—E então ela ficou lá, deitada, sorrindo como uma boba – falou Jullie, enquanto treinava rebatida com Laurent – Você devia se declarar para ela, acho que ela gosta mesmo de você!

—Você acha? – ele ergueu uma sobrancelha – Eu não sei, eu perguntei se ela queria almoçar comigo hoje, e ela começou a se enrolar toda...

—Você não entende nada de mulher – riu Jullie, fingindo estar com pena – Tadinho...

—Pode ser, mas entendo de Tourney, então presta atenção na bola – falou ele.

—Hã, desculpa... Quem fez o ponto da vitória no último jogo? – ela ergueu uma sobrancelha.

—Pode ter sido sorte de principiante, nunca se sabe – ele riu, e ela deixou a bola cair – Eu não disse? Você precisa se concentrar! Jullie? Jullie!

Mas ela não ouviu, por que no seu campo de visão o cabelo loiro brilhante de Cindy Charming lhe chamou atenção, enquanto ela entrava no campo abraçada a Andrew. Ela não entendia por que eles a incomodavam tanto, era uma sensação ruim no fundo do seu peito, como se estivessem o arranhando lentamente com a ponta de uma faca.

Ela os seguiu com os olhos, enquanto Cindy beijava ele e se sentava nas arquibancadas.

—Podemos fazer uma pausa, se quiser – Laurent falou, mas ela negou.

—Vamos continuar – ela falou.

—Como vocês estão indo por aqui? – perguntou Andrew, se aproximando deles.

—Veja por si mesmo – ela grunhiu.

—Alguém está de mal humor – ele riu – Não bata com tanta força, pode acabar machucando alguém. Você tem que segurar mais para a ponta...

Ele passou os braços envolta dela – Assim.

—Tá, certo, tanto faz – ela deu os ombros, o afastando – Laurent?

—Estou cansado, por que não treina com Andrew um pouco? – ele sugeriu, se afastando.

—Então, vai me dizer por que está tão irritada? – perguntou ele, se afastando um pouco e seguindo o mesmo processo de rebatimento. - Os meninos falaram que você também não estava de bom humor ontem.

—Ah, maravilha... Achei que estivesse em um time de homens, não em um bando de velhinhas tricoteras – ela contra atacou. – Ou bebês chorões, que qualquer resposta dura correm pra mamãe.

—Algum deles fez algo para você? Posso falar com eles se quiser... – ele propôs.

—Por que se importa? – ela ergueu uma sobrancelha – Não é como se você estivesse muito interessado no time, ultimamente...

—O que quer dizer? – perguntou ele.

—Bem, você faltou a dois treinos e chegou quase no final desse... E acho que todos na escola sabem bem o motivo – ela virou a cabeça na direção de Cindy.

—Cindy? O que ela tem a ver com isso? – perguntou ele.

—Nada – ela deu os ombros – Mas, agora, sinceramente... Você não acha muito hipócrita acabar com uma menina e no mesmo minuto beijar a próxima na descendência a coroa?

—É isso que parece para você? – ele riu – Que eu estou atrás de um título? Eu sou o terceiro na linha de sucessão, seria fácil me livrar de Boa e Cindy se eu quisesse a coroa, mas eu não quero...

—Então porque beijou a boneca Barbie ali? – perguntou Jullie.

— Eu só beijei a Cindy por que queria ferir Boa, por me deixar com cara de tonto no meio de toda a escola! Mas não deu certo, ela nem se importou...

—Pois é, em vez disso você feriu a mim – ela falou, batendo com tanta força que a bola voou para longe adentrando a floresta – Já deu pra mim por hoje!

—Espera, o que você quis dizer com... – ele começou a perguntar, mas quando se virou ela já estava do outro lado do campo. Ele andou até o banco, sentando e pegando uma garrafa de água.

—O que ouve? – perguntou Cindy, docemente.

—Nossa estrela não estava com vontade de treinar hoje – ele deu os ombros – Na verdade, eu cheguei quase no fim do treino, estão todos cansados...

—Sabe, eu não queria falar nada, mas eu acho uma má ideia deixar essa garota no time – falou Cindy – Quer dizer, ela veio da Ilha... E não acho que vá demorar tanto para voltarem para lá, e o time vai ficar desfalcado. Deveria achar alguém de confiança para colocar no lugar dela enquanto ainda tem tempo.

