Prólogo

Jill

A rebelde da pequena cidade de Frederick, Maryland. Extrovertida, sempre conquistou a todos a sua volta, inclusive os garotos da escola em que estudou. Jill Valentine era bastante presente nas aulas, nota exemplar, caderno impecável, estudava música e se apresentava em festas. Idolatrada pelos professores, mas não deixando de ser teimosa e desbocada.

Não foram seus pais que lhe deram uma dupla personalidade. Isso surgiu dentro dela quando ainda era criança. Nas reuniões escolares era sempre: “A sua filha é uma aluna exemplar, mas bateu em um colega porque segundo ela, não era justo aos seus olhos que ele não apanhasse.” Claro que para Valentine, ser boa aluna não significava nunca quebrar as regras impostas pela instituição.

E ela cresceu dessa maneira. Na adolescência, ela mudou um pouco seus hábitos. Talvez porque o garoto que ela gostava se interessava nas boas moças. E isso fez com que ela usasse uma máscara de boa menina, para conquista-lo.

Infelizmente, isso durou pouco. Ele era uma pessoa bem centrada e muito focada nas coisas que poderiam levar-lo ao sucesso. E ela entendeu que aquele não era o tipo de cara certo pra ela. Jill era uma viajante. Sonhava na mesma medida em que respirava. Escrevia contos bobos nos cadernos e sonhava em mostrar seu talento para o mundo. Não como uma fútil cantora pop, com uma vida cheia de mentiras e holofotes. Mas alguém que poderia marcar a história da musica e da poesia. Sua mente era muito vibrante quando colocava seus sonhos a prova. Vivia na música e pela música. E foi nela que encontrou seu destino.

Assim que tomou idade suficiente, a jovem de 20 anos, largou a boa vida com os pais para morar em uma república com uma amiga em Chicago.

Na época seus pais estavam irredutíveis, não viam futuro na escolha da filha. Jill por um momento pensou em desistir, mas ao ver sua irmã caçula Rebecca vibrar com a possibilidade de ter sua estimada irmã na mídia, fez com que a jovem dissipasse qualquer pensamento contraditório.

Rebecca sempre viu Jill como um espelho, então a admiração de sua irmã foi o impulso para sua trajetória.

A amiga que já morava em Chicago havia decidido um ano antes que também seguiria seu sonho. Ela era alguém que ela sempre poderia contar... eram como irmãs.

Ada

Ada Wong sempre foi centrada. Uma mulher em uma menina — como assim comentavam — ao ver a menina de apenas 10 anos fazer cálculos de ensino médio. Era muito séria, focada e muito concentrada. A jovem era asiática. Seus descendentes todos eram de lá e os traços de seu rosto não poderiam negar. Mas a rigidez de ser uma boa moça para honrar sua família não impediu que ela seguisse o seu sonho.

Depois de ser aprovada em química, astronomia e engenharia em três universidades prestigiadas, não estava se sentindo feliz ou até mesmo completa. Então optou seu destino para as artes plásticas. Transformando seu hobby em a melhor carreira a seguir.

Seus pais detestaram a idéia de ter uma filha prodígio simplesmente estudando aquilo que eles chamavam de “Desperdicio de tempo e dinheiro". Assim como os pais de Jill, a família Wong não acreditava que sua filha teria sucesso em sua escolha. Ela, calculista como sempre, deixou que seus pais falassem o que quisessem, mas não iria desistir de sua futura carreira. Ela começou a desenhar em papeis, quadros, telas, usa e abusar das tintas para depois conseguir fazer esculturas muito bem desenhadas, traçadas e detalhadas para vender em uma lojinha em sua pequena cidade. Mais precisamente Frederick, Maryland.

Nisso conseguiu uma grande amiga, que era filha do dono da tal lojinha. Sua percepção em estratégia de vendas ajudou o pai da menina a tocar seus negócios para um superávit, enquanto ganhava uma grande amiga. Alguém totalmente oposta a ela, mas ao mesmo tempo igual. A garota que Ada sempre manteve distância nos tempos de escola.

