Reencontro

Ada estava na sala de aula quando recebeu uma ligação de seu professor de faculdade, Sr. White. Segundo ele, a vaga que ela estava precisando foi liberada. Finalmente ela teria uma chance de trabalhar na Galeria de Arte de Chicago que ela tanto visitava. Desde que tinha firmado compromisso com Leon, há um mês, sua vida virou de ponta a cabeça. As chances e oportunidades de crescimento vieram através do seu desempenho, fruto da inspiração que recebia do namorado.

Quando terminou a aula, não pensou duas vezes em pedir para Leon acompanhá-la no dia seguinte para a tal entrevista que faria. Estava nervosa. Era uma grande chance que ela não poderia falhar. Claro que o salário de uma curadora era menor que o de uma professora efetivada, mas já era um bom complemento para seu currículo, caso quisesse ter sua arte dentro de uma galeria. E Leon dava tanto suporte para ela.

E não falhou. Uma semana depois chegou a noticia de sua aprovação. Trabalharia agora na curadoria do instituto, mas só seria chamada depois de um mês. Era o tempo necessário que tinha para se despedir da escola que tanto tanto gostava de lecionar.

Leon não sabia se ficava completamente feliz ou triste. Afinal, era prazeroso encontrar Ada todas as tardes. As visitas deles agora seriam de apartamento em apartamento, pois já estava havendo choque de horários empatando os encontros da faculdade. E faltando uma semana para que Ada saísse, o diretor pediu para que todos os professores se encontrassem na sala dele para uma reunião no fim da aula.

— Recebemos uma verba do governo a fim de gerenciar uma ação social referente ao dia Mundial da Alimentação. Faremos um evento a fim de levar comidas e cestas básicas nas periferias e abrigos de Chicago. E preciso de um professor responsável pela atividade que vai acontecer no domingo pela manhã. Alguém se habilita? – propôs.

Os olhos de Ada brilharam. Logo ela olhou para o lado a fim de fazer com que Leon, ao olhar para ela, entendesse o que ela queria transmitir.

— O que foi? – Cochichou confuso.

— Você não vai se habilitar? É um trabalho social, Leon. – Ela propôs animada.

— Mas é no domingo. – Disse com desdém.

— Não acredito que disse isso... – Ela comenta achando ser uma brincadeira dele e levanta uma das mãos. – Diretor, o Kennedy e eu poderemos estar a frente.

— Ótimo Wong, logo repasso as demandas para vocês se organizarem. Dispensados.

— Porque você colocou a gente pra ficar a frente da atividade? – Comentou baixo com ela depois de ficar pensativo com a atitude da namorada. Eles já estavam deixando a sala.

— Porque eu sei que o meu ‘amorzinho’ adora trabalhos sociais. Seria a minha despedida perfeita desse lugar... Um último trabalho com você. E eu vou sentir sua falta. – Comentou um pouco chateada.

A mente de Leon aos poucos foi se lembrando de Chris e os trabalhos sociais que ele havia inventado. Mais uma mentira de Chris e Leon acabaria explodindo. A sorte do administrador foi que Leon passaria um bom momento com Ada. Mas mesmo assim, já pensou na vingança perfeita para o amigo, para ver se dessa forma, ele pararia de inventar tanto.

— - -

Naquele domingo Leon levantou cedo. E dessa vez, Ada tinha ficado em seu próprio apartamento arrumando os preparativos para o evento. Sem ter avisado Chris ainda, foi até a porta do quarto do amigo.

— Chris, abra a porta. – Leon exclamou ao bater na porta pela terceira vez. Sem nenhum sinal do amigo, Leon abriu a porta aos poucos se deparando com seu quarto vazio.

Depois de fechar a porta do quarto, Leon caminhou em direção a cozinha. Então ouviu um ronco alto. Ele sabia exatamente quem era. Desviando seu caminho, indo de encontro a sala, se deparou com Chris deitado de bruços sobre o sofá.

— Chris, ei... Levanta. – Cutucou o amigo.

— Sai Jessica. – Murmurou com a voz abafada.

— Não é a Jessica, é o Leon. E vou te dar cinco minutos pra se levantar e se trocar amigão. Hoje vamos fazer trabalhos sociais já que você entende bem do assunto. – Ironizou.

— Do que você está falando, cara? – Chris murmurou novamente, tentando abrir os olhos.

— A Ada colocou a gente pra fazer trabalhos sociais no “dia mundial da alimentação”. Vamos fazer uma distribuição de alimentos na periferia. E você vai por bem ou por mal, porque você que colocou a gente nessa. – Concluiu.

— No mínimo foi a Xing-ling que te obrigou. E você, “pau-mandado”, sempre obedece ela. – Ironizou mau-humorado.

— Não Chris, dessa vez você foi quem pisou na bola com aquela estória ridícula. Agora você vai comigo. Estou saindo daqui a dez minutos.

— Tô de porre... não vai dar. Mal cheguei em casa.

— Levanta cara, eu não vou sozinho. Nada que um banho não melhore. – Impôs jogando uma almofada no amigo e indo em direção a cozinha.

