Mal, entenda uma coisa: vamos ser sempre os filhos dos vilões, mas não seremos mais os vilões.

— Evie Queen

...

Mal estava inquieta. Não era mais estranho ter um encontro com o Ben, mas a agitação de Evie a deixava nervosa.

— Para! Já está bom! — Mal reclamou. — Não quero assusta-lo.

— Shh. Vai estragar minha obra. — Evie disse terminando de passar o batom.

— Evie, você está me tornando uma princesa! Eu não sou uma princesa! — Mal falou revirando os olhos. — E é só um encontro!

— Para com isso. — Evie a encarou e deu um passo para trás. — Você é a namorada do rei. Sabe qual o próximo passo?

— Se você falar, eu juro que eu saio e não volto mais. — Mal ameaçou. — Evie, eu sou uma vilã, ele é um herói. Minha mãe é o exemplo de maldade e os pais deles são o exemplo de bondade.

— Bertha, Bertha, olhe para você! Você mudou! Nós mudamos. — Evie sorriu sincera. — Ele poderia ter escolhido qualquer uma do reino, poderia ter continuado com a Audrey, mas não. Escolheu você no final de tudo.

— Para. Ele me escolheu só pelo feitiço... — Mal se interrompeu com a expressão de Evie. — Certo, mas as pessoas ainda me olham como a filha da Malévola.

— Vamos ter essa conversa de novo? — Evie apoiou o pincel em seu rosto com uma careta. — Mal, entenda uma coisa: vamos ser sempre os filhos dos vilões, mas não seremos mais os vilões.

— Certo, certo. — Mal revirou os olhos e foi até o espelho. — Mas olhe para mim! Estou parecendo a Audrey! Esse deveria ser o lugar dela.

— Para de se colocar para baixo. Você é a garota mais fantástica, não importa se você está parecendo a Audrey, o Ben ainda gosta de você.

— Como tem tanta certeza?

— Olha as coisas que ele já fez por você! — Evie sorriu sincera. — Antes de você ir, tome a sua blusa. Sei que iria coloca-la de qualquer jeito.

Mal pegou o blazer das mãos de Evie e saiu do quarto para esperar o namorado no saguão.

...

Isabelle estava andando de um lado para o outro no quarto. Estava entediada e não tinha absolutamente nada para fazer. Havia perdido suas cartas para aquele anel, que não fazia nada.

A ruiva foi para a sua varanda e viu todos aqueles alunos felizes, sorridentes e animados. Sentia-se incomodada, afinal sua mãe nunca havia mostrado felicidade, amor e sorrisos para a garota.

Seu computador emitiu um barulho, isso significava que havia uma atualização no blog Keen C havia postado alguma coisa. Odiava ler aquele blog por não contar nenhuma fofoca, apenas fatos que ela já conhecia. Mas a matéria de hoje era interessante.

Olá Auradon Prep. Como estão? Espero que bem, então sentem-se e divirtam-se com o segredinho de hoje.

Os boatos que Ariana e Harry estão saindo são verdadeiros. Os dois foram flagrados se beijando ontem. Tenho até fotos, é só clicar aqui. Se não acreditam, podem perguntar para os dois, apesar de, talvez eles possam negar.

Mas não se sintam acanhados, pombinhos, não seriam o primeiro casal de um herói e um vilão juntos. Afinal, Mal e Ben ainda estão juntos, não é mesmo?

Falando nesse casal, Mal se transformou não é mesmo? Algo deve estar rolando para a ex-vilã ter mudado de visual. Vamos abrir uma enquete.

Mal mudou de visual porque: A) está sofrendo pressão da mídia; B) mudar é bom; C) quer agradar a todos; D) outra opção.

Não se esqueçam de votar, compartilhar e divulgar o blog. Sei que vocês gostam das fofocas.

Juízo Auradon, tem alguém espiando. Keen C.

— Até que foi boa dessa vez. — Isabelle riu e desligou o computador. Pegou o anel de coração. — Qual a sua, ein? — A ruiva fechou a cara. Não iria conseguir fazer nada sem as cartas, precisava do seu baralho mágico de volta. — Copas! — Gritou, frustrada, jogando o corpo para trás da cadeira. Um forte brilho vermelho envolveu o anel e quando foi embora, o Cetro das Maravilhas estava em sua mão.