Assim que conseguiu juntar uma boa quantia, disse aos pais que tentaria a vida na cidade grande. Chicago era seu destino. Alugou um apartamento um tanto afastado do centro da cidade — era mais em conta — mas por um ano se sentiu muito sozinha. Quando sem qualquer pré aviso, uma rebelde que tinha praticamente fugido de casa apareceu em sua porta com uma mala, teclado e um violão. Sua amiga que veio para somar com ela, uma sonhadora que também fez com que seu hobby tornasse sua paixão.

Um ano depois que Jill foi morar com Ada, elas já tinha conseguido muitas coisas juntas e já se sentiam orgulhosas por conseguirem sobreviver sozinhas em uma cidade tão grande como Chicago.

Jill estudava música pela manhã, praticava seus instrumentos e composições à tarde e trabalhava como garçonete em um bar/restaurante a noite.

Ada estudava de manhã, trabalhava como professora substituta em uma escola na parte da tarde e dedicava à noite entre trabalhar manualmente em suas obras-primas, quando não iria prestigiar sua amiga nas sextas à noite onde o palco do restaurante Chiaroscuro era somente dela.

Leon

Se alguém tinha pinta de Hollywoodiano, capa de revistas ou mesmo o cara mais lindo do colégio, esse alguém tinha um nome: Leon Scott Kennedy. Sim, o filho do diretor do colégio mais prestigiado da cidade de Florence, localizada no Alabama onde passou toda sua infância. Isso fazia com que o garoto brilhante deixasse de lado sua belíssima imagem para afundar-se nos estudos. Não porque era forçado, mas porque nasceu para aquilo. Não era raro ver aquele garoto de 11 anos lendo uma enciclopédia por horas. Vivia querendo entender o significado de cada palavra e os mistérios que rondavam o universo em que vivia por puro prazer. E participava de todas as olimpíadas, maratonas de estudos afim de ser o exemplo para os meninos e meninas que com ele estudavam.

Filho único carregou nas costas a responsabilidade de representar sua família dentro do ambiente escolar desde o dia em que aprendeu a escrever seu nome. E seu instinto superdotado apenas foi uma alavanca para ele ser quem era.

Enquanto crescia, Leon sempre aprendeu a valorizar as pessoas, não pelo o que elas tinham, mas pelo que eram. Era um justiceiro, quando se tratava de parar ou julgar uma briga entre os amigos. Protetor, zeloso, amigo. Qualidades nas quais todas as garotas da escola sonhavam em ter em um namorado. Mas o garoto era muito tímido. Até mesmo em relacionamentos. Contava nos dedos as namoradas que teve. Não conseguia amar a nenhuma delas. Pois apesar de lindas, faltava a cereja do bolo. Queria alguém equiparado a ele, alguém que o inspirasse. Algo difícil de se encontrar em Florence. Sim, ele procurou bastante antes de partir.

Talvez porque tinha a essência de sua mãe que era seu maior espelho, desde que tinha morrido de câncer quando ele era um adolescente. Uma mulher inteligente, uma procuradora que tinha o sonho de ser uma juíza. Sonho esse interrompido pela falta de saúde. Sua mãe sempre lhe ensinou sobre o amor verdadeiro, dizendo a ele que o importante era valorizar o que tinha dentro do coração.

Sentiu que tendo sua mãe como referência, deveria optar por seguir sua carreira também. Estudaria direito e realizaria o sonho da mãe em si. Sendo assim, abriu mão de festas — que já não era algo que apreciasse tanto — amigos, jogos e focou mais ainda nos estudos sendo o aluno número um numa faculdade prestigiada de Chicago.

Quando ele chegou completamente tímido e solitário na cidade, acabou se sustentando trabalhando em áreas de ensino. Seu pai lhe ajudava financeiramente até Leon optar por se manter apenas com seu próprio esforço. Depois de 6 meses morando sozinho e se sustentando da mesma forma, encontrou um amigo que também estava procurando um apartamento para morar. Achou então a deixa que precisava, pois os gastos para uma pessoa só estava o fazendo ter de arcar com bicos para conseguir passar o mês. O custo de vida era alto em Chicago. Isso diminuiu um pouco a obsessão por livros e por trabalho, mas não tirou a vontade dele de alcançar seu sonho. Assim acabaram rachando um apartamento. Seu amigo era muito semelhante a ele — se não fosse seu humor um pouco instável — e isso fez com que eles se tornassem como irmãos com o tempo.

