Saia de perto de mim, Princesinha dos Corações.

— Mal Bertha/Malévola

...

O relógio havia batido meia noite e os garotos do 3° foram conduzidos para fora do ginásio. Essa era a segunda tradição do Dia das Bruxas. A primeiro claro, era todos os alunos comparecerem a festa. A segunda era os alunos do 3° ano irem para os jardins da escola e contarem histórias de terror.

Uma tradição que todos tinham noção desde que se entendem por gente. E algo que não iria ser mudado tão cedo.

Deixar os alunos mais novos era um pouco precipitado, mas também era um jeito deles aproveitarem o resto da festa. Com moderação, claro.

Isabelle girava o novo anel em seu dedo tentando entende-lo e enganar o frio. Ela odiava o Halloween por ser uma das noites mais frias do ano. Era impressionante como isso acontecia.

Ben os conduziu para uma clareira, onde várias abóboras espalhadas pelo jardim inteiro iluminavam o lugar. Havia uma fogueira no meio, e cobertores nos bancos. O rei tinha um bom senso em colocar os cobertores ali.

Uma, Kaya e Isabelle sentaram-se no mesmo banco. Cada uma pegou um cobertor.

— Todos estão acomodados? Então podemos começar. — Rose disse tentando equilibrar o livro em seu colo junto com o cobertor nas suas costas. — Por Wendy Darling, Ariel Mermaid, Rapunzel Corona e Chapeuzinho Vermelho, primeira turma de formandos de Nova Auradon. — Todos aplaudiram. — “Ninguém sabe como começou, onde começou e porque começou, mas todos sabem que começou. A trajetória da escola é acompanhada pela Festa do Dia das Bruxas, data na qual, dizem os mitos, os mortos podem caminhar em nosso mundo.”

“Há 1.000 anos se contam histórias de assustar, e depois de 1.000 anos, ainda contará. Se vocês, alunos do 3° ano de Auradon Prep, estão lendo essas palavras, significa que a tradição continuou, que alguém do último terceiro ano passou o livro para vocês, e assim vocês deveram fazer. Passar este livro adiante, para a tradição nunca ser quebrada.”

“Vocês devem contar histórias de terror, proteger um ao outro de tudo que posso acontecer nesta noite, e o mais importante: não devem abandonar o lugar escolhido até o dia amanhecer.”

— Alguma pergunta? — Rose perguntou fechando o livro. Ninguém disse nada. — A regra é simples para quem vai contar a história, eu começo e indico alguém, todos têm que contar uma história, assim que todos forem, ficamos aqui até o sol nascer.

Rose foi a primeira. Contou a história de uma torre amaldiçoada. De Rose foi para Ben, de Ben para Harry, de Harry para Ariana, Ariana para Kaya...

— E nunca soube o que realmente aconteceu com o dono da loja. — Max finalizou. A história havia sido meio estranha, já que fora sobre uma loja de doces amaldiçoada. Isabelle não compreendeu nada, para falar a verdade. — Quem falta?

— Isabelle. — Uma levantou a mão da amiga.

— Eu passo. — A ruiva voltou com a mão para dentro do cobertor.

— Só sobrou você. — Ariana disse. — Vamos lá.

— Certo, história de terror né? — A ruiva ergueu uma sobrancelha com um sorriso sinistro. — Bem, acho que tenho uma. E ela é boa, até é baseada em fatos reais.

“Há muito tempo, muito tempo mesmo. Muito antes de tudo que conhecemos hoje, existia uma menina que morava numa casa de madeira à beira de um rio, que, antes da morte misteriosa dos pais, era cristalino. Agora era negro, negro como a alma da menina, alguns diziam. Ninguém ousava ir até a casa, diziam que era possível ouvir os gritos de loucura da criança, que ela havia ficado assim logo após de arrancar os corações e jogar os corpos dos pais no rio”

“Nunca soube-se o que realmente aconteceu. Os anos se passaram e a casa parecia apodrecer. Em raros dias, os moradores da redondeza via a garota, agora crescida, aparecer e ficar nas margens do rio negro”

“Foi em uma tempestade muito feia, quando um forasteiro, que não sabia da lenda, se aproximou da casa pedindo abrigo. Ele a viu. Uma garota de dezessete anos com cabelos negros, agarrada num pedaço de pano, se jogar no rio e desaparecer. Mas ela não havia mergulhado, simplesmente atravessou o rio como se ali fosse uma porta. O homem ficou observando a garota toda noite fazer isso, até que na oitava noite, a seguiu”

“Conta a lenda que nunca mais ouviram falar do forasteiro e da menina. Eles haviam simplesmente desaparecidos, que o homem havia encontrado a garota do outro lado, um lugar maravilhoso e cheio de enigmas. Era impossível descrever tais maravilhas, a magia realmente existia naquele lugar”

“A mesma lenda conta que muito anos mais tarde, uma garota de sete anos com cabelos loiros lisos encontrou o lugar através da toca do coelho. Dizem que ela brigou com a Rainha do lugar e, depois de dez anos, voltou para enfrenta-la e derrota-la, passando por um espelho, que pertencia a Rainha quando ela morava na casa de madeira”

Ally sorriu com aquela história de Isabelle. Sabia muito bem o que havia acontecido, afinal era de sua mãe que ela estava falando. Isabelle fixou os olhos na fogueira, o fogo dançava de um lado para o outro com o vento.

