Boa sentiu as pernas tremerem, mas antes que pudesse cair no chão um par de mãos ágeis lhe seguraram – Hein, cuidado ai princesinha! – Jullie riu, lhe ajudando a ficar em pé. Mas nem sequer ela se firmou no chão, sentiu os braços de Maison a apertando com força.

—O que aconteceu? – perguntou Carly, confusa, andando cautelosamente em direção a onde Malévola estava anteriormente.

—Eu não sei! – Boa falou, segurando o braço de Maison enquanto os seguiam – Isso é...?

—Uma borboleta? – Jullie perguntou, olhando pequeno animal negro tentar voar.

—Você fez isso? – perguntou Ethan, se abaixando para observar o animal.

—EU NÃO SEI! – ela gritou, toda a adrenalina correndo dentro dela.

—Está tudo bem, está tudo bem... Acalmem-se! – pediu a Fada Madrinha, andando até eles cautelosa.

—Eu fiz isso? – perguntou Boa, por fim. A Fada Madrinha assentiu – Ela vai ficar bem?

—Isso depende do que você chama de bem... Foi um feitiço perigoso, Boa! – falou a Fada Madrinha, arregalando os olhos – Mas você foi muito corajosa... Você desejou que Malévola se arruinar-se, por si mesma. Ela tornou aquilo que mais odeia! Uma singela e nada ameaçadora borboleta!

—Ela vai ficar assim para sempre? – perguntou Maison.

—Apenas alguém muito cruel pode chegar ao ponto de odiar até a menor borboleta. Mas para sempre é muito tempo – Suspirou a Diretora, tristemente – Mas você encontrou a bondade em você, talvez um dia ela consiga fazer o mesmo.

—Acho que deveria ficar com isso – falou Boa, entregando a varinha para a verdadeira dona – É perigoso demais!

A Fada Madrinha assentiu, e depois suspirou, pegando a coroa jogada no chão e retirando o Anel da Fera da Varinha, os entregando a Boa – Isso também é!

Boa assentiu, respirando fundo, enquanto todos eram libertos de seu congelamento. O rugido de seu pai ecoou por todo o salão, causando gritos e em seguida risos de todos. Ela viu os pais se aproximando, mas negou com a cabeça. Ela mais uma vez precisava de uma coragem absurda, se quisesse mesmo fazer as coisas de seu modo. Ela se virou para Maison, que de repente parecia tão vulnerável, e lhe entregou o anel.

—Eu confio em você – ela falou, olhando para os olhos verdes brilhantes dele, em busca de algo que pudesse se agarrar. Pela primeira vez, ela realmente encontrou aquela certeza – Espero que saiba disso, e que sinta o mesmo. Por que eu preciso saber que alguém confia em mim agora!

—Eu não faço ideia do que você quer dizer – ele riu, e em seguida beijou a testa dela – Mas seja o que for, você consegue princesa fera.

Ela não pode evitar sorrir. Princesa Fera. Princesa. Era apenas o que ela queria ser. Então ela subiu pelos degraus até o pedestal, sentindo o olhar de todos sobre ela. Ela encontrou Dany, na multidão, abraçando os pais com força. Encontrou Cindy, choramingando em cima do pobre John. Encontrou Andrew, em um canto afastado, parecendo temeroso.

Ela queria poder resolver tudo aquilo.

Mas só podia decidir o próprio destino.

—Povo de Auradon! – ela começou, cheia de incerteza – Nessa manhã, quando viemos até este local, não imaginávamos que nada disso poderia acontecer. Fomos atacados por inimigos que não acreditávamos mais serem perigosos, e salvos por aqueles que muitos julgavam uma ameaça. Fomos atacados, mas não apenas por aqueles que temíamos, mas por conta de um dos nossos. Andrew Sleeping roubou o item mais valiosos de Auradon, e cometeu um terrível erro ao fazê-lo e usa-lo, mesmo que sem ter essa intenção, para libertar Malévola!

Ela olhou para Andrew, que parecia confuso e apavorado. Ela pensou que o amava, um dia. Agora ela entendia o que eles realmente eram. Família.

—Mas Andrew não deve ser responsabilizado por isso. Ele foi vítima do medo, e da dor, dor essa causada por alguém que deveria apenas ama-lo – ela se virou para a Rainha Leah – A Rainha Leah por ordem da Coroa de Auradon, está terminantemente proibida de se aproximar de Andrew Sleeping sem a presença de um ou ambos os pais do menor!

