eu partir. Tem certeza que não quer voltar comigo? – Chris observou ela se levantar e por as mãos para trás, apoiada sobre a cama.

— Deixa para a próxima. Quer alguma ajuda?

— Estou com fome. E não vou gostar da comida do avião. Será que a minha namorada de mentirinha pode me ajudar com isso? – Ele lhe estendeu uma mão e ela se levantou da cama com seu auxílio.

Ela riu empurrando ele para fora do quarto por trás, com as mãos presas sobre seus ombros, flexionando o polegar como uma pequena massagem.

— Vai adiantando seu lado. Vou ver o que eu posso fazer.

Ela se virou e andou em direção a cozinha. Ele se voltou ao seu quarto para tomar algumas peças de roupa. Naquele momento seu telefone que estava sobre a cama chamou sua atenção. Ele tomou o telefone em mãos e olhou para a tela observando uma foto que tinha tirado de uma das ruas mais movimentadas de Frederick, coberta por gelo. Sentia um desconforto por ter gostado tanto daquela cidade e das pessoas que conheceu enquanto foi um funcionário temporário da Books and Cooks. Ele nem se lembrava de Aspen e de tudo que tinha programado. Seu dedo buscou o teclado do telefone até o nome de Leon aparecer sobre a tela. Pressionou o botão verde na tela pedindo internamente para que aquela ligação pudesse ser uma salvação para ele, por mais desesperançado que estivesse.

— - -

Com os cotovelos apoiados sobre os joelhos e com as mãos aninhadas aos cabelos loiros, Leon permanecia sentado no sofá que outrora fazia parte de seus móveis. Desde que chegou a casa e encontrou Ada nervosa, sua mente estava uma bagunça. Ela havia dito que Claire havia desaparecido do apartamento do irmão sem qualquer aviso.

Leon acreditou ser apenas uma birra da mais nova, entretanto, quando subiu ao apartamento e se deparou com um dos troféus de Chris em pedaços, sua certeza foi posta a prova, Claire não faria algo assim, não com sua situação com o irmão.

Já havia se passado horas e nem um sinal da jovem ruiva, isso deixava Leon muito preocupado. Claire não conhecia bem a cidade, estava sem seu celular, dinheiro e documentos, e a noite estava bem fria. Ela não pretendia voltar tão cedo. Claro, que no fundo ele tinha esperanças que aquela atitude de Claire fosse passageira e que logo ela entraria por aquela porta como se nada tivesse acontecido, mas Leon sabia a quão chateada ela estava com tudo que aconteceu e ele se culpava por aquilo, deixou toda aquela situação se tornar uma grande bola de neve por não ter coragem de ser sincero ou por apenas não levar a sério os sentimentos da garota para com ele. Kennedy não sabia. Segurava o telefone da moça em mãos na esperança de receber uma chamada dela mesma dizendo onde estaria por mais improvável que isso fosse.

A angústia criou forma quando seu celular que estava sobre a mesa de centro tocou e no visor o nome do amigo aparecia. Com todo o infortúnio, Leon havia esquecido completamente que Chris chegaria a Chicago naquele dia. Fitou o aparelho por mais alguns instantes, procurando palavras para dizer o que estava se passando. Quando a chamada estava quase no fim, ele atendeu.

— Alô.

Ei Leon. Pensei que ainda estava bravo comigo, que nem ao menos iria atender ao telefone. — Chris brincou descontraído.

Já passou. – Leon argumentou sério.

E sem nenhuma lição de moral? — A pergunta foi espantosamente ignorada. Então o rapaz pensou que talvez ainda não fosse o momento para tal ou que Claire já tinha feito outro desastre. — Ok, só liguei pra avisar que chegarei em Chicago por volta das 3:00. Não consegui um vôo mais cedo.

— T-tudo bem. — Leon estava a ponto de ter um colapso, não sabia como dizer ao amigo sobre Claire.

E a Claire, ela está legal? Espero que não tenha feito mais nada que irrite vocês.

— E-ela está bem, na verdade muito melhor que imaginávamos. — Leon soltou todo ar que prendia em seus pulmões enquanto tomava aquela decisão difícil.

