Com o clima gélido de 10°C, amanheceu em Frederick. Ainda era cedo quando Jill notou a movimentação na casa. Olhou para onde sua irmã havia dormido, mas nenhum sinal de Rebecca. Ainda envolvida pelo sono, aninhou-se mais a seus cobertores na esperança de aproveitar ao máximo o seu cantinho, entretanto, como nem tudo são flores no jardim, a garota deu um pulo da cama ao se lembrar de que seu natal feliz estava em risco, graças a um hóspede indesejável.

Ela sabia que Chris não costumava acordar tarde, pois tinha o hábito de correr todas as manhãs. Ao deixar o quarto atravessou o corredor indo até o quarto de Chris, mas o encontrou em perfeito estado, a cama já arrumada e os edredons dobrados, coisa que ele jamais fazia depois que acordava. Jill nunca o viu organizando o quarto em nenhum momento. Preocupada com o que ele poderia estar fazendo para prejudica-la perante sua família, ela seguiu em direção à cozinha onde provavelmente todos estariam reunidos para o café da manhã.

Logo ouviu a voz dele vindo da cozinha e essa voz estava compartilhada entre Joan e Rebecca. Ela deu uma pequena olhada no ambiente onde Chris falava sobre Chicago como se tivesse nascido naquela cidade, atiçando ainda mais a vontade de Rebecca a conhecer o Estado de Illinois, enquanto degustavam de um belíssimo café da manhã. Frank, Anne e Dick não estavam presentes. Jill imaginou que os tios ainda não haviam chegado e seu pai estaria na loja. Por causa disso se tranquilizou, retornando em seguida para fazer sua higiene matinal.

Algum tempo depois a garota já estava pronta para desfazer todo àquele mal entendido, seria melhor acabar com tudo antes que a situação ficasse fora de controle. Quando se aproximou da sala notou que Dick e Joan dialogavam sobre o novo casal. Ficou curiosa a respeito do assunto, então apenas ficou quieta próxima à entrada do cômodo.

—... Não, eu não quero ser tão restritivo... Mas eu quero ter certeza de que a minha filha está bem e feliz. Embora eu não vá com a cara desse moleque. – Dick expôs.

Jill se assustou com a tal afirmação... Ela precisava saber se aquela frase veio com cuidados de um pai ou se realmente ele conseguia enxergar os erros de Chris como ela.

— Ah Dicky! Christopher é um amor. É um rapaz que realmente visa o futuro, está na faculdade e trabalha em um órgão publico. Ele pode cuidar muito bem da nossa filha. – Joan sorrindo acariciou o rosto do marido, mas Dick estava impaciente e logo se levantou do sofá.

— Eu não me preocupo com o que ele pode oferecer a ela como um bem estar social. Eu me preocupo em saber que talvez ele pode não ser todo esse encanto que ele parece ser. Isso pode machucar a Jill e...

— Mas como você já pode pensar assim se você mal o conhece, Richard? – A delicada mulher também se levantou o seguindo – Você nem mesmo quis ficar por aqui quando ele apareceu para tomar café da manhã. Já pensou que ele pode estar se esforçando muito para tentar impressiona-lo e você não lhe dá uma chance?

— Se ele quisesse me impressionar, poderia ir lá embaixo perguntar se eu estou precisando de ajuda e não sair por ai para uma corrida matinal.

— Nem eu vou saber que você quer ajuda se você não falar. Não é o garoto que mal nos conhece que vai adivinhar. – Ela cruzou os braços mostrando certo aborrecimento.

— Ah, Joan... Você e seu bom coração. Tem alguma coisa muito errada com ele e você não parece estar notando isso.

— Conversamos que você não poderia tirar conclusões precipitadas... Ele é o primeiro namorado que a nossa filha nos apresenta. Você poderia rever seus conceitos já que confia tanto na Jill, ela não faria uma escolha errada de cara. – Joan finalizou e Dicky olhou para ela por alguns segundos, pensativo.

— Me desculpa. Você sabe como sou quando se trata das nossas meninas... – Dick se aproximou da esposa depositando um beijo em sua testa em sinal de rendição. Ela descruzou os braços e o abraçou carinhosamente.

— Só lhe dê uma chance, hm?! – Joan o fitou e logo viu um sorriso surgir no rosto do homem.

— Bom dia! – Jill adentrou a sala com um sorriso meigo. Estava chateada por tudo que ouviu, não queria trazer tanta preocupação para Dick. Por outro lado, estava feliz em ver como Joan sempre conseguia solucionar qualquer conflito com aquele seu jeito todo especial. Ela pensou em adiar os pensamentos de esclarecer tudo por um tempo.

— Oh! Bom dia estrelinha! – Sua mãe a saudou. – Dormiu bem?

— Sim... E estou bem recuperada para ajudar em tudo o que eu puder. – Jill abraçou a mãe, depositando um beijo em seu rosto. – Onde está todo mundo? – Na sequência voltou sua atenção ao mais velho. – Papai – A garota repetiu o gesto anterior.

— Bom dia meu amor! – Ele respondeu.

— Rebecca está lá na loja. Anne, Frank e a vovó ainda não chegaram e quanto ao Chris, segundo ele, foi dar uma corrida matinal. – Joan respondeu animada.

— Não vejo a hora de nos reunirmos hoje à noite. Tio Ben também vem não é mesmo? – Jill notou a luz que vinha das cortinas. Se lembrou dos bons tempos em que acordava e corria para o piano de cauda que ficava bem próximo da janela. Sem hesitar, ela caminhou até ele e se sentou no banco. Levantou a proteção das teclas com o pé no sustento, já no intuito de tocar alguma coisa quando reparou que o piano estava desafinado.

— Por que esse piano está tão desafinado?

— Faz um bom tempo que não tocamos nada. Na verdade, você vivia nesse piano, filha. É impossível não sentir sua falta enquanto tocamos. – O pai esclareceu.