—Como... – a Rainha Leah começou a se pronunciar, mas Boa a calou com um único gesto.

—Isso não está aberto a discussões! – ela falou, ferozmente, encarnado a mulher – Aurora e Phelipe deverão se mudar o mais rápido possível com seu filho para o Palácio de Lua de Mel, deles por direito, e assumirem um lugar na corte de Auradon!

Os pais de Andrew assentiram, enquanto a Rainha Leah saia furiosa da catedral.

—Povo de Auradon – ela repetiu, passando os olhos sobre todos eles – Por nosso reino, lutei hoje contra uma ameaça invencível, e venci. Por vocês, eu me dispus a arriscar minha vida, sem pensar duas vezes. Então, agora peço que pensem em mim. Meu nome é Boa Freya Alexandra de Auradon. Sou filha da Rainha Bela e do rei Adam. E eu tenho 16 anos.

—Durante toda a minha vida, eu fui preparada para assumir o trono com essa idade, quando todas as outras crianças teriam até os vinte e um anos para decidirem seus destinos – ela suspirou, olhando para Cindy e Andrew – Eu nunca reclamei. Eu amo Auradon, e sempre dei meu melhor por nosso país. Mas agora, sinto que não estou pronta para reinar!

Todos arfaram, surpresos.

—Papai, você me ensinou que eu deveria acreditar em mim mesma... Eu acredito, mas também acredito que eu ainda tenho muito a fazer, ver e aprender antes de assumir o trono – ela se virou para o pai, que sorria orgulhoso, e depois para a mãe que parecia horrorizada – Mamãe, eu sei que você não está gostando disso. E que tudo que você faz, todos os dias, é apenas para me proteger dos perigos do mundo e de mim mesma. Mas eu não você, e nem sou perfeita. Precisa me deixar errar, para que eu descubra quem eu sou. Não é por não usar um vestido amarelo que eu vou te amar um pouco menos...

—Minha menininha – Bela suspirou, com os olhos cheios de lágrimas.

—Eu sei que o mundo é perigoso. Mas quero passar por alguns perigos, como vocês passaram, para ser forte o bastante para governar Auradon – riu ela, se virando para Maison, Ethan, Carly e Jullie – E em falar em perigos. Quero agradecer vocês quatro, por ajudarem a salvar Auradon hoje. Sei o quanto deve ter custado a vocês, renegar tudo que sempre foram... Eu entendo esse medo. Mas estou orgulhosa de vocês!

Eles assentiram, rindo orgulhosos enquanto ela se endireitava e olhava para o público – Eu não quero perder minha coroa. Eu quero ter a chance de fazer Auradon um lugar melhor, com a ajuda de pessoas inteligentes e talentosas como Danielle Marie Dwarf e Cindy Arabella Charming.

Ela viu as duas se encararam, desconfiadas.

—Mas quero fazer isso ao meu tempo. Tempo que espero conseguir, com o apoio de vocês, nobres de Auradon – ela falou, olhando para a multidão – Peço apoio, então, para assumir a coroa não hoje, mas ao completar vinte e um anos, como todos os outros filhos das nobres casas do reino.

Boa olhou, incisivamente para eles. Estava se sentindo outra pessoa, agora, quase como se tivesse reencontrado aquela menininha do barco.

—Eu apoio! – sua mãe foi a primeira a falar.

—Eu apoio! – seu pai concordou, e depois sorriu – Afinal, sou eu quem vai ter que governar por mais cinco anos, não é?

—Eu apoio! – A Rainha Aurora concordou, abraçando o filho.

Os apoios se seguiram por todo o salão, desde Jasmine até Hércules; Mesmo Ariel, Branca de Neve e Mulan. Só faltavam os Charmings. Cindy e os pais conversavam freneticamente em voz baixa, chamando atenção de todos.

—Deixamos nossa decisão nas mãos de Cindy – Anunciou Cinderella, por fim. Boa olhou para Cindy, para a princesinha perfeita e arrogante que ela por muito tempo até invejou em alguns quesitos, e odiou em outros. Ela percebeu que nunca tentou dar uma chance a Cindy. Talvez isso tivesse feito à diferença.

