Tudo ocorreu tão rápido. Não dava para creditar. “Por quê? Parecia que ia tudo tão bem” foi o pensamento de Larissa. Chegando a casa, correu para seu quarto e se jogou na cama deixando as lágrimas lavarem seu rosto. “Não é possível”, novamente tudo que viu veio em sua mente fazendo-a chorar ainda mais. A dor que ela sentia era tão grande que parecia que nada poderia pará-la. Enquanto seu olhar estava morto, olhando um ponto fixo, uma vontade enorme de se cortar veio em sua mente. Fechou os olhos tentando se concentrar em qualquer outra coisa, mas não resolveu. Foi em direção ao banheiro, olhou para o pequeno Box que havia abaixo de seu armário, onde guarda perfumes e maquiagens. Abriu o Box e retirou um pano, pequeno e preto, ao abri-lo logo avistou um pequeno brilho prata, era uma lâmina. Segurando-a com firmeza, encostou-a na pele. Seus olhos fecharam com certa força devido a dor que estava sentido conforme a lâmina ia rasgando seu pulso. Certa moleza foi tomando conta dela, ao perceber seu pulso e mão estava coberto por sangue. O corte havia sido fundo demais, jogando a lâmina longe, foi agachando ate encostar as costas na parede, respirava fundo, mas não estava resolvendo, sentia que ia desmaiar, até que ouviu o som da porta de seu quarto sendo aberta e depois, tudo escureceu…

Uma pequena dor em seu braço, fez com que Larissa voltasse a ter consciência. Estava frio, seus membros doíam. “Será que ainda estou no banheiro?”. Logo ouviu vozes, elas estavam distantes, com o passar dos segundos elas iam alcançando o volume normal. Uma das vozes era da sua mãe. “O que… eu… Estou em um hospital?”.

_Doutor, ela realmente vai ficar bem? – a voz cheia de dor de sua mãe fez com que seu coração sangrasse.

_ Vai sim, mas a senhora terá que levá-la em um psicólogo. Esse distúrbio que sua filha tem, deve ser tratado imediatamente.

“Não!” agora sua vontade era voltar a dormir ou então nunca mais acordar. Não podia acreditar que sua mãe sabia sobre seu “problema”. Não agora. Sua mente estava confusa, e isso a fez sentir dores mais fortes em seu braço. “Mas o que é isso? Será que tive que tomar sangue? Não, acho que sei o que é, deve ser soro, isso é muito ruim, ainda mais tendo o braço cheio de cicatrizes. Parabéns Larissa, você esta ferrada.”

_Você não irá fazer isso nunca mais esta entendendo Larissa? – As palavras duras de sua mãe a fazia se sentir cada vez pior. Já estava em casa, por ter respondido bem a observação do médico, conseguiu alta bem rápido. No caminho até em casa foi um silencio perturbador, seus pais nem olhavam em seu cara. Eles não estavam ajudando em nada.

_O que você tem na cabeça, tentando se matar! – dessa vez foi a vez de seu pai. Ele estava muito bravo. _ Damos tudo a você, tudo que você quer nós compramos, e agora você fica com essas gracinhas de querer se matar? – Teve que se conter para não rir do que seu pai havia dito. “Será que ele não percebe que um dos motivos por eu estar assim é culpa dele?”. Larissa continuou com a cabeça baixa, não conseguia olhar para eles. Um pequeno rancor estava se formando dentro dela. Ao invés deles perguntarem o que a levou a fazer isso, por que ela estava agindo daquela forma, se ela estava bem. Mas não, eles apenas a criticavam. Não se importam com o que esta sentindo no momento. Nada importava a não ser julgá-la, sempre foi assim.

_Amanha você irá a um psicólogo, esta me ouvindo? Não quero nem saber. – assim que sua mãe disse isso, eles saíram do quarto, deixando-a sozinha, como sempre.

Tudo o que precisava no momento era de um abraço. De carinho, atenção… Amor. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, deixou-se cair de qualquer jeito em sua cama e chorou, chorou e muito. Seus pulsos estavam enfaixados e tinha marcas de sangue na faixa branca, logo acima do lugar onde fora seu corte. Como estava nervosa, acabou que fazendo força desnecessária com as mãos abrindo o ferimento. “Espero que não seja o corte com os pontos.” Um barulho ao lado de sua cabeceira a fez olhar nesta direção, era seu celular. Pegou o aparelho e viu que tinha várias chamadas perdidas e uma mensagem de texto:

“Eih, Lah, por favor, me atenda. Eu posso te explicar tudo, nada do que você viu é verdade… atenda.”

Era do Dougie. Ao se lembrar da cena que vira assim que entrou na garagem, onde eles ensaiavam, as lagrimas vieram com mais força e seu coração doía ainda mais. “Eu te odeio, Dougie.” Fechou os olhos e se entregou a derrota que sofrera pelo seu coração. Achava que dessa vez ia ser diferente, mas não foi.

Nesse momento precisava de uma amiga para desabafar tudo o que estava sentido, mas ela não tinha nenhuma amiga. Seus únicos amigos eram os da banda, e a ultima coisa que queria era pensar na banda. Olhou para seu estante de livros e viu seu antigo diário, que estava lendo mais cedo. Isso a fez lembrar que tinha outro diário, que nunca havia escrito nele. Levantou-se da cama, ainda se sentindo meio zonza, caminhou devagar até a estante e viu o diário novo. Era preto, cheio de adesivos de suas bandas favoritas. Voltou para cama, pegou uma caneta e pôs a escrever tudo que estava sentindo.