— Então era por isso que mamãe me deu o baralho. — A garota sorriu analisando o cetro. Nem lembrava dele e agora tinha ele em suas mãos. O cetro poderia ajudá-la a reconstruir o seu reino, mas tinha um pequeno detalhe: qual era o portal que ainda estava aberto?

Os pensamentos da garota foram interrompidos quando alguém bateu em sua porta. A ruiva escondeu o cetro e foi atender. Deu de cara com Max, que estava de mãos dadas com uma garotinha.

— Se continuar a ficar batendo na minha porta, vou começar a pensar que está apaixonado por mim, Hatter. — A ruiva sorriu maldosamente.

— Quem sabe? — O garoto abriu um sorriso, deixando Isabelle confusa. — Está aqui é Willy Darling.

— Certo. Eu não sou babá. — Isabelle encarou a garota. — Acho que Rose adoraria cuidar dessa gracinha.

— Você mente mal. — Willy disse.

— Estava sendo irônica. — Retrucou a ruiva. — Max, o que você quer?

— Ele me prometeu que me ajudaria em Latim, só que esqueceu que quase ficou reprovado ano passado por causa dessa matéria. — A morena comentou naturalmente.

— Bem, e como você ficou sabendo que eu sou boa?

— A mãe dela que indicou. — Max coçou a nuca sem jeito. — Por favor, me ajude. Se me ajudar, você vai ficar livre do trabalho da fada madrinha, e pelo que sei, você é a única que ainda não fez.

A garota analisou a mais nova. Era muito parecida com sua mãe, isso assustava muito Isabelle. Parecia até a Ally com a mãe. Por que diabos todas as filhas das heroínas pareciam de mais com as mães?

— Eu ajudo. Por uma condição.

— Qual? — Max e Willy perguntaram unidos.

— Que você fique e que você não me encha a paciência. — Isabelle ergueu uma sobrancelha. — Esse cargo é dele. — Max não conseguiu segurar a risada, era divertido saber o que Isabelle realmente achava dele.

...

— Cuidado. — Avisou Ben guiando Mal por um caminho de pedras.

— Você que está de costas! Eu que deveria avisar. — A garota sorriu.

— Já fiz esse percurso várias vezes, conheço o suficiente para poder andar de costas. — Ele continuou de mãos dadas com a namorada. — Minha mãe me trazia aqui sempre quando eu era criança.

— Hm, tem algum motivo em especial que você me trouxe para cá? — Bertha ergueu uma sobrancelha com um sorriso travesso nos lábios. Não estava tão animada, mas estava feliz de estar a sós com o namorado.

— Talvez. — Ele sussurrou. O lugar que eles tinham chegado era tudo verde, com várias flores coloridas ao redor e bem no centro daquele jardim havia um coreto de madeira enfeitado com diversas plantas. Mal deixou escapar um suspiro de animação. Aquele lugar era lindo. Talvez não mais que o lado encantado, ou o jardim de rosas do castelo da Fera, mas a paisagem era realmente encantadora. Poderia ser dentro de Auradon, mas Mal sentia-se longe de tudo. — Acho que você gostou.

— Acha? — Ela sorriu andando para o centro. — Isso tudo é maravilhoso! É claro que gostei.

— Fico muito feliz, milady. — Ben sorriu indo para dentro do coreto.

— Você preparou os mínimos detalhes. — Mal comentou olhando a mesa posta. Havia várias coisas, dentre elas, a famosa torta de morango.

— Eu observei com os mínimos detalhes. — Ben a corrigiu rindo.

— Uau, meu namorado já está crescido em! — Mal ironizou com um sorriso largo e brincalhão. — Achou a cozinha sozinho?

— Obvio que sim. — O rei entrou na brincadeira. Tirou o paletó impecável e o colocou no encosto da cadeira. — Vamos comer antes que esfrie?

Mal sentou-se e colocou um sanduiche de atum em seu prato. Ben lhe serviu o suco, que era de maracujá provavelmente. Deu uma pequena mordida em seu sanduiche e olhou em volta. Estava um pouco incomodada. Talvez a conversa com Evie mais cedo não teria feito tão bem assim, mas sua amiga tinha razão.

Não Mal, você está certa. Este não é seu lugar. Seu lugar é perto da mamãe.

A loira respirou fundo e piscou os olhos fortes, voltando a comer o sanduiche. Tomou um pouco de suco e sorriu para Ben, que tinha uma expressão preocupada.

