Boa estava andando pelos corredores da escola com Cindy e Andrew. Não por que Cindy gostasse deles, ou algum deles gostasse minimamente dela – Não, eles a odiavam desde que se entendiam por gente – mas a nobreza em seu sangue parecia ser o suficiente para fazer tanto Cindy quanto Andrew concordarem que deveriam andar juntos.

Ela apenas aceitava. Que bela futura rainha!

—Sinceramente, não sei como você consegue lidar com isso – falou Cindy, quebrando as risadas ao chegarem à área os armários – Eles me assustam!

Boa se virou, apenas para ver os filhos dos vilões se despedindo e seguindo para as aulas separadamente.

—Você está sendo dramática – falou Boa, sorrindo – Dá uma chance a eles...

—Não se ofenda Boa, mas você confia demais nas pessoas – falou Andrew, passando o braço pelos ombros dela, o que a fez se sentir pequena e quebrável de repente – O que é lindo, afinal todos sabemos que sua mãe se apaixonou por uma fera que era por um acaso um príncipe... Mas na história dos meus pais, a fada má era mesmo uma fada má... E no fim, morreu com uma espada no coração!

—Não entendo aonde quer chegar – ela se afastou dele, o olhando de frente.

—A mãe dele, é claro – Andrew bufou, apontando para Maison sozinho agora. – Só não quero que se envolva demais com essas... Pessoas... E depois se machuque se as coisas derem errado, minha linda!

—Ele está certo – falou Cindy, que parecia distraída se olhando no espelho – Se apegue aos seus sapatos, não há pessoas... Ainda mais nessas pessoas... É encrenca na certa!

—Vocês dois – Boa apontou para eles – Estão errados. E eu vou provar. Vou fazer isso dar certo!

Andrew suspirou enquanto ela se afastava em direção ao garoto perto do armário. Pobre boa, tão inocente e esperançosa, pensou ele enquanto seguia para a aula.

—Não é por nada não... Mas sua namorada está ficando louca – falou Cindy, andando atrás dele. – Louquinha...

—Vai cuidar dos seus sapatos, Charming – ele grunhiu, entrando na sala de história encantada.

...

—Oi – sorriu Boa para Maison, parando perto dele nos armários.

—Oi – respondeu o menino de cabelo roxo, desconfiado.

—E então, como está sendo o primeiro dia de aula? – perguntou ela, tentando parecer animada.

—Indo – ele deu os ombros, rindo de lado. Uma sensação estranha passou na boca do estomago dela, e um silêncio estanho se seguiu.

—Foi você quem fez isso? – ela perguntou, olhando para a pintura na porta do armário.

—É, fui – ele deu os ombros, como quem espera uma repreensão, mas não liga a mínima para ela.

—Nossa, isso é... Incrível – falou ela, sem notar o tom dele – Quando eu era criança, queria aprender a grafitar... Mas meus pais diziam que não era o tipo de coisa que uma princesa deveria fazer... Mas enfim, você é muito talentoso! Já pensou em se inscrever na aula de artes?

—Mas, isso acabaria com toda a diversão, não? – perguntou ele, rindo. Ela assentiu, um pouco duvidosa – Eu tenho que ir, nós nos vemos por ai?

—Claro – ela sorriu, enquanto ele seguia para fora da área dos armários. Ela olhou o grafite e bateu as costas contra o armário ao lado. Por que sempre tinha que tagarelar algo idiota como uma tonta? Quem ligava para as frustrações artísticas dela?

Talvez Andrew apenas tivesse razão e ela estivesse se envolvendo demais!

...

Banheiro masculino.

—E ai? – perguntou Maison, entrando no banheiro onde John olhava os braços sem nenhum indício de músculos no espelho – Jhonny, certo?

—John, na verdade – ele falou, arregalando os olhos.

—Ah, eu sabia que era algo assim – ele concordou –Sempre gostei desse nome. John. Eu e Ethan éramos amigos de uma cara chamado John na Ilha, filho do Capitão James Hook... Um cara maneiro, nem gritava quando enfiávamos a cabeça dele na privada!

—Legal... – ele falou, começando a andar em direção à porta.

—Não! – gritou Maison, e a porta bateu do nada – Certo... Isso foi estranho. Acho que só quero fazer amizade... Na Ilha, assustar os outros é bom, mas vocês são estranhos demais em Auradon... Provavelmente você já tem muitos amigos.

—Não mesmo – ele riu sem graça.

—Não acredito – arfou Maison – Mesmo com a sua mãe sendo a Fada Madrinha? E a Diretora? Sem falar na sua... Camiseta! Eu adorei essa camiseta!

—É, uma pena que eu não seja legal junto com ela – ele gemeu – Eu queria ter um cabelo legal, como o seu ou o do Andrew...

Maison era obrigado a concordar. O cabelo do garoto era muito baixo, quase como se o cabelereiro tivesse cortado demais e cortado de novo para deixar os dois lados iguais.

—Eu tenho a coisa certa para isso – Andrew abriu o livro de feitiços – Se está pronto para mudar, um cabelo novo vai ganhar!