—Por muito tempo, esperei que caísse para renunciar sua coroa, Boa – Cindy falou, sorrindo presunçosa – Esse seria um ótimo momento para isso. Mas eu não quero mais ela, não vale a pena. Em nome da família Charming, eu apoio seu pedido.

Todo o salão explodiu em palmas e gritos, Boa riu, andando até Cindy e a abraçando – Fico feliz em ver que está progredindo. Mas sabe que ainda temos contas a acertar, certo?

—É eu sei... – riu Cindy, com aquele ar de que nada que Boa fizesse poderia abala-la. Provavelmente não poderia, pensou Boa.

—Tudo bem, hora da foto! – gritou John, enquanto todos se juntavam em volta dele. Virados de costas para o público. Aquele menino, pensou Boa, teria um grande futuro! Quando o Flash explodiu em luz branca, ela fez uma nota mental de pedir aquela foto para John mais tarde.

Eles entrariam para a história, um dia, e aquela foto estaria estampada na página de um livro. Afinal, aquela era Auradon não é mesmo?

...

—Se cuidem, eu prometo que vou escrever! – falou Dany, abraçando os pais com força antes de eles entrarem no carro. Ela ficou assistindo o carro virar a esquina ao por do sol, antes de sentir um par de braços abraçando sua cintura.

—Você está bem? – perguntou Ethan ao seu ouvido, rindo.

—Prometi a mim mesma que não ia chorar – ela confessou, beijando ele sobre o ombro - Você foi muito corajoso hoje!

—Aprendi com você – ele sorriu – Desculpe pela briga, eu estava...

—Eu posso imaginar – ela brincou – Um plano para dominar o mundo deve ser bem exaustivo!

—Certo, certo... – Ele desfez, e olhou para o tablet nas mãos dela – O que é isso?

—Uma coisa que Cindy pediu que eu mostrasse para Carly e Jullie. Sãos os vídeos de segurança do Dia da Família, e as gravações das câmeras da escola – Dany explicou – Mostra que ela beijou Laurent a força e ameaçou Andrew.

—Vai mostrar? – perguntou ele, desconfiado.

Dany olhou em volta, para Boa e Maison, parados na porta da Catedral, se despedindo dos últimos convidados - afinal, não era por não ter festa que iam desperdiçar toda a comida preparada para a ocasião. Para Jullie e Andrew, encostados no muro se beijando sem nenhum pudor. Para Carly e Laurent, sentados nos últimos degraus comendo cupcakes.

—Não – ela decidiu, por fim – Acho que eles já resolveram isso sozinhos!

Ela ficou ali, no meio da calçada, deixando que ele lhe abraçasse enquanto escrevia, ela estava prestes a colocar a última palavra quando John chegou correndo chamando sua atenção – Vocês não vêm?

—Para onde? – perguntou Ethan, enquanto ela fechava a capinha do tablet.

—Para a festa! – ele anunciou, sorrindo, os puxando pela mão.

...

A parte de trás do castelo não podia estar mais lindamente decorada. Aquilo com certeza tinha tido dedo de Cindy. Todos dançaram a noite inteira, como se não houvesse amanhã, e quando o sol nasceu estavam exaustos demais para sequer se moverem, então ficaram sentados olhando o dia raiar.

Boa estava deitada com a cabeça no colo de Maison, se negando a dormir: Aquela, geralmente era a hora que ela estava acordando. Jullie estava sentada no colo de Andrew, mais preocupada em beija-lo do que ver o sol nascer. Carly encontrava-se encolhida, com o casaco de Laurent sob os ombros, e a cabeça no ombro do mesmo.

Até Cindy Charming e John Fairy dividiam o primeiro degrau da escadaria, sem encostarem um no outro. Não era perfeito, de fato, mas era um início.

Dany encolheu as pernas, apoiando o tablet nos joelhos e encostou as costas na parede, vendo Ethan que havia pegado no sono arrumar a cabeça apoiada em seu ombro, e em seguida olhando para as palavras já escritas. Havia sido mesmo um mês e tanto. Ela se perguntou o que viria a seguir. De uma coisa estava certa, aquela história estava bem longe de acabar. Mas por enquanto ela estava satisfeita. Ela sorriu, e escreveu a última palavra. Tão pequena e tão definitiva, encaixando todos eles em três simples letras.

Fim.