— Mal? — Ela continuou sorrindo para ele. — Você está bem?

— Claro, claro. — Balançou a cabeça confirmando. — Desliguei um pouco. — Ela riu fraco voltando a tomar o suco.

As vozes da sua mãe em sua cabeça haviam aumento depois do acontecimento no Halloween. Bertha havia preferido não comentar nada com Evie, nem com Ben. Jay e Carlos iriam contar para a Evie com certeza.

— Você está me ouvindo? — Ben estalou os dedos tirando sua namorada do transe.

— Não... — Ela fixou os olhos no prato e depois encarou o namorado. — Eu estou cansada.

— Não deveria ter aceitado meu convite então. — O garoto sorriu fraco. — Quer conversar?

— Não. — Sim, ela pensou. — Só estou cansada. As aulas com a Fada Madrinha estão me deixando exausta. — Uma meia verdade foi dita, afinal as aulas estavam realmente tomando esforço de Mal. Era estranho, porque quando estava com a Fada Madrinha, sua mãe não a perturbava. Estava adorando as aulas de magia extras por causa disso. Mas odiando porque não conseguia fazer nada direitinho igual Jane.

— Se quisermos podemos voltar.

— Não, não. — Mal balançou a cabeça. — Vamos ficar aqui. Tudo isso é muito calmo e aconchegante.

...

Kaya estava andando pela vila que tinha perto da escola. Muitos alunos estavam fazendo o mesmo. Era engraçado aquilo, não costumava ver as pessoas certinhas matando aulas em plena quarta-feira. Talvez não matando, mas não estando na escola.

Aquela vida era estranhamente confortável. Poder andar por aí, sem ter a preocupação de estar rodeada por uma barreira e sem se preocupar com o pai (meio) bêbado voltando para casa. Podia dormir em paz, tinha seus amigos perto e pessoas que poderia implicar sem ficar com a consciência pesada. Talvez Auradon seja realmente boa.

Mas havia um forte sentimento que não a deixava em paz. O que aconteceria quando eles se formassem? Iria voltar para a Ilha? Iria continuar na terra colorida? Kaya tentava pensar que, quando e se isso acontecesse, logo depois ela e seus amigos estariam longe, bem longe desses lugares. Gostaria de conhecer o mundo, visitar alguns lugares novos, seria bom.

A garota entrou na loja de chás do Chapeleiro e pediu uma xícara bem quente de chá de hortelã. Sentou-se em uma das mesas de frente para a janela e começou a observar as pessoas passando. Alguns rostos os conhecia. Como o de Thalia, filha de Tiana, sua parceira de Literatura Oriental. Ou Melina, a filha de Miguel Darling o professor maravilhoso de Artes Básicas. Sua filha era a mais quieta da sala de Química Avançada, Kaya tinha certeza que nunca ouviu a garota a falar alguma coisa, mas parecia que Gil ouvia. Os dois estavam juntos andando de mãos dadas pelas ruas sem a menor preocupação. O amigo causava isso, fazia com que você tivesse a melhor semana e depois dava um belíssimo pé na bunda.

— Um café e um chocolate quente. — Uma voz conhecia soou no balcão chamando a atenção de Kaya. A garota respirou fundo, não podia ser verdade o que estava vendo. Era seu pai, Cheshire Cat. Não sabia como ficava, se ficava alegre por ver o pai, ou irritada com Isabelle, porque ela estava com ele.

Pegou a primeira revista que viu em sua frente e a foleou, erguendo em cima do rosto e levou a xícara à boca quando seu pai passou por ela, indo para o lado de fora, onde encontrou a princesa dos corações.

Sentiu-se triste por não ser ela que Cheshire estivesse visitando. Ou talvez queira fazer uma surpresa para a filha.

Não, não, seu pai não era esse tipo de pai.

— Vejo que descobriu o Cetro. — O gato comentou inclinando para a bolsa da garota. Isabelle moveu o corpo para dificultar a visão.

— O que veio fazer aqui?

— Sua mãe está preocupada com o plano de vocês. — Ele sussurrou, mas Kaya conseguiu ouvir. A garota não é boba e nem nada, sabia exatamente como espionar as pessoas.

— Agora você é um pombo correio? Que vexame. — A ruiva disse com um sorriso balançando devagar a cabeça. — Diga a ela que o plano irá ser realizado assim que conseguirmos.