“Contam também, que a loira derrotou a tirana Rainha, destruiu o lugar, mas conseguiu selar apenas duas das três passagens para aquele mundo. Ninguém sabe qual não foi selada. Muito menos a loira que muitos chamaram de heroína. Alguns dos habitantes conseguiram fugir, outros permaneceram no lugar. E esses que permaneceram acreditam que a soberana irá voltar e reconstituir o País das Maravilhas, assim que os vinte anos da Batalha dos Corações forem completos”

— Por curiosidade, essa parte está no Oráculo que está exposto no museu de Auradon e faz dezenove anos dessa batalha. — A ruiva sorriu, vendo o sorriso de Ally desaparecer.

— Ah, agora fiquei mais confuso com a história do País das Maravilhas. — Charles fez uma careta rindo.

— É só ignorar essa última parte. — Ally disse. — Isabelle começou a inventar um pouco.

— Se quiser, é só olhar o Oráculo. — Isabelle deu de ombros. — Quem é o próximo?

— Você foi a última. — Rose disse.

— O que fazemos agora? — Harry perguntou.

— Dormimos. — Ben respondeu. — Os sacos de dormir estão ali.

...

Isabelle tinha certeza que era quase uma da manhã quando ouviu alguém conversando. Levantou silenciosa para não acordar nenhum dos amigos e foi ver o que era.

O pequeno fogo da fogueira refletia o vestido amarelo-azul de Mal. A garota estava apoiada em uma das árvores e murmurava as mesmas palavras do outro dia.

— Não sou igual a você. Não sou! — Isabelle encostou na garota, que tinha os olhos fechados.

— Mal? Está tudo bem?

Ah pobrezinha de Isabelle, pensei que não se preocupava com os outros. — A boca de Mal abriu, mas não foi o som da voz dela que saiu. — Eu te conheço criança, é igual a sua mãe. Igualzinha!

— Certo. Você é muito estranha, Bertha. — Isabelle encostou no ombro de Mal, que ficou vermelho ao ser tocado pelo anel da ruiva.

Saia de perto de mim, Princesinha dos Corações. — Mal abriu os olhos, estavam num tom verde vivo. Por um momento a cor desapareceu e a expressão de Mal ficou assustada. — Me ajuda. — Era a verdadeira voz de Bertha.

— Como, gênia? — A garota segurou a loira antes dela cair no chão. — Se você não desmaiar, eu posso pensar em te ajudar.

Cale essa boca, Copas. — Malévola havia voltado para o corpo da filha.

— Ah, minha querida, você não é ninguém para me mandar calar a boca. — Isabelle disse rindo.

— Tenha respeito! Eu sou uma bruxa poderosa!

— Que se transforma em dragão, que útil! — A ruiva sorriu sarcástica. — Espere, você não estava numa forma de lagartixa quando sua filha te derrotou?

— Quando eu recuperar meus poderes, você pagará Isabelle Carmim de Copas. — A voz de Malévola saiu grossa.

— Claro, claro, agora para de falar igual vilã dos anos 70.

— Sua peste! Você irá se arrepender. Ouça minhas palavras. As terras do seu país serão banhadas com o seu sangue por ser tão teimosa.

— Olha, você vai achar o País das Maravilhas por mim? Quanta gentileza! — Isabelle sentou na frente de Mal. A loira levou a mão para a garganta de Izzy, que segurou. A pele branca de Mal começou a ficar vermelha por causa do anel.

— Eu vou voltar Copas. E você vai se arrepender de ter feito isso. — Mal voltou com a cor normal dos olhos, isso significava que Malévola havia deixando o corpo da filha.

O sol começava a amanhecer, isso indicava que o Halloween havia terminado.

A loira demorou um tempo para acordar, mas quando retomou a consciência, olhou estranho para Isabelle.

— O que está fazendo aqui?

— Ótimo, é isso que eu ganho por te ajudar. — A ruiva se levantou franzindo a testa. — Sabe, pensei que vocês dizem obrigado quando alguém ajuda, mas ai eu lembrei que você é uma garota da Ilha.

— Espera, minha mãe... ela estava...?

— Bertha, sua mãe estava tentando possuir seu corpo. — Isabelle foi direto. — Não sei como e nem porque, mas estava. Eu te ajudei, acho que você está me devendo.

— Não era um sonho. — A garota colocou a mão na cabeça. — Obrigada.

— Espere, o que disse? — Isabelle colocou a mão no ouvido. — Não ouvi direito.

— Eu disse: Obrigada Isabelle. — Mal riu levantou-se. — Agora você ouviu?

— Ah, em alto e bom som!