Boa arfou, dando um passo para trás surpresa. Ela sabia quão tentadora era a magia infinita, em um mundo onde até mesmo o mais simples feitiço fora extinto, mas de todos naquele salão... Ela nunca imaginaria que ele seria o mais suscetível a esse poder.

Mas não são os poderosos aqueles que mais sofrem, no fim?

-ANDREW! – gritou a Rainha Leah, dando um passo para frente enquanto todos recuavam, olhando para Andrew Sleeping, o príncipe perfeito, amado por toda Auradon, destruir toda a imagem que construíra durante dezesseis anos, ao arrancar a varinha das mãos da própria Fada Madrinha – O que você pensa que está fazendo? Devolva isso AGORA!

—Será que você pode pelo menos uma vez calar a boca? – Andrew falou, um grunhido selvagem quase grutal. Mas a varinha entendeu, pois um raio de luz azul brilhante voou até a Rainha Leah, a atingindo no peito. A mulher abriu a boca para falar, mas nada saiu - É horrível, não é? Ser obrigada a aguentar tudo em silêncio, sem poder ou ordens! Durante toda a minha vida. Toda a minha vida, foi isso que você fez comigo... Sussurrando em meu ouvido. Dando ordens. Ameaçando-me. Impedindo-me de usar a minha voz! Impedindo-me de escolher o que eu quero... De ficar com quem amo. Você faz alguma ideia de como isso é? Consegue ao menos imaginar?

—Andrew... – Boa deu uma passo a frente, surpresa. Ela nunca pensou que o menino que conhecia desde a infância poderia ter tanta dor dentro de si.

—Desculpe por isso, Boa... Eu não queria arruinar sua coroação – ele falou, se virando para ela – Mas eu não aguento mais. Isso precisa mudar agora. Bibidi-Bóbidi-BoOOOOOOO

Boa não queria gritar, como uma princesinha assustada. Mas gritou. O feitiço voou pelo salão, quebrando um vidro, quando Maison segurou o punho de Andrew, arrancando a varinha de suas mãos e acertando o rosto do príncipe com um soco, que o fez cambalear e cair no chão.

—Maison... Eu sei que o poder dela está tentando você... Mas precisa me entregar a varinha – Falou Boa, tentando se aproximar devagar. Havia um motivo para a Fada Madrinha ser a única a ter aquela varinha, era a única que não tinha desejos que aqueles poder pudesse usar contra ela.

—Para trás – ele falou, apertando a varinha com força.

—Maison... Está tudo... Bem... – Ela deu mais um passo.

—Boa, eu disse PARA TRÁS! – ele rugiu, ecoando por todo o salão. Uma energia avassaladora saiu da varinha, jogando todos para os extremos do salão. No mesmo momento a porta se abriu, e Carly, Jullie e Ethan entraram correndo, se aproximando de Maison.

—Eu disse que eles não prestavam... – Falou Cindy, que aparentemente fora a única a não se mover nem um único passo. Maison olhou para os pés da loira. Sapatinhos de Cristal, é claro...

—Ah, cala a boca – Grunhiu Carly, e depois sorriu – Vamos logos...

—É hora da vingança – Jullie sorriu.

—Maison... Não precisa fazer isso – falou Boa, com os olhos cheios de lágrimas. E aqui estavam eles. Enfim, tudo que ela temerá desde que toda aquela história começou. Desde que descobrirá sobre o feitiço de amor. Enfim, acontecerá – Eu sei que vocês não querem fazer isso...

—Eu queria dizer que não, Boa... – ele suspirou – Mas eu tenho uma promessa a cumprir – o resto dele endureceu, olhando sobre o ombro para os amigos – Deveria estar feliz. Você pode ir embora agora, não precisa mais ser a rainha, não precisa mais...

—Você não entende, não é? – Boa o encarou, de uma forma tão brutal que até mesmo ele se assustou – Você nunca entendeu! EU SEREI A RAINHA! É o meu destino, eu nunca quis mudar isso, Maison... Eu só queria que as coisas fossem diferentes, mas eu nunca... Em nenhum momento... Desistiria de Auradon. Mesmo que eu tenha que lutar com você por ela!

-Não pode lutar contra mim, Boa... – ele falou, dando um passo para trás. Ela deu um para frente – Não quero ter que machucar você!

—Então não machuque! – ela sorriu, dando outro passo para frente – Não vai se arrepender se me deixar ganhar.

Maison arfou, quando ali, em meio a todos, a princesa o beijou.

—Eu sei que você é bom... Não prove que estou errada – ela suspirou, com a mão no rosto dele – Todos vocês... Não façam isso. Não me façam acreditar que errei ao ignorar a todos em minha volta por vocês.

—Você não entende, os nossos pais... – Ethan começou a falar, mas ela o cortou.