Do que você está falando?

— Ada e Claire fizeram as pazes e agora estão… como melhores amigas.

O silêncio do outro lado da linha só comprovava a Leon que teria que aprender a mentir melhor, pois só um idiota acreditaria naquilo.

— Ah… como isso aconteceu? — Chris questionou em receio.

— Mulheres. Quem as entende?

Nisso você está certo. Ela está por aí? Quero falar com ela.

— A-ah não, ela não está. Saiu com a Ada mais cedo e ainda não retonaram. — O loiro se sentia cada vez mais péssimo. — Olha amigão, já que está tudo bem aqui e pelo seu bom humor está tudo bem aí, acho que não precisa apressar sua volta. Garanto que isso deixaria a Jéssica feliz.

É... ela ficaria… — Leon não podia ver, mas Chris sorria feito um bobo ao se lembrar de Jill. — Mas Claire e Nikita fazerem as pazes não significa que estou satisfeito. Conhecemos a ruiva, ela vai me fazer pagar até mesmo pelos meus erros futuros.

Já que vai acontecer de qualquer forma, para que antecipar? É sério! Aproveita a viagem, se algo der errado eu ligo.

— Tá, já que estou sobre livre e espontânea pressão, vou ficar por aqui mais alguns dias. Valeu irmão, você é o cara. — O silêncio novamente se fez presente. — Leon?

Leon ouvia a admiração do amigo e olhava para o olhar espantado de Ada a sua frente enquanto fechava a porta por trás dela.

Preciso desligar, a gente se fala depois. — O rapaz encerrou a chamada antes mesmo do outro se despedir. O loiro havia se surpreendido com a presença da namorada na porta de entrada do apartamento e pela sua expressão chocada, ele já presumia o que viria a seguir. – Eu juro que não queria fazer isso, Ada. Não temos escolha.

— - -

Mais tarde naquele dia, Jill preparava Brownies enquanto ouvia alguns clássicos em vinil na velha radiola do seu avô. Enquanto Rebecca fechava o caixa da loja, Chris arrumava os últimos detalhes antes de partir. E o clima parecia instável e melancólico. Uma despedida sem motivos para ser tão dolorosa e ainda assim apertava seu coração.

Assim que colocou a guloseima no forno, tomou seu celular em mãos e ligou para Ada. Estava preocupada com a amiga. Entretanto, não houvera qualquer resposta as suas chamadas. Então imaginou que Wong estivesse ocupada naquele instante. Sem perceber, a ansiedade tinha se modelado no rosto dela sendo percebida por Chris no momento que adentrou a cozinha bem vestido e perfumado.

— Ah Valentine... Eu só vou para outra cidade, não é como se eu fosse para... África. – Sorriu se aproximando da mesa.

– Você se acha mesmo o centro do universo, não é Christopher Redfield? – Jill revirou os olhos.

— Ok, se não sou eu, então? – Chris se sentou, pegando uma maçã da fruteira sobre a mesa.

— Bem, o dia de hoje não está sendo dos melhores. Os meninos estão muito tristes pelo que houve; não consigo falar com a Ada e a Rebecca acabou descobrindo a tatuagem. – Jill também se sentou frente ao rapaz.

— Acho que ela não sabia que tinha uma irmã tão louca. Até hoje eu ainda estou traumatizado em relação aquele dia. – Ele sorriu ao se lembrar de relances daquela manhã em Las Vegas, sem comentar nada em relação a isso. – E sobre a Ada, ela está bem, relaxa.

— Como pode ter tanta certeza?

— Falei com o Leon agora pouco, liguei pra ele para avisar que chegaria à madrugada. E algo inimaginável aconteceu. – Chris notou a expressão curiosa da companheira de casa ao mostrar o seu rosto confuso e falsamente frustrado. – O triângulo amoroso teve seu “felizes para sempre”. Simplesmente Ada e Claire estão de bem uma com a outra, da noite para o dia. Isso sem dúvidas é estranho, mas não sou eu que vou ficar me metendo nisso. Se minha irmã está bem, tudo fica bem.