Ele piscou, surpreso. Não deveria estar surpreso. Ele conhecia Cindy desde as fraldas, sabia que ela era mimada, narcisista e cruel... Mas queria tanto magoar boa que se deixará cegar por ela, pelos sorrisinhos e beijos.

—Não fale mal do meu time – ele falou, a encarando – Desculpe Cindy, mas não acho que isso vá dar certo. Nós. Inda posso ir a coroação com você, se quiser, mas...

—Tudo isso por causa de um time? – ela grunhiu – Não, obrigada... Quer saber? Vou achar alguém que realmente queira ir comigo a coroação!

Ela saiu dali furiosa, marchando. Ele sorriu, indo pelo outro lado, em direção a entrada da escola, mas antes que de fato pudesse chegar lá, ele os viu. Jullie ria, com o braço dentre o de um garoto estranhamente familiar. Ele demorou um pouco até perceber que aquele era o goleiro dos Falcões, Philip.

É, Capitão... Não se pode vencer sempre!

...

Maison parou no estacionamento dos alunos, impressionado. Os carros estavam perfeitamente estacionados em duas fileiras, e cada um tinha o emblema de uma das nobres famílias de Auradon.

—Qual deles é o seu? – perguntou ele para Boa, que havia sumido de vista.

—Nove B – ela riu, ele andou pelos números até um grande carro preto com o logo da fera no canto do estacionamento. Do outro lado dele, estava Boa, desamarrando as pontas de uma grande lona azul escura que cobria algo – Mas hoje, não é ele quem vai sair pra passear.

—O que quer dizer? – perguntou ele, confuso, quando ela deu um puxão na lona, quase caindo para trás, e revelando uma moto azul escura – Espero que goste de motos!

—Você... – ele apontou para ela, assinalando dos pés a cabeça – Sabe pilotar isso?

Ela riu – Acredite ou não, é verdade – ela colocou o capacete e subiu na moto, dando partida e saindo das sombras do carro – Você vem?

Ele assentiu, ainda perplexo, colocando o capacete e subindo atrás dela.

—Segure-se! – ela avisou, acelerando. Maison estava prestes a perguntar a onde, quando a moto começou a se mexer o obrigando a abraça-la para conseguir se manter estável sobre ela. Boa tinha cheiro de baunilha e rosas brancas, com algo mais forte que ele não conseguia identifica, e era tão magra que parecia que ia quebrar nos seus braços. Ela se virou para ele, rindo – Você está bem?

Ele não conseguia responder, e se pudesse, nunca admitiria o quão estava apavorado, então apenas assentiu. Ela parecia tão despreocupada, como se fizesse aquilo a vida inteira, enquanto saia dos limites da escola e um guarda gritava algo que ele não conseguia entender, ele sentiu ela rir.

Maison acabou rindo também, se não de nervoso, por que a risada dela era contagiante. Ele estava surpreso, aquilo não estava sendo nada como ele esperada.

Que outros segredos aquela princesinha estranha esconderia?

...

Ethan jogou a última peça de roupa de Dany longe, olhando para o armário vazio.

—Como é possível que você não tenha uma única peça de roupa usável? – ele arfou, suado, encarando ela que estava sentada em um sofá o encarando indiferente – O que você tem a dizer sobre isso?

—Quer? – ela estendeu um pacote de balas para ele, que a encarou de cara feia – O que foi? Eu disse que não tinha nada surpreendente no meu guarda roupa!

—Ah, tem sim, muita coisa surpreendente... – ele arfou – Surpreendentemente feia! Surpreendentemente Nerd. Surpreendentemente... Você tem que idade mesmo?

—Tudo bem, eu já entendi – Dany bufou, se levantando, pegando todas as roupas e enfiando em um bolo no armário, o fechando antes que todas pudessem cair de novo – Podemos ir agora?

—A onde? – Ethan ergueu uma sobrancelha, perplexo.

—A um lugar mágico... – ela começou, e ele gemeu. – O que?

—Desculpe, mas não acho que voltar pra biblioteca vá ajudar dessa vez!

