Descendants - In Reverse

IV - Espirito de Equipe


O dia amanhecia em Auradon. E isso queria dizer que Boa já estava acordada a um bom tempo. Ela queria jogar Andrew da janela. Havia perdido a hora por que ele insistira que ela tinha que assistir ao treino dele no time de Tourney e não tivera tempo de fazer o tema de casa na noite anterior.

Esse negócio todo já estava cansando. Como se ela já não estivesse ocupada o suficiente com as aulas, os clubes, as lideres de torcida – o que, a propósito, tinha dedo de Andrew no meio também – tinha que se preparar para a coroação e com o projeto dos filhos dos vilões... Aquele não era o melhor momento para Andrew dar uma de namorado carente.

O relógio acima da porta do quarto bateu a meia noite – ou melhor, às sete e meia, o que queria dizer que ela tinha meia hora pra toar café antes do primeiro tempo.

Enquanto saia do quarto, Boa teve a sensação que aquele seria um longo e maravilhoso dia. Só bastava esperar para saber se essa gostaria disso, afinal, não eram todos dias bons em Auradon?

...

Maison queria gritar. Ou bater em alguém. Ou gritar enquanto batia em alguém.

Mas naquele momento ele aceitaria uma torrada de pão seco e um pouco de café mais negro do que sua alma, por que estava faminto. Ter pedido informação ao Andrew tinha sido uma ideia terrível. É por isso que era uma ideia de Carly, é claro.

Por que ele ainda deixava as coisas nas mãos dela? Não era de confiança...

Nenhum deles três eram, e ele vivia constantemente se esquecendo disso em meio às pegadinhas e as bobagens que o irritavam tanto que o faziam rir. Ele era o único que podia confiar, aprenderá aquilo aos seis anos de idade, e não é por que andava com eles que ele fosse – eca – amigos!

—Muito bem, próxima questão – falou a Fada Madrinha, na frente da sala de aula. Era um pouco surpreendente o quão inabalável ela era, mesmo diante da total falta de entusiasmo dos alunos em questão – Se lhe derem um bebê chorando, você: (A) o amaldiçoa; (B) tranca em uma torre; (C) da à mamadeira; ou (D) arranca seu coração.

Seguiu rabiscando desinteressado no caderno, havia desenhos espalhados pela mesa que dividia com Ethan, e no momento trabalhava na Varinha Mágica.

—Ethan?

—Qual é a segunda, mesmo? – perguntou ele, e Maison o encarou. Certo que a escola da Ilha não era a melhor do mundo, mas pelo menos eles haviam aprendido a ler nas aulas de poções!

—Tudo bem... Alguém mais? – perguntou a Diretora, olhando em volta – Maison?

—C, dá a mamadeira – ele falou, sem tirar os olhos do desenho.

—Correto, outra vez – falou a Fada Madrinha alegremente.

—Como infernos você consegue fazer isso? – perguntou Carly, do outro lado do corredor.

—É só escolher a que não tem graça – ele revirou os olhos.

Todos exclamaram, encarando ele como se fosse o espelho mais valioso do mundo, coberto de diamantes e banhado em ouro.

—Se você pensar bem, até que faz sentido – murmurou Ethan.

—E desde quando você pensa? – Jullie riu do outro lado da sala, e um lápis voou até ela - Hein!

—Próxima questão... – continuou a Fada Madrinha – Ah, só um minuto crianças.

Um garoto magro, baixinho, de cabelo castanho escuro e traços facilmente esquecíveis entrou na sala, andando rapidamente até a Fada Madrinha.

—Oi querido – sorriu a diretora.

—É, oi – o menino falou, sem graça e assustado. – Você tem que assinar a minha autorização de saída antecipada para a coroação.

—Acredito que se lembrem do meu filho, John? – perguntou a Fada Madrinha, sorrindo.

—Mãe, não – o garoto arregalou os olhos.

—Ah, vamos, não seja tão envergonhado – riu a mulher – John, essa é a turma!

—Oi... – ele falou, envergonhado. Ninguém falou nada – Certo. Não... Precisam responder. Tchau!

Pateta, pensou Maison, mas acabou ficando de boca fechada.

—Continuando – falou a Fada Madrinha, sem se abalar – Se você achar um fraco de veneno você: (A) põe no vinho do rei; (B) aplica em uma maçã; ou (C) entrega as autoridades competentes?