— Nossa, eu realmente não esperava por isso… falou com ela?

— Não, Leon disse que as duas saíram juntas. Até tentei ligar pra ela, mas só dá caixa postal. – Ele fez uma expressão insatisfeita.

– Bem, pelo menos agora eu entendo por que não consegui falar com a Ada… fico feliz que tudo acabou bem.

– Nem tudo. Ainda precisamos ver se aqueles garotos aceitam a minha proposta para treinar ou pelo menos tentar treiná-los nessa época de recesso. – Chris expôs tranquilo se levantando e indo em direção à lata de lixo para deixar o que sobrara da fruta, vendo os olhos, até então apagados da moça, criarem um brilho especial e surpreso.

— Vai mesmo fazer isso por eles?!

— Não foi isso que você me pediu mais cedo? – Ele abriu um sorriso animado.

A garota levantou da cadeira e pulou nos braços do rapaz que não esperava aquela reação, até receber um beijo em sua bochecha.

— Muito obrigada Chris! Você é o melhor namorado de mentirinha que eu poderia ter. – Disse bem baixinho, bem próxima ao seu rosto, ainda com os braços sobre o seu pescoço.

— Interrompo a encenação? – A voz de Rebecca foi ouvida no ambiente, causando um desconforto em Jill. Ela se virou sorrindo para a irmã um pouco mais contida.

— Não precisa falar assim, você nem sabe o que acabou de acontecer. – Jill cruzou os braços, olhando desafiadoramente para a irmã.

— Eu nem preciso, os meus olhos já viram. E nem repararam no brownie queimando enquanto brincavam de casinha. – Rebecca brincou enquanto ambos se entreolhavam e foi em direção ao forno para retirar o alimento de lá. – Vou deixar vocês sozinhos de novo, ensaiem mais. – Ela adentrou na casa contendo um risinho perturbador.

— Não acredito que contou para ela a verdade. Ela era a pessoa que mais acreditava em tudo. – Chris sorriu chateado.

— Não se preocupe, ela é a pessoa que eu mais confio nessa casa. Não foi fácil abrir o jogo, mas acredite... Ela me forçou a isso.

— Como?

— Não importa. – Ela se lembrou das perguntas da irmã e afastou isso da mente imediatamente. – Então, quer sair com a gente essa noite?

— Acho que até já estou pronto para ir.

— - -

Ei esquimó acorde! Alô?! – Uma voz distante adentrava aos ouvidos da jovem fugitiva, a princípio aquele som se misturava ao seu subconsciente a fazendo acreditar que estava em um sonho. Entretanto, a voz se tornava mais alta assim como seu corpo era sacudido. Ela abriu os olhos, dando de encontro com uma luz forte em rosto, assustada começou a gritar e espernear. — Psiu! Mas que merda, o que pensa que está fazendo?! — A voz masculina tentava fazer a garota cessar. — Fica calma ou te faço engolir essa lanterna. Naquele instante Claire parou de gritar e assim notou a escuridão da noite e uma silhueta masculina a sua frente. Ele diminuiu a luz da lanterna e ela se levantou.

— O-o que faz aqui? — A ruiva iniciou encolhida.

— O que faço aqui? Aí, você estava dormindo, ou sei lá o que, em um banco de jardim em pleno inverno. Deveria se preocupar com a sua vida. — Ele respondeu rude.

— Não seja mal educado, eu… — Naquele instante, Claire notou o ambiente sombrio em que se encontrava. — Não sei o que houve… — Quando voltou sua atenção para o desconhecido ele já caminhava alguns passos a sua frente, não dando a mínima para o estado dela. — Ei! Espere! Não pode me deixar sozinha aqui!

— Quando entrou aqui não precisou da minha ajuda. Achei que estivesse morta ou desmaiada, mas já que está bem, não é problema meu! — Ele continuava a caminhar sem se dar ao trabalho de olhar para trás.

Claire não sabia se estava tremendo por conta do frio ou se era o medo que lhe causava aquela reação. Fitou o jardim e o homem, então optou por correr para alcançá-lo. Talvez ele pudesse ser um assassino psicopata, mas ela tinha que arriscar.