—Eu também não... – ela concordou, jogando algumas tralhas dentro de uma bolsa – É por isso que estamos indo para o shopping?

—Shopping? – ele pareceu ainda mais confuso – O que é isso?

—Hã... É um lugar grande, onde tem muitas lojas. Que vendem roupas... Calçados... Comida... – ela tentou explicar – Enfim, tudo!

—Tipo um mercado? – ele ergueu uma sobrancelha.

Dany riu, era estranho como ele ficava assim todo confuso, até meio fofo... – É, só que Cindy Charming nunca iria a um mercado! Vamos, antes que a gente perca o ônibus...

—Ônibus?

—É tipo um carro... Só que várias pessoas podem andar... Ah, você vai ver – ela deu os ombros, pegando o pulso dele e o arrastando para fora do quarto.

—Por que não vamos de carro então?

—Nós iriamos, se eu tivesse um – ela suspirou – Mas por causa da nossa querida princesa encantada, eu não tirei carteira de motorista, então... Sem carro!

Andar de ônibus era estranho, Ethan percebeu. Não como andar no carro que os levou para Auradon, o ônibus era mais alto, mais espaçoso, mas ao mesmo tempo bem menos confortável. O mundo lá fora passava correndo, e as pessoas pareciam tão ocupadas enquanto chegavam ao centro da cidade.

—Vamos, hora de descer – Dany o cutucou, se levantando. Ele a seguiu, do ônibus até um grande prédio brilhante – Esse é o Auradon Center, o maior e único shopping de todo o reino!

—Nossa... Nada como um mercado – ele riu, enquanto entravam no prédio, que se mostrava ainda mais colorido e iluminado por dentro do que por fora.

—Você me espera aqui um pouco, eu tenho uma coisa pra fazer rapidinho – ela falou, olhando para ele fixamente – Eu já volto. Por favor... Não arrume nenhuma encrenca!

...

Quando desceram da moto, perto da trilha, Maison parecia um pouco verde.

—Minha Fada Madrinha, você está bem? – Boa perguntou, com os olhos arregalados ao descer e ver o estado dele – Me desculpe, eu corri demais?

—Não, eu estou ótimo – ele tentou sorrir, mas acabou fazendo uma careta – Eu só preciso ficar parado um pouquinho.

—Devia ter me dito que não estava bem – ela falou, e depois sorriu, ajudando-o a se equilibrar – Melhor?

Ele assentiu. – Você dirige muito!

Ela deu uma gargalhada – Obrigada! Pena que o guarda que deixamos para trás não concorda com isso... Espera só meus pais saberem disso!

—Por que?

—Bem... Eu meio que estava proibida de andar de moto até a coroação – ela deu os ombros, e depois pareceu genuinamente confusa – Ou até o Natal, agora não lembro direito. Estranho... Geralmente minha memória é muito boa!

Maison piscou, assustado. Eis as brechas do feitiço – Então, por que você me trouxe pro meio da floresta? – perguntou ele, mudando de assunto rapidamente – Achei que ia me mostrar seu reino, e tudo mais...

—Ah, qualquer pessoa poderia lhe mostrar a cidade – ela sorriu, deixando pra trás seu pequeno lapso de memória – Quero te mostrar meu lugar favorito no reino! Vem, é por aqui... Espero que se de melhor com altura do que com motos!

—O que quer dizer? – ele perguntou, confuso, enquanto seguiam pela trilha, até que viu a enorme ponto – Ah...

—Não precisa ter medo – ela falou, rindo – Me dá a sua mão...

—Eu estou bem – ele garantiu, mas ela puxou a mão dele mesmo assim, o puxando para a ponte.

—Diga algo sobre você que nunca contou antes – ela pediu, parando no meio da ponte e a balançando.

Ele engoliu em seco, pensando rápido – Meu nome do meio é... Bacchus!

—Espera... Bacchus? – ela ergueu uma sobrancelha, rindo – Não...

—É sério – ele assentiu, rindo.

—Bacchus... – ela seguiu rindo.

—É, mamãe é boa no que faz... – ele riu – Dar o seu pior... Maison Bacchus!

—O eu é Freya* - ela deu os ombros.