O cabelo do garoto cresceu para cima, cheio e ondulado com cachos groso e escuros que paravam no limite da nuca.

—Olha só – sorriu Maison, admirado – Quase não dá pra notar... O resto!

—Isso ai – Apontou John, para o livro – Pode me fazer mais alto? Mais forte?

—Quem me dera, eu ainda estou aprendendo a trabalhar com ele – Maison revirou os olhos – Mas sabe quem pode ajudar? A sua mãe... Com a varinha dela! Uma batidinha daquilo e você seria o cara mais popular da escola!

—Ela não usa a varinha há muito tempo... – ele confessou – Agora ela acredita que a verdadeira mágica está nos livros. Livros normais, de escola, não de feitiços!

—Que loucura!

—É...

—Foi ela que deu o final feliz da Cinderella, que nem filha dela era – Arfou Maison – Ela não ama você?

—Ama... Do jeito dela – ele revirou os olhos – O que importa é o que você tem por dentro, não o que é por fora, ou algo assim!

—Oh, isso – Maison deu um pulo – Isso mesmo, como se alguém tivesse partido seu coração... Como... Ah, mamãe... Será que você não entende que tudo que eu queria era um final feliz também?

—Acha mesmo que pode dar certo? – perguntou ele, esperançoso.

—É claro – Maison revirou os olhos – Quer dizer, se com a Cinderella deu certo... E foi só bibidi-bobidi-bu pra ela!

John riu com a esperança de aquela ideia dar certo. Seria popular. E forte e alto. E bonito.

—Então, fazemos assim... Se sua mãe concordar em usar a varinha, não esquece que fui eu quem deu a ideia hein? – riu Maison – Me chama pra, você sabe, assistir. Ia ser uma ótima aula!

—Se eu conseguir convencer ela, pode contar com isso – riu o menino sonhadoramente – tchau!

—Tchau! – Maison sorriu de lado, enquanto John saia. As coisas estavam começando a se endireitar.

...

A última aula de Ethan era de química. Ele nem sabia do que se tratava exatamente a aula, não tinham esse tipo de matéria na Ilha, e, se tinham, tinha algum outro nome. Ele havia chegado quase atrasado e pego o único lugar vago, ao lado da menina da banda, Dany.

—Oi – ele falou, pegando o material e largando sobre a mesa. O professor estava passando a matéria no quadro, mas o que chamou ele foi à garota loira na frente da sala. El a havia visto antes nos corredores, e ela com certeza chamava a atenção. Ele se virou para Dany – Essa menina... Por acaso está tem alguma chance dela estar na linha sucessória? Qualquer parte dela?

A menina abafou o riso e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha – Apresento-lhe vossa alteza real, princesa Cindy Charming, segunda na linha de sucessão só atrás de Boa... A filha da Cinderella!

—O que? – os olhos dele brilharam. Segunda na linha de sucessão. Filha da Cinderella.

—Pois é... A sorte de Auradon é que boa nunca renunciaria!– ela bufou – Ela herdou toda a beleza, graça e chame dos pais... Só faltaram os miolos...

—Pois pra mim está perfeito – falou Ethan, sorrindo presunçoso, e olhou para a menina – O que?

—Nada – ela deu os ombros – Só que... Bem, Auradon já tinha o bastante na sua cota de pessoas fúteis antes de vocês serem trazidos até nós!

—Pode falar a minha língua? – ele ergueu uma sobrancelha, mas ela desfez com a mão, copiando a matéria da lousa. – Bem, de qualquer forma não importa, por que...

—Ethan – sorriu o professor para ele – Parece que isso é só revisão pra você, não? Qual o peso atômico médio da prata?

—Peso atômico? Tipo um átomo? – perguntou ele, e viu a menina loira rir. As coisas estavam indo bem, mas o professor pareceu não achar graça e o chamou no quadro. Paciência. Ele pegou o espelho no bolso da jaqueta e seguiu até o quadro – Vejamos... Como eu acho o peso atômico médio da prata?

O espelho piscou, e ele começou a escrever.

—Seria, 106,905 vezes 0,5200 mais 108,905 vezes 0,4800, que, Sr. Deley, nos daria – ele olhou novamente para o espelho – 107,9 AMU.

—E esqueci – falou o professor, parecendo surpreso – É sempre subestimar um...

—Um vilão – completou Ethan, quando homem pareceu engasgar com as palavras - Não comenta o mesmo erro novamente!

Ele começou a andar em direção a seu lugar, quando um papel se estendeu na sua frente. A menina chamada Cindy sorriu de lado, confiante e voltou-se para sua mesa de trabalho.

Ele sentou ao lado de Dany, e abriu o papel.

“Encontre-me nas arquibancadas às 15h.”

—Você não deveria... – Dany começou a falar, mas ele deu um longo suspiro e olhou para Cindy, assentindo – Tudo bem. Não diga que eu não avisei... Professor posso sair pra tomar água?

—Perfeitamente Danielle! – falou ele, sem se virar da lousa.