Maison e Ethan riram a referência à maçã, enquanto na outra mesa Carly e Jullie tentavam se matar.

—Quieta – grunhiu Jullie, batendo na filha de Cruella com a mochila.

—Jullie? – perguntou a Fada Madrinha.

—Entrega as autoridades competentes, é claro – ela ainda adicionou um revirar de olhos e uma arfada, o que fez todos os outros revirar os olhos também. Jullie podia ser bem dramática às vezes...

—Qualquer um podia ter adivinhado essa – grunhiu Carly.

—Então por que você não respondeu? – Jullie riu maldosamente.

—Você jogou uma mochila em mim! – exclamou a outra.

—Eu? Foi você quem pegou a minha mochila – Jullie arrancou a mochila das mãos de Carlotta.

—Meninas... – a Fada Madrinha suspirou.

—Por que eu ia querer a sua mochila? Eu tenho a minha – Carlotta levantou a bolsa que estava no chão.

—Ah, que bonitinha... Eu quero – Jullie arrancou a bolsa das mãos de Carlotta.

—Devolve!

—MENINAS! – ela exclamou, e as duas pararam. – Talvez seja melhor usarem toda essa energia em algo mais dinâmico. A equipe de torcida está abrindo vagas!

—Er... Equipe de torcida? – perguntou Carly – Não, isso... Não faz muito o nosso estilo. Seja lá o que for!

—É, equipe... – falou Jullie, fingindo tremer. - Não!

...

—Muito bem, começando pelo básico – falou Cindy Charming, em frente ao resto do grupo de candidatas a equipe de torcida – Vamos lá fracassadas, atrás de mim... Um, dois, três quatro. Quatro três dois um. Um dois três quatro! Conseguem fazer ao menos isso?

—Cindy... – gemeu Boa, parada logo atrás dela – Isso é mesmo necessário? Você está assustando elas!

—Eu não – a loira revirou os olhos – Só estou ajudando-as a darem seus melhores! Ou elas vão acabar iguais àquelas irmãs esquisitas da minha mãe, achando que são boas em algo que não são... Você!

—Eu? – perguntou Carly, erguendo uma mão até o peito – O que foi?

—É horrível! – grunhiu Cindy – Suas pernas são incríveis, longas... Mas é muito desengonçada, você já pensou em entrar na banda?

Jullie explodiu em gargalhadas atrás dela.

—E você... Está indo bem – suspirou Cindy – mas sinceramente? Não faz o nosso estilo!

—Ela é incrível! – falou Boa, surpresa, enquanto Cindy a afastava das outras meninas – Qual o problema?

—O problema é que além de não ser loira, ela é negra! – grunhiu Cindy, horrorizada como se Jullie tivesse uma doença de pele contagiosa pela respiração – Não podemos deixar uma garota negra entrar no time. Ia acabar com todo o padrão!

—Não pode estar falando sério – arfou Boa.

—Olha, eu sem que nem sempre nós duas concordamos, mas embora você vá ser a Rainha em um mês, eu sou a chefe dar líderes de torcida – falou Cindy – É o meu time, eu dito as regras!

—Como você quiser – Boa deu os ombros – Mas isso é injusto!

—Você pode treinar a aranha pernuda ali, mas a outra está fora e não falamos mais nisso – falou Cindy – Muito bem meninas, pausa pra água!

...

Não era como se Jullie estivesse tentando ouvir a conversa, mas mesmo assim ela ouviu. Quer dizer, quando você mora na Ilha dos Perdidos seus ouvidos acabam se acostumando a ficar sensíveis a qualquer som, qualquer conversa suspeita e qualquer um se aproximando demais.

E ela não tinha gostado nada daquilo, então se afastou do grupo para tentar entender qual era afinal o maldito jogo que os garotos jogavam naquele lugar. Em Dragon Hall, a escola da Ilha, ele tinham um jogo chamado Trollsquete, onde tinham que arremessar a cabeça de um troll em uma cesta muito alta.

Mas em Auradon, eles tinham um tal de Tourney, que parecia consistir em dois daqueles negócios que se fazem quando muitas pessoas se juntam com um mesmo objetivo... Grupo? Não... Equipe? Time? Algo assim! Consistia em dois desses tentando bater uns nos outros enquanto levavam a bola até uma grande estrutura de madeira e corta que lembrava um pouco as cestas de Trollsquete, só que maior!