—Freya? – ele riu - Muito nobre!

—Nobre demais para o meu gosto – ela olhou para o fundo abaixo da ponte, seus olhos enchendo com uma tristeza estranha.

—Pelos menos não é Bacchus – ele brincou, ela olhou sobre o ombros para ele e deu um grande sorriso. Algo dele se perguntou o quanto desse sorriso era sincero e o quanto era apenas fruto da poção do amor.

—Tem razão – ela gargalhou – Nessa você me venceu! Vamos...

Ele a seguiu, sem se preocupar com a altura ou coisa alguma. Era como na Ilha, apenas precisava de um pouco de tempo para se acostumar com as coisas desagradáveis. Mas a verdade, era que agora sua mente tinha outras coisas para se preocupas.

Assim que a ponte acabou, a trilha transformou-se em um amontoado de pedras escorregadias que darem em um cloreto em meio a água. Era um lugar lindo, calmo, e tinha uma energia mágica que ele não conseguia explicar.

Ele entendia por que Boa gostava tanto de lá.

...

—Ah, aqui está você – arfou Dany, parando ao lado de Ethan que andava pelo shopping despreocupadamente – Não pedi para me esperar na entrada? O que está fazendo aqui?

Ele levantou um longo pedaço de tecido nas mãos. Um lenço – Olha só o que eu peguei pra você!

Ela arregalou os olhos, o encarando – O que você quer dizer com, pegou?

Mas antes que ele pudesse responder, um homem com aparência árabe veio correndo em meio a multidão.

—Você! De cabelo azul! Parado Ai! – gritava o homem.

—Ethan... – Ela gemeu, pegando o tecido das mãos dele – Isso é a da sua loja?

—É sim, srta. Dwarf – ele assentiu, pegando o tecido – Obrigada. Agora, poderia ir chamar a segurança enquanto eu fico de olho nesse ladrãozinho?

—Ah, não, ele está comigo – Dany falou, rapidamente – Desculpe pelo meu amigo, de onde ele vem as coisas são um pouco diferente...

—Ah, e onde seria que você pega as coisas e sai sem pagar? Na Ilha dos Perdidos? – ele bufou.

—Na verdade, sim – ele respondeu, vendo o rosto aterrorizado do homem.

— Mil perdões pelo transtorno, eu prometo que não vai acontecer novamente! Vamos Ethan... – Dany o puxou para longe.

— Eu deveria pedir desculpas? – perguntou ele.

—Não, deixe isso para lá – ela deu os ombros – A culpa é minha, eu deveria ter explicado que aqui as coisas são diferentes! Aqui você não pode pega o que quiser, você tem que comprar – ela tirou uma sacolinha da bolsa, mostrando as moedas douradas – Com dinheiro!

—Você tem muito... Dinheiro – ele falou a palavra como se fosse algo estranho, estrangeiro. Ela riu.

—Não é tanto quanto parece – ela deu os ombros – Não sou tão rica quanto Cindy, Boa e Maison. Eles são da realeza, e tem pais para cuidarem deles. Mas alguns trabalhos de meio período ás vezes servem para alguma coisa!

—O que aconteceu com seus pais? – perguntou ele.

—Nada, eles só não estão... Por perto – ela deu os ombros, aborrecida.

Ele olhou em volta, tentando encontrar outra coisa para falar, quando viu um par de meninas rindo saindo de uma grande caia de metal com uma cortina. – O que é aquilo?

—Ah, é uma cabine de fotos – ela explicou – Você entra, e ela tira fotos de você!

—Com magia?

—Muito melhor – ela deu um grande sorriso – Com tecnologia! Vem, eu vou te mostrar!

...

Carly fugiu do treino assim que pode, Cindy estava mesmo com um humor maravilhoso, ela queria saber o que tinha acontecido, mas quando foi procurar seus amigos para perguntar se sabiam de algo todos haviam sumido.

Ela passou pelo príncipe Andrew, estranhamente desanimado e por John estranhamente animado a caminho da biblioteca, e seguiu direto para a seção de livros de culinária.

Se alguma coisa aqueles biscoitos haviam feito por ela, era lhe mostrar algo que ela realmente gostava de fazer. E que, pela primeira vez, era muito boa!