— - -

Ada se levantou cedo aquela manhã e deu de cara com um ser vagando pela casa em pleno amanhecer.

— Jill, o que houve?

— Insônia.

— Tão jovem e tão dramática. Que horas você chegou ontem?

— Uma da manhã. Não agüento mais o restaurante.

— Se não agüenta, porque não sai? Você é boa o suficiente pra tocar em qualquer outro lugar.

— Ada... eu quero ir embora para casa. Acho que cansei de Chicago, e essa vida não dá pra mim. Eu sinto falta da mordomia e dos bons cuidados da minha família, dos meus amigos, da minha banda. E de todos aqueles que me amam lá.

— Crise existencial de novo, Jill?

— Já está ficando chato... Eu sei. Mas não tenho mais motivação de estar aqui.

— E a música?

— Eu toco em qualquer lugar. As pessoas em Frederick até parecem mais animadas com a minha música, do que as pessoas daqui.

— Não diga bobagens, as pessoas amam sua voz, sua habilidade com os instrumentos... E as de Frederick não conta, todas são amigas do dono da melhor loja da cidade, que coincidentemente é seu pai – Ada brinca. Sabia que todos adoravam o talento de Jill mas precisava anima-la.

— Ada! Não seja tão venenosa – Jill sorriu mas ainda tinha o semblante tristonho.

Ada encarou a amiga por alguns segundos. Lembrando de algo que poderia ter causado aquela angústia na garota.

— Ele apareceu lá ontem?

Jill trocou o desanimo por um rosto chateado.

— Não. Tem um sábado no mês que ele não vai ao Chiaroscuro, mas na minha contagem isso aconteceria só na próxima semana.

— Jill, as vezes fico preocupada com essa sua obsessão. Não pode ficar presa a alguém que você nem ao menos conhece o tom de voz.

— Não é obsessão, é apenas reconhecimento de conquista, já cansei de dizer isso a você. Saber a placa do carro, as cores das gravatas, as manias, os perfumes etc, é o básico que qualquer mulher deve saber quando... – Jill pausou por um instante.

Não sabia como classificar seus sentimentos por Norrington. – Enfim, ele não tem nada haver com isso, apenas preciso da minha vida pacata de volta e agora que você tem o Leon, seria uma boa ir embora, você não ficaria sozinha.

— Isso não é bom pra mim nem pra você. Apenas esquece essa história maluca. Você ainda vai comigo pra escola hoje ou vai tentar descansar?

— Vou pra escola, eu prometi e vou cumprir. E preciso me distrair. Essas atividades sociais me lembram de casa então, nada melhor do que me sentir em Frederick.

— Ótimo, vou me arrumar. O Leon vai junto e... Olha Jill... O Leon tem um amigo legal.

— Sei, o cara super legal, educado, bonitão, perfeito e misterioso que mora com ele. – Ironiza.

— Concordo com tudo, mas... Ele não é misterioso. Simplesmente, os horários de vocês não batem. Mas finalmente vocês podem se encontrar hoje. Leon me garantiu que ele iria, já que ele adora trabalhos sociais. E cá pra nós... Ele realmente não é lá pra se desprezar.

— Ada, só me prometa que não vai bancar o cupido. Não quero saber de uma outra pessoa.

— Não bobinha, mas acredito que você iria se distrair bastante, caso ele realmente vá. Acredita que ele quer entrar no Greenpeace? O cara é bastante sonhador... me lembra muito você.

— Eu não quero entrar para o Greenpeace. – Ironizou – E eu já disse que eu vou Ada. Não precisa me arranjar um cara pra eu ter que ir junto. Claro que seria uma boa mesmo, não agüento mais segurar vela pra você e Leon.

Ada entendeu imediatamente que o mal humor da amiga estava oscilando. Por isso não rebateu tanto. Apenas deixou com que ela resolvesse aquilo consigo mesma. E no final, Ada sabia que aquela saída faria bem pra amiga.

— - -

Jill estava mexendo no celular dela, visualizando mensagens. O ambiente escolar, precisamente, a sala dos professores não tinha nada de interessante. Enquanto isso, Ada falava no telefone com Leon, enquanto o aguardava impacientemente, depois de tanto reclamar que rapaz não era de atrasar.

Ao terminar sua conversa e ver Jill desanimada olhando algumas notificações, ainda preocupada com a amiga, propôs algo interessante.

— Ei, Jill... sabia que temos uma sala com alguns instrumentos. Quer ir lá conhecer?

Os olhos desanimados de Jill, mudaram imediatamente. Ada então lhe entregou a chave que tirara do armário e entregou a jovem que guardou o celular em sua bolsa lateral e saiu da sala animada.

Alguns minutos depois Leon e Chris apareceram. Leon estava bastante animado, mas Chris tentava forçar os olhos a ficarem abertos.

— Amor! Por que demorou tanto? – Ada o cumprimentou com um selinho. Em seguida, apertou a mão do outro rapaz.

— Chris perdeu a hora já que passou muito tempo no banho... – Leon ironizou com um olhar sutil e repreensivo para o amigo que tinha dormido dentro do banheiro.

— Não tem problema, estamos adiantados ainda. Quer me ajudar com a montagem das equipes?