— Devo visitar vocês mais vezes. – Jill se sentia chateada pela afobação de querer sair de casa, quando sua casa na verdade, era seu mundo. Deixou o piano e caminhou até o sofá onde seus pais se sentaram.

— E não ficar trazendo surpresas quando vir. – O tom irônico de Dick soou engraçado.

— Acho que você até já sabe sobre o que queremos conversar. – Joan sorriu ao trocar de lugar e se sentar do lado da filha no sofá em L.

— Esse rapaz, o Chris, vocês estão realmente namorando há quanto tempo? – Joan começou.

— Seis meses. – Ela disse com propriedade, mas o espanto no rosto de seus pais fez com que ela voltasse atrás. – Quer dizer, têm seis meses que eu o conheço, eu sei que é tudo muito recente mãe, mas eu queria dizer que...

— Você gosta dele? – Dicky a interrompeu. Olhava curioso para ela.

— É... Não sei se gostar é a palavra certa...

— E você o trouxe por quê? – Dicky rebateu.

— Eu não o tro... – Jill observou a expressão no rosto de Joan. Seja lá o que Chris disse a ela, fez com que ela ficasse ainda mais radiante com a ideia de ter um genro. – Bem... Os pais dele não comemoram o natal e eu não queria deixar ele sozinho nessa data tão especial, então achei que uma boa ideia trazê-lo.

Internamente Jill se amaldiçoava por não conseguir dizer toda a verdade como planejou, não entendia exatamente por que aquilo se tornara tão complicado.

— Tem uma coisa que... É... Filha, eu... Pra você trazer ele para cá por esse motivo, é porque você está muito envolvida com ele. Você está com ele há um bom tempo e nós sabermos que isso... Isso implica que... – Dick mostrava-se constrangido e isso fez a garota semicerrar os olhos por um momento. – Vocês... Vocês se previnem, não é?

— Não! Q-quer dizer, sim! Espera! Não é nada disso! Ele me respeita muito. – Jill encarava o pai tentando evitar a vergonha.

— Dicky, isso é uma conversa de meninas! – Joan encarou o marido, chateada.

— Não tem problema, mamãe. Eu sei que o papai se preocupa comigo... Chris é um cavalheiro, decidimos que só daremos esse passo tão importante quando eu estiver pronta, mas não se preocupem... Provavelmente isso será depois da faculdade. – A musicista sorriu forçado, se arrependendo de ter dito quando transaria com o "namorado” que na verdade nem era um namorado.

— Olá família. – A voz de Chris se fez presente, fazendo com que a conversa fosse finalizada. Joan sentou ao lado do marido, deixando um espaço para Chris ficar ao lado de Jill. – A conversa estava muito boa, não é mesmo? – Ele se sentou.

— Sim, estávamos falando sobre você Chris. Na verdade sobre nós. Tem mais alguma coisa que vocês queiram saber? – Jill perguntou de uma maneira em que sabia que finalmente aquela conversa acabaria ali. Ela só não esperava as reações inéditas de seu pai.

— Jovem, há quanto tempo você e a minha filha estão namorando?

— M-mas eu já respondi isso, papai. – Jill replicou confusa com aquela atitude e preocupada pelas respostas não parecerem similares. Ela tomou com as duas mãos a mão mais próxima de Chris e a apertou como se fosse um código Morse para que ele pudesse encarar ela como assim fez. – Suas mãos estão geladas amor... Não deveria sair para correr nesse frio.

— Desculpa... É tudo culpa da minha saúde debilitada. Eu sei que pareceu bem egoísta da minha parte Sr. e Sra. Valentine mas... É que eu sofro de “osteoporositede... sedentarite”. Se eu não caminhar todas as manhãs, os meus ossos ficam frágeis e a minha pressão arterial cai. E eu não gostaria da passar o meu primeiro natal com a Jill, causando qualquer transtorno. – Chris segurou firmes as mãos dela, notando que Joan parecia quase emocionada e Dick parecia ter ficado sem graça. Já Jill, ria internamente notando que seus pais estavam chocados com a mais nova mentira de Chris, acreditando veemente em tudo o que ele inventou e aliviada por saber que finalmente, se livrariam de mais perguntas.

— Eu sinto muito pela sua doença, mas não pude deixar de notar que você ainda não respondeu a minha pergunta. – Dick insistiu e Joan estava emocionada o bastante para evitar o marido de ser inconveniente. Chris sabia que Jill tinha inventado algo então ele também teria que improvisar algo para que ao menos fosse coerente com o que ela disse.

— Ah, é... A pergunta... – Ele sorriu confiante. – Vou contar a vocês a minha versão da estória. Eu conheci a Jill há um tempo e no momento em que eu a vi, ela me chamou a atenção. Porque tinha algo nela que era anormal... No bom sentido. Ela sempre foi muito sincera... E acho que essa qualidade veio do Sr. Valentine. Mas ela era muito bela e isso com certeza veio da mamãe Valentine. Essas qualidades vieram como um presente pra mim, que estava procurando alguém com sonhos, sinceridade, determinação e bom senso, alguém admirável. E no momento em que os meus olhos acharam esse tesouro, eu me vi completamente entregue a ela. – Chris se virou pra encara-la e se assustou quando ela parecia paralisada ao olhar para ele, incrédula. – Então... – Se virou novamente para o casal. –... Tempo é muito relativo nesse caso, não acham?

— Ah... que lindo! E se quer minha opinião querido, acho que você foi o mesmo tesouro para ela. – Joan fechou aquele discurso com um Chris envergonhado que olhava para baixo risonho. Jill já tinha voltado a si, sabendo que aquilo não era nada real quando encarou seu pai, que não conseguiu ao menos dizer uma palavra contra aquilo.