Maison e Ethan estavam nas arquibancadas, claramente distraídos. Eles deveriam estar fazendo o teste para o time, o que faziam lá em cima? Ela subiu as escadas e sentou no amplo espaço entre os dois?

—E então? Não quiseram vocês no time? – perguntou ela, rindo.

—Você acha mesmo que eu vou correr por ai e desmanchar meu cabelo? – perguntou Ethan, e depois apontou para o grupo de líderes de torcida – Com todas aquelas garotas olhando?

—E você? Qual a sua desculpa? – perguntou ela para Maison.

—Esse lugar é quente demais – ele deu os ombros – Se eu correr vou ficar suado.

—Vocês dois são tão frescos – ela grunhiu, revirando os olhos.

—Hey, garotos – gritou o treinador, alguns degraus a baixo – tem certeza que não querem fazer o teste?

—Hmmm – Maison pareceu cogitar – Não!

—Não – concordou Ethan.

—Bem, vocês é quem sabe – ele deu os ombros.

—Espera – gritou Jullie, descendo as escadas correndo – Eu... Posso tentar?

—Você? – riu o treinador – Por que não tenta para as líderes de torcida?

Jullie mordeu a parte de dentro da boca, olhando para o grupinho de loiras magras e bonitinhas, e depois para o professor e sua pele escura brilhando por causa do sol.

—Eu bem tentei – ela falou, fazendo bico – Mas, eles só aceitam loiras, aparentemente!

—Bem, e aqui só aceitamos garotos – falou o treinador dando as costas para ela.

—E eu pensando que um professor seria mais diverso que um bando de adolescentes riquinhas – ela murmurou alto o suficiente para ele ouvir.

—Tudo bem, você venceu, pode tentar – ele deu os ombros – Mas se se machucar, garotinha, não diga que ninguém avisou.

Jullie estreitou os olhos. Ninguém a chamava de garotinha.

—Mudanças de planos garotos, a menina aqui quer entrar no time – falou o treinador para os meninos.

—O que? – perguntou Andrew – Não, ela não pode!

—Com medo que eu seja melhor que você, principezinho? – ela bateu um dedo no peito dele – E então, o que eu faço?

— Ataque. Andrew, você também – suspirou o treinador, parecia totalmente perdido enquanto dava as ordens ao resto dos garotos.

Ela suspirou quando o jogo começou, a bola foi lançada e era incrivelmente fácil. De repente, percebeu Jullie, ela estava correndo pelo campo mantendo a bola consigo possesivamente – e talvez ela tenha derrubado alguns garotos no meio do caminho, mas quem ligava? – ela passou pela zoa de morte, desviando dos discos lançados com perfeição.

—Passa pro Andrew! – gritou o treinador, mas ela ignorou. Aquela bola era dela. A jogada era dela. Ela empurrou um menino de amarelo longe, e este bateu em Andrew. Ambos caíram no chão, e ela acertou a bola dentro da estrutura grande onde havia outro garoto, provavelmente para defendê-la. De qualquer jeito, ele não fazia muito bem seu trabalho, por que saiu correndo enquanto ela avançou e deu um salto para trás. E depois olhos para o campo, onde ambos os times estavam caídos no chão.

As meninas riam e batiam palmas, menos Cindy, que parecia horrorizada.

—Você, garota. Vem até aqui!– gritou o treinador – Como você chama aquilo?

—Vencer? – ela ergueu uma sobrancelha, e vários dos garotos riram abafadamente.

—Muito engraçada – o treinador fez uma careta – Mas você está certa, isso é um talento! Depois das aulas volte aqui para falar comigo, vou lhe mostrar algo que nunca viu ante, é chamado de livro de regras.

—Espera... Isso quer dizer que eu to dentro? – perguntou ela, surpresa.

—E você tinha alguma dúvida? Você, será a estrela dessa temporada – perguntou ele, Jullie se virou para o resto dos garotos e achou Andrew na multidão. Ela sorriu.

—Engole essa agora, príncipe pateta! – ela riu, esbarrando no ombro dele ao sair da quadra em direção as outras garotas.