— Sim, Chris, espera aqui um pouco... – Leon propôs apontando pra umas cadeiras.

— Nada disso, eu trouxe companhia pra você. Claro... se não quiser ficar sozinho aqui aguardando. – Ada interrompe.

— Eu prefiro a companhia, obrigada Ada. – Chris disse concordando com a moça e olhando feio pro amigo. Não queria estar ali e só foi porque sabia que tinha que ajudar Leon depois de tudo que o amigo já tinha feito por ele.

Sendo assim, os três caminharam em direção a sala de música.

— - -

Jill olhou para o piano alemão e seus olhos brilharam. O instrumento musical lembrava muito o seu avô. E a primeira coisa que fez foi ir até ele e tocar. Ele era lindo... A primeira música em mente foi Imagine e foi dela que vieram as primeiras notas. No final, já estava acompanhando o Fur Elise que estava na pasta a sua frente, de olhos fechados e sorriso largo até ser interrompida.

— Ei moça, te trouxe companhia. – Ouviu a voz de Ada e imediatamente parou de tocar abrindo os olhos. Encontrou na sua frente Ada e Leon, e mais para lateral alguém familiar com os olhos arregalados e assustados. ‘Chrisloteiro’, ela pensou semicerrando os olhos de raiva. Se levantou imediatamente, deixando o piano com um rosto nada amigável, mas ainda estava se perguntando se ele realmente era o amigo do Leon. Eles imediatamente se reconheceram.

— Calotei...

— Christopher, Christopher Redfield. – Interrompeu rapidamente. – Mas pode me chamar de Chris. – Completou com um sorrisinho falso, estendendo a mão para ela. Na verdade ele também não gostou nada de reencontrar com a ‘pirralha’, mas não queria causar uma cena desagradável logo de início.

— Então... esse é o amigo do Leon que tanto você elogiou Ada? – Disse Jill ao primeiro cumprimentar Leon com um aperto de mãos e então olhar desafiadoramente para o ser indesejável e para sua mão ainda estendida. Logo entendeu que ele queria repassar para o casal uma boa imagem de apresentação.

— Ele mesmo... e olha, esse Chris é super gente boa, o oposto do tal que você me contou. Ele vai mudar muito a sua perspectiva de achar que o defeito vem no nome da pessoa. – Ada comenta bem humorada.

— Ahh... eu espero. E eu sou Jill Valentine, muito prazer em finalmente conhecê-lo... Chris. – Disse depois de soltar um riso, apertando com força a mão do rapaz que retribuiu o mesmo sorriso.

— Que bom que finalmente se conheceram! – Ada comentou com um sorriso satisfeito.

— Já estávamos achando que o destino não queria que vocês se encontrassem. – Leon brincou.

— O destino é mesmo um sacana. – Chris semicerrou os olhos e com um sorriso fitava a garota.

— Você não faz idéia – Ela respondeu sorridente.

– Bem, acho que agora podem fazer companhia um ao outro enquanto Leon e eu resolvemos alguns detalhes, algo rápido e logo estaremos de volta.

— Claro – Chris e Jill responderam em sincronia.

O casal de professores se retiraram da sala sem ao menos perceber o clima pesado que pairava no ambiente. Chris e Jill se encararam em silêncio por alguns segundos, tentavam processar a nova informação.

– Não acredito que gastei 375 dólares com você. – Chris coçou a nuca pensando alto, se recordando do ingresso para o jogo de basquete no mês anterior.

– O que? Do que você está falando, Chrisloteiro? – Jill estava confusa - Ah! Quer saber? Isso não importa. O fato é que você se passou por uma pessoa simpática na frente dos dois. E a pergunta é: Por quê? – Jill o encarava, com os nervos a flor da pele ao caminhar pela sala, inquieta.

— Aaah! Isso? Bem, ao contrário de você eu não gosto de chamar a atenção. – Chris passou pela jovem e se sentou em uma das cadeiras espalhadas pela sala. – E se quer saber, estou odiando isso tanto quanto você.

– Aaah! Só pode ser brincadeira isso! – Gritou ao cruzar os braços. – Tudo que disse a Ada só pode ser mentira. Uma pessoa com todas aquelas qualidades não poderia ser um falso, que tenta passar uma boa imagem, depois de ser uma ovelha negra. – Jill se sentou no banco, e escorou as costas no piano.

— Sabe Valentine... Eu posso ser um cara legal, desde que não seja com garotas histéricas como você. – Chris respondeu com um sorriso irônico, depois de se aproximar e debruçar sobre a superfície do piano marfim. Sua vontade era mandar a garota pro inferno e voltar para casa. Mas não poderia desapontar Leon mais uma vez então, iria aproveitar o melhor da situação.

– Sugiro que saia da minha visão antes que eu resolva derrubar seu castelinho de areia – Disse se virando para o piano. Ao passar as músicas na estante, se deparou por Moonlight Sonata. Resolveu tocar para ignorar toda aquela situação.

— Ei para de tocar, por favor, minha cabeça está doendo! – Reclamou.

— Tá incomodadinho? Deveria ter ficado em casa ou no inferno, garanto que essa atitude seria favorável para ambos. – Disse ignorando o que ele tinha dito, apreciando a música que estava tocando.