— Eu pulei o muro — Disse assim que chegou até ele, de frente a ele. — Estava passando e… bem, achei que seria um bom lugar para pensar. — Ele não disse nem uma palavra, apenas continuou caminhando atento ao desviar-se dela. — Que tipo de lugar é esse? Parece até cenário de filme de terror… – Ela o seguiu.

— Invade uma propriedade particular e nem ao menos sabe do que se trata? — O misterioso revirou os olhos.

— Você sabia quando entrou aqui a primeira vez? — Ele parou de caminhar e fitou a menor desistindo de evitar o diálogo.

— Aqui é um jardim, esse lugar está abandonado há anos. Haviam história assombradas sobre ele, mas como pode ver, eram apenas histórias. — Concluiu.

— Você não acredita nisso não é? Digo... Que não há nada incomum aqui, afinal por que alguém viria sozinho a um jardim abandonado em plena escuridão? — Claire sorriu, contente com sua conclusão.

— E então Sherlock, qual é o seu verdadeiro nome? — Ele perguntou com um meio sorriso.

No instante em que Claire se apresentaria, novamente foi abordada por uma luz intensa que cegou ela e seu mais novo “amigo” por alguns instantes.

— Ei vocês! O que fazem aqui?! — Uma voz aveludada os interrogava. Eles tentavam ver através da luz, mas sem sucesso.

— Parece que esse jardim não é tão abandonado assim! — A ruiva ironizou. — Por favor, abaixe essa luz!

A outra garota atendeu ao pedido da desconhecida, mas antes que pudesse dizer algo, também foi surpreendida por uma luz repentina mirada para si. O rapaz então deu a ele e a ruiva, a oportunidade de ver a pessoa que os surpreenderam. Uma garota de baixa estatura, magra e de curtos cabelos loiros.

— Ei, pare com isso! — Ela protegia o rosto com os braços.

— Não até você nos dizer quem é você! — Ele retrucou.

— Meu nome é Sherry, Sherry Birkin!

Desconfiado e o mesmo tempo surpreso, o rapaz abaixou a luz.

— Você é mesmo uma Birkin?

— S-sim, herdei esse jardim a pouco tempo e vim conhecê-lo. — Sherry mostrava-se desconfortável com aquela situação.

— Sozinha, a noite… — O rapaz ainda estava desconfiado, enquanto Claire apenas observava a conversa sem entender nada.

— Eu queria ter chegado mais cedo, entretanto, o meu vôo atrasou…

Claire puxou o rapaz para um canto e cochichou.

— Acho que podemos confiar nela.

— Não confio nem em você. – Debochou e a ruiva se afastou dele irritada. – Você confia muito rápido nas pessoas. — Respondeu e logo retornou até a garota a sua frente.

— Isso é ridículo! Essa é uma propriedade privada, a minha propriedade e vocês simplesmente me interrogam como se eu fosse a invasora aqui. — Sherry cruzou os braços irritada.

— Poderia ser pior. Esse aqui quando me encontrou, disse que me faria engolir a lanterna se não parasse de gritar. — Claire olhou com desprezo para a figura masculina a seu lado. Em seguida caminhou até a garota e lhe estendeu a mão para um cumprimento.

— Eu sou Claire.

Birkin olhou para o sorriso simpático da ruiva e logo fitou sua mão, não conseguia entender o que estava havendo. Talvez ignorar a mão da outra fosse uma forma de se mostrar superior e segura. Por outro lado, ela não parecia ser má pessoa, mesmo em companhia de alguém com o caráter duvidoso.

Sherry cedeu ao cumprimento em silêncio. O sorriso da ruiva só aumentou com aquela atitude. Ainda de mãos unidas as suas fitaram o alto rapaz com expectativa.

— Jake Muller. — O rapaz respondeu seco. — Satisfeitas?

— Já é um começo de uma grande amizade. — A ruiva expôs com propriedade, fazendo com que Jake semicerrasse os olhos.