—Eles fizeram as escolhas deles... Deveriam fazer a de vocês! – Boa arfou, desesperada – Foi para isso que eu os trouxe aqui.

—Eu não sou bom... Em ser bom, Boa! – ele arfou, se afastando dela – Não consegue ver isso?

—Você é incrivelmente bom nisso, Maison... – ela falou, rindo, incrédula – Não consegue ver isso?

—Como pode saber isso? – ele grunhiu – Como pode afirmar com tanta certeza?

—Por que eu vi, com meus próprios olhos! – ela afirmou – Por que eu sinto, dentro do meu coração... Eu sinto que o garoto que andou de moto comigo, não me julgou pelas piores partes de mim... Que o garoto que me deu este bracelete... Eu sinto que esse garoto não pode ser mal! Mas você te que escolher por si mesmo...

Maison hesitou, olhando em volta – Eu... Talvez... Eu queira ser bom...

—Ah, por favor... Não está mesmo caindo nessa, está? – Jullie perguntou, furiosa – Maison! É uma cilada! Não tem nada para nós aqui... Eles não ligam para nós, e se decepcionarmos nossos pais mais uma vez nós vamos...

—Eles não ligam? – perguntou Carly, fazendo um beicinho – Então por que, se não por você, Andrew pegou a varinha, Jullieta?

—Eu já disse, mais de mil vezes, para nunca me chamar assim Carlotta! – Jullie fuzilou a amiga com os olhos – Andrew fez por si mesmo, por que é idiota mimado!

—Jullie, eu sei que sente falta do seu pai... Mas é isso que faz você feliz? Roubar e ferir os outros? Sempre desconfiando, sempre mentindo? – Perguntou Maison – Nós não somos nossos pais!

—Mas, Maison... – Carly começou a falar – Na Ilha...

—Pense em todos os momentos da Ilha, algum deles chego perto do que passamos em Auradon? – ele contra atacou, enfático – Maldade não nos faz felizes, nunca fez... Jogar Torney e provocar príncipes, faz você feliz! Sacos de farinhas e de pulgas, isso faz você feliz!

Maison parou em frente a Ethan, encarando o garoto que nunca pensou que chamaria verdadeiramente de amigo – E você? Um par de óculos te deixa tão feliz que pode rir o dia inteiro olhando para sua mesa de cabeceira! – eles riram – E eu não quero dominar o mundo. Isso não me faz feliz. Eu quero estudar.- ele se virou para Boa – E ficar ao lado de Boa, para quem sabe ajuda-la a mudar o mundo para melhor. Por que isso a faria feliz. E vê-la feliz me faz muito feliz!

Todos em volta suspiraram.

—Somos muito bons em destruir as coisas... Não quero destruir nossa amizade – ele falou, se virando para eles de novo – Eu escolho o bem. Vocês estão comigo?

—Vai ficar me devendo por essa. Por séculos – falou Jullie, rindo, e juntando a mão com a dele – Eu escolho o bem!

—Acho que vamos precisar de um bolo para comemorar isso... – Carly brincou, juntando as mãos – Eu escolho o bem!

—Ethan? – perguntou Maison, enquanto o garoto de cabelos azuis olhava para os três.

—Quando chegamos aqui, uma pessoa desconfiou que faríamos a coisa errada, desde o início... E mesmo assim ela se permitiu confiar em mim – ele suspirou, olhando para os próprios pés – Por ela... Eu escolho o bem!

—Você é tão orgulhoso – Jullie revirou os olhos, fazendo uma careta. – Então, princesinha fera? Não vai se juntar a nós?

—Vem – Maison sorriu, fazendo um sinal com a cabeça. Boa o abraçou, estendendo uma mão para se juntar aos outros – Acho que deveríamos seguir com a coroação, não é mesmo?

—Eu... – Boa estremeceu, parecendo ansiosa, mas a Catedral foi tomada por uma névoa verde brilhante, que tomou forma de ninguém mais ninguém menos que a própria Malévola.

—Voltei! – ela anunciou, cantarolando.

...

Boa olhou, e mesmo assim não acreditou. Mas era verdade. Malévola estava ali, depois de tantos anos, elas se encontravam novamente. Boa deveria estar com medo, mas não estava. Talvez fosse a adrenalina correndo em suas veias.

—Vá embora, mãe! – Maison pediu, cansadamente – Não tem nada para você aqui!

Malévola gargalhou – Você é um piadista, querido. Agora... A Varinha?

—Acha mesmo que vou te dar a varinha? – perguntou ele, erguendo uma sobrancelha – Pegue!

A Fada Madrinha pegou o objeto no ar – Bibidi-Bóbidi...

—BU! – Malévola gritou, e uma onda de poder percorreu a sala, paralisando todos que não eram da Ilha.

Boa talvez tivesse rido de Cindy chorando abraçada em Dany, ou de Andrew parado em frente à irmãzinha de forma protetora. Mas não havia graça nenhuma naquele momento. Boa piscou, tentando se manter imóvel. Por que não havia sido atingida pelo feitiço de Malévola?