Jill o encarou pensativa, ainda tocando. Sua vontade era contar pra todo mundo o crápula que Chris era. Não sabia o que fazer porque Ada admirava muito aquele maldito e ele era amigo íntimo do namorado de sua amiga. Isso deixava a garota de mãos atadas.

— Sabia que por sua culpa quase não consegui recuperar minha reputação. – Chris disse levemente irritado, tentando puxar assunto.

— Já ouviu dizer que há males que vem para o bem? Pelo menos assim aquelas garotas passam a se dar mais valor e então evitam sair com caras como você. – Jill sorriu ao ver a expressão brava de Chris, à medida que ela treplicava, sem se incomodar com o som que vinha do piano.

— Mas me diz... o que fez com a esmola que eu te joguei lá no restaurante? – O rapaz provocou e ela soltou a mão direita das teclas, ainda tocando com a esquerda, e levantou o dedo médio para ele, que soltou uma gargalhada e deixou o local para conhecer a sala de musica com mais precisão, com as mãos sobre o bolso.

— Musica triste... isso é alguma espécie de luto pela minha presença, ô Beethoven? Quer que eu vá embora? Porque se quiser que eu vá... diga a todos sobre a verdade logo... evitaríamos um constrangimento maior caso continuaremos fingindo. Por mim, vou adora contar a parte em que você prestou “certo serviço” pra mim e foi na minha sala me cobrar sobre ele... eu não tenho nada a perder, eu juro.

Imediatamente, ela deixou o piano e se levantou indo em direção à porta, onde exatamente ele estava.

— Pode deixar, ô cafetão. Eu mesma vou embora. Não suporto você e muito menos a idéia de que estamos interligados. – Tomou seu celular em mãos procurando o nome do taxi quando ele parou na frente da porta, evitando com que ela saísse.

— Olha, não que eu me importe, mas... qual seria a desculpa pra você ir embora? Não quero que você cause um problema para o Brad e a Angelina.

— Brad, Angelina? ... – Ela olhou com desdém, enquanto sua mente secretamente ria dos apelidos. – Se está preocupado que eu possa sujar mais uma vez sua reputação, fique tranqüilo, eu não faria isso, pelo bem dos MEUS amigos! Agora me deixa passar.

— Você ainda não disse...

— Vou falar que não estou bem... agora deixa eu passar.

— Não me convenceu.

— Cara... sai logo da minha frente. – Disse tentando tirar ele da frente da porta, sem sucesso.

— Peça com educação, Valentine. – Chris mantinha aquele sorriso irritante que Jill tanto queria arrancar.

— Eu sei que você quer que eu fique pra ver o circo pegar fogo, mas eu não vou dar o gostinho pra você, imbecil. – Jill tentou tirar-lo de sua frente quando ele a segurou pelos punhos.

Chris soltou uma gargalhada e então ouviu alguém do lado de fora. Ele a empurrou mais pra dentro da sala ainda segurando ela quando ouviu a porta se abrir, já que estava de costas para ela.

— Oi? Está tudo bem? Podemos ir? – Ada perguntou sorridente adentrando sobre a sala.

— Ei, Jill... já está melhor? – Chris perguntou a Jill imediatamente, ainda segurando os punhos da moça, mas de uma maneira diferente: como se estivesse socorrendo ela. – Você deve ter bebido muito ontem a noite... Por isso essa tontura. – Chris a segurou por seus ombros.

Quando Jill percebeu o que ele estava tentando fazer, tentou disfarçar, porque ainda não tinha em mente o que fazer sobre a situação.

— Sim, na verdade é sono mesmo... Obrigada. – Disse tirando levemente as mãos dele sobre seus ombros e passando por ele para alcançar a amiga. – Ah já voltaram? Chris e eu estávamos tão empolgados com o papo que nem percebemos o tempo passar, não é Chris? – Jill olhou para o rapaz.

— Eu ainda acho que você não está bem. Não quer ir pra casa... Eu te acompanho se você quiser. – Chris tentou mais uma vez sair em vantagem, porque sabia que se ela fosse embora, ele não iria ficar. Mas isso fez com que ela olhasse pra ele sorrindo e isso não era bom.

— Não, Chris. Para de ser tão legal comigo. Eu já disse que estou bem... e não vejo a hora do trabalho começar! Vamos logo, hm?

Ada, Chris e Jill saíram da sala e encontraram Leon se aproximando.

— Já vamos sair e já tenho todo o mapeamento dos locais que iremos atuar... – Leon dizia caminhando e Ada o acompanhou seguindo a seu lado na frente. Jill emburrada e Chris entediado seguiam logo atrás, lado a lado também.

— Já pensou em largar a música e se tornar atriz? Você é boa nisso. – Chris sussurrou para a garota ao seu lado.

— Você começou com isso. É contagioso. – Respondeu no mesmo tom que o rapaz.

— Então o plano é fingirmos ser amigos de mãos dadas rumo ao infinito?– Ironizou Chris.