— Ela acha que não deveria ter dado esse trabalho para vocês. — Cheshire disse com sinceridade.

— Pois bem, queria o que? Que eu resolvesse isso tudo?

— Que nenhum de vocês estivessem envolvidos.

— Você que pensa isso. — Isabelle estreitou os olhos. — Pode ir se for apenas isso.

— Não, Daiana e Victor pediram para eu entregar isto à você e seus amigos. — O mais velho tirou um pequeno cartão de dentro do terno. Isabelle tomou o envelope e o analisou.

— Você leu?

— Não, alteza. — O gato balançou a cabeça rindo. — Sou apenas um pombo correio, lembre-se?

Não demorou muito para Cheshire desaparecer. Ah, Isabelle teria muitas coisas para explicar assim que Kaya encontrasse com ela de novo.

...

— Você está voando cara. — Charles disse estalando os dedos na frente de Max. — Willy, o que aconteceu? — A garotinha deu de ombros e voltou a colorir o livro.

— Eu estou legal. — Max comentou ajeitando a cartola. Os três estavam no jardim, em uma das mesas. O sol estava se pondo, então o céu estava meio alaranjado. — Só estava pensando.

— Em quê? — Charles perguntou se ajeitando na mesa.

— Que Isabelle está me devendo um encontro. — O moreno riu.

— Tenho pena de você. — Willy sussurrou encarando os dois garotos e trocou o lápis de cor. — Ela é muito chata.

— Diria má compreendida. — Max respondeu a garotinha.

— Diria que está apaixonado. — Charles disse com um sorriso. Max revirou os olhos e riu forçado. — Willy, aqui temos um caso raro de Cabeça Dura. Não existe cura, ainda, mas eu estou pesquisando a fundo o que fazer para a cabeça dura acabar. — A morena cobriu a boca para não rir.

Não demorou muito para que Ally, Ariana e Rose encontrassem os garotos. A loira foi a primeira a sentar-se na mesa que eles estavam.

— Estavam falando sobre o que?

— Nada. — Ambos garotos disseram juntos.

— Sobre Isabelle e como o Max está apaixonado por ela. — Willy comentou colorindo. O que Max e Charles deveriam saber que quando se é criança, você não mente. Willy podia ter 13 anos, mas ainda tinha alma de uma criança. Sua mãe havia passado isso para ela.

— Ah é? — Ally ergueu uma sobrancelha.

— Não, bobeira de criança. — Max balançou a cabeça. — Acho que sua mãe está te procurando Willy.

— Não sou criança. E vou dizer a ela que você não é um bom babá. — A garota guardou os materiais e agarrou o livro. — Rose é. — A morena sorriu.

— Semana que vem eu vou tomar conta de você. — Rose disse delicadamente. — Só que hoje não deu.

— Tudo bem, contando que ele não seja minha babá. — Willy saiu da mesa.

— O que você fez para ela, em? — Ariana perguntou rindo.

— Preciso de ponto extra em biologia, então ofereci para cuidar da Willy, só que ela dá trabalho. — O garoto revirou os olhos. — E Willy precisava de ajuda em latim, então achei que se ajudasse ficaria melhor.

— Aí esse garoto, chamou a Isabelle para ajudar. Por isso que Willy disse aquilo sobre a ruiva. — Encobertou Charles.

— Você usou a filha da Wendy? — Rose perguntou erguendo uma das sobrancelhas bem-feitas. — Não acredito nisso.

— Ah, foi divertido a tarde. — Max deu de ombros. — Willy até gostou da Isabelle. E olha que essa garotinha não gosta fácil das pessoas.

— Ela não gosta é de garotos babacas. — Ally disse com um sorriso gentil. — Estou brincando!

— É isso mesmo que estou vendo? — Charles perguntou erguendo uma sobrancelha. — Ally Kingsleigh está brincando de novo?

— Não víamos isso desde quando? — Ariana sorriu. — O segundo ano?

— Não, não. — Charles balançou a cabeça. — Acho que quando os garotos chegaram da Ilha que ela parou.

— Ah, todos precisam de uma folga. Hoje é meu dia de relaxar e não precisar me preocupar com aquelas pessoinhas da Ilha. — Ally sorriu fazendo todos os amigos rirem.

— Ah! Como eu senti falta disso. — Rose gritou animada abraçando as duas melhores amigas.