Descendants - In Reverse

XXII - Um Toque de Mágica


Malévola olhava com cuidado para a tela da televisão, ignorando as conversas insignificantes em sua volta. Em breve, se Maison conseguisse cumprir suas tarefa simples, ela teria todo o seu poder de volta e poderia se livrar daqueles três imbecis – e de seus filhos inúteis.

Isso, se o coração fraco de Maison não atrapalhasse tudo.

Vê-lo naquela carruagem com a princesinha já não tinha sido o ponto alto de seu dia. Ela achava que esse problema havia sido encerrado há dez anos, mas lá estava aquela menina petulante e atrevida cruzando deu caminho de novo.

Ou, ainda pior, cruzando o caminho de Maison de novo. Ela não podia deixar que aquela tolice de amor verdadeiro acabasse com tudo que planejara como aconteceu com a princesinha dorminhoca e seu príncipe bobalhão há algumas décadas.

Ela não permitiria que aquela menina fosse à causa da falha de Maison, chegará muito longe para isso. Ela teria a Varinha. Teria a coroa. E agora, decidirá, também teria o coração da princesa. Gotejando, bem na palma de suas mãos.

...

Não adiantava mais tentar mudar o rumo das coisas. Boa olhou em volta, procurando alguma estabilidade. Encontrou a mãe de Maison, parado abaixo do nível da carruagem, estendida para ela. Encontrou seus pais, sobre a escadaria da Catedral, sorrindo esperançosos. Encontrou o sol, e por fim encontrou na ponta da escadaria Branca de Neve, e fixou os olhos no laço vermelho da apresentadora, enquanto levava as mãos ao pescoço e soltava a capa amarela, respirando fundo e aceitando a mão de Maison, descendo pé ante pé os dois degraus da carruagem.

Quando olhou para cima, viu apenas as costas de sua mãe cruzando as portas da catedral.

—E aqui está ela.Boa, uma palavra para a imprensa, por favor – falou Branca, assim que eles chegaram aos limites da escadaria – Você está incrível querida, quem fez seu vestido?

—Foi um amigo, Ethan – ela respondeu roboticamente, sentindo-se sorrir sem nem se esforçar, depois de tantos anos de prática – Acredito que tenha vestido metade das garotas aqui hoje!

Branca riu – Ansiosa? Como são os últimos minutos como princesa?

Boa travou, apertando ainda mais a mão no braço de Maison. Seus últimos minutos como princesa. Ela olhou para Branca de Neve, no auge dos seus vinte e dois anos. Ela lembrava ainda de quando ela se formará na faculdade de jornalismo, um ano atrás. De como parecia confiante de quem era e do que estava fazendo, mesmo depois de ter ido contra todos.

E ali, há vinte degraus das portas que traçariam seu destino, Boa finalmente percebeu o que deveria ter feito por si mesma há muito tempo. Ela finalmente tinha a solução para todos os seus problemas. Mas agora era tarde demais.

—Boa! – chamou Branca, sorrindo – Tudo bem, se não quiser respondeu... Deve ser um pouco sufocante, eu entendo!

Boa queria dizer que sabia disso, mas apenas assentiu, se virando com Maison de volta para as escadarias e subindo, degraus pós-degraus calculadamente, como havia ensaiado durante um mês inteiro.

—Está linda, minha filha – sorriu o Rei, enquanto ela e Maison se curvavam.

—Ela está...

—Furiosa – ele assentiu, lhe lançando aquele olhar que ela conhecia bem – Boa...

—Há um ano, pai, e disse que independente da coroa, eu deveria acreditar em mim, mesmo que isso não fosse fácil – ela falou, olhando para ele com aqueles olhos que faziam mesmo o rei Fera recuar.

—Eu disse? – ele perguntou, e ela assentiu, sorrindo – Que sábio da minha parte!

—Bem, agora eu acredito – ela deu os ombros – Não me culpe por seguir seu conselho!

Ele riu – Vai ser uma rainha maravilhosa, Boa – ele sorriu todo fraternal, beijando sua testa – Agora, acho melhor eu me juntar a sua mãe.

—Boa sorte – ela deu uma piscadela, se virando para Maison enquanto o pai saia – Acho que essa é a hora que nós saímos correndo!