– Corta o infinito e tudo fica certo. A eternidade perto de você é o pior castigo que o ser humano pode enfrentar. – Sorriu com desdém, sem notar o quão afastados eles estavam do casal a sua frente, por causa do pequeno dialogo.

– Vocês estão me ouvindo? – Leon perguntou ao notar que a dupla cochichava enquanto ele explicava como o projeto seria realizado. Chris e Jill mentiram pois não estavam prestando atenção em nada que o amigo falou até o momento. – Ótimo. Enfim, e por isso o trabalho será feito em dupla.

— E a melhor parte é que coloquei vocês como dupla, assim terão mais tempo para se conhecerem, já que não param de tagarelar como agora. – Ada finalizou contente.

Automaticamente Jill e Chris se entreolharam. Aquilo estava se tornando pior do que pensavam. Ada realmente tinha expectativas sobre os amigos, claro que Chris não sabia que a intenção dela era ir muito além da amizade deles. Mas Jill estava ciente de que Ada estava quebrando a promessa de não bancar o cupido. Agora sim a jovem entendia como a amiga se sentia quando ela tentava arrumar os malucos de seu curso para ela.

— Ada, eu já te disse que você é a melhor cunhada que eu poderia ter? E olha, por sua causa eu estou fazendo o que mais amo... Ei Jill, já ouviu falar do Greenpeace? – Chris disse sorrindo e praguejando na mente a maldita “Xing-Ling".

Leon notou o que Chris estava fazendo. Em sua mente, Leon já imaginava que por aquele momento, Chris estava caidinho pela garota ao lado, querendo impressioná-la como todas as outras. Mas não imaginava que ela também ficaria tão interessada por aquele Chris de mentira. Algo em sua mente avisou que teria que fazer com que Chris não abusasse de seu carisma, porque não iria querer ver a amiga de Ada chorar por um canalha como Chris. Sendo assim, esperava uma oportunidade para corrigi-lo.

— - -

— Esses são Caroline, Roger e Anne. São nossos melhores alunos. Vão acompanhar vocês no asilo. – Leon disse apresentando as crianças de 11, 9 e 10 anos, respectivamente, para o casal enquanto notava a equipe da escola colocando a sopa no porta malas de um carro.

Caroline era a ruivinha, cabelo bem cacheado presos em tranças e poucas sardas sobre seu rosto. Chris imediatamente se lembrou de sua irmã e então percebeu que fazia um bom tempo que não iria visitar ela.

Roger era a imitação de Greg, amiguinho de Jill em Frederick. Ela se emocionou ao olhar para ele e ver o quão apegado ele era a Ada, a ponto de se escorar nela, tímido enquanto era apresentado.

E Anne era uma garota muito curiosa. Não parava de encarar o casal, por trás dos óculos quadrados e da franja com um olhar questionador, como que se a morena de cabelos chanel, estivesse fazendo um monte de perguntas.

— Tem algum problema em ir dirigindo, Chris? – Ada perguntou.

— Não, apenas passe as coordenadas para minha copiloto. – Chris brincou se referindo a Jill que sorriu com desdém, recebendo o papel em mãos.

Quando todos entraram no carro, Ada pediu para eles tirarem foto da ação para um suposto relatório no final da atividade.

Enquanto iam em direção ao asilo de idosos, as crianças ficaram muito empolgadas com a “Tia Jill” que não parava de brincar com eles, durante o percurso. Jill estava gostando de estar ali, afinal, isso lembrava sua casa, a escola, os amigos... E era bom se sentir em casa. E se questionava profundamente sobre o ser ao seu lado naquele carro.

Ele era um babaca... mas um babaca dos bons. Ninguém suspeitaria da canalhice dele. Então achou melhor deixar tudo acontecer no seu tempo. Porque ainda estava com raiva dele... porque ele tinha a humilhado. Mas ela se impressionava com sua dupla personalidade, e claro, admirando essa que ele estava inventando.

— Ei, Chris... Responde logo ou sai da brincadeira! – Jill o repreendeu quando viu que ele estava calado a tempo demais. Talvez não gostasse de crianças. Mas ela não iria deixar ele se safar dessa tão facilmente.

— Ah... Eu fui a feira e comprei: limão, maçã, uva, abacaxi e... Bolo. – Ele disse completando a brincadeira com o último alimento.

— Bolo... Bolo não vale! Não é saudável quanto as frutas. Você está banido, Chris. – Jill o repreendeu novamente com um sorriso desafiador no rosto. – O que foi Chris? Não está gostando da brincadeira?

— Claro. Não há nada mais agradável do que dirigir enquanto brincamos dessa maravilhosa brincadeira pré-historica na companhia de você. – Chris respondeu. Ele deixou bem evidente para a moça a sua ironia e Jill riu dando continuidade a brincadeira. Chris não estava mal humorado pela situação em si, e sim pelo fato de sua cabeça lhe lembrar minutos após minutos de sua maldita ressaca.

— - -

Depois de montada uma bancada enorme, no pátio do asilo pelos “auxiliares” Chris, Jill e alguns funcionários ajudaram as crianças com os pratos e as panelas. Logo se deu a distribuição. As crianças eram responsáveis pela organização das filas, a distribuição dos pratos e talheres e do refeitório, enquanto os auxiliares se encarregaram de fazer a distribuição do alimento.