Chris

O capitão do time de futebol americano da escola era de uma família muito influente na California. Filho de políticos, Chris Redfield não tinha ninguém menos como seu pai, o capitão da marinha americana que ao se aposentar, partiu imediatamente para as bancadas legislativas.

Sua mãe, uma mulher granfina e divorciada, via no filho a sua mina de ouro e o sonho dele superar seu pai na política, porque até então usava isso como uma vingança por ser uma mulher divorciada em plena alta sociedade. Chris viu o casamento de seus pais se tornar um fracasso à medida que a família enriquecia. Ainda assim, ela dizia ao filho para seguir a carreira do pai e deixar o “sonho do esporte para gente pobre”.

Filhos de uma família conflituosa, ele e sua irmã Claire se tornaram muito semelhantes quando se referiam a família: apenas eles dois eram uma família. A mãe era viciada em remédios, plásticas e namorados mais jovens. O pai de festa em festa de gala, sendo elas de amigos ricos ou pobres e vivendo uma fachada de vida no socialite. Não tinha nada de produtivo a tirar dali. Pelo menos sua irmã Claire ainda conseguia conviver com eles normalmente. Gostava de sair com amigos, ir a festinhas e se vestir com roupas surradas, olhos sempre pintados de preto, ir a shows de rock toda semana... Muitas vezes fugia de casa para isso. Chris detestava a ideia de ter uma irmã tão jovem e tão rebelde. Mas sabia que não era culpa dela. No fundo nenhum dos dois aguentava a família que tinham.

O garoto cresceu em ambientes de pessoas prestigiadas, mas achava aquilo um saco. Queria ser normal, fazer o que pessoas normais faziam, fugir da mídia de ser o filho de quem era. Isso fez ele se tornar frio e pessimista, de humores alterados. Quase um bipolar. Uma hora aparentava buscar felicidade, mas quando via que isso estava distante, se desgastava em distrações momentâneas. Embora quisesse tomar responsabilidade de sempre aparentar ser um bom moço, na verdade queria sair por aí fazendo o que bem entendesse.

Com uma vontade imensa de sair de casa para morar longe dos pais, optou por uma universidade em Chicago, que por uma conversa que seu pai teve com o reitor – seu amigo puxa saco – conseguiu encaixar ele em Administração de Empresas. Não que seu sonho fosse ser empresário, ou mesmo abrir um negócio. Era apenas um passatempo, para dar a desculpa de que saiu de perto dos pais para “estudar”.

Logo alugou um apartamento caro, usou e abusou de festas que deixava ele alcoolizado, sem dinheiro e sem memória até saber que seu pai tinha cortado sua grana pelo mau exemplo que ele dava sendo filho de um político de boa imagem. Não demorou muito para que a notícia de seu comportamento chegasse ao seu pai.

O jeito foi pedir para o pai um emprego no governo. Trabalhando em um escritório, como cobrador de impostos, conseguiu restaurar sua dignidade e se atentou mais a vida que levava. Nisso, enquanto procurava um lugar mais em conta pra morar, conheceu um amigo muito ‘certinho’ que lhe estendeu a mão quando mais precisava.

Leon, focado em direito, morava em seu apartamento há um seis meses quando decidiu dividir com Chris, que fazia administração, um amigo que conheceu na aula de Direito Administrativo depois de uns meses de faculdade.

Leon estudava pela manhã e trabalhava dando aula em uma escola ali perto na parte da tarde, já que tinha currículo e indicação de seu pai para isso. À noite, gastava sua mente nos livros grossos e massivos de direito para que não tirasse notas baixas.

Chris estudava pela manhã e trabalhava na secretaria de finanças à tarde. À noite, enquanto insistia para seu amigo largar os estudos e se juntar a ele em algum pub para beber, terminava por caminhar sozinho pelas ruas de Chicago em busca de alguma coisa, que nem mesmo ele sabia o que era.

Quatro indivíduos e seus sonhos, cada um com sua personalidade marcante. Vivendo em uma cidade nada comum, e aos poucos descobrindo mais sobre eles mesmos. Afinal, a vida é cheia de descobertas paralelas.