—Seria um bom plano – ele sorriu, pegando as duas mãos dela – Poderíamos pegar um daqueles cavalos brancos, e fugir ao por do sol...

—Seria um final perfeito – ela suspirou, deixando uma lágrima escorrer – Queria ter tido mais tempo!

—Pra que? – perguntou ele, confuso.

—Pra ter entendido o que eu tinha que ter feito – ela suspirou, dando um passo para frente e encaixando seus lábios contra os dele – Vai...

—Boa... – ele começou a falar, mas ela negou com a cabeça. Então ele apenas pegou no bolso o último presente que ela teria dele, colocando-o em volta de seu braço e a soltando – Fiz pra você.

Maison seguiu um assistente por outra entrada para a Catedral, assim como o Rei havia feito. Ele queria conseguir entender o que Lúcifer aquela Princesa Fera se referia, mas acabou decidindo que seria impossível entende-la.

Ele parou no seu lugar, bem à frente, e olhou para onde estavam Jullie, Carly e Ethan. Todos tinham olhares um tanto furiosos e frios, quase como se pudessem pular de onde estavam e pegarem a varinha. A Varinha. Dentro da redoma de cristal, onde antes repousava a Rosa que simbolizava o terrível coração da Fera, cobria a Varinha da Fada Madrinha, que brilhava em todo o seu esplendor.

O coral de crianças começou a cantar, a música encheu o ar, as pesadas portas de madeira do salão de abriram. Boa entrou. Era como ver uma pintura, magnífica e intocável. Seu rosto perfeito era banhado de total falta de sentimentos, não havia um único riso. Uma única lágrima. Nada.

Era como ver uma pintura. Havia beleza, mas não havia vida.

A Princesa Fera deslizou pelo salão, sob as reverências de todos e o olhar reprovador da mãe, até chegar aos degraus da pequena elevação onde seus pais e a Fada Madrinha estavam. A mãe de John caminhou suavemente até Boa, tirando-lhe a coroa que carregava e em seguida, pegando sob a almofada que a Rainha Bela segurava a enorme coroa dourada repleta de magníficas pedras azuis.

Ele a viu se encolher, enquanto o fardo era lhe colocado sobre a cabeça.

A Redoma foi tirada, A Fada Madrinha pegou a varinha, com toda a graça, e a erguem em frente a toda Auradon. Foi quando o tempo parou.

...

Laurent olhou para a Varinha. Ele nunca havia pensado muito sobre aquilo, mas agora, entendia sua importância.

Ele nem imaginava o poder que ela poderia ter, apenas sentia ele se espalhando por toda a sala. Um simples balançar dela provavelmente acabaria com a fome no mundo, as guerras e toda a dor.

Mas ele estudará bastante magia para saber que isso era interferir no destino. Mas isso não podia impedi-lo de sonhar. Com aquela varinha, ele poderia cozinhar abertamente, sem se preocupar com os outros o ridicularizando. Ele deveria ser um guerreiro, não um cozinheiro!

A Varinha poderia parar o tempo, o suficiente, para que ele conseguisse explicar para Carly o que acontecerá aquela noite, afinal. Ela sempre fugia quando ele tentava. Ele queria poder ter a chance de explicar. E ele poderia ter. Com um toque de magica, ele teria tudo isso.

...

Dany olhou para a Varinha. Ela a estudará por muito tempo, era realmente fascinante vê-la de perto, mas também um pouco angustiante.

Estava tendo o melhor dia da sua vida, em muito tempo, mas sabia que assim que o sol se posse, ele acabaria por sabe-se lá quanto tempo mais. Um toque dela, e aquele dia perfeito se prolongaria por todos os dias. Terias seus pais ao seu lado, e poderia lhes contar tantas coisas. Poderia lhes contar sobre Ethan. Poderia ter os dois, sem ter que escolher.

Nunca mais teria que lidar com Cindy, ou com o fato de não se encaixar em lugar nenhum.

Nunca mais seria a menina que passa as férias trabalhando no shopping, ou que se esconde atrás dos óculos, ou a última a ser escolhida na educação física, ou que todos esbarram nos corredores. Com um toque de mágica, ela teria tudo isso.

...

John olhou para a Varinha. Cresceu ouvindo os feitos de sua mãe com aquela Varinha, e agora, lá estava ela por fim.