— Lembra das fotos que a Ada pediu? – Chris cochichou com ela.

— Sim, eu não consegui tirar do meu celular porque ele descarregou.

— Pega o meu aqui no meu bolso... Minhas mãos estão ocupadas. – Disse mostrando a luva que ele estava servindo os alimentos. Ela olhou um pouco constrangida, por ter tamanha intimidade de imediato. Mas não queria se mostrar tão covarde então colocou as mão no bolso frontal da calça dele e retirou de lá o celular, evitando corar. – A senha é 1998.

Assim que desbloqueou o celular, haviam quinze ligações de uma só pessoa. Ao notar a foto, percebeu que era alguém familiar para a moça: Jessica, a garota da campanha. Não que isso fosse do interesse dela, mas quinze ligações ignoradas, tendo a primeira às 22:15 do dia anterior, era muito estranho.

Ignorando aquilo, Jill ligou a câmera e tirou foto da ação, das crianças e da felicidade de estarem ali com os idosos. E imediatamente se sentiu em casa, confortada, fazendo o que mais gostava de fazer.

O momento foi interrompido quando o celular tocou mais uma vez e era a mesma pessoa que estava insistindo em ligar. Ela caminhou até ele e lhe entregou o celular, mostrando a foto da moça no visor.

— Deixa tocar... – Ignorou o telefone ao servir os últimos pratos de sopas. Ela ficou um pouco sem graça e então ele sorriu. – Ei, Jill... Melhor ainda, atenda, diga que eu estou ocupado e então desligue se ouvir algum escândalo ou insulto.

— Não vou compactuar com suas malandragens, Chrisloteiro. – Disse sussurrando guardando o celular dele em seu próprio bolso e então reassumindo seu posto, ao tomar dois pratos em mãos e distribuir para os senhores das mesas ainda não alcançadas.

Quando estava entregando os últimos pratos para os últimos funcionários, sentiu que ele havia tirado o celular do seu bolso traseiro, sem ao menos comunicá-la. Revirou os olhos, mostrando não se importar. Quando o olhou novamente, viu ele mexendo no celular sério e preocupado. E então ficou sem graça ao ver que quando ele levantou os olhos, percebeu que ela estava fitando ele por alguns segundos. Ela chamou os alunos auxiliares imediatamente e foi servir o alimento para eles também.

Depois de colocar as crianças para se alimentarem, Jill tomou seu prato e serviu um pra Chris também. E por mais que sua mente lhe dissesse para não começar a se agradar da companhia dele, ela estava gostando daquilo. Tinha sido um dia especial, um dia de bons feitos. Ver os velhinhos alegres, conversando com as crianças e até mesmo aquele “ser” que ela tanto detestava se sentindo bem, tornou seu dia muito feliz.

E só tinha os dois no refeitório por agora, além das crianças que brincavam de correr um pouco distante.

— E... Você chegou a ser demitida ou recebeu bronca por minha causa, Valentine? – Chris tentou puxar assunto.

— Na verdade, eu não vi a cor do dinheiro que você jogou naquela mesa rudemente. Mas, tudo bem porque a vida costuma a fazer isso com as pessoas boas. Bonzinho só toma no... Ah, deixa pra lá. – Jill respondeu indiferente, sem retribuir o olhar que ele dava para ela, enquanto estava em sua frente.

— Eu sinto muito, mas você provocou... se tivesse me chamado no canto, conversado comigo... sabe, eu ainda sou grato a você por aquela noite lá... a noite que você me mandou pro hotel. Mas aí quando você foi me cobrar, e me chamou de brocha... o que custava falar com educação, encrenqueira? Eu juro que ainda te pagava um jantar. – Chris comentava enquanto comia, observando a maneira ainda indiferente que ela olhava para seu próprio alimento. Logo ela largou o prato e empurrando para o lado, olhou profundamente nos seus olhos.

— Pra início de conversa, eu não acredito que se esqueceu de me pagar, Chris. Você não voltou lá de propósito. E por mais que negue isso, com a desculpa de que você tem amnésia, eu não acreditaria. Porque eu conheço seu tipinho... o tipinho que se finge de mala o tempo todo por não ter coragem de enfrentar a realidade dos fatos. O cara que quer fazer suas próprias regras... Ou melhor, as duas caras que consegue tudo o que quer sendo o maior sínico existente. Afinal, porque tanto medo de atender um telefonema? Porque você está enrolando essa garota ai? Já sei, ela é apenas mais uma que cai nos seus joguinhos, porque você gosta de usar as pessoas. Cara... você enganou a Ada... e eu tenho muita pena do Leon por estar de acobertando desse jeito. Porque se a Ada souber o que você fez comigo, você estragaria tudo entre eles com essa história de ser aquilo que você não é... E olha, quando isso aqui acabar... Nunca mais volte a falar comigo, entendeu?

Jill se levantou da mesa, deixando ele sozinho enquanto recolhia das mesas, os pratos e talheres deixados.