Os três estavam ali em alguma parte daquele grande espaço, parados involuntariamente em formato de triângulo. Àquela situação era mesmo algo inimaginável para aquele dia, onde cada um tinha seu motivo para visitar o jardim.

— Agora que já nos conhecemos vamos ao que interessa: vocês têm cinco minutos para me dizerem como e o que estão fazendo aqui, caso contrário, eu chamarei a polícia. — Sherry expôs séria. Tentava mostrar-se segura, mesmo o maior reconhecendo o medo na garota.

— Calma aí baixinha, não estamos destruindo seu patrimônio... Não mais do que vocês Birkins. Gostos das histórias, por isso, eu venho. Se você é mesmo dona do jardim deve conhecê-las. — Jake seu alguns passos rumo à pequena e ela instintivamente recuou, fazendo-o sorrir de canto.

— Que lance é esse de histórias mesmo? — Claire fitava os dois curiosa.

— É sobre Graham e Joan, os primeiros donos do Jardim. Existem várias lendas sobre eles, mas a que mais gosto é a que Joan era uma bruxa, ela tinha o dom de curar as pessoas com plantas, principalmente flores, não importa se eram físicos ou espirituais. Joan era com um anjo que sempre socorria os aflitos. Até conhecer Graham e ele a ajudar em sua missão. Mas naquela época a maioria pessoas não compreendia aquilo, então os grandes a consideraram e o seu marido como bruxos e os subjulgaram a serem queimados vivos junto a suas flores. — A loira abriu um leve sorriso enquanto contava.

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— Essa lenda eu não conhecia… — Comentou o rapaz.

— É por que ela não é uma lenda — Sherry riu ao ver a surpresa de Jake. — O que as pessoas não sabem é que quando Graham e Joan foram presos, o filho do conde ficou muito doente, e não adiantava os médicos e remédio, o menino estava em seus últimos dias. Fraco pediu ao pai para ver o casal Birkin, pois acreditava que eles seriam os únicos a salvá-lo. O conde mesmo contrariado cedeu, e eles curaram o garotinho que pediu ao pai para poupar a vida daquelas pessoas, mas aquela altura ele já havia cogitado a hipótese. Entretanto, a cidade aguardava a execução do casal. Graham disse a eles que se tivesse misericórdia, eles morreriam para aquela cidade e ninguém duvidaria do Conde. Foi exatamente o que houve. Graham e Joan fugiram, e no dia seguinte o Conde espalhou pela cidade que havia enterrado o casal com vida junto ao campo onde eles cultivavam suas malditas flores. Quando o garoto se tornou um homem, mandou que murassem o local e entregou a chave ao pai de Graham, pedindo que cultivasse o local secretamente. Joan e o marido nunca mais foram vistos, mas o jardim jamais foi desfeito pela nossa família. — Sherry suspirou — Sou a última Birkin, a única que pode restaurar esse lugar incrível.

— Incrível… Quem diria que esse cenário de Halloween é tão rico de informações. — Claire comentou sorridente.

— Você tem a chave?

— Que chave? — Ela perguntou

— Da porta atrás daqueles arbustos. — Jake apontou para o lugar com a lanterna. — Eu a achei no começo da semana, não sei o que tem lá. Não seria uma má ideia descobrir.

— Não entendo. Eu não sabia que havia algo assim aqui, nunca me disseram nada sobre uma passagem... — A garota de cabelos claros estava surpresa. — Eu não tenho a chave, mas podemos arrombar.

— Ei, ei, ei! Se nem a dona tinha conhecimento sobre esse lugar, não somos nós que vamos até lá correto? Não sabemos o que há lá dentro, sem contar que está escuro. — Claire estava levemente amedrontada, enquanto os outros estavam visivelmente ansiosos.

— Ah qual é ruiva?! O que acha que tem lá dentro? Zumbis? — O alto rapaz sorriu. — Vamos lá antes que a baixinha mude de ideia.

Os três então começaram a seguir para o local. Com o desvendar do mistério do Jardim, Jake e Sherry esqueceram completamente que Claire ainda não havia dito seus motivos de está ali e de certo modo a garota agradecia por isso, para ela falar no assunto só iria frustra-la ainda mais.