Se a magia de Maison podia mudar-lhe o cabelo e der-lhe-lhe um rabo de rato, o que a varinha não faria por ele? Poderia ser alto, bonito, inteligente e popular. Ele olhou para Cindy, de braços com Andrew. Se tivesse a Varinha, Andrew chagaria a ser repugnante aos olhos de Cindy.

Ele seria o melhor. Seria amado. Ele seria o rei, e daria de Cindy sua rainha. Era tudo que ela sempre quis, e se ele a desse isso, ela o amaria eternamente. E então eles seriam felizes para sempre. Com um toque de mágica, ele teria tudo isso.

...

Cindy olhou para a Varinha. Ela sempre a achou magnífica, mas vendo-a de perto era com certeza diferente. Era um patamar de luxuosidade que nem mesmo ela poderia negar.

Se colocasse as mãos naquela varinha, todo então seria do seu jeito. Nunca mais teria que se preocupar com joias de pratas ou insetos de Ilha sujando seu ar. Ela seria inédita, intocável, e... Imortal!

Era isso. Com a Varinha, ela não seria apenas a Rainha de Auradon, no lugar de Boa. Ela seria a Rainha Imortal de Auradon. Com centenas de joias douradas, um castelo gigantesco e Maison ao seu lado, por que não? Todos amariam cada passo que ela desse, fariam cada vontade sua realidade. Incluindo ele.

Ela poderia andar sobre a água, e ter centenas de sapatos de cristais só seus, sem nunca mais ter que esperar por dias “especiais” onde sua mãe permitia que ela usasse os seus. Não precisaria mais fazer caridade ou exercícios. Com um toque de mágica, ela teria tudo isso.

...

Andrew olhou para a Varinha. Ele estremeceu, vendo as faíscas brilhantes saltando dela. Sabia o quão perigosa à magia podia ser, sua avó lhe contará muito sobre isso.

Então não era estranho que ele ansiasse tanto por aquela magia? Se tivesse a varinha, enfim seria livre. Ele poderia mudar a opinião se sua avó. Poderia enfim dar ao coração dela todo o amor que precisava.

Ele poderia mudar a opinião de todos. Ele faria com que todos vissem Jullie como ele via. Até mesmo Cindy iria querer ser a melhor amiga dela. Ele não teria que temer por escolher ela, por colocá-la em um risco estando com ele... Ele a faria sua princesa. A faria a princesa perfeita. Com um toque de mágica, ele teria tudo isso.

...

Boa ergueu os olhos, olhando para a varinha. Depois de repassar aquela cena tantas vezes, era estranho por fim estar ali com a verdadeira.

Se ela se erguesse agora, seria fácil arranca-la das mãos da Fada Madrinha, ninguém esperaria por isso. Ela poderia voltar no tempo, poderia fazer tudo de uma forma diferente. Poderia te dito desde o começo o que queria, e como se sentia.

Poderia ter feito escolhas que mudariam tudo que aconteceu no último mês, e estar em outro lugar que não fosse aquele. Poderia estar de bem com sua mãe, e estar se preparando para um enorme jantar de aniversário, como era todo o ano. Onde se sentaria a esquerda de seu pai, e riria das piadas dele que ninguém mais na mesa entenderia, e seguraria a mão de Maison por baixo da mesa.

E na segunda feira iria para a escola, e voltaria a ser apenas a Boa, nada de coroa nem majestade. Com um toque de mágica, ela teria tudo isso.

...

Maison olhou para a Varinha. Ele sentiu a magia lhe chamando quase como uma canção de ninar. Ele quase podia ouvir sua mãe, dentro da sua cabeça.

Não me decepcione.

Ele olhou para seus amigos, com olhares fixos no mesmo ponto. Era a hora de eles terem o final que tanto mereciam. Todos eles.

Ele lembrou por que forra até ali. Por que passarão essas quatro semanas naquele mundinho colorido. Era a hora dos vilões terem seu final infeliz que tanto queriam. Ele prometerá aquilo a três pessoas, e não quebraria sua palavra. Não, ele quebraria seu coração.

Mas deixaria que isso lhe atingisse mais tarde.

Ele deu o primeiro passo em direção ao fim, quando se viu recuando junto com o resto da multidão, enquanto a varinha era arrancada das mãos da Fada Madrinha.