— Agora eu preciso de um banho para ajudar a minha mais nova família no que eles precisarem! Há algo na loja na qual eu possa ser útil Sr. Valentine? – Chris disse ao deixar as mãos de Jill e se por de pé. Jill sabia que ele tinha escutado a conversa anterior.

Dick olhou para ele pensativo e Jill já sabia que ele não deixaria nada tão fácil para Chris, então balançou a cabeça afirmando que a ajuda do rapaz seria bem vinda. Naquele momento, um burburinho era ouvido na entrada da casa, Anne e Frank haviam chegado para delimitar a estratégia da festa de natal. Bastava saber apenas como elas seriam executadas.

Após a chegada dos outros, foi aberta a reunião para determinar a função de cada um naquele dia. Era sempre divertida a reunião de véspera de natal, pois era uma disputa para ver quem ajudaria Anne e Elizabeth no preparo das guloseimas. Frank e Rebecca faziam par ou ímpar e sempre que um deles perdia, criavam uma nova modalidade: Melhor de seis. Jill sempre ficava com Dick na loja, entretanto dessa vez quem a ajudaria seria Chris.

Ela então desceu para iniciar seus afazeres, inspirou fundo quando sentiu o aroma delicioso da loja. Algumas coisas haviam mudado desde a última vez que esteve ali, mas ainda podia detectar alguns detalhes na organização feitos por ela, como a coleção de livros que ela havia separado por cores.

Naquele mesmo momento, os três funcionários de seu pai, Adam, Nick e Jean, que ela conhecia muito bem ainda estavam ali e não hesitaram em cumprimentar a moça. Depois de trocar algumas palavras com eles, foi até Rebecca que terminava de organizar o caixa.

— Bom dia Jilly! – Rebecca exclamou sorridente.

— Bom dia Becka… Vocês mantiveram algumas coisas como deixei!

— Sim, o papai disse que é uma forma de mantermos nossa família unida… Mas vamos ao que interessa, está me devendo aquela conversa de ontem. Ah! Não consegui conter a riso ao imaginar a mamãe pegando você e o cunhadinho no flagra. – A menina parecia muito animada.

— O que?! Como você está sabendo disso?! – Jil arregalou os olhos assustada.

— Chris estava explicando para a mamãe o mal entendido hoje cedo. – Rebecca respondeu despreocupadamente, quando viu Chris descer as escadas de acesso à loja. – Falando no bonitão...

— E ai meninas... – Ele vinha em direção das moças, observando a estrutura da loja e parecia satisfeito com o que via. Cumprimentou educadamente os funcionários que trabalhavam e finalmente chegou aonde queria. – Então... Parece que eu vou ficar por aqui mesmo. Rebecca, você vai ficar trabalhando aqui comigo... Mas... Se aqui já tem três funcionários, acho que não há muito que fazer, não é?

— É sim... A não ser que o papai peça para você acompanhar ele lá fora... Lidamos com entregas e falando nisso, estou no aguardo de um caminhão com os produtos dos clientes que pediram em catalogo. – Rebecca deu uma checada em uma prancheta. – Graças a Deus os materiais chegarão antes do prazo limite de entrega para os clientes... Que é hoje.

– O que seriam esses tipos de materiais... Só pra eu ter uma noção no que eu estou me metendo? – Chris tentava evitar hostilidade, principalmente quando Jill o observava como se pudesse controla-lo nessa parte.

— São materiais que não cabem na loja. Mas fica tranquilo, provavelmente Nick e Adam vão te ajudar com isso. – Rebecca apontou para os funcionários.

— Ah, ótimo. É tão divertido ter uma loja. Eu poderia muito bem assumir esse negocio já que estou me formando na área. – Chris acenou para eles como se já os conhecessem.

— Ah, é mesmo? Eu quero estudar administração também. Desde que a Jill foi embora, eu meio que comecei a pegar jeito nessas coisas aqui e assim que terminar a escola, eu penso em fazer uma faculdade. Administração está em segundo lugar na minha lista.

Depois de Medicina. Se eu não conseguir passar para Medicina na Universidade da Califórnia, em San Francisco, vou para Chicago para fazer Administração e então ser uma das suas calouras.

— Como é que é? Você quer fazer medicina em San Francisco? Eu consigo isso para você. – Chris sorriu desleixado.

— Como assim? Você tem contatos por lá?

— Eu sou de San Francisco... E conheço uma galera que trabalha lá na faculdade da California... Minha mãe dava aulas por lá quando eu era mais jovem.

— Isso é verdade mesmo? – Jill interrompeu a conversa pela surpresa caso aquilo fosse verdade. Se fosse mentira, ela se magoaria profundamente com ele por mentir sobre um assunto tão importante para sua irmã.

— Ah, bebê... Você se esqueceu de que nós vivíamos falando sobre isso? Eu já te contei tudo sobre a minha família... – Chris disfarçou a surpresa de Jill quando Rebecca parecia sentir um clima estranho entre eles no ar. Mas depois que Chris disse isso, Rebecca parecia se derreter ao ver aquele carinho demonstrado com um sorriso de orelha a orelha.

Se tinha uma coisa que Jill nunca soube de verdade, era sobre a família de Chris, claro, tirando a irmã que ligava para ele de vez em quando. Porém ele não citava seus pais, seus parentes... Raramente se lembrava dos amigos de sua terra natal ou pelo menos, não falava com eles, não na frente dela. Isso a incomodou, então ela fez uma nota em mente de que perguntaria a ele sobre isso quando tivesse oportunidade.

Jill ouvia a interação de Chris com a irmã impressionada por eles parecerem ter se conhecido há muito mais tempo que ela mesma. Naquele momento, Dicky apareceu convocando todos os funcionários para uma pequena reunião, próximo ao balcão, onde estavam.