Chris mexeu na comida, sem vontade de comer. Olhou para ela mais uma vez, odiosamente admirando ela por aquelas palavras. Por um momento, se lembrou de sua mãe, que sempre o repreendia. Mas ao contrario de sua mãe, ele não conseguia sentir ódio daquela garota de all star. Porque ela não o repreendeu para o seu bel prazer. E sim, porque não gostava nem um pouco das suas artimanhas, porque no fundo ele se sentia mal por fazer aquilo. Fazia mal pra ele, fazer aquele tipo de coisa. Era como se ela tivesse alertando ele sobre esse mal.

Sua mente lutou... Relutou... Pensou, ponderou e quando ele notou, já estava formando em sua mente um pedido de desculpas para a moça dos olhos claros.

“Eu fui um babaca, me desculpe... mas não conta nada pra ninguém sobre aquilo, ok?” Ele pensou, mas desistiu por ser muito egoísta. “Desculpa por aquele dia... não vai mais acontecer, me dá uma nova chance?” Pensou mais uma vez e notou que seria muita rendição, como se ele estivesse completamente caído por ela. Isso seria uma vantagem para ela que ele não dava pra ninguém. Pensou novamente e “Me desculpe por aquele dia, mas obrigada pelas palavras... vou me atentar mais a isso e tentar me corrigir.” Pronto! Era a chantagem emocional perfeita. E, além disso, ainda poderia tentar um bônus com ela mais tarde afinal, ele gostava do “osso duro de roer”.

Levantou-se da mesa, estufou o peito e caminhou na direção dela que já estava andando pra cozinha quando seu celular tocou fazendo com que Jill olhasse pra trás. “Mas que droga...” Reclamou mentalmente e ao ver que ela esperava ele atender o telefone, para provar se o que ela disse estava certo, ele decidiu atender naquela vez parando de andar. Ela sorriu levemente pra ele e entrou na cozinha. Na mente dela, ela tinha ficado feliz porque sabia que o que ela havia dito, tinha tomado efeito. Mas ficou pensativa sobre aquela Jessica, a final de contas... Qual era a deles?

- - -

Eles não haviam trocado uma só palavra depois da discussão. Apenas perguntavam e respondiam o necessário. E por se evitarem tanto, o relacionamento de ambos com as crianças estavam bem melhores. Se despediram do pessoal e seguiram rumo a escola e isso já era quase duas da tarde.

Assim que o carro começou a andar, Jill adormeceu por causa da insônia na noite passada. Enquanto Chris ainda se perguntava sobre o furo que ele tinha dado no telefone a poucos minutos.

Quando ele atendeu Jessica, explicou-se para ela. Disse que tinha saído com alguns amigos ontem e que tinha esquecido o celular em casa (quando na verdade tinha levado o celular) e por isso não tinha retornado a ligação. E disse que não atendeu pela manhã porque estava fazendo um trabalho social com idosos e crianças. Isso amoleceu imediatamente o coração irado da ficante da vez, que só acreditou quando ele mandou as fotos que Jill tinha tirado dele no seu próprio celular. Chris e Jessica ainda estavam testando uma possibilidade de namoro, pois já mantinham um relacionamento " sem rótulos" a algum tempo. Afinal, depois do escândalo que Lisa e Jill fizeram com ele, sua reputação realmente tinha caído e a bola da vez foi Jessica Sherawat que apareceu no seu desespero e acabou tomando um bom lugar na vida dele. Mas o furo foi dizer, para compensar, que eles iriam sair naquele dia, mais tarde. Ele completamente se esqueceu que iria tentar algo com a Valentine... Mesmo achando improvável demais, apenas para uma reconciliação. Já estava ciente de que as coisas ficariam muito ruins entre ele e Leon caso descobrissem a inimizade dele e Jill. Então ele teria que tentar chegar a um acordo com ela.

— Chris, a Jill é a sua namorada? – Anne, a curiosa perguntou para ele depois de explicar que equações eram muito difíceis de resolver. E porque apenas os dois estavam acordados naquele carro e Anne ainda o mantinha acordado.

— Sim, ela é minha namorada. Por quê? – Ele mentiu para entender a perspectiva da garota, ou melhor, porque ela estava achando aquilo, com um sorriso satisfeito.

— Ah, é que ver vocês me lembra muito do Sr. Kennedy e da Srta. Wong... sabia que na escola, todo mundo acha que eles namoram escondido? E eles são tão bonitinhos juntos. E quando comentamos sobre a Srta. Wong na aula dele, ele fica muito sorridente e sem graça... como agora quando eu te perguntei isso.

— Ah... Anne... Posso te contar um segredo e você jura que não conta pra ninguém?

— Juro! – Ela respondeu

— Sabia que o Professor Kennedy gosta muito da professora Wong? E eu sou amigo do seu professor, sei bem do que estou falando.

— Ai que legal... Sério que não pode contar pra ninguém? – Ela replica chateada.

— Pode... mas nunca, NUNCA diga que foi eu que disse isso, ok? – Disse ao olhar para a garota pelo retrovisor.

Chris olhou novamente para Jill, ainda adormecida. Seria legal uma namorada como ela. Ela seria alguém que ele simplesmente adoraria apresentar para sua mãe, uma garota diferente das outras e que faria com que sua mãe engolisse a língua sobre todas as ex-namoradas que ele teve e que fugiram dela. Jill com certeza a enfrentaria. "Qual é seu problema Christopher? Essa mal educada causaria mais problemas ainda com a Laura" pensou. Sua mãe era o tipo de pessoa que tira qualquer um do sério.

— Vocês namoram a quanto tempo? E como vocês se conheceram? – Anne ainda perguntava sobre ele e Jill. Chris acabou inventando toda uma estória engraçada sobre os dois numa maneira de se distrair com a garota que ria o tempo inteiro.

Ele mal sabia, que ao ouvir seu nome inúmeras vezes naquele carro, fez com que Jill despertasse e ainda de olhos fechados, mas atenta, notava a habilidade de Chris de inventar tanta estória legal, até mesmo sobre eles. E por isso imediatamente entendeu porque Ada tinha acreditado em tudo, mesmo com seu faro aguçado em captar mentiras.

— - -

Ao chegar na escola, eles devolveram o carro depois de descarregar as coisas. Os pais das crianças já estavam ao aguardo das mesmas. Elas se despediram dos dois, mas antes de Anne ir embora, ela disse que queria muito ir ao casamento dos dois monitores.

Jill se fez de desentendida e concordou, afinal, sabia de tudo.

— Do que ela estava falando Chris? – Comentou depois de um bom tempo sobre algo informal.

— Sei lá... Crianças são loucas. – Se fez de perdido e ela cruzou os braços.

— Sério mesmo? Porque eu acho que alguém acabou extrapolando na mentira sobre um relacionamento feliz que começou em um calote. – Disse passando por ele ao adentrar novamente na escola.

— Ei... O que? Você estava escutando? – Ele perguntou, seguindo-a.

— Sim, tudo... Até mesmo o ridículo momento em que você disse que eu fui te procurar na sua sala pra dizer que eu estava caidinha por você e não pra te cobrar a grana.

— Eu sei que você gostou dessa.

— Claro, eu também adorei quando você disse que iria me pedir em casamento no natal, porque eu era a única que você apresentaria para sua mãe.

— Sim, mas eu só teria certeza disso se, se... Você aceitasse sair comigo hoje a noite como um pedido de desculpas. – Chris comentou depois de hesitar, se lembrando de que tinha marcado com a Jessica no mesmo dia, mas ainda na esperança de que ela aceitaria.

— Então... Isso é um convite ou um pedido de desculpa? – Ela disse se virando para encará-lo com as mãos na cintura, já próximo a porta da sala dos professores.

— Fica a seu critério. – Ele disse com um sorriso e olhos de desejo.

Para ela, ele tinha se tornado incrivelmente bonito naquele momento e muito interessante. E, além disso, não tinha nada a perder, porque sabia que lá no fundo já estava rolando uma química legal entre eles. Mas uma lembrança fez todo aquele momento cair por terra.

— Só me responde uma coisa antes? – Ela disse demonstrando seriedade. – Quem é Jessica?

Chris hesitou sem a deixar perceber, mas quando sentiu uma pressão vindo dos olhos dela, respondeu a primeira coisa que veio na mente.

— É a minha irmã, quer dizer amiga... uma chegada minha, nada além disso.

— Bola fora, jogador... Jessica Sherawat nunca foi sua irmã e pra ela ligar daquele jeito, tenho certeza que é mais uma que você vai pedir desculpa. E é por isso que ainda estou mantendo a minha posição de antes: quando isso aqui acabar, nunca mais fale comigo de novo, ok?

Jill se virou e abriu a porta da sala se deparando com um casal se beijando lá dentro, precisamente Ada e Leon. Estavam sozinhos no momento. Olhou novamente para Chris e viu seu rosto ainda desanimado.

— Então aqui que era o esconderijo de vocês? – Jill disse ao se referir ao casal corando.

— Até que enfim! Demoraram muito! – Ada comentou ao vê-los do lado de fora ainda sem graça. – Vamos todos almoçar juntos ou comer alguma coisa. Claro que a sopa foi só uma entrada, certo?

— Desculpa Ada, eu já vou embora. Descansar um pouco, mas muito obrigada pela oportunidade, foi um dia maravilhoso. Até logo, Bradgelina... Valentine. – Chris comentou olhando para Jill no fim de sua afirmação e então se retirar.

— Ei Redfield, o que foi, tá tudo bem? – Leon perguntou preocupado, ao notar o rosto desanimado de Jill no momento e então seguiu o pra longe. – Não vai me dizer que não se deram bem e...

— Não é isso... ela é legal, até demais e eu não estrapolei, como você mandou. Mas, ainda estou com aquela ressaca latente. A gente marca alguma coisa mais pra frente ok? – Tapeou o ombro de Leon e seguiu para casa tomando um cigarro na boca.

Precisava relaxar, e os cigarros era um bom começo. Jill não aceitou o convite de Chris, Jessica aquela altura já deveria está no shopping escolhendo o look da noite. Então restava para ele guardar aquela frustração toda e aproveitar a noite com Jessica, ou na pior das hipóteses, desligar o celular e no dia seguinte dizer que foi assaltado.