Descendants - In Reverse

Prólogo - Um dia tudo mudou


Boa acordou ofegante naquele inicio escuro de manhã, quando o sol ainda não havia dado a graça de sua presença no céu dos Estados Unidos de Auradon. Ela respirou fundo, passando as mãos pelos cabelos úmidos de suor antes de jogar-se para trás, batendo as costas no colchão macio e fechar os olhos. Parecia que quanto mais sua coroação se aproximava, mais aqueles sozinhos estranhos tornavam-se mais frequentes - não eram pesadelos, eram piores do que pesadelos. Apenas aqueles olhos verdes perversos e brilhantes a encarando até que ela tivesse vontade de se encolher e chorar.

Quando seus nervos por fim se acalmaram, ela decidiu que não conseguiria voltar a dormir, em menos de uma hora o modista real estaria ali para começar a tomar medidas para a roupa da coroação. Seria um dia agitado e se queria algum tempo para si mesma, era melhor levantar da cama logo.

Ela se levantou, abrindo as cortinas e deixando a luz crescente entrar, mas em vez de seguir com seus preparativos para o dia, ela se perdeu olhando para o longe. A Ilha dos Perdidos era tão pequena vista dali, esquecida no meio do nada. Há vinte anos os vilões estavam lá, pensou ela. Ela nunca havia parado para pensar nisso, embora já ouvisse seus pais discutirem sobre na mesa do jantar, mas certamente os vilões também tinham filhos, não?

Ela se apoiou na varanda, encarando a Ilha. Só esse simples feito lhe dava arrepios. Ela pensou no grito de seu sonho, tão torturado. As crianças que cresceram naquele lugar seriam tão tristes quanto o dono daquele grito?

Ela respirou fundo, enquanto o sol tomava forma e tocava sua pele. Será que se podia ao menos sentir o sol na ilha dos Perdidos? Será que se via as estrelas a noite? Ou seria sempre escuro e frio?

—Alteza, seus pais pediram para acorda-la – uma voz de mulher falou do lado de fora da porta – A Srta. Tem horário com o modista ainda agora cedo!

—Tudo bem, já estou acordada – ela anunciou, se afastando da janela.

...

—Levante o braço – pediu o modista real – Isso, agora dobre um pouco... Mais um pouco... Assim.

—Isso é mesmo necessário? – perguntou Boa, respirando fundo – Vai estar calor no dia da coroação, achei que talvez eu pudesse usar um vestido sem mangas!

—Sem mangas? – perguntou o modista, como se ela fosse uma louca – Isso seria inaceitável, a coroação é um momento sagrado, você precisa estar no seu melhor requinte!

—Mas... – Ela começou a argumentar, mas ele fez um estalo impaciente com a língua e voltou a medi-la. Ela respirou fundo, desistindo. Não fazia sentido discutir, ele nunca ouvia sua ideias. Sempre a vestia ao próprio gosto, ou pior, ao estilo de sua mãe.

—Vira a cabeça, por favor – ele pediu, ela girou a cabeça para o lado, tendo mais uma vista da Ilha. A ideia que lhe veio durante o banho começou a martelar de novo na sua cabeça, o remorso e a culpa a atingindo de forma tão brutal que ela se desequilibrou por um momento e espetou o pé em um alfinete. – Cuidado!

Ela se ajeitou, enquanto seguiam-se as medições. Estava morrendo de fome, acabará se demorando tanto lendo que quando percebeu o modista já havia chegado antes dela ter tempo de tomar café.

—Cabeça!

—Como é possível que vá ser coroada no mês que vem? – perguntou seu pai, entrando com sua mãe ao lado – O meu bebe...

—Ela vai fazer 16 anos, querido! – riu sua mãe, que como sempre, parecia radiante.

—Papai – ela riu, acenando.

—Dezesseis? – seu pai tentou parecer ultrajado, tirando os óculos – Ainda é muito nova para ser rainha! Só tomei boas decisões depois que fiz... Quarenta e dois.

Sua mãe, que mexia em algumas roupas jogadas o encarou.

—Você decidiu se casar comigo quando tinha vinte e oito – Bela o lembrou.

—Bem, era você ou o bule de chá – ele fez uma careta – Brincadeirinha!

Ela riu, e depois murchou. Tinha que tomar coragem... Era agora ou nunca.

—Você está bem, querida? Parece um pouco pálida – Bela deu um passo para frente.

—Tudo bem, só queria falar com vocês sobre uma coisa – ela respirou fundo.

—Bem, fale – Adam sorriu.

—Mãe, Pai... – ela tentou dar um passo para frente, só para ser lembrada de que o modista ainda estava ali e ficar parada no mesmo lugar – Já escolhi minha primeira proclamação real. – Ela respirou fundo mais uma vez, a sala estava mesmo girando? Seus pais pareciam tão eufóricos – Quero dar as crianças da Ilha dos Perdidos a chance de viver em Auradon!

Uma tiara que estava nãos mãos de sua mãe caiu no chão, fazendo um barulho metálico que encheu o ar pelos segundos que se seguiam. Estava feito. Tinha estragado tudo.

—É como se todos tivessem

—Os filhos dos nossos maiores inimigos, vivendo entre nós? – perguntou seu pai, claramente incrédulo. Parecia calmo, mas ela sabia que se forçasse muito ele explodiria.

—Poderíamos começar com poucos, apenas os que mais precisassem – falou ela, pegando alguns papeis que tinha largado sobre o piano – Dei uma lida hoje de manhã, e já os escolhi.

—Já? – agora sim seu pai estava furioso, ela via isso nos olhos dele.

—Dei a você uma segunda chance – Bela falou, segurando o braço dele quando ele deu um passo para frente. – Quem são os pais?

—Cruella de Vil – melhor começar por baixo – Jafar, A Rainha Má – eles já pareciam apavorados, ela se endireitou e falou rápido o suficiente para que não pudesse ter a chance de se arrepender depois – E Malévola.

Os modista soltou um grito, o que a fez revirar os olhos mentalmente.

—Malévola? – Seu pai a encarou furioso – A maior vilã de todas!

—Papai, me escute...

—Não quero ouvir! – ele falou, mais calmo, mas muito sério – Eles cometerão crimes indescritíveis!

A porta bateu. O modista e os seguranças haviam saído. Enfim, privacidade.

—Pai, mas as crianças nunca fizeram nada – a voz dela foi se recuperando – É justo serem punidos pelos crimes de seus pais? Serem privados de ter uma vida normal?

Olha só ela, o que ela sabia de uma vida normal? Ela tinha uma coroa sobe a cabeça!

—Pai... – ela o encarou.

—Talvez – ele suspirou – talvez, eles mereçam uma chance.

—Minha menina – Sua mãe colocou uma mecha dela atrás do cabelo antes de sair do quarto junto com seu pai. – Melhor irmos!

Ela respirou aliviada. Havia dado certo. Céus, havia dado certo!

Ela andou um pouco desnorteada até a janela, encarando a Ilha. Em algum lugar, quatro adolescentes estariam prestes a receber uma nova chance, graças a ela. Só esperava que aquilo desse certo.

Ela se viu tocando o anel que seu pai lhe dera no último aniversário, ainda lembrava das palavras dele, dizendo que estava na hora dela começar a se preparar para receber a coroa, e, pela primeira vez desde então, sentiu que estava no caminho certo.

O sol das onze horas tocou seu rosto quando ela saiu na varanda, e ela mais uma vez se perguntou se na Ilha podia-se sentir o sol.