—Ops... – Malévola riu, caminhando pelo salão – Majestade... Ah, aqui está. A Varinha! Por onde vamos começar? Já sei! Por que não começamos nos livrando do lixo?

O Anel da Fera no dedo de Maison voou, direto para a Varinha – Perfeito! Agora, talvez devêssemos nos livrar da princesinha também? Sinceramente Maison... Onde acha que vai chegar com isso? Amor? Você não tem espaço para isso na sua vida! Acredite, não é o que você quer!

Boa sentia que podia cair no chão a qualquer minuto, o rosto de Malévola ficou tão perto do seu que apertou os dedos dentro dos sapatos para não piscar.

—Quem é você para dizer o que eu quero? – ele ergueu uma sobrancelha – Você nem se importa comigo, você só se importa com... Você! E caso não tenha notado, eu não sou você mãe!

—É claro que não... – Malévola revirou os olhos – Claramente você é mesmo uma decepção. Você e seu amor! Fraco e Ridículo, os dois!

—Como você sabe? – ele indagou – Você nunca amou ninguém!

—E você deveria fazer o mesmo... Talvez sem o coração você funcione melhor, meu filho! – ela ameaçou – Varinha de condão, me de esse coraç...

—AGORA ELA É MINHA, ME TRAGA A VARINHA! – ele enunciou, desesperado, enquanto a mãe tentava terminar o feitiço. A Varinha lutou contra Malévola, até chegar às mãos de Maison. – Funcionou!

—Agora já chega – falou Malévola, furiosa – Traída por meu próprio filho... Que insolência! Ah Maison, por sua culpa todos aqui irão sofrer... Você vai se arrepender disso!

Boa sentiu sua testa suar, enquanto Malévola virava um enorme dragão. Nenhum livro, nenhum história ou conto chegou perto de descrever a fera terrível que a rainha do mal se transformará no auge de sua fúria.

Boa assistiu enquanto Malévola perseguia Jullie, que fugia desesperada em seu vestido vermelho.

—Espelho, Espelho Mágico... Agora um brilho trágico! – Ethan pediu, apontando o espelho para Malévola enquanto uma luz avassaladora saia dele. O dragão caiu, enquanto Maison colocava-se em frente aos outros três.

—Deixe-os em paz... Isso é entre nós, mamãe – Maison falou, encarando Malévola. Ambos os olhos começaram a brilhar em verde brilhante, encarando-se silenciosamente por longos minutos. Boa soltou lentamente o ar. Os olhos de Maison começaram a revirar, e ele foi lançado sobre os outros três, fazendo-os saltar longe.

—MAISON! – ela gritou, desistindo do disfarce. Ela se abaixo ao lado dele. Estava bem, apenas um pouco tonto.

—Boa... O feitiço... – ele falou, confuso.

—Não me afetou – ela deu os ombros, olhando para trás. Lá estava Malévola, de volta a forma humana.

—Você... É mesmo uma criaturinha insolente – falou Malévola, rindo – Desde aquele dia... Eu vi você no barco, princesinha petulante... Naquele dia eu soube que deveria manter vocês dois bem afastados...

—No barco... Era ela? – Maison arfou, encarando a mãe.

—Ora, quem mais seria? – Malévola bufou – Você perdeu Maison, me de a varinha!

—Não! – Boa pegou a varinha, se erguendo em frente à Malévola – Vá embora!

—Você é tão engraçadinha – riu Malévola – Me de a varinha, criança...

—Boa... – Maison falou, se levantando – Entregue a varinha. Ela vai te matar!

—NÃO! – Boa gritou – Esse é o meu reino... Não vou deixar que você o destrua Malévola!

As duas se encararam, furiosamente. Maison esperou que Boa caísse, ou voasse para longe, ou qualquer coisa, mas ela permaneceu imóvel. Ele se lembrou do barco, há tantos anos atrás. Se alguém podia vencer sua mãe, era Boa.

—Boa, a varinha! – ele a lembrou – Use a Varinha.

—Por pedido da princesa, vá pra Ilha e permaneça. Por pedido da princesa, vá pra Ilha e permaneça. – Boa repetiu. Uma fumaça azul envolveu Malévola até os joelhos e se dissipou.

—É o melhor que pode fazer? – perguntou Malévola, rindo.

Boa respirou fundo, apertando a varinha com o máximo de força possível. Ela nunca foi muito sutil, não era hora para começar.

—Por ordens da rainha, se arruinaras sozinha! Pelas ordens da rainha, se arruinaras sozinha – Boa sentia a própria voz tremer – PELAS ORDES DA RAINHA, SE ARRUINARAS SOZINHA!

Malévola explodiu, deixando apenas um vazio imenso onde antes ela estava.