— Meus caros, esse natal está sendo muito especial para mim. Por termos a presença da minha primogênita conosco, apesar de ela ter trazido um peso a mais para minhas costas... Que é o meu mais novo filho, aquele rapaz... Christopher. – Dicky se esforçava para não soar tão rude quando pretendia ser brincalhão. Chris por outro lado, não perdeu tempo e brincou com o momento, fazendo uma continência militar para Dicky com um sorriso sarcástico no rosto. – E por ele ter se oferecido para me ajudar com a loja, eu vou dispensar todos vocês hoje.

Seus funcionários pareciam perdidos, tal como as suas filhas.

— Papai... Acho que não é uma boa ideia, a loja vai ficar uma loucura daqui a algumas horas. – Rebecca saiu do balcão, parando a frente de seu pai, assustada com aquela atitude.

— Eu soube que o rapaz ali entende de administração... Acho que está na hora de ele me provar que pode assumir uma loja sem problemas.

— Papai, o Chris mal conhece a loja. Se ele vai ficar aqui, é melhor que ao menos ele faça algo mais leve. Rebecca disse que tem material chegando. Tenho certeza que alguém vai ter que ficar responsável pelas entregas, além disso, alguém tem que dar suporte aos clientes... Ele não vai dar conta.

— Relaxa, princesa. – Chris escondeu o ódio de seu suposto sogro atrás de um sorriso de tranquilidade ao abraçar Jill por trás e deixando um beijo no topo da cabeça dela para irritar o homem que o assistia. E ela chateada por saber que estava se tornando um prêmio para ambos os lados se afastou de Chris. – Sr. Valentine, vou manter tudo sobre controle por aqui.

— Viu Jill... Acho que ele pode dar conta de tudo. Enfim, Nick, Adam e Jean... Podem ir para suas casas e tenham um excelente natal. Rebecca, você continua no caixa e Jill... Você tem algumas coisas lá em cima para fazer que eu não me lembro por agora. Eu estou indo buscar o tio Ben e a Tia Gretha. Boa gerencia para você, meu filho. – Tirou a chave da caminhonete do bolso jogando em direção a Chris que agarrou a chave no ar. – Espero que tenha um pequeno mapa em mãos, garoto. Frederick não é tão pequena quanto parece.

Jill sentiu que no fundo, seu pai ainda mantinha certo rancor pela presença de Chris e sabia que isso também acabaria a irritando. Sabia exatamente o que Dick estava fazendo, porque ela era idêntica a ele quando aquele lado dela se aflorava.

— Estamos ferrados, Chris. – Rebecca expirou se sentindo cansada ao ver os funcionários deixando o ambiente com um pequeno aceno que ela retribuía com tristeza. – Muito ferrados. Quando aquelas portas se abrirem, vai surgir gente até do Alasca para entrar aqui e comprar os presentes de ultima hora.

— Quanto tempo seu pai vai demorar, aproximadamente? – Chris olhava para fora, observando até quando Dicky deixaria o ambiente com um carro familiar.

— Umas duas horas, acredito. – Rebecca estimou.

— Perfeito!

Assim que Dicky deixou a vista, Chris correu até alcançar os funcionários que estavam deixando a loja, enquanto Jill e Rebecca observava as atitudes inesperadas do rapaz.

— Cinquentão para cada um por mais uma hora aqui na loja! – Propôs parando na frente dos três.

— Não sei se é uma boa ideia. – Jean, a única mulher do grupo hesitou.

— Ah, qual é... Cinquenta dólares de graça em plena véspera? Nem o papai Noel faz isso.

— Sessenta amigo... – Adam propôs.

— Cinquenta e cinco e acabou... Quem não quiser é só ir embora. – Ele parecia resistente.

Os três se entreolharam e assentiram ao final.

— Tudo bem... Você tem apenas uma hora... O que pretende fazer? – Adam o questionou.

Chris chamou as meninas para se juntarem aos funcionários com a mão.

— É o seguinte. Essa loja está muito bem organizada... Mas não tão bem organizada para um dia especial, como a véspera natalina. Eu não costumo prestar bem a atenção na aula de Organização Sistemas e Métodos, mas eu lembro exatamente do que a professora disse na ultima aula. Então, vamos mudar algumas prateleiras de lugar com uma nova departamentalização. Colocar marcas idênticas ao lado uma da outra e principalmente dividir as sessões entre o publico alvo. Isso vai evitar o cliente de chamar o funcionário o tempo todo e como eu vou ser o único funcionário aqui, não vou querer ninguém no meu pé o tempo todo.

Todos eles pareciam não entender sequer uma palavra técnica que ele havia dito então Chris começou a delegar tarefas. Todos foram se dispensando aos poucos quando Jill ficou parada a sua frente.

— Isso vai dar merda... Meu pai vai odiar isso e odiar você. A não ser que você queira tirar ele do sério para que eu pague as consequências. Se você estiver com esse tipo de intenção Chris...

— Não, não meu docinho... Você não vai sofrer nada com isso. Eu tenho tudo sobre controle, eu já disse. E vou melhorar as vendas para essa loja e acabar logo com essa palhaçada de não ser aceito pelo seu pai, ele vai ter que me engolir Jill... Isso já nem tem mais a ver com você... Agora isso aqui é pessoal. – Ele tinha agarrado delicadamente o rosto dela passando o dedão sobre sua maça do rosto.

— Eu vou manter meus olhos aqui em baixo e se você aprontar...

— Relaxa... Vai ser bem divertido o dia hoje. – Inesperadamente Chris selou os lábios da jovem com um beijo rápido, que fez ela se afastar imediatamente com o susto.

— Os pombinhos podem namorar outra hora? Temos uma loja para organizar em apenas meia hora antes de abrirmos as portas. Jill vai lá pra cima e termina logo o que você tem que fazer pra voltar aqui e ajudar a gente. – Rebecca parou no meio dos dois com uma caixa de papelão nas mãos.

— Tudo bem... – Ela se afastou de ambos e então caminhou em direção a sua casa. Estava irritada pelo toque, mas não podia manifestar sua raiva, não naquele momento. Antes de sair do ambiente, deu uma ultima olhada de preocupação e se deparou com um Chris que se divertia com o que estava fazendo. Uma atitude que não deixava de ser uma novidade para ela.

Ao subir, não havia sinal do tio Frank, da vovó Elizabeth e nem da sua mãe, Joan. Encontrou os gêmeos chorando em seus andadores e a Tia Anne dividida entre dar atenção para eles ou cozinhar... Estava ciente que a tarefa mais fácil e menos demorada era apenas colocar as crianças para dormir. Se ofereceu para cuidar dos bebês a fim de agilizar seu tempo para descer e ajudar quem parecia não precisar de uma ajuda.

— - -

Desde que Claire soube da última novidade, ainda surpresa, mantinha uma chateação bastante evidente. Entrou na nova residência de Leon fazendo uma expressão de desdém ao ambiente. A sala era repleta de quadros e esculturas, objetos de decoração bem peculiares para alguém como ela. Principalmente ao olhar uma pintura estranha e tentar entender desde quando rabiscos como aqueles se tornaram arte.

— Não sabia que você gostava tanto dessas coisas... Acho isso tão esquisito e sem graça.

— Disse ao parar em frente a um quadro depois de jogar a mochila no sofá inconvenientemente.

— Bem, acho que você não está acostumada a entender esse tipo de arte. – Leon tentou forçar uma simpatia. – E alias... Isso tudo foi a minha namorada que fez, ela é uma artista plástica. Essa pintura retrata o interior do ser humano diante dos avanços da vida moderna. – Ele explicava enquanto fitava a obra com um sorriso no rosto.

— Neste caso acho que ainda vivo no século 15. A propósito, péssimo gosto para mulheres Leon... Tenho certeza que você pegou uma cinquentona. – Claire disse torcendo os lábios.

— Será que dá pra parar com a implicância? – Leon cruzou os braços, incomodado. No fundo ele sabia muito bem porque ela estava reagindo daquele jeito, já que vivia evitando as indiretas e cantadas da moça. – Mas e aí, como vai os estudos? – Tentou trocar a conversa sinalizando pra ela para segui-lo até a cozinha.

— Uma chatice. Eu só queria a droga do diploma, mas ter que assistir todas aquelas aulas todos os dias, professores no meu pé... O fato é que eu tenho que passar de ano se não vou ter que ficar presa mais tempo por lá...

— E só piora na faculdade, vai por mim. Aliás... Já pensou em qual carreira seguir? – Leon preparava uma mesa de café da manhã enquanto Claire o assistia de braços cruzados.

— Moda, embora fosse uma boa me tornar designer de interiores. Garanto que cobraria poucos dólares para ajudar vocês a decorarem esse bangalô. – A ruiva provocou novamente.

— Claire... – Leon a repreendeu. – É sério, com todo esse colorido e esse óculos da Lady Gaga? Está mais para versão feminina do Elton John.

— É uma tendência. Mas tem razão, eu não sei ainda o que eu quero da vida, talvez eu faça administração porque é isso que fazem todos os indecisos... Como o Chris. Não sei como ele ainda não desistiu dessa palhaçada e foi tentar a sorte naquilo que ele sabe fazer de melhor.

— É porque no fundo seu irmão gosta daqui. E eu tenho que dizer... Ele mudou um pouco desde que você apareceu pela ultima vez.

— Mudou? É sério isso? – A ruiva parecia maravilhada e fingiu limpar os ouvidos de um jeito irônico.

— Mas não pense que ele se tornou alguém como eu... Não que eu seja um exemplo para se comparar...

— Mas é claro que você é! – Claire o interrompeu e ele revirou os olhos divertidamente puxando a cadeira para ela se sentar.

— Enfim... Tem um bom tempo que ele não reclama sobre querer ir embora de novo para a Califórnia ou mesmo sentir saudades de lá. E também, ele está indo trabalhar todos os dias e nunca mais apareceu bêbado no trabalho ou na faculdade. E ele também parou de enrolar as garotas. Eu acho que desde que ele conheceu uma moça, ele tem mudado bastante. – Concluiu apontando para a mesa. – Já pode começar a se servir, vermelhinha... – Leon se sentou ao seu lado para tomar seu café da manhã com a garota.

— Mulher? Leon, até quando você vai ficar com essa paranoia de que apenas uma mulher vai mudar a cabeça do meu irmão... Até parece que você não conhece ele!

— Eu não diria isso... Ele está namorando uma garota agora. O nome dela é Jessica, ele não comentou isso com você? – Leon mostrou-se surpreso.

— Não. Se ele não comentou comigo, não é sério... Vai por mim. E aposto que não é só nessa Jessica que ele está de olho. – Claire notou que os produtos na mesa eram todos integrais, ao contrário de quando o rapaz morava com Chris, onde eram poucos os alimentos "saudáveis".

— Ele está com ela em Aspen.

— Há! Agora eu já entendi tudo. Ele vai só vai querer curtir uma temporada patrocinada por essazinha e depois vai largar ela. O que ele não faz por uma adrenalina. Ela é rica né?

— Acho que tem uma boa condição.

— Xeque mate! – A menina sorria e falava em tom de deboche. – Ele foi esquiar já que adora essas coisas, vai passar o natal com ela e depois ele vai voltar e vai terminar com ela. Simples assim. Quer apostar? – A garota tinha plena convicção de estava certa.

— Eu não sei não... Já tem quase seis meses que eles estão juntos. E apesar de prever que isso pode acontecer, eu acho que tudo o que o seu irmão precisa às vezes é sair da realidade e começar a enxergar um ponto de vista fora daquele mundo caótico em que ele brinca de viver. Talvez Aspen não seja só curtição... Vai que ele se...

— Vivi para ver isso! Leon Scott Kennedy se contradizendo... Pensei que ainda estivesse preso a ideia de que Chris devesse viver a realidade e não suas ilusões. Mas que seja... E ai? O que temos para hoje? – Claire interrompeu o loiro não querendo dar continuidade ao assunto. – Digo... Eu não faço ideia do que fazer desde que meu irmão não me avisou das gandaias dele... Você não vai viajar né?

— Não... Eu e a Ada vamos ficar por aqui mesmo.

— É que... Eu não queria ir embora, sabe... Você sabe como eu odeio datas comemorativas com meus pais, eu cansei de ser a guirlanda deles. Eu já tinha planejado que eu iria passar o natal na casa do meu namorado, mas a gente brigou e eu não pensei duas vezes em vir embora. E dessa vez eu vim sem avisar porque eu sei que no ano passado, Chris deu um jeito de se livrar de mim. – O sentimento de descaso seguido de segundas intenções da moça parecia bastante persuasivo. – Seria um problema se eu ficasse por um tempo com você? – Logo ela segurou delicadamente no pulso de Leon que estava apoiado sobre a mesa para parecer mais convincente sobre seu estado melancólico.

Naquele momento Ada tinha se levantado ao notar que Leon já tinha saído da cama. Caminhava para o banheiro quando ouviu uma voz miada que vinha da cozinha. Ao chegar à cozinha, ainda do lado de fora, se deparou com uma ruiva alisando o braço do seu namorado. Ela adentrou ao cômodo com mais convicção assustando a ambos e principalmente a Leon que outrora estava abalado com a situação da moça, não se dando conta que ela parecia muito carente.

— Bom dia meu amor... – Leon se levantou rapidamente e parecia um pouco nervoso pela surpresa.

— Acho que o dia está muito bom para você e sua companhia... E você seria quem mesmo? – Ada tentou manter uma postura indiferente ao encarar aquela situação, mesmo incomodada com a visita que ainda não tinha tirado os óculos com detalhes coloridos do rosto.

— Claire, uma grande e velha amiga do Leon... E você? – Claire já estendia a mão para cumprimentar uma Ada confusa quando Leon optou por complementar a frase, para que aquilo não o prejudicasse.

— Claire Redfield... Na verdade. – Olhou assustado à moça que parecia se divertir com a situação com o nariz arrebitado. – Ela é irmã mais nova do Chris.

— Ah... Sou Ada Wong. – Ada parecia surpresa ao suspeitar uma hipótese de algum caso do passado, devido a língua afiada da moça parecer bastante convincente, mas naquele momento em que a moça levantou os óculos, prendendo-os como uma tiara em sua cabeça, Ada então notou que ela era apenas uma menina então, seus ciúmes começaram a se controlar gradativamente. – Irmã do Chris? Então nesse caso, pra mim é um prazer conhecê-la.

— O prazer é todo meu... E não é que você é bonitona pra uma senhora! – Claire sorria debochadamente. – Com toda sinceridade, quando entrei aqui, eu confesso, eu achei que você fosse bem... Bem mais velha.

Leon parecia se assustar com as atitudes de Claire quando Ada gargalhou o abraçando, empossando-se do namorado.

— Eu já sei... Foram as obras de arte, não é mesmo? Ou o tom mais sério que esse apartamento trás. Você não é a primeira a me dizer algo assim. Mas obrigada pelo elogio, Claire. Parece que já começamos com o pé direito embora seja uma surpresa te ter por aqui.

— Olha se já começamos bem desse jeito... Eu já estava comentando com o Leon que eu acho que vou passar um tempo com vocês por aqui. Bem, eu não tenho um lugar para passar o natal e eu me acostumo com novatas de cara, ou seja, você não seria um grande embaraço pra eu me acostumar. Eu até estou me saindo muito bem nas aulas de culinária na escola. Podemos fazer cookies e distribuir pelo prédio para convidar a galera para uma festa de natal as pressas que eu me encarrego de arrumar.

— Ah, vocês estavam planejando uma festa de Natal? – Ada se virou para Leon usando um tom irônico.

— Não sua tolinha... Eu só queria passar o Natal com vocês, já que eu não tenho pra onde ir. A festa é tudo ideia minha... Eu amo festas e uma data como o Natal não se pode passar em branco. Quer dizer... Vocês planejavam ir à festa de alguém? Porque se for assim, eu adoraria ir junto também.

— Não... Na verdade, eu e o Leon não iríamos comemorar o natal. – Ada rebateu cruzando os braços para as atitudes da moça á sua frente.

— E iriam fazer o que no lugar de comemorar o natal? – Claire parecia assustadoramente abalada.

— Bem, nós tínhamos planejado um momento a dois. – Ada forçou um sorriso para Leon, que apenas observava tudo admirado com a persuasão das mulheres.

— Opa! E porque não fazer um momento a três? Quer dizer, isso soou muito melhor na minha cabeça. Mas... Fala sério Ada? É natal e não dia dos namorados. Vocês não podem estragar uma data tão especial assim por serem egoístas. Se o problema é planejar uma festa, vocês estão falando com a fada madrinha das festas. – A mais nova fez alguns passos de dança na tentativa de incentivar o casal.

Ada e Leon se entreolharam incomodados enquanto Claire esperava uma resposta positiva.

— Desculpe Claire... Nós não comemoramos o natal. Se quiser ficar até o ano novo, vamos dar uma festa assim e aí você vai aproveitar. – Leon disse tentando segurar as pontas, mas isso só acabou deixando Ada mais perplexa.

— Até o ano novo? Jura que eu posso ficar aqui até o ano novo? – Claire parecia animada demais para receber uma resposta negativa de Leon, que notou naquele momento que tinha cometido um erro, principalmente ao ver o olhar de Ada sobre a situação. – Awww, vocês são tão legais. – A moça não esperou uma resposta final quando abraçou o casal, que parecia estar em luto ao seu natal perfeito. – Tudo bem se vocês não querem uma terceira companhia no “dia dos namoratal” de vocês, mas eu não vou conseguir passar esse natal sem festa.

A moça saiu em direção à porta principal e parou no corredor do andar no prédio, seguida por Ada e Leon que procuravam entender a finalidade da ruiva que media o salão com palmos.

— Só uma curiosidade... O que você está planejando? – Leon perguntou, observando da porta a ruiva andando para lá e para cá no corredor.

— Uma festa de natal no corredor!

— Para quem?! – Ada replicou inacreditada.

— Para todos os vizinhos desse prédio! Preciso conhecer a vizinhança e como vou passar mais tempo do que planejei eu preciso me familiarizar com Chicago. Ah, Ada... Por quanto você me aluga a sua cozinha? Espero que não tenham planejado a comemoração de vocês na sala. Vou passar o tempo todo por ali para chegar à cozinha e sabe como é o movimento de festa né?

Ada assentiu sorrindo sem graça e adentrou no apartamento revirando os olhos. Leon logo deixou a senhorita Redfield com seus planos e seguiu para dentro pois precisava se desculpar com a morena.

— Ada espere... – Leon a impediu de adentrar no quarto. – Eu... Eu sei que você está chateada, mas e...

— Pelo nosso primeiro natal juntos ter sido frustrado? Leon, essa garota está a menos de uma hora aqui e já quer fazer da nossa casa uma Rave! E o pior, com o seu consentimento! – A asiática expôs cruzando os braços.

— Tudo bem, eu entendo que talvez eu tenha me equivocado... Mas amor, Claire veio para cá porque não está bem, não seria justo com Chris deixar sua irmã voltar para casa assim, hm?! São poucos dias, provavelmente Chris estará de volta antes do ano novo aí ela irá lá para cima.

Ada suspirou pesadamente em desistência.

— Controle essa locomotiva desgovernada ou ela voltará para São Francisco muito antes do previsto. – Ada finalizou com um sorriso, mas o rapaz conhecia muito bem aquele gesto, então teria que fazer o impossível para conter a impulsiva Redfield.

— - -

Nick já havia dormido e o único problema era Charles, que não queria parar de brincar com a prima legal. Jill não imaginava que se daria tão bem com os bebês. Mesmo assim, a melhor coisa foi ter afinado o piano rapidamente e então ter colocado Justin em seu colo para ele brincar com as teclas enquanto ela tocava uma canção bem sonolenta para ver se o menino se acalmava. Finalmente quando ela reparou que ele já estava bastante desanimado, só bastou aninha-lo nos ombros que finalmente ele havia dormido.

Nisso, Tia Anne a ajudou a lidar com os gêmeos adormecidos, trocando algumas palavras com ela. Jill acabou falando para a tia sobre sua preocupação, contando o que seu pai havia feito com Chris. Anne se divertia ao dizer que sempre esperou uma atitude daquelas de seu pai. Mesmo assim, Anne notou que Jill queria muito saber como estavam as coisas lá embaixo, então poupou ela de outras tarefas que ela poderia lidar sozinha já que seus filhos estavam no mais profundo sono. Retornou à cozinha ao sentir que poderia ter queimado alguma coisa. Jill permaneceu alguns minutos a mais no quarto dos pais onde eles dormiam. No fundo, ela gostou de cuidar daquelas crianças e se perguntava se ela poderia ser a próxima da família a ter gêmeos.

Jill foi até a cozinha e já havia uma nova pessoa na casa: Tia Gretha, a pessoa que ela menos gostava de toda a sua família. Gretha era uma mulher de baixa estatura, cabelos loiros curtos, e acima do peso ideal, ainda que atribuísse isso ao estresse que seu marido Ben a fazia passar. O fato era que Gretha tinha se casado com um homem quase dez anos mais jovem que ela e por conta disso vivia com ciúmes dele. Todos não entendiam o porque, já que Ben era perdidamente apaixonado por Gretha.

— Jillian, minha querida! Como está? – Tia Gretha foi até ela e lhe deu um abraço caloroso. – Está tão bonita... Chicago te fez bem, não é?

— Acho que sim Tia Gretha... Onde estão os meninos e o tio Ben? – Jill sutilmente desfez o contato.

— Olivia e Owen estão lá embaixo, na loja. Acabamos de chegar... Pegamos um pequeno voo de Baltimore para Frederick, graças ao seu tio Ben que é policial e conseguiu nos encaixar em um voo municipal de ultima hora. Ah, seu pai quebrou o carro em Baltimore. Ele e seu tio vão demorar um pouco para chegar. Fico até preocupada com o que eles podem aprontar enquanto estão sozinhos por lá. – A mulher soava pensativa.

— Tia... Não dá para fazer muita coisa quando o objetivo é unicamente chegar a tempo para o natal – Jill retrucou com um sorriso forçado.

A garota se surpreendeu em como a tia conseguia distorcer a realidade, na verdade, nunca poderia esperar nada bom de alguém que parecia ter caído de paraquedas na vida daquela família e se tornado tão inconveniente.

— Eles estão precisando de ajuda? – Anne perguntou ao desligar a batedeira que manuseava.

— Não, eles podem se virar. Mas onde que eu vou dormir mesmo, hm? – Gretha parecia impaciente.

— É melhor esperar a mamãe chegar. Acho que ela já deve ter providenciado isso. – Jill queria se esquivar para a loja, sem deixar com que Gretha soubesse sobre o que seu pai tinha feito com Chris, ou melhor... Se perguntava se manter Chris como seu namorado poderia se tornar um peso a mais para ela carregar por ser uma mentira. E ela não queria que sua tia se intrometesse muito nesse assunto que sempre foi um motivo do aumento do desgosto da morena com Gretha. – Eu vou dar uma checada lá embaixo pra ver se a Becca está precisando de ajuda.

— Tudo bem, não quer levar nenhum biscoitinho para ela? Ah, tem o Chris também... – Anne foi em direção ao tabuleiro e Gretha fez um olhar curioso.

— Quem, por Deus, é Chris?

— Ah, a Jill trouxe uma novidade pra nós nesse natal. O Chris é o namorado dela, de Chicago. – Anne disse empolgada.

— Namorado? Olha só... Não é que a Jilly finalmente conseguiu um? Já tínhamos perdido as esperanças disso acontecer querida! Até a Olivia está com namoradinho e você estava sem ninguém até agora pouco. – Gretha riu tentando não demonstrar deboche.

— Não diga isso, Gretha... Quando você ver o partidão que ela arrumou, vai morder sua língua. – Anne disse entregando para Jill, que sorria por dentro, uma tigela com a primeira fornada de cookies. – Enquanto isso, você poderia assumir o lugar da Jill aqui e me ajudar com as saladas.

Rapidamente Jill desceu as escadas com um sorriso meigo no rosto. Ela se sentia vingada sobre todas as piadinhas que a sua tia tinha aprontado com ela e tudo o que faltava agora era apresentar seu galante namorado para a ela, finalmente... Por mais que no fim das contas tudo isso fosse uma farsa, uma farsa que pela primeira vez parecia tão confortante.

Ao se dar conta do que tinha acontecido com a loja, que parecia muito diferente de algumas horas atrás, estava impressionada com a maneira que os clientes se adaptaram muito bem com a nova organização e pareciam ter seus cestos cheios de produtos. Não tinham menos de cinco itens em cada cesto.

Rebecca e Olivia, a filha mais velha da tia Gretha e do Tio Ben de 16 anos, ficaram no caixa e responsáveis pela entrega dos produtos embrulhados dos clientes. Olivia veio correndo em sua direção para cumprimenta-la rapidamente e então voltar para sua tarefa.

Jill se aproximou do balcão perguntando à Rebecca sobre Chris que não tinha visto até o momento e sua irmã apontou para a porta principal da loja, onde entravam os produtos que sua ela esperava. Owen, seu primo de 15 anos, estava sendo responsável pela descarga dos materiais e parecia não ter problemas na checagem dos materiais até o deposito, na parte de trás da loja.

— Jill, quanto tempo! – Seu primo lhe deu um abraço. – Estou um pouco sem tempo agora com essas checagens... Mas o que eu não faço por cinquenta dólares, não é?

Jill pareceu um pouco indignada por saber que Chris já tinha barganhado seus primos. Não por eles estarem sendo pagos por Chris, mas por saber que ele estava gastando uma grana alta para mostrar ao pai dela que conseguia dar conta de alguma coisa.

Ela foi para o lado de fora da loja a tempo de ver Chris estacionando a caminhonete do pai dela já fora da visão de dentro da loja. Foi em direção a ele, batendo no vidro do carona. Ele abriu o vidro, com um sorriso presunçoso.

— Parece que a galera está gostando da loja, olha esse movimento. – Ele disse apreciando seu trabalho.

— Como você conseguiu fazer isso? – Ela perguntou assustada.

— Dá uma voltinha. – Ele girou o dedo indicador.

Jill olhou para trás e viu o grande anuncio escrito no vidro da vitrine principal da loja em letras garrafais. “Leve dois itens com 5% de desconto. Leve cinco itens com 10%. Ps.: A promoção vai até o dono da loja chegar de viagem. Corra antes que ele apareça.”

— Como assim? Meu pai autorizou isso? – Ela parecia mais assustada ainda.

— Não... Assim como não autorizou eu ter ido às concorrências agora pouco e soltado esse boato por lá. Por isso aqui está tão cheio e antes que venha com a sua lição de moral, eu sei que eu cometi trapaça, mas eu não estou arrependido nem um pouco. Afinal, ninguém conhece meu rosto por aqui.

— Eu sabia que nesse seu planinho de administrador teria alguma trapaça do tipo. Meu pai vai matar você quando descobrir esse anúncio. Aqui é cidade pequena e as pessoas vão comentar sobre isso com ele.

— Seu pai nem vai se importar com isso quando tivermos a melhor venda de todos os últimos natais. Ele vai se orgulhar de mim quando ver que consegui dinheiro suficiente pra ele quitar as dividas.

— Eu duvido muito, espero que você não cometa nenhuma besteira com esse seu projeto do mal.

— Que nada, a Becka adorou. – Ele notou que ela ficou chateada então mudou o discurso. – Antes do velho chegar eu apago, está bem? Tomara que isso demore muito afinal, é bom saber que ao menos eles estão bem depois de eu ter manipulado o motor do carro.

— Você fez o que? – Jill parecia perder o controle de si.

— É mentira, calma! Mas que eu tô feliz por seu pai ter se dado mal... Ah, eu estou muito feliz. Agora, entra aí.

— Pra onde você vai? – Ela perguntou mais calma.

— Fazer umas entregas...

— Não tem nada na caminhonete para entregas. – Jill checou a traseira do carro com a sobrancelha arqueada.

— Ah é... Pra você eu não preciso mentir. Vem, vamos andar por ai. Eu já fiz todas as entregas.

— Não... A loja está cheia de clientes... Já quer sujar sua reputação?

— Eu já paguei os escravos e seu pai vai demorar... Vamos logo Jill! E o que é isso ai na sua mão? Comida?

— Promete pra mim que vai ser rápido?

— Você sabe que eu sempre cumpro minhas promessas. – Jogou um sorriso sedutor.

Jill precisava conversar com ele então achou que ali, um momento só deles, poderia ser uma oportunidade